NeoSquad escrita por Tayle


Capítulo 3
Os Túneis Subterrâneos


Notas iniciais do capítulo

"Cara, porque aquele minotauro só tem um chifre?"
"Pergunta isso pra ele e vai levar uns tapas, aposto."

— Bêbados, na casa dos caçadores de recompensas.



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Não demorou muito para que chegassem até a entrada mais próxima dos túneis subterrâneos de Petrynia. Bastou sair da casa em que estavam, andar duzentos metros para a esquerda, em direção a uma rua esquecida e mal iluminada, onde, no chão, repousava uma imensa placa de metal desgastado por ferrugem. Leo não demorou muito para levantar aquele objeto desnecessariamente pesado, que era maior do que Alec e Shadow juntos. Abaixo do lugar onde a placa estava, uma escadaria se revelou, com LEDs do tamanho de cabeças iluminando os corredores de quinze em quinze metros, na altura do ombro.

– Como vamos achar o que procuramos? – Perguntou Alec ao minotauro.

– Não me perco aqui, sei onde está tudo. – respondeu Leo – Basta virar à direita e...

Antes que pudesse terminar de falar, Alec eletrizou seu braço e tocou numa miniatura ridícula de riacho que corria ali, como se fosse um esgoto desativado. Seu corpo, em formato elétrico, percorreu todo o caminho da água, até o final, mas para o lado errado.

– Pra onde aquele cara foi? – Perguntou o minotauro, sem saber ao certo o que pensar.

– Relaxa, ele volta – era Shadow –. Aquele apressadinho adora fazer isso.

Todos seguiram pelo caminho indicado por Leo e não demorou muito para que todos se perdessem e seguissem apenas os comandos do guia monstruoso que estava junto com eles. Se aquele caçador de recompensas estivesse mentindo, todos estariam muito ferrados.

Os túneis subterrâneos não seguiam caminhos bidimensionais. Surgiam túneis não só da direita ou da esquerda, mas também os que vinham por baixo ou por cima, tornando aquele lugar uma espécie de encanamento de pedra e metal gigante e desordenado. Apenas alguns corredores eram iluminados com os LEDs, e menos ainda eram os que possuíam as lâmpadas funcionando e ligadas. Leo havia explicado que seus companheiros já haviam tentado explorar aquele lugar antes por diversas vezes e marcavam os lugares que passavam com aqueles leds grudados na superfície das paredes, mas como eles eram todos caçadores de recompensas, quando alguém desistia de tentar achar aquele tesouro, eles voltavam lá e apagavam todos as luzes que podiam, para dificultar o trabalho dos próximos que tentassem fazer aquilo que nenhum deles havia conseguido. Ele, por ser um minotauro com habilidade inata de jamais se perder, sempre fora favorito e por isso sempre fora seguido. Bastava esperar que Leo achasse o caminho certo, percorresse ele até o final e, quando ele estivesse distraído, matá-lo e voltar com o prêmio. Infelizmente, para todos que tentaram, Leo não era burro a ponto de não perceber isso, assim como também não era burro de avisar aos seus novos companheiros de que provavelmente estariam sendo seguidos e nem idiota o suficiente para acreditar totalmente no que eles diziam, afinal, podiam ser atores contratados por outros mercenários para enganar o ciborgue. Era um campo minado onde ele era obrigado a correr... E ele amava isso.

É agora, ele tá distraído. Vou matar ele.

Antes que Leo pudesse reagir, uma lâmina pequena, um canivete, preso por uma espécie de corda ou fio púrpura que brilhava como neon voou e atingiu o ombro do minotauro, mas seus braços de metal fizeram a lâmina bater, perder a força e resvalar com uma faísca. O fio de neon púrpura que prendia a lâmina ao que quer que tivesse arremessado ela, na direção de um túnel tomado pelo breu, encostou na parede do corredor onde eles estavam e tanto o metal que revestia a pedra quanto a própria pedra derreteram quase que instantaneamente, pingaram e escorreram pelo resto da parede, enquanto resfriavam pouco a pouco.

– Não encostem naquele fio, é um acelerador de partículas. O atrito gera magnetismo focalizado, mas pode torrar quase qualquer coisa na hora! – Gritou Zero.

– Não pretendia ser tocado por aquilo mesmo – respondeu Leo.

Três segundos depois, emerge da escuridão um homem com retalhos de tecido, couro e pequenas placas de metais espalhadas pelo corpo, de maneira irregular. Totalmente careca, sem nem mesmo ter cílios ou sobrancelhas, mas com uma estrela tatuada na testa. Era uma aberração, mas ainda assim não deveria ser subestimado. Ele trazia na mão algo muito parecido com um nunchaku, mas nas pontas dos bastões encontravam-se duas lâminas de canivete que nunca poderiam ser guardadas e, quando arremessadas... Todos já viram como funciona.

– Ivan, seu maldito – disse Leo –, sabia que tentaria roubar minha recompensa de mim.

– Sua? Eu dezcobrri sobre a ferra! Eu fui o prrimeirro a explorrar esse labirrinto subterrâneo! – Disse Ivan, com sotaque russo.

Acho que eu enlouqueci.... Não existe Rússia em Arton!

– E mesmo tendo mais tempo e mais dicas do que o resto de nós, ainda não conseguiu a recompensa. Será que é incompetência?

– Você pagarr por essas palavrras, chifrrudo.

– E quem vai me fazer pagar? Você não é nada sem aquela sua puta. Qual o nome dela mesmo? Natasha? Até nome de puta ela tem!

– Se eu fosse você, não falarria mal dela...

Uma mulher esguia e esbelta surgiu atrás de Ivan, com um círculo azul no braço, que se projetava para fora da pele. Além disso, ela tinha em mãos uma pistola, sem dúvidas, mas não parecia atirar projéteis de metal e nem tiros de lazer. Sua pele extremamente branca e seus cabelos vermelho-sangue só diziam que ela vinha da mesma terra que seu marido.

– Chega de brincadeirras. – Disse a mulher, também com sotaque russo.

– Nisso nós concordamos, vadia – Leo falou, pouco tempo antes de investir seu machado pesado e indefensável na direção de Ivan, mas sua esposa se limitou a ser mais rápida e apenas ativar aquele círculo em seu braço. Assim que ativado, uma espécie de plasma se expandiu para todas as direções e formou um escudo transparente, meio iluminado por uma luz fantasmagórica que brilhava um azul bem claro. Ela se interpôs entre o marido e o machado furioso do inimigo, defendendo o golpe que vinha de baixo para cima, mas o escudo se partiu.

Um sorriso surgiu no focinho de Leo, mas logo se foi quando ele percebeu que o escudo estava começando a se reconstruir e logo prenderia o machado. O minotauro não sabia se conseguiria tirá-lo depois de preso, mas preferiu não arriscar. Se apoiou sobre o machado e chutou com toda sua força o escudo, quebrando-o novamente e arremessando a dupla para trás. Não demoraria muito para que o escudo estivesse recomposto totalmente, então Zero foi mais rápido dessa vez. Criou uma área de aceleração e se projetou na direção de Ivan, com a mão armada para um soco. Pouco antes da área criada englobar os inimigos, Zero desfez sua dádiva e usou o impulso que já havia nele para voar na direção de Ivan, tentando minimizar o atrito com o chão. Natasha não conseguiu se recuperar a tempo de defender o golpe, mas seu marido levantou o nunchaku e bloqueou o golpe com a corrente da arma.

Em vão. Não se deve subestimar alguém que entende física.

Zero aproveitou a força de reação da arma sobre sua mão e transformou ela em força centrífuga. Um gancho ainda acelerado e com a força dos dois somadas atingiu em cheio Ivan no queixo. O mercenário saiu do chão por meio segundo e caiu de costas na frente de Natasha, com o rosto ensanguentado e desmaiado, enquanto todos ainda processavam a informação do som de todos os ossos do maxilar, crânio e começo da coluna se partindo com um único golpe.

Em fúria desesperada, Natasha ergueu sua pistola e atirou contra Zero. No momento que o projétil o atingiu, ele pensou que estava morto, mas logo que olhou para o lugar onde havia sido o impacto, entendeu tudo. Para a sua sorte, tratava-se de um canhão de plasma, no formato de uma pistola, que atirava uma gosma corrosiva que derretia praticamente tudo em que tocava. O segredo para se livrar da gosma era ser rápido, e isso ele era o suficiente.

Enquanto Zero tirava rapidamente o casaco que usava, Shadow liberou sua arma natural, um espinho de osso que se projeta da parte de cima do punho de qualquer um dos braços e corre na direção de Natasha, aproveitando o momento em que ela ainda está aturdida com a morte do companheiro. Ela consegue levantar o escudo totalmente recuperado, mas o osso é pontudo o suficiente para atravessá-lo.

Addam não conseguia decidir o que era mais perturbador. O som dos ossos da cabeça de Ivan se quebrando com um único soco, ou o som do gorgolejar do sangue que escorria do pescoço de Natasha enquanto ela se afogava nele e tentava dizer suas últimas palavras, mas um caçador de recompensas está destinado à uma morte em esquecimento e ninguém ouviu o que a garota tinha a dizer.

Leo pegou a pistola e o nunchaku e jogou para Zero e Addam, respectivamente.

– Agora vocês têm armas novas. Não precisam ficar socando qualquer um por aí – disse o minotauro.

– Obrigado, eu acho – respondeu Zero.

****

Voltaram a caminhar, mas dessa vez tomando mais cuidado com os corredores laterais e obscuros. Foi quando viram, mais para frente, um braço feminino e extremamente pálido jogado no meio do túnel, do lado de um filete de água que continuava seu curso. Perto daquele braço, o espaço aumentava, as paredes davam mais espaço e estava claro que algum combate iria acontecer ali, mas todos sabiam que não havia mais nenhum caminho que Leo conhecesse para chegar ao destino.

– Vamos ter que seguir, seja lá o que esse braço signifique – disse Zero.

– Galera, espera – interrompeu Addam –, tem três outras passagens escuras ali perto. Se a gente for naquele braço, vamos servir de alvo. Há corredores na esquerda, direita e acima, olhem.

– Droga, não importa, temos que ir – decidiu Shadow.

Pouco antes de chegarem ao braço, mais partes daquele corpo caíram. Pela falta do cheiro de decomposição, todos perceberam que aquele corpo tinha sido morto há pouco tempo. Foi então que reconheceram.

– Vocês chamavam ela de Natasha, né? Não gostei muito dela, fácil demais de cortar – disse uma voz na escuridão e quando todos se viraram para ver, lá estava, um brutamontes que era tão gordo quanto alto, largo e forte. Não dava para ver seu rosto, porque este era coberto por uma máscara no estilo romana de metal que parecia sair de baixo da pele do pescoço. Sua arma era um cutelo com um metro e meio de lâmina, que talvez fosse tão pesado quanto o machado de Leo, e sua armadura era um avental branco todo ensanguentado, com uma calça jeans igualmente manchada e rasgada nas pontas.

Os jogadores se cagaram de medo desse.

– Suponho que seja hora de nos apresentarmos, não é? – Perguntou uma outra figura que se manteve silenciosa durante todo esse tempo. Um cara de cabelos longos e uma placa de metal do tamanho de sua cabeça flutuando na frente de seu rosto. Também com calças jeans rasgadas e sem camisa, mas esse tinha uma incrível coleção de cicatrizes suturadas de qualquer jeito. Cortes de vários tipos e tamanhos dominavam o corpo daquele cara, seja lá quem ele fosse. Suas armas eram duas katanas gêmeas de lâminas negras que eram percorridas por altas voltagens.

– Ah, qual é? A calça jeans e sem camisa é o uniforme de vocês? – Perguntou Addam, mas só então percebeu que havia mais uma terceira pessoa. Um homem que havia sido treinado para ser uma sombra. Ele usava uma roupa com tecido parecido com o que é usado para fazer roupas de mergulhadores cobrindo toda a sua pele e seu corpo era magricelo e alto. Em mãos, tinha um disco de metal totalmente negro e fosco, mas que obviamente era cortante e arremessável.

Viva Tron, O Legado, só que sem neon, dessa vez.

– Vocês são um mais bizarro do que o outro. Qual de vocês é o JoJo? – Perguntou Addam.

– Não temos mais nomes, apesar de nossos irmãos nos chamarem de Açougueiro, Máscara de Metal e Sombra. Não preciso dizer quem é quem – respondeu o grandalhão.

– Não temos tempo pra vocês – Zero usou a pistola que havia acabado de ganhar diretamente no rosto do Açougueiro e o seu capacete romano começou a corroer. Por estar muito tempo sem ver a luz do dia, tudo que ele pode fazer foi cobrir o rosto e gritar enquanto a gosma corrosiva escorria para seus olhos.

Os outros dois rapidamente se moveram. Aquele que era chamado de Máscara de Metal pulou nas costas do Açougueiro para tomar mais impulso e cair sobre Addam, cortando tudo que fosse vivo, mas foi muito lento. O golpe foi bloqueado da mesma forma que Ivan tentara bloquear o soco de Zero. Felizmente, aquele cara não era tão inteligente. Não demorou muito para que Addam reagisse. Ainda com o inimigo forçando seu nunchaku, ele conseguiu se recuperar e usar a lâmina da ponta para tentar atingir o pescoço do mascarado. Ele conseguiu se desviar da lâmina rápida de Addam, mas não foi rápido o suficiente para sair da chifrada de Leo, que com seu único chifre, perfurou o pulmão esquerdo do inimigo e levou junto o coração, abrindo caminho entre as costelas. Como não tinha tempo para outras coisas, deixou o corpo ali mesmo, enquanto se virava para o combate. Ainda havia dois vivos, mas não por muito tempo.

Shadow não hesitou em fazer com o Açougueiro o mesmo que havia feito com Natasha, mas percebeu que o pescoço dele estava coberto de metal.

– O pescoço pode estar protegido, mas o rosto está livre – disse Shadow, poucos segundos antes de perfurar o olho esquerdo do brutamontes e atingir seu cérebro. A morte foi instantânea.

Todos se sobressaltaram com o barulho forte do imenso corpo cair no chão como um peso morto, com seu avental ainda úmido do sangue que havia respingado enquanto ele cortava Natasha em pedaços.

Logo depois do gigante cair, Shadow pegou o cutelo do inimigo e foi investir no último que sobrara. Quando parecia que o golpe não seria defendido, a lâmina circular que havia em sua mão começou a brilhar e algo invisível parou o golpe de Shadow.

– Um campo de força? Interessante... Mas como vai se defender disso? – Disse Addam, antes de pular na direção da sombra viva, apoiar-se sobre suas costas e, com as lâminas do nunchaku virada para baixo, golpear quinze vezes repetidamente e saltar para trás, deixando os furos nas costas do inimigo como cortesia.

Quando o último deles tombou, Leo tirou o mascarado de seu chifre e deu o disco cortante e as katanas gêmeas para Zero guardar.

– O dos ossinhos ali pode ficar com o cutelo, já que ele gostou tanto – disse Leo –, mas vamos continuar seguindo. O final fica ali na frente.

Andando mais alguns metros, o filete de água finalmente acabava e o túnel se expandia em uma sala circular com um teto de vinte e cinco metros de altura. Do outro lado da sala, uma porta quase tão grande quanto o teto com uma face de metal enfeitando a porta e duas lâminas duplas entre os dentes do enfeite. Entre eles e a porta, uma criatura colossal, um lagarto verde-amarelo de vinte metros de comprimento e quase três de altura, cheio de cicatrizes na pele escamosa e olhos brancos como leite encarava-os, já de mau humor. O réptil não abriu a boca, mas todos ouviram a voz colossal que com certeza vinha dele.

– Que bagunça vocês fizeram, hein. Odeio ser acordado.

– Fodeu – disse Addam –, não vamos conseguir matar essa coisa. Isso é quase um dragão!

– Err... Na verdade, é um Dragão do Deserto – disse Zero –, acho que eu conheço ele. Turak, se eu não me engano.

– Olha, parece que fiquei famoso na superfície! – Disse a fera – O que será que aconteceu com meus irmãos pra que eu me tornasse famoso?

– Morreram. Todos.

Turak não pôde evitar uma gargalhada que fez as paredes tremerem e pequenas pedras despencarem do teto, quase trinta metros acima deles.

– E vocês morrerão agora – gritou a fera enquanto virava sua cabeça de lado e se preparava para morder todos de uma vez, mas antes de fechar a mandíbula, Leo, que estava atrás de todos, gritou para abrirem caminho e correu em direção ao fundo da boca da fera, colocou o machado entre os dentes do animal e torceu para que a arma aguentasse a pressão, enquanto virou a cabeça para o lado e golpeou a língua do dragão com seu único chifre.

Um barulho de trovoada inundou os ouvidos de todos naquela sala e não houve ninguém que não tenha ficado surdo por três segundos, mas estar surdo não fazia Zero parar de pensar e ele sabia muito bem o que tinha causado aquela trovoada. Ele rapidamente jogou as katanas para o alto. Antes das armas caírem no chão, milhares de cortes executados na velocidade da luz retalharam completamente a língua da fera, junto com sua cabeça inteira. Poucos segundos depois, Alec caiu no chão de pé, admirando suas novas armas.

Assim que seu sangue branco escorreu, Zero já sabia o que deveria fazer. Pegou um frasco que sempre guardava consigo e despejou sob a testa da face que enfeitava a porta que se encontrava logo atrás da fera. Cinco metros de altura de pesado aço negro adornado com uma face humana com duas lanças atravessadas entre os dentes. Uma nuvem de fumaça preencheu a sala onde eles estavam, como se algo tivesse acabado de ser despressurizado, e, por fim, a porta se abriu.


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