O Grande Palco da Vida escrita por Celso Innocente


Capítulo 21
Um problema sério.


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo é um tanto forte (pesado).
E como era muito longo foi dividido em dois.



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No início do mês de Novembro de Um mil novecentos e oitenta e um, não suportando mais a ausência do filho, os pais de Regis acabaram se mudando para a capital paulista, em um apartamento no centro da cidade, o qual, com o dinheiro que ele ganhava da gravadora e de shows, conseguiam pagar com a alta prestação de cento e cinquenta mil cruzeiros mensais.

O senhor Pedro, alegando não querer depender do filho, voltou a trabalhar em uma grande empresa na capital. O garoto, agora fora morar com eles, deixando-me sozinho em meu apartamento no bairro aeroporto. Mas estávamos sempre juntos, devido nossas constantes viagens pelo Brasil, que nos levava muitas vezes, dez dias fora de casa e apenas dois ou três junto com a família.

Em quatro de Dezembro fazíamos um grande show, em Arapongas no Paraná, para uma plateia de mais de dez mil pessoas, no recinto de exposições local. Era sem dúvida uma das maiores apresentação do mais jovem cantor popular do Brasil. Mas houve um problema, devido falha na organização por grande atraso na parte de rodeio e o show que deveria ter se iniciado as vinte e duas horas, embora nossa equipe estivesse toda no local, Regis só entrou no palco quase uma hora da manhã e ele, após cantar a primeira música, Canarinho Da cidade, cumprimentou o público e disse:

— Peço desculpas a todos, devido à falta de organização para esta festa, que deveria ter se iniciado às dez horas. Realmente é uma falta de respeito para com as pessoas. Não estou condenando o rodeio. Eu também gosto. E muito! O que não se pode, é prometer um evento para uma plateia, onde se tem centenas de crianças e pessoas idosas e deixá-las esperando em pé, sem conforto durante muitas horas. Não estou questionando porque eu já deveria estar dormindo. Amanhã, ou que seja hoje, posso ficar na cama até o meio dia. O fato é que, pelo menos um grande número de quem está na plateia, preferiam que esta festa tivesse se iniciado na hora marcada e que pelo menos a metade dessa plateia, precisam levantar cedo neste sábado.

Ele fora muito bem aplaudido, devido à crítica que fizera à organização e também pela sua bonita apresentação. Estava se transformando em um menino especial, com certo carisma. Tinha o dom de cativar as pessoas.

Findado o espetáculo, no retorno ao hotel, o qual já estávamos hospedados desde manhã, chamei-lhe a atenção:

— Você não deveria ter criticado a organização do evento. Eles podem ficar magoados.

— Prefiro que eles fiquem magoados a causar má impressão a meus amigos! — retrucou o pequeno.

— A gente pode precisar de outro contrato com eles!

Chegando ao hotel, pedi a ele que fosse dormir, pois já passava das três horas da manhã de sábado e saí para dar uma pequena volta a pé pelo centro da cidade, em busca de uma farmácia, a fim de comprar um analgésico para tirar uma certa enxaqueca, causada pela longa espera para inicio do show.

Enquanto caminhava, seguia pensando na atitude de Regis ter criticado a organização do evento sem antes ter nos comunicado, mas acabei por concordar, pois realmente aquilo era um verdadeiro desrespeito ao público e ao artista, que se sabe disso, fica descansando no hotel.

Algumas quadras depois, percebendo que a cidade estava deserta e eu cansado, apesar da dor, resolvi retornar.

Ao abrir a porta do quarto, encontrei Regis deitado em sua cama trajando apenas uma cueca, acompanhado por uma garota morena clara, de aproximadamente o dobro de sua idade, trajando apenas sutiã e calcinha preta. Ao perceberem minha presença assustaram-se. A garota se levantou rapidamente e se vestiu tranquilamente:

— O que você faz aqui? — especulei-a intrigado.

