Living in Hell - Fanfic Interativa escrita por Saulo Poliseli


Capítulo 38
Capítulo 38 - Esperança III




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O grupo, com Lucy na liderança, caminhava em busca de um hospital para saquear medicamentos para salvar a vida de Aaron. Os sobreviventes caminharam por milhas e o cenário era sempre o mesmo: carros abandonados e tombados, vegetação se expandindo pelas construções de concreto, manchas de sangue no chão, e o silêncio absoluto.

O silêncio também tomava conta do grupo, que estava caminhando há horas sem nenhuma pausa, e durante toda essa caminhada nenhum morto-vivo apareceu. Stefan resolver quebrar esse silêncio com uma pergunta:

– Falta muito para chegarmos?

– Ainda estamos dentro da área que limpamos... o hospital fica na parte que não limpamos – Respondeu Lucy.

– Vamos continuar desarmados quando chegarmos nessa parte? – Perguntou James.

– Vocês não precisaram de uma arma até agora, e não vão precisar quando chegarmos – Voltou a responder Lucy.

– Acho que não falta muito, meu jovem... – Disse Owen, tentando mudar o assunto para evitar discussão – Imaginei que essa área já estaria cheia daquelas coisas novamente, faz tempo que não vínhamos pra cá...

– Isso é bom, não é, Senhor Sullivan? – Perguntou Liam.

– Claro... mas é estranho não ter nenhum infectado por aqui.

– Então, você é o irmão do Dave, certo? – Perguntou Serena, andando ao lado de Liam.

– Sim... O que aconteceu com ele? A Wendy me disse que ele bateu a cabeça... mas não me disse como isso aconteceu.

– Bom, nós estávamos sendo atacados por um grupo e durante o conflito o Dave acabou batendo forte a cabeça – Respondeu Serena – Me lembro que ele ficou desmaia do por mais ou menos uma semana... e quando ele acordou, ele quase surtou quando descobriu como o mundo estava.

– Ele não se lembra de nada? – Perguntou Liam.

– Ele diz que se lembra de algumas coisas da infância e adolescência, da morte da mãe de vocês, e algumas coisas que aprendeu na faculdade.

– Ele se lembra da nossa mãe, mas não se lembra de mim? Isso é estranho... – Suspirou.

– Isso acontece, Liam – Disse Owen – Eu já tive casos assim no hospital onde eu trabalhava... Alguns pacientes que se lembrava de algo que envolvia uma pessoa, mas não lembrava da pessoa em si, entendeu? O seu irmão teve sorte de não perder toda a memória. Mas isso é triste.

– Sim... é triste mesmo – Disse Liam – Mas se ele lembra da nossa mãe, será que ele lembra do nosso irmão do meio?

– Talvez sim, talvez não... – Respondeu o ex-médico – Conversa com ele, cite o nome da sua mãe, pai e irmão... conte algumas histórias que vocês passaram junto. Talvez ele lembre dessas histórias e então irá se lembrar de você também.

– Farei isso! Obrigado, Senhor Sullivan!

– Ali está, o viaduto... – Disse Lucy, apontando.

– E o que tem esse viaduto? – Perguntou Stefan.

– É o que separa a parte que limpamos da parte que não limpamos.

– Então agora iremos encontrar alguns daqueles cabeças ocas? – Perguntou Stefan, e Lucy assentiu.

Embaixo da ponte do viaduto havia vários carros e alguns caminhões amontoados, todos perto um do outro, e isso era a barreira que separava as áreas que Lucy e Owen tanto falaram. O sol já ia se pondo e por isso os sobreviventes resolveram agirem mais rápidos.

O grupo se aproximou dos veículos abandonados e já puderam ouvir grunhidos e gemidos das criaturas que tinha do outro lado. Os sobreviventes subiram em cima dos carros menores para poder passar por cima dessa barreira, e já no meio do caminho eles viram dezenas de mortos-vivos perambulando pelo local e arranhando os carros enquanto tentavam atravessá-los como se fossem fantasmas.

– Droga – Sussurrou Lucy, respirando fundo.

Todos os sobreviventes pararam aonde estavam, se abaixaram e fizeram silêncio para que os infectados não os ouvissem. O grupo olhava entre si esperando que alguém tivesse um plano. Bernard tocou no braço de Lucy, apontou para o retrovisor de um carro e fez um gesto de arremesso. Lucy entendeu o que ele quis dizer e assentiu, ela se esticou para desencaixar o retrovisor de um veículo e então jogou do lado dos infectados e o mais longe que pôde.

Alguns dos infectados que estavam encostados nos carros caminharam em direção do local que o retrovisor caiu. Os grunhidos e gemidos das criaturas ficaram mais altos. Lizzie e Tom também pegaram um retrovisor e fizeram o mesmo que a Lucy fez. Agora os mortos-vivos estavam mais agitados e barulhentos, chamando a atenção do restante que não tinham ouvido o baque do retrovisor caindo no chão.

– Vamos! – Voltou a sussurrar Lucy.

Lucy, Liam e Owen foram os primeiros a avançar e descer da barreira de veículos para o lado dos infectados, e logo trataram de eliminar alguns deles. O restante do grupo também avançou, um a um. O último a avançar foi James, ele desceu do carro para o chão e quando foi dar o primeiro passo para ajudar seus amigos, ele acidentalmente chutou uma lata de alumínio que fez barulho quando foi quicando pelo chão, chamando a atenção de todos os mordedores.

Lucy percebeu que as dezenas de infectados os ouviram e estavam se aproximando, mas ainda assim ela preferiu manter o segredo das armas na mochila. Ela olhou ao seu redor e viu que se ela não entregasse as armas para o restante do grupo, eles iriam morrer. Nesse tempo que ela gastou para olhar ao redor, três mordedores se aproximaram dela, e Lucy teve que usar sua pistola para se proteger, acertando a cabeça de dois dos três mordedores, e no terceiro ela estava errando os tiros. Alguns tiros acertava no peito, outros no ombro, e isso não era o suficiente para matar a criatura.

James estava com sua guarda erguida e eliminando alguns mordedores que se aproximavam. Ele olhou pro lado, viu que a garota estava em apuros e teve que sair do seu campo de proteção e abaixar sua guarda para salvar a Lucy. Ao fazer isso, um mordedor agarrou a camiseta social de James e puxou o rapaz em direção de seus dentes, mas quando estava faltando apenas um centímetro para que o mordedor fizesse de James a sua refeição, Owen deu um tiro certeiro no crânio do mordedor, fazendo com que o sangue negro e pútrido jorrasse no rosto e tórax de James.

– Merda! Vamos correr! Eles são muitos! – Gritou Lucy, chamando a atenção de todos os sobreviventes, e dos mortos-vivos também.

Ela começou a correr em direção da entrada/saída da rodovia, adentrando a cidade novamente. O restante do grupo a seguiu, menos Bernard que foi agarrado e mordido por um infectado, logo vários infectados se juntaram para se alimentar. Lucy parou de correr quando chegou na primeira esquina de uma rua da cidade, ela se virou e viu o Bernard sendo devorado pelos mortos-vivos.

Porém, não foi isso o que mais chamou a atenção da garota. Lucy viu dois pares de faróis automotivos acessos em cima do viaduto em que eles acabaram de passar por baixo.

[...]

Mark caminhava lentamente pelo jardim improvisado, olhando para as frutas, legumes, verduras e flores que tinham por ali. Ele caminhou até uma videira e esticou seu braço direito para pegar um cacho de uva, logo colocou algumas uvas na boca e sentiu um prazer imenso em poder saborear uma fruta fresca depois de tanto tempo comendo coisas ruins para sobreviver.

– São doces, né? – Perguntou Dave, se aproximando do ex-militar – Nem acredito no que essas pessoas têm aqui... Nunca imaginei que iria comer uma fruta tão fresca como essas outra vez.

– Pois é... meu paladar e estômago agradecem – Respondeu Mark.

– Você viu o que eles têm aqui? Maçã, abacaxi, uva, laranja, morango... muita coisa! Sem falar nas verduras e legumes – Disse Dave. Mark assentiu e sorriu de canto.

– Como se sente, cara? Fiquei sabendo que você perdeu a memória...

– Estou bem. Harry e Nadin me convenceram que éramos amigos – Disse Dave – O engraçado é que eu me lembro dos meus pais, mas não me lembro do meu irmão.

– Como assim, seu irmão? Vocês não tinham se separado quando sua fazenda foi invadida pelos infectados?

– Como sabe disso? Eu te contei? – Perguntou Dave, e Mark assentiu novamente – Caramba, a situação tá feia mesmo... – Dave riu baixo de si mesmo – Não lembro de ter contado isso à você... na verdade, eu não me lembro de ter conhecido você! Mas enfim, esse rapaz que se diz meu irmão sobreviveu e faz parte do grupo da Rose.

– Liam... é o nome do seu irmão, Dave – Disse Rose, se aproximando dos dois – Desculpe aparecer assim de repente e me intrometendo na conversa de vocês. Ouvi vocês falando da nossa plantação aqui... Antes nós tínhamos mais coisas... Tínhamos animais... porcos, galinhas e vacas... nossa plantação era maior, assim como nosso grupo também era maior...

– Sinto muito por você ter perdido essas coisas – Disse Dave, de forma gentil – Mas isso aqui ainda é muita coisa!

– Passamos por muita dificuldade – Disse Mark – Teve dias que tivemos que dividir apenas um enlatado para três pessoas... Se eu tivesse isso o que vocês têm hoje, eu e meu grupo não teríamos passado por dificuldades.

– Entendo – Disse Rose, suspirando – Eu não lamento a perda de alimento, o que eu realmente lamento é a perda das pessoas que tínhamos no grupo – Ela fez uma breve pausa – Éramos cerca de sessenta ou setenta pessoas, e como disse, nós tínhamos animais, a plantação era maior, tínhamos água potável, energia elétrica... muitas coisas que hoje não temos mais.

– Onde vocês moravam? – Perguntou Dave.

– Em um condado não muito distante daqui. Fomos atacados e tivemos que fugir, mas nesse ataque mais da metade do nosso grupo morreu... – Rose abaixou a cabeça e respirou fundo – Eles eram muitos e estavam todos armados. Conseguimos fugir com sorte, tivemos que deixar tudo o que tínhamos para trás – As primeiras lágrimas começaram a escorrer pelo rosto dela – Perdi meu filho... Abraham, ele era gêmeo do Aaron. Imagina o que o Aaron passou? Perder um irmão gêmeo... Sempre que ele se olhar no espelho ele irá se lembrar do irmão. É assim comigo também, sempre que olho pro Aaron, automaticamente e inevitavelmente eu me lembro do Abraham.

– Você sabe quem atacaram o seu grupo? Era algum inimigo ou foi de surpresa e sem motivo? – Voltou a perguntar Dave.

– Não tínhamos inimigos... vivíamos em paz. Nós sempre ajudava e acolhia quem fosse merecedor disso – Respondeu Rose – Nosso grupo foi crescendo assim, acolhendo algumas pessoas aos poucos que apareciam por lá... até esse dia que perdemos tudo. Depois disso o nosso grupo foi diminuindo mais rápido do que cresceu... perdemos muita gente para aquelas coisas lá fora e só sobramos nós. Eu, meu marido Owen, meu filho Aaron, Lucy, Danyel e Liam.

– Sinto muito por isso – Disse Mark, terminando de comer seu cacho de uva – Também perdemos muitas pessoas, mas não tantas quanto você. Sinto muito mesmo.

– Também sinto muito por você, rapaz – Disse Rose, usando o tecido da sua camiseta para secar as lágrimas de seu rosto – Mudando de assunto... fiquei sabendo que você era soldado. Essa informação está correta?

– Sim, realizei meu alistamento militar quando completei 18 anos. Quem disse isso pra você?

– Aquele rapaz que tentou brigar com você quando nos conhecemos... como ele se chama? Stanley?

– Stefan – Respondeu Mark – O que mais ele disse de mim?

– Disse que você e ele começaram a ter problemas depois do que aconteceu com sua namorada.

– Só isso?

– Basicamente sim, só isso – Respondeu Rose.

– Ele disse a verdade... – Suspirou o ex-militar – Eu e ele brigamos duas vezes depois disso, se não fosse Ariel eu teria morrido na primeira briga.

– Como é?! O que aconteceu? – Perguntou Rose, um pouco assustada ao ouvir isso.

– Ele não te contou isso? – Rose apenas balançou a cabeça negativamente – Tsc. Stefan estava sentado em cima da minha barriga e me esmurrando com muita força, eu não conseguia me defender e com certeza eu iria morrer por espancamento se Ariel não tivesse o impedido. Ela colocou uma arma na cabeça de Stefan, caso esteja se perguntando como ela o impediu...

– Entendi... – Sussurrou Rose – Mas e aquilo que você disse para ele quando nos conhecemos? Você mataria ele mesmo?

– Ah... quanto à isso... – Mark olhou para Dave, e viu que o texano o olhava ansioso e preocupado com a resposta – Não. Eu tive uma conversa com o Harry e ele me falou umas coisas que me fez pensar, além de me arrepender desses conflitos entre eu e Stefan, e dos conflitos que tive com a Ariel também... – Mark passou sua mão esquerda sobre a sua barba – Quando os dois voltarem, vou conversar com eles e me desculpar.

– Harry é aquele rapaz que chegou aqui desmaiado, certo? – Perguntou Rose, e Mark assentiu – Posso te perguntar ou perguntar pra ele sobre a conversa que vocês tiveram?

– Isso é pessoal.

– Tudo bem... eu entendo.
[...]

Harry acabara de entrar no quarto onde estava Wendy, Harry Jr., Emily e Nadin. Wendy estava trocando a primeira fralda do seu filho enquanto Emily e Nadin sorriam olhando pro rostinho angelical e inocente de Junior. Nadin conseguiu dezenas de fraldas, além de talco, pomada, chupeta e brinquedos para bebê, procurando pelo shopping enquanto estava caminhando para espairecer.

O ex-professor se aproximou da mulherada e do seu filho, olhou para sua mulher e sorriu ao ver a cena. Ele perguntou como tinham conseguido fraldas pro bebê e Nadin respondeu, e então Harry a agradeceu:

– Muito obrigado, Nadin. Preciso de um favor seu agora, eu quero ter uma conversa a sós com a Wendy... então tem como você ficar com a Emily por alguns segundos? – Perguntou Harry, e a Nadin assentiu. Logo as duas saíram do quarto, deixando Harry e Wendy sozinhos com o Junior.

– O que você quer conversar, amor?

– Sobre duas coisas... – Harry suspirou – Você se lembra daquele rapaz búlgaro?

– Aquele escroto que tentou me estuprar? Claro que me lembro!

– Então, eu queria falar sobre o que aconteceu aquele dia, o porque eu torturei e matei ele daquele jeito – Harry olhou para Wendy e percebeu que ela teve uma reação um pouco assustada – Foi pra proteger você, querida. Sei que o que eu fiz não é certo, mas quando eu vi o que ele estava tentando fazer com você, o meu sangue ferveu na hora e eu agi automaticamente, sabe? Eu senti muita raiva e canalizei toda a minha raiva torturando e matando o búlgaro – Harry continuava olhando sua mulher e viu que a expressão de susto de Wendy havia desaparecido.

– Eu pensei que fosse morrer naquele dia – Disse Wendy, ajeitando o Junior no seu colo – Ele me pegou de surpresa... eu estava lendo um livro e não ouvi ele entrando no quarto, quando percebi eu já estava com a fita na boca e nos pulsos, e por isso eu não gritei por ajuda – Ela fez uma pausa, abaixou seu olhar para o Harry Jr. e continuou: – Eu agradeço pelo que você fez aquele dia. Você salvou minha vida, Harry. Eu sei que o que você fez com aquele escroto foi violento e sangrento, mas eu entendo o seu lado e agradeço você por ter feito aquilo.

– Depois de ter assassinado aquele cara, eu fiquei frio e amargo por semanas, até o inverno chegar... Peço desculpas por isso.

– Eu iria estranhar se você tivesse sido o mesmo depois daquele acontecimento! – Disse Wendy, abrindo um sorriso – Harry, não precisa se desculpar... eu entendo o que passou na sua cabeça aquele dia, e também entendo você ter ficado frio e amargo.

– Fico feliz por você entender o meu lado – Disse Harry, ainda olhando a sua mulher – Mas eu tenho que contar outra coisa, e isso é pior.

– Me conte, querido – Disse Wendy, voltando seu olhar pro ex-professor.

– É sobre aquele dia que fomos atacados na casa... quando pedi para você e Emily se esconderem. O líder do grupo era um louco, ele realmente não batia bem cabeça! E ele me obrigou a fazer algo que eu não queria.

– O que?

– A resposta pode ser um pouco desagradável de ouvir, e já quero pedir desculpas adiantada... – Harry suspirou novamente, e passou sua mão no seu rosto com barba por fazer – O maluco me obrigou a transar com uma garota – Ele olhava para Wendy, viu que ela teve uma reação diferente da anterior, e não conseguiu distinguir qual era a reação – Ele iria matar todos nós se eu não transasse com a garota! Eu não queria fazer aquilo, sinceramente... Porque estou contando isso? Porque acho melhor você saber isso de mim do que ficar sabendo disso de outra pessoa... – Harry fez uma breve pausa para que Wendy falasse, mas ela ficou em silêncio e então completou: – Eu não te falei isso antes porque você podia acabar perdendo o bebê, de alguma maneira... Me desculpa, amor – O ex-professor abaixou a cabeça e ficou em silêncio.


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Notas finais do capítulo

Carla, após você ler o diálogo entre Harry e Wendy, peço para que você escolha qual será a reação/decisão de Wendy após ter ouvido a confissão de Harry ter transado com Cynthia. Pensei que eu mesmo escolher a reação/decisão dela seria um pouco injusto porque você que é a dona da personagem e etc, e também gosto dessa interação de escolhas. Mas dessa vez eu não vou colocar as opções... deixo como opção livre para você escolher, e se quiser que Wendy tenha uma fala/frase específica, deixe nos comentários!

Então é esse o capítulo, galera. Mais um capítulo sem ação e com diálogos interessantes... espero que gostem!

Nos vemos nos comentários!