Duas semanas. Quatorze dias. Sem namorada por perto. Era só nisso que eu conseguia pensar, a Júlia estava completamente ocupada com a apresentação do musical. E eu até tinha o que fazer, muito o que fazer, mas só conseguia pensar no número que ela ia fazer com o Victor. Ela não me deu nenhuma dica de como seria, por isso estava tão preocupado. Eu tava assinando umas papeladas do meu curso de economia, e aproveitei pra ver outras coisas que pretendia fazer no futuro.
– Você vem com o Bruno e a Sara?- Júlia perguntou pela terceira vez ao telefone.
– Sim, chego umas 20:00. Ainda ta nervosa?
– Muito, eu não consegui nem dormir direito, tem que dar tudo certo. Vão ter olheiros de várias escolas de música, eu preciso ser notada de qualquer jeito.
– Você tem a voz mais linda desse mundo, é claro que vão notar seu talento. Relaxa amor, vai dar tudo certo.
– Ta bem, eu vou ter que desligar agora, tenho que ensaiar mais um pouco, beijo.
Minha mãe resolveu ir para o musical, então tive que esperar toda aquela produção que mulher adora fazer. Ela passou uma hora secando os cabelos e os arrumando em frente ao espelho. Quando por fim ficou pronta, peguei o carro e encontrei com o casal, pra irmos juntos. O teatro estava lotado, ficamos na segunda fila, eu fiquei mandando mensagem pra saber onde a Júlia tava, mas o sinal era péssimo.
– Você não vai conseguir entrar nos bastidores de jeito nenhum, desiste dessa ideia.- Disse a Sara cortando meu barato. Eu ainda não tinha conseguido falar com ela, e já estava perto de começar.- Ih...Olha a maluca atrás da cortina!
– Vamos fazer sinal, ela deve ta procurando a gente.- Minha mãe levantou os braços e ficou sacudindo feito uma maluca. A Sara entrou no clima boneco de posto e ficou sacudindo os braços. Foi aí que a Júlia nos encontrou e ficou se comunicando por gestos. Até que alguém a puxou e por fim começou o musical.
Estava bem divertido, era a história de adolescentes começando a ter uma vida de adulto. No começo, entrou uma menina bem maluca, que berrava mais que tudo. Logo em seguida entraram duas amigas da Júlia, eu já tinha encontrado algumas vezes com elas. Elas começaram a cantar uma música triste. Que meio que contava a história de uma pessoa solitária, que no caso era a menina que estava grávida. Depois o Victor entrou no palco, cantando "Lucky" da Colbie Caillat. Pouco tempo depois a Júlia veio cantando junto com ele, ela parecia um anjo. Estava usando um vestido branco, e descalça deslizava pelo palco. Eles então chegaram perto um do outro, e começaram a fazer o papel de casal. Eu preferi olhar pro chão nesse momento, não ia dar conta dessa cena tosca.
– Ela ta maravilhosa!- A Sara falou eufórica, quase pulando da cadeira. Eu dei uma olhada e eles estavam andando em círculos, desviando um do outro. E por fim, graças a Deus a música acabou. Nos levantamos pra aplaudir e o que eu mais temia na vida, aconteceu. O infeliz do Victor se aproveitou do momento, e agarrou a Júlia no palco. Eu tentei sair de onde estava, mas o Victor me segurou com ajuda da Sara e da minha mãe.
– Eu vou matar esse moleque!- A Júlia ficou sem reação e me olhando assustada. Depois ele a puxou pra saírem do palco, dando a vez pro próximo número.
Ela ainda tinha outros números pra fazer, e eu fiquei sentado esperando acabar tudo isso. Assim que se fecharam as cortinas, eu fui direto pra entrada dos bastidores. Tinha um segurança barrando na entrada, mas eu continuei esperando. Assim que eu dei de cara com aquele desgraçado, dei logo um murro na cara dele. O que fez o segurança tentar separar a briga, eu só consegui dar outro e já tinham nos separado. Pouco tempo depois a Júlia apareceu correndo, e toda assustada.
– O que você fez?- Ela me perguntou quase chorando.- Me disseram que você tava brigando aqui fora, o que você fez? - Eu apontei pro fim do corredor, onde uma menina do musical colocava gelo na cara do Victor. Ela me olhou e balançou a cabeça.
– Ele pediu por isso!
– Vem, vamos sair daqui antes que tenha outra briga.- Ela me puxou pra sair e encontramos com os outros na entrada do teatro.
– Isso é sangue no rosto dele?- Ouvi minha mãe perguntar de longe, depois que alguém confirmou, ela veio correndo na nossa direção.- Leandro, você tava brigando? Você ficou louco?
– Dá um tempo mãe, ta tudo bem.
– Tudo bem? Você aparece com o rosto sangrando e ta tudo bem? Imagina quando tiver mal, Leandro!
– Eu dirijo o carro, vamos.- Disse o Bruno pegando a chave e logo estávamos todos na minha casa. A Júlia tava limpando meu rosto e colocando curativo, mas tinha sido coisa boba. Ela não tinha dito nada desde que entrou no carro, ficou sem nenhuma expressão, o que dificultava muito.
– Me desculpa, eu não consegui ficar sem fazer nada quando ele apareceu na minha frente.- Ela nem me olhou nos olhos, continuou fazendo o curativo.- Para com isso, fala comigo.- Eu fiz ela parar com o curativo, e aí ela me olhou de verdade.
– Ele não tinha o direito de ter feito isso, eu entendo. Eu falei um monte pra ele, não precisava você ter ido lá e acabado com o garoto. Eu sei me defender desses caras, eu sei lidar com essas coisas. E por mais que você tenha ciúme, por favor, se controla!
– Eu sei, já pedi desculpa...
– Tudo bem, só não faz esse tipo de coisa outra vez. Eu odeio briga, odeio.- Eu apenas a puxei pra um abraço. Jantamos todos juntos e depois fui deixar todo mundo em casa.