— Só fazia companhia pro menino! — insinuou ela com sarcasmo.

— O menino tem só dez anos de idade! Ele não precisa de seu tipo de companhia!

Ela acabou de se vestir devagar e se retirou sem mais nada falar. Regis, assustado pela surpresa, puxou de um cobertor leve, cobrindo todo seu corpo seminu e permaneceu calado. Aproximei-me, puxei o cobertor e ordenei nervoso:

— Levante-se e vá se vestir seu moleque sem vergonha!

Assustado e com vergonha ele se levantou, vestiu apenas um short e sem nada falar, voltou a se deitar, se cobrindo novamente, inclusive a cabeça. Ainda nervoso tornei a descobri-lo dizendo:

— Já pensou se fosse seu pai que tivesse visto tal cena?!

— Seria a mesma coisa!

— Seria a mesma coisa nada, Regis! Ele nunca mais deixaria viajarmos juntos!

— Aonde você foi?

— Não interessa aonde eu fui! Interessa o que você estava fazendo!

— Acho que nada, comparado ao que você foi fazer! — insinuou ele sentando-se na cama.

— Eu não fui fazer nada, além de procurar uma farmácia! E você não deve fazer isso nunca!

— Vocês acham engraçado me perguntarem se eu gosto de garotas! Se eu já transei com garotas! E muitas outras coisas idiotas! Saiba que eu sou homem também!

— Homem que deixou as fraldas ontem?!

— Você está me ofendendo!

— Estou é!? E aquela garota? Estava te glorificando? O que você quer que eu faça? Que te dê um troféu dizendo, nosso menino atingiu sua maturidade sexual!

— Não sou menino de ninguém! Todos se dizem serem meus donos e eu nunca mando em nada!

— Claro que manda! Já pode até ir atrás de prostituta, com menos de onze anos de idade.

— Aliás, eu não estava fazendo nada! Nada! Ouviu?

— Não! Era eu quem estava!

— Ela entrou aqui eu já estava dormindo! Ela me beijou… na boca. Então acordei e ela estava quase sem roupa! Eu estava com tanto sono que acabei me deitando sem me vestir direito! Aí…

— Por que você deixou a porta aberta?

— Por sua causa! Pra que você pudesse entrar!

— Regis, você não deve fazer isso! É prejudicial a você que é muito criança ainda! Garoto, isso prejudica a sua saúde!

— Eu já disse que não fiz nada demais!

— Não! Fui eu quem fez!

— Que droga! Por que todos têm a péssima mania de não acreditarem em mim!

— É um assunto muito sério e delicado. Seu pai jamais me perdoará, caso venha a saber de um acontecimento desses.

— Ouça aqui, você é meu empresário e é responsável por mim. Não é?

— Esta é minha intenção! Por isso mesmo que estou te alertando! Essas mulheres podem estar doentes! Transmitir doenças pra você, menino!

— Pois bem, se você é responsável por mim, então por que não ficou aqui tomando conta de mim, ao invés de me deixar sozinho e sair pra biscatear por aí?

Ouvindo aquilo, acabei por me descontrolar e acabei por dar um tapa em seu rosto. Ele me olhou assustado, começou a chorar e se deitou, cobrindo inclusive a cabeça. Nervoso e de certa forma arrependido, me retirei, seguindo até o quarto onde estava Daniel, Felipe e Jardel. Bati na porta, mas como ninguém atendeu segui até o quarto de Pinduca, Lucas e Marcos César. Bati na porta e após perguntar de quem se tratava Pinduca a abriu e então entrei.

— O que aconteceu, rapaz? — perguntou-me ele. — Você está tremendo!

— Bati na cara de Regis.

— Como assim? Por quê? O que ele lhe fez de mal?

— Fiquei nervoso e aconteceu. Sei lá! Eu jamais ousaria bater naquele garoto! Eu jamais ousaria bater em qualquer garoto!

— Ele já não estava dormindo?

— Não! Estava acordado.

— O que ele estava fazendo de tão grave que merecesse apanhar?

— Encontrei ele no quarto com uma mulher de uns vinte anos de idade.

— E qual é o grilo?

— Eles estavam nus, na cama! Os dois.

— Regis? Que isso! Ele é só uma criança!

— Por isso mesmo que eu chamei a atenção dele. Ele é só uma criança!

— Willian, Regis gosta muito de você. Ele segue seus passos... seu exemplo! Se você o viu com uma mulher, é motivo pra dar conselhos a ele, eu sei. Bater não resolve nada! Só servirá pra que ele fique com raiva e perca a confiança em você.

— Eu sei! Nunca imaginei levantar a mão praquele garoto! De repente…

— Pimba! Como se fosse pai dele! O que, aliás, nem o pai dele tem o direito de fazer.

— Violência. Espancar crianças não educa —interferiu Marcos César, que já estava deitado. — Pior ainda... Embora você imagina, Regis não é seu filho!

­­­— Eu sei que não! — exclamei. — Nem tenho idade pra ter um filho de dez anos! E sempre fui contra o espancamento de crianças.

— Está se vendo! — alegou Marcos. — Você se esquece, que nós mesmos adoramos fazer gozação com o pequeno em respeito a sexo. Muito bem, você o ensinou a ser artista; ele aprendeu! Nós todos o ensinamos a gostar e transar com garotas como um adulto, ele está aprendendo! É o fruto de nossa sementeira!

— Eu sempre evito falar com ele sobre sexo. Vocês brincam com ele nesse sentido sujo! Mas eu não!

— Se você não brinca com ele neste sentido, não basta não brincar, é preciso falar, ensinar sem esconder nada! Principalmente pra ele, que vive nesse mundo de perdição! Ao contrário de outros garotos, que estão amparados debaixo da saia dos pais. Só que tem uma coisa, você também precisa ouvir, pois em matéria de sexo você também é analfabeto... Ou imaturo! Sei lá como se diz!

— Chega Marcos! — reclamei. — Estou com um problema e você fica falando coisas que não me ajudarão em nada!

— Não ajudarão em nada?! — protestou ele. — Sexo é coisa suja, que Regis está protegido e nunca vai saber? Cresce homem!

— Não é isso que estou falando!

— Muito bem, Willian — insinuou Pinduca. — Seu problema é ter batido em Regis!? Com certeza ele deve estar com raiva de você. Ficar aqui conversando conosco não vai resolver nada mesmo! Vá lá e peça perdão a ele.

— Não é assim!

— Ah machão, não é? — alegou Marcos. — Como ele é só uma criança você não tem obrigação de pedir perdão a ele? Muito bem, vá dormir e espere que ele peça perdão a você! Pode até ser que ele peça, pois ele te adora! Se fosse eu, diria que transei com a garota, transaria novamente e que você não tinha nada com isso!

— Calma aí Marcos — pedi. — Assim você está brigando comigo!

— Não senhor! Estou apenas te orientando. Acho que você não gostaria nada de perder a amizade com Regis. Gostaria?

— Claro que não!

— Criança briga com criança, daí a alguns minutos está tudo bem novamente. Brigam com os pais, logo está tudo bem novamente. Mas apanhar de um amigo, adulto?! Eu não queria estar em sua pele!

— Está exagerando!

— Você é quem sabe.

— Boa noite!

— Lembre-se — insistiu Marcos. — Regis não é um menininho bobo. Ele é mais vivido do que muitos adultos. E está aí uma coisa que ele jamais se esquecerá! Não a primeira transa. Mas sim ser espancado pelo amigo que ele mais confiava.

Retirei-me, voltando ao quarto com intenção de voltar a conversar, mas ao observá-lo pela luz do abajur acesa, percebi que ele já estava dormindo, com lágrimas secas sobre a face. Deitei-me para dormir também. Se é que iria conseguir.


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