NeoSquad escrita por Tayle


Capítulo 8
O Último Plano


Notas iniciais do capítulo

"Droga, vocês me distraíram tanto que eu esqueci de descrever o laboratório do Doc"
"Ah, fala sério, você tá usando isso como desculpa porque tava com preguiça de imaginar o lugar"

— Aegis tentando bancar a mãe do Narrador



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As expressões no rosto de todos os presentes naquela sala tornaram-se nulas assim que ouviram a frase que saíra da boca de Aegis. Exceto pela criança de Lena, ninguém sabia como reagir e o andarilho temporal deixou que todos processassem o que ele havia dito. Não era fácil para ninguém admitir que a essência da vida estava prestes a sumir e não dava para saber o que aconteceria depois.

Há alguns anos, a essência da morte desapareceu quando seu deus, Ragnar, foi assassinado, junto com o último goblinóide restante. Quando isso aconteceu, todos os mortos retomaram seus corpos e ganharam uma segunda vida. A humanidade que ainda estava cursando sua primeira chance de sucesso em Arton tratou aqueles que eram chamados de Dádivas de Ragnar com desprezo e muitos foram hostilizados e mortos, sendo rotulados de aberrações.

Leônidas e Kurt faziam parte desse grupo, mas tentavam esconder isso de todos, receando serem novamente hostilizados.

– Esse é o problema? – Doc quis saber – Lena morrerá?

– Sim – Aegis respondeu tristemente.

A postura da garota se enrijeceu mais do que já estava. Ela pendurou as maças de batalha em um cinto que servia unicamente de suporte para as suas armas e caminhou lentamente até a direção de Aegis, com um olhar perdido de quem estava mergulhada em pensamentos.

– Quanto tempo? – Ela perguntou, se preparando para a possível dureza da resposta.

– Não sei dizer. Meu avanço no tempo em relação à agora foi de cerca de quatro meses, então podemos estipular isso como o prazo máximo para que Lena morra definitivamente, mas não sei dizer quando isso acontecerá, dentro dos meses limites.

– Espera – Alec pediu –, você veio para esse tempo para mudar o presente e alterar o futuro. Isso não pode causar problemas mais para frente no fluxo temporal? Tipo uma reação em cadeia incontrolável?

– Entenda, o presente que vivemos hoje já é fruto de uma reação em cadeia de coisas que aconteceram no passado. Se alterarmos alguns pontos chave do passado, com certeza alteraríamos o presente e isso pode ser mal, porque não sabemos quais seriam exatamente as alterações.

– Então porque quer fazer isso? – Alec ainda se sentia confuso.

– Porque qualquer coisa é melhor do que eu vi.

– Vou tentar um palpite: – Doc se intrometeu – se a deusa morre, a essência da vida também morre. Se isso acontecer, tudo que vive também morrerá, incluindo os próprios deuses.

– Exatamente.

Foi a vez de Shadow perder o controle.

– Se isso é verdade, então porque os deuses não se juntam para proteger Lena? – Gritou, tentando lutar com sua frustração.

– Porque nem mesmo os deuses sabem disso. – A descoberta foi capaz de abrir um sorriso no rosto de Doc, mesmo a notícia não sendo das melhores. – Eles pensam que a morte de Lena só vai afetar a vida mortal, por isso não se moveram. Se soubessem que afetaria a vida dos deuses, nem Szzaass a teria envenenado.

– Cara – suspirou Kurt –, não me diga que vocês querem resolver isso. Vai dar um trabalho enorme!

– E quando foi que fugimos de um, irmão? – Retrucou o outro Solaris.

– Aegis, nos leve para a minha casa. – Doc começou – Tenho alguns brinquedos lá que podem nos dizer o que fazer.

– Onde fica?

– Mil e seiscentos metros abaixo do nível do mar, sobre o pico da montanha mais alta do reino das Montanhas Sanguinárias.

Aegis tocou o dedo no chão e o solo pareceu se tornar líquido em volta do ponto onde ele encostou. Metade da unha do indicador penetrou no chão de aço puro que agora tinha a consistência de água potável. Um ponto luminoso surgiu exatamente onde ele tocara quando se levantou.

– Desculpe, mocinha – ele se virou para a serva de Lena, enquanto o ponto se transformava em uma linha que crescia para os dois lados –. O que vamos fazer não é recomendável para garotas da sua idade. Na verdade, não é recomendável para ninguém.

Ela não gostou nem um pouco daquelas palavras, mas sabia que eram verdadeiras. Shadow foi até ela e ajoelhou-se sobre a perna esquerda para ficar na altura dela, enquanto a linha luminosa criada por Aegis girava em torno de seu próprio centro, revelando um portal interespacial no chão.

– Ouça – Shadow disse –, sua mãe pode parecer bastante forte, mas ela precisa ser protegida tanto quanto os feridos e tanto quanto esse prédio, ok? Eu não pude protegê-los.

A garota não se moveu um mísero centímetro.

– Cuide deles para mim, irmãzinha?

Shadow não esperou a resposta e se jogou no portal que Aegis abrira e, um por um, o resto das pessoas naquela sala o acompanharam, exceto por Ryer e pelo minotauro.

– Você não vai? – O mago perguntou.

– Alguém precisa ficar para ajudar o garoto, quando a perna dele melhorar.

– Você sabe que não vai melhorar, assim como sabe que eu estava observando através do orbe quando ele pediu para ser sacrificado e os doutores de Sallistick o fizeram.

– Então nós sabemos, mas somente nós sabemos. Não posso culpá-lo. O cara vivia como velocista. Como você se sentiria se não pudesse mais usar magia? Agora vai, Solaris, eles precisam de você tanto quanto precisam de seu irmão ou de Aegis.

– Não se menospreze, Leo. Você sabe que nenhum de nós conseguiria te substituir.

– Sei que não. – O minotauro abaixou a cabeça – E não estou me menosprezando, estou me sacrificando. Há algo que eles precisam que seja feito.

– Seja o que for, não vai conseguir com todo esse caos lá de fora. Esse clima de guerra civil renderia um bom filme de ação. – Ryer foi andando lentamente até a beirada do portal. Definitivamente, ele não parecia ser cego, exceto pela falta de íris nos olhos.

– Ah – suspirou Leo –, pena que meu amigo congelado não está aqui para pegar essa referência – e empurrou o mago para dentro do portal.

****

– Faz tempo que eu soube que Lena tinha sido envenenada, então supus que poderia acontecer dela realmente morrer. – Explicou Doc – Então eu vim até o laboratório e pedi para meu assistente criar dois dispositivos. Um seria capaz de localizar o deus da traição, mas para isso precisaria de todas as Gemas da Virtude restantes e, apesar de sabermos onde elas estão, não temos certeza se conseguiremos tempo para isso.

– E ainda temos de lidar com Oceano e Megalokk – pontuou Ryer.

– O outro dispositivo é um portal de frequência.

– Mas existem milhares de portais de frequência espalhados por aí. Praticamente todo prédio tem um – disse Kurt.

– Sim, mas não acho que esses que você disse consigam nos levar até onde este aqui consegue. O brinquedinho que criamos aqui é capaz de nos levar até um dos últimos reinos não conquistados pelos humanos.

– E para que precisamos disso? – Perguntou Shadow.

– As Gemas da Virtude se encontram atualmente com os deuses. Cada deus porta a sua gema, mas existem deuses desaparecidos ou mortos. – Doc pediu para que seu assistente trouxesse algo que os demais não entenderam e um garoto que não parecia ser mais velho do que a que eles acabaram de abandonar na Casa de Lena adentrou à sala com uma esfera de silício perfeitamente esférica nas mãos – Essa esfera foi construída para absorver todas as Gemas e nos mostrar a localização das restantes. Quando todas as joias forem colocadas aqui, exceto a de Szzaass, o mapa holográfico que ela exibe com as coordenadas das pedras restantes vai sumir e dar lugar a um canhão de feixes de quarks.

