Enrolava compulsivamente mechas do cabelo entre os dedos enquanto acompanhava com olhar os movimentos do professor que estava explicando algo sobre o filtro certo para cada tipo de imagem. A morbidez que me consumia, era um sinal claro que não havia nascido para aquele tipo e aula, por mais que áreas de design me atraíssem. Talvez, desse mais sorte com uma vibe gráfica mais expressiva.

Inclinei o corpo por sobre a mesa, fazendo meu cabelo cair ao redor dos ombros e assim, esconder os fones de ouvido. Lembrei-me de continuar balançando afirmativamente a cabeça como se entendesse cada palavra que era dita na classe até que em certo momento percebi que o professor olhava diretamente para mim enquanto falava. Quase quebrei dois dedos sob a mesa enquanto tentava baixar o volume.

— Então Melanie, vai responder? — Pestanejei por alguns segundos e sem pensar balancei a cabeça afirmativamente, sem nem mesmo ter ouvido a pergunta.

— Sim? E então?

— Eu... — Depois de cinco segundos a turma começou a rir e o professor suspirou e refez a pergunta, que eu, não fazia a menor ideia de como responder, e estava prestes a dizer isso quando o sinal tocou nos libertando.

Caminhei sozinha até o ponto de ônibus, mesmo que aquele fosse o tipo de curso em que as pessoas se conheciam, eu não era do tipo que agrega amizades. O ônibus estava quase vazio, e como de costume sentei num dos bancos do fundos, e colei na janela observando a paisagem já conhecida. Torci pra chegar bem rápido em casa enquanto o ônibus atravessava aquela maldito complexo escolar se enchendo de alunos.

Quase grunhi quando o ônibus chegou na parada que eu mais odiava. Era uma praça onde os alunos se amontoavam depois das aulas. Já havia anoitecido, e a gritaria ecoava por todo canto, afastei os da multidão, e então ouvi um garoto gritar " Ei, cara. É o seu " O ônibus já devia estar saindo, então um garoto agarrado à uma menina com mais maquiagem escura que sobre o rosto do que roupas sobre o corpo começou a bater na lataria e gritar, Respirei fundo amaldiçoando o motorista que freou e depois de uma corrida rápida ele alcançou automóvel.

Eu fiquei perplexa em como ele havia atravessado metade da praça tão rápido, mas em menos de três minutos ele estava entro do ônibus sentado duas cadeiras ao meu lado, mascando chiclete audivelmente. Ele era ruivo, de cabelo ondulado e usava uma blusa do Nirvana que parecia mais velha do que eu. E, de onde estava, podia sentir cheiro de cigarro vindo de suas roupas. Ele até era bonito, com traços fortes no queixo e nas bochechas, e lábios rosados com olhos castanho-dourados.

Quando percebeu meu olhar ele abriu um longo sorriