Uma hora depois do grupo decidirem entre irem para o abrigo ou continuarem na estrada, lá estavam eles, em uma pequena cidade. O visual dessa cidade era como as cidades de duzentos anos atrás, as casas eram feitas de pedras assim como a rua e calçada, não tinha postes e nem fiação elétrica, o local era iluminado por tochas e fogueiras. A chuva parou de cair do céu horas atrás e por isso a cidade não estava totalmente escura.

Já estava anoitecendo, todos do grupo desceram dos veículos, pegaram as caixas de suprimentos e acompanharam Stefan. Ele entrou em uma casa e todos o acompanhou, lá dentro tinha mais seis pessoas assim como ele tinha dito, era dois homens adultos, uma mulher adulta, um garoto adolescente, e duas crianças, uma menina e outro menino.

– Quem são esses? – Perguntou um homem.

– São amigos, James – Respondeu Stefan – Eles têm comida, bastante comida, na verdade.

– Ah, ótimo! Então sejam bem-vindos! – Disse a mulher adulta.

– Deixe-me apresentá-los... Essa é Susie, o garotinho ali é o Vincent, aqueles são Emily e Reece, são irmãos, hmm... aquele é o Zograf, ele é búlgaro e não fala nossa língua, e por fim, vocês devem ter ouvido eu falar o nome dele, aquele é o James.

Stefan ia falando e apontando cada pessoa que ele apresentava, depois ele apresentou o grupo de Mark para seus amigos com a ajuda do ex-militar, já que ele não sabia o nome de todos. Ambos os grupos se cumprimentaram e logo em seguida foram jantar um pouco dos enlatados. Passou algumas horas e todos eles estavam em uma sala de estar grande que tinha espaço para todos, alguns estavam sentados em sofás ou cadeiras, mas a maioria estava sentado no chão.

James Murray era um homem alto e forte, todo o seu corpo era repleto de músculos bem definidos e chamava atenção por isso, tem um metro e oitenta e seis, pele bronzeada castigada pelo sol, seus olhos são castanhos claros amarelados, o cabelo é negro com alguns grisalhos, barba negra e grisalha cobre todo o seu rosto e pescoço, cerca de cinquenta anos. James veste uma camisa simples branca e uma camiseta xadrez azul marinho por cima, e calça jeans velha e rasgada, seu visual é de um lenhador.

Susie Smith tem um metro e setenta de altura, seu corpo é magro mas tem belas curvas, possui os olhos castanhos escuros, o cabelo é moreno e curto soltos até a altura dos ombros, pele caucasiana, tem trinta e dois anos. Susie veste uma camisa regata preta e calça jeans azul.

Emily Johnson é a pessoa mais nova daquele grupo, tem apenas dez anos de idade, seus cabelos são uma mistura de loiro com castanho claro, longos e lisos, usa o penteado "Maria Chiquinha", seus olhos são azuis e sua pele é branca um pouco bronzeada, tem cerca de um metro e trinta e cinco de altura, e é magra. Emily veste um moletom rosa claro e uma calça cinza.

Reece Johnson é seis anos mais velho que sua irmã, ele tem dezesseis anos, seu cabelo é castanho claro e usa um topete, seus olhos são da mesma cor da sua irmã, e sua pele é mais pálida, ele não é bronzeado, sua altura é de um metro e setenta e seu corpo também é magro. Reece veste uma camiseta social branca e calça jeans azul.

Vincent Griffiths tem apenas treze anos, seus cabelos são castanhos bem escuros, olhos verdes, pele morena, muitas sardas espalhadas pelo seu rosto, é um pouco baixo pra idade com aproxidamente um metro e meio. Vincent veste uma camisa amarela com uma estampa de praia, e um shorts branco simples, seu visual é de um surfista.

Zograf Volkov, o búlgaro, tem trinta e seis anos, pele parda, seus cabelos são castanhos e possui uma barba da mesma cor por todo seu rosto, possui um metro e setenta de altura, é gordo mas não chega a ser obeso, seus olhos são da mesma cor dos cabelos e barba. Zograf veste uma camisa de manga comprida preta e calça jeans da mesma cor.

– Ele não fala nem uma palavra em inglês? – Perguntou Lizzie, se referindo a Zograf.

– Nada. Mas por sorte o Benjamin fala um pouco de búlgaro – Disse Reece.

– Cara, queria agradecer novamente pela comida que vocês nos deram – Disse Benjamin, olhando para o Mark.

– Tudo bem. E eu quero agradecer pelo abrigo que vocês nos deram – Disse Mark, retribuindo o olhar – Seria difícil dormir na estrada dentro de uma picape ou de um furgão.

– O que vocês faziam antes disso tudo acontecer? – Perguntou Susie, olhando para todos em sua volta – Quero conhecê-los melhor. Bom, deixe-me começar... eu era balconista de uma loja de roupas. O salário não era grande coisa, mas ajudava na despensa de casa – Ela falava com um tom de voz simpático – Meu marido era segurança de um shopping, perdi ele para aquelas coisas lá fora. Nós morávamos em Gaffney, Carolina do Sul.

– Eu era estudante, obviamente não tinha e ainda não tenho idade para trabalhar – Disse Vincent, que continuou: – Nasci em Honolulu, capital do Havaí. Não tinha boas notas na escola porque sempre matava aula pra surfar, eu era melhor surfando do que estudando, isso eu tenho certeza – Vincent sorria – Ganhei alguns campeonatos regionais de surfe, mas meu sonho era ser campeão mundial. Nunca conheci o meu pai, fui criado apenas pela minha mãe... – Fez uma breve pausa – Ela foi mordida enquanto nós fugia e procurava por um lugar seguro, depois disso eu fiquei com minha tia, que era amiga da Susie, ela foi mordida há duas semanas.

Mark, Harry, Chelsea, Nadin, Anne e Ariel contaram, respectivamente, suas histórias antes do apocalipse começar. Todo mundo na sala estava ouvindo as histórias de seus novos companheiros, alguns continuavam comendo algum enlatado ou fruta, outros só falavam, ouviam e gesticulavam.

– Minha infância e adolescência foi normal – Disse Stefan – Todo ano eu passava raspando de série, quando me formei eu tentar fazer faculdade de arquitetura e depois de turismo, mas eu acabei desistindo de ambas – Fez uma pausa pra dar uma mordida em uma maçã – Eu pegava qualquer tipo de serviço só pra segurar as pontas e foi quando meu amigo, Lewis, me convidou para ser sócio de uma boate que ele havia comprado. Negociamos que eu ficaria com 30% dos lucros, foi muito bom pra mim, não era um serviço tão difícil assim e a grana era alta... – Deu outra mordida na fruta – Tive três mulheres e me divorciei das três, depois da terceira eu nunca mais tive um relacionamento sério para não ter mais problemas, tive que pagar pensões e por causa disso eu resolvi fazer um curso de administração para eu não acabar fodido – Ele respirou fundo, sabia que agora era a pior parte – Quando essa merda começou eu me separei dos meus amigos, menos de Lewis, nós continuamos juntos mas não por muito tempo... ele foi assassinado por um cara que dizia ser policial.

Ao ouvir isso, Clark abaixou a cabeça e ficou quieto, ele queria falar sobre o seu passado depois de Stefan, mas depois de ter ouvido sobre a morte de Lewis, o ex-policial preferiu ficar calado.

– Eu vou resumir a minha história – Disse Ben – Eu jogava pôquer, não era um profissional mas eu ganhava um bom dinheiro nas apostas. Gastava boa parte desse dinheiro com bebida e prostitutas... desculpe fazer você ouvir isso, crianças – Ben olhava para Vincent e Emily – E vocês, senhoritas – Abriu um sorriso ao terminar de falar.

– Não sei se vocês perceberam, mas eu sou descendente de alemães – Disse Jarold – E vocês devem saber o motivo de eu não gostar de ser chamado de Adolf – Ele se referia a Hitler, um dos maiores ditadores da história, se não o maior – Nasci e vivi até meus cinco anos em Berlim, então me mudei junto com meus pais para Atlanta, Georgia. Quando completei dezessete anos, me mudei com minha namorada para Savannah, em Georgia também, e foi quando eu comecei a praticar Kung Fu e tiro ao alvo. Eu era médico cirurgião – Respirou fundo e continuou: – Quando começou esse caos eu perdi minha namorada...

– Eu e minha irmã nascemos em Albany, Nova Iorque – Disse Reece – Ela sempre teve tudo o que queria, mas nunca foi mimada por causa disso, ela sempre foi educada e fazia muitas coisas para deixar nossos pais orgulhosos. E quanto a mim – Reece continuava falando – meus pais queriam que eu fosse um dia, junto com minha irmã, donos da fábrica que fazia os artigos de luxo da loja que eles tinham. Mas eu não queria isso, eu queria ser escritor e sempre quando eu tinha um tempo vago escrevia poesias e estórias escondido, um dia meus pais descobriram e viram que eu tinha talento pra escrever e então eles me apoiaram. Quando eu ia atrás de uma editora para começar a minha carreira, essas coisas lá fora surgiram.

– Eu sei que a conversa está boa, adorei conhecer um pouco mais sobre vocês e sei que nem todos contaram suas histórias... mas está tarde e eu estou com sono, irei dormir. Boa noite – Disse Susie, se levantando e caminhando para outro cômodo da casa.

– Certo, vocês podem escolher uma casa dessa rua e podem ficar nela. Tem bastante casa e todas estão limpas – Disse Stefan, já estava de pé e espreguiçando o seu corpo – Boa noite.

– Valeu, cara. Boa noite – Disse Harry.

Harry tinha devolvido as armas para Stefan quando chegaram no abrigo, eles eram de total confiança e em nenhum momento eles falaram que ia tomar as armas de Harry e seus amigos. Ou seja, ambos os grupos estavam armados e confiando um no outro. Mas apesar de toda essa confiança, os dois líderes, Mark e Stefan, preferiram ficar acordado e de vigia por precaução.

Harry e Wendy foram para uma casa pequena que tinha na rua e ficaram com ela só para eles, e o resto do grupo se dividiram em duas casas, sendo que cada residência tinha pelo menos dois quartos e uma sala de estar para todos dormirem.

5 dias depois

A manhã estava nublada e um pouco fria, o vento cortante fazia com que a sensação térmica ser de 55ºF, sendo que no termômetro marcava 68ºF. O primeiro casal do grupo estavam deitados nus de baixo do lençol de uma cama, ambos estavam fazendo carinho um no outro e com um sorriso no rosto.

– Bom dia, amor – Disse o ex-professor – Dormiu bem?

– Bom dia, querido. Impossível dormir mal depois do que fizemos essa noite – Respondeu Wendy, rindo baixo.

– Concordo – Harry também ria.

– É estranho...

– O quê?

– Você tem mais ou menos o dobro da minha idade.

– Isso importa? Do jeito que o mundo está hoje não dá pra escolher muito – Harry ainda acariciava o corpo de Wendy enquanto a olhava nos olhos – O que realmente importa é que nós amamos um ao outro.

– Tem razão... estou feliz por ter você ao meu lado, e não me importo pelo fato de você ser um coroa – Wendy riu novamente.

– Não sou tão velho assim... – Disse Harry, rindo junto com Wendy – Tava pensando na noite em que chegamos aqui e quando todos se apresentaram, e aí me lembrei que nunca soube do seu passado. Se importa de falar sobre isso?

– Não, eu falo. Nasci em uma família rica e sempre tive tudo o que queria, mas em troca eu tinha que fazer o que meus pais queriam – Falava Wendy, enquanto ainda olhava para Harry – Aos treze anos eu repeti de ano na escola e isso gerou uma confusão em casa, e por causa disso eu fui obrigada a estudar em escola pública, era uma coisa que eu odiava... não por causa da infraestrutura da escola, mas por causa das pessoas que eram idiotas – Ela suspirou e então continuou: – Depois de alguns anos eu desisti de estudar e comecei a frequentar muitas festas, bebia muito e experimentava coisas que eu nem sabia o que era... sabe como é a adolescência. Quando meus pais descobriram isso, eu fui expulsa de casa e mandada para um internato, e foi aí que começou esse caos que está até hoje.

Wendy preferiu não contar toda a sua história. Na verdade, depois que ela foi expulsa de casa e mandada para um internato, ela conheceu um garoto que com o tempo tornou-se o melhor amigo dela, ele se chamava Liam. Os dois passaram um ano juntos até o apocalipse acontecer e eles foram separados na fuga e desde então ela nunca mais viu ele, e nem sabe se o seu amigo está vivo. Wendy não contou isso para Harry porque não queria chorar na frente dele enquanto contava e lembrava esses acontecimentos.

– Hmm... então a madame era rica – Disse Harry, rindo baixo. E então ele contou a mesma história que tinha contado para Sam, quando eles estavam andando pelas ruas da cidade dos Retalhadores – Você não me disse de onde era... eu sou de Belmond, Iowa.

– Nasci em Miami, Flórida... sinto saudades da minha cidade – Disse com a voz baixa.

– Agora que já nos conhecemos um pouco mais, você quer "brincar" mais um pouco? – Perguntou Harry, com malícia em sua voz. Mas antes de Wendy responder, alguém bateu na porta de entrada da casa e disse:

– Levantem, seus pombinhos! – Era a voz de Mark.

Os dois levantaram da cama e se agasalharam para sair da cama, estava frio lá fora. Wendy viu Anne sentada no meio-fio e foi até ela para conversar. Harry viu que James estava olhando a sua moto no jardim, que pode-se dizer, da sua casa.

– Bela moto, cara. Sempre quis ter uma Harley-Davidson.

– Ah, então você gosta de moto? Já andou em uma Harley? – James assentiu pra primeira pergunta, e disse "não" pra segunda – Pegue – Harry jogou a chave nas mãos de James – Pode dar uma volta.

– Valeu, cara – Disse montando na moto e dando a partida.

Harry ficou olhando James virar a esquina com a sua moto, quando James saiu do seu campo de visão, Chelsea se aproximou dele.

– Posso falar com você um minuto? – Perguntou a garota.

– Claro. O que quer?

– Venha aqui – Disse Chelsea, puxando Harry pela mão para os fundos da casa – Preciso de falar uma coisa. Eu não gosto da Wendy, acho que você não deveria ficar com ela.

– O que você tá dizendo? – Perguntou o ex-professor.

– Ela... ela é... – Chelsea gaguejava – Harry, eu amo você! Não suporto ver você com a Wendy, isso me machuca! – Os olhos da ruiva estavam lacrimejando – Por favor, fique comigo. Me desculpa por não ter falado isso antes, eu tinha medo de você me rejeitar... – Ela chorava e soluçava – Fique comigo, Harry.

E então ela o beijou tão rapidamente que pegou Harry de surpresa, ele não teve reação de se afastar e antes de parar o beijo, Wendy estava ao fundo vendo essa cena, incrédula.