– E o que isso faz? – Perguntou Shadow.

– Faz a minha cabeça doer – disse Alec, mas Doc o ignorou.

– Na verdade, nem eu sei o que ele faz. Ele foi projetado para abrir um portal que nos levará até o deus da traição, mas não sei dizer se é realmente isso que ele fará.

– Ótimo, posso ir agora? – Perguntou Kurt.

Imediatamente todos os olhares se voltaram para ele. Ninguém daquele grupo havia pensado em desistir e muito menos que alguém fosse capaz de desistir, mas agora que refletiam melhor, Kurt era comandante do terceiro esquadrão do governo e Ryer era líder dos magos que invadiram Arton para defender a humanidade do risco que iria emergir dos oceanos.

– Meu irmão tem dois deuses para matar e eles também têm gemas. – Justificou-se o guerreiro – Além disso, eu posso tentar localizar Valkaria, Tannah-Toh e Hynnin. São cinco joias. Se conseguirmos todas essas, restarão apenas outras cinco.

Doc pegou o raciocínio.

– Podemos usar o meu portal de frequência parar chegarmos no reino celestial da ordem e pegarmos as gemas de Khalmyr e Nimb. Os outros deuses que restam são Wynlla, Azgher e Tenebra.

– Eu posso falar com Wynlla.- Disse Ryer – A deusa da magia certamente vai atender um apelo meu, mas não sei se posso fazer o mesmo com o deus-sol e a mãe-noite.

– Com oito de dez gemas necessárias, podemos descobrir o resto depois. Talvez se mostrarmos para eles que temos o apoio de todos os outros deuses, pode ser que nos deem suas gemas também. – Alec disse – Eu vou com os Solaris. Um combate me agrada mais do que discutir com um louco e um certinho num lugar que eu nunca estive.

– Vocês estão esquecendo de alguns deuses – disse Shadow –. Alguns que não se têm mais notícia. Thyatis, por exemplo.

– Posso garantir que ele não anda mais por aqui – disse Aegis.

– Tudo bem, mas o que me diz de Tauron?

– É... Falta essa também – disse Doc.

– Então não podemos perder tempo – Aegis abriu um portal para que Alec e os irmãos Solaris passassem.

Doc chamou o garoto novamente e pediu para que ele ligasse o portal de frequências e programasse para que a passagem aberta os levassem para o reino celestial da ordem. O garoto estranhou o pedido, mas não ousou desobedecer.

– Temos quinze minutos para pegar o que precisamos e partirmos para a nossa parte da missão, mas antes, temos um problema – Doc disse.

– Que problema não temos? – Shadow zombou com um suspiro.

– Enquanto estivermos lá, perderemos qualquer comunicação com Arton. Será impossível usar qualquer aparelho que dependa de servidores e não teremos como falar com os outros.

– Só isso?

– O isolamento nos reinos celestiais é tão grande que quando os colonizadores dos reinos conquistados começaram a habitar nos planos celestiais, foi necessário um portal colossal que estaria sempre aberto para que fosse estabelecida uma conexão entre o local que estavam e a origem deles em Arton.

– Por que fizeram isso? – Shadow quis saber.

– Porque a barreira mágica criada pela essência do deus faz com que até mesmo as memórias criadas em Arton sejam perdidas. Com o tempo, vocês esquecerão até mesmo quem são, então não podemos demorar muito por lá.

– Ótimo. Como voltaremos?

– Eu posso cuidar disso – Aegis disse –. Devo ter energia para abrir alguns portais até mesmo lá dentro, mas não garanto que vou conseguir deixar nenhum aberto por muito tempo e não vou poder criar um a cada dez minutos.

– E quem diabos ia querer ir e voltar a cada dez minutos? – Shadow perguntou.

– O narrador – Doc respondeu –. É mais do que natural que ele queira narrar o combate dos irmãos Solari contra Megalokk e Oceano e registrar tudo que acontece com Leônidas e Addam ao mesmo tempo em que descreve cada centímetro do reino celestial para onde vamos, mas nem mesmo ele vai poder transitar livremente.

O QUE? Como assim a história que eu crio tem poder sobre mim? Não era para ser o contrário?

– São tempo difíceis para todos nós e todo mundo aqui está tendo que fazer uma escolha difícil – disse Doc.

– É verdade cara, a gente não vai ficar ressentido se você escolher o combate subaquático. Lembra que essa história é baseada numa mesa de RPG, né? – Perguntou Aegis – Então, escolhas cruciais são pontos importantes de toda aventura e nem mesmo o criador escapa de umas.

É verdade.

– E aí, o que vai ser? – Quis saber Shadow.

Espera um pouco.... Isso é baseado numa mesa de RPG.... Um jogo.... E eu posso escolher entre ir para um reino celestial ou para o fundo do mar.... Vou com vocês! Odeio a fase da água!

Doc não se surpreendeu com a resposta, mas seu assistente mirim que voltara para comunicar que o portal estava pronto não aguentou segurar a risada. Ele entendia bem o que o Narrador falou, porque também era viciado em alguns jogos.

– Bem, alguém tem que pegar alguma coisa? – Perguntou Doc.

Ao ver a falta de reação do grupo, entendeu que a resposta era “não” e guiou todos até a sala menor onde ficava o portal.

Um anel de metal prateado posicionado em cima de um altar que era acessível por meio de três humildes degraus. Nas paredes do anel, furos circulares projetavam luzes coloridas que faziam da passagem interdimensional uma mistura psicodélica de cores que pareciam o produto de uma limpeza de pincéis de algum artista.

Doc foi até o garoto.

– Ouça, preciso que você feche o portal assim que passarmos, entendeu? Não vai adiantar deixar a passagem aberta e isso ainda dá chance de algum ser de lá passar para Arton e causar uma confusão incrível aqui no laboratório.

– Tudo bem – o garoto deu um sorriso infantil –, mas na próxima eu vou com vocês.

– Francamente, eu espero que não exista uma próxima vez.

O doutor se ergueu, ajeitou seu jaleco branco meio manchado e se juntou ao resto do grupo que esperava por ele na frente do portal. Rapidamente, organizaram uma fila indiana. Na frente vinha Doc, seguido de Shadow e, por último, Aegis.

– Todos prontos? – O primeiro da fila quis saber, sem parar de admirar o psicodelismo colorido criado pela sua própria invenção.

– Sim – Aegis e Shadow responderam em uníssono.

– Narrador?

Ah, sim, eu estou pronto.

Assim que ouviu todo mundo, Doc começou sua marcha insegura em direção ao desconhecido e seus dois companheiros foram logo atrás. O garoto, assistente mirim, que estava no painel de controle do portal, esperando que todos passassem para desligar a máquina, não pôde deixar de rir quando ouviu a voz do narrador mais uma vez.

Eu devo estar enlouquecendo para conversar com meus personagens.


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Notas finais do capítulo

Galera, eu realmente acho que estou enlouquecendo... se bem que eu costumo ficar mais louco quando estou de férias. Deve ser porque não ocupo minha mente com muitas coisas e ela se vinga me chamando de preguiçoso e me deixando maluco.

Enfim, parece que o segredo para que eu cumpra os prazos é eu não prometer nada! (e isso não é motivo de orgulho)

Como eu sempre digo: espero que estejam gostando! Se preparem, porque agora a história entra da reta final e eu não planejei o fim, o que quer dizer que é provável que apareçam coisas bem loucas.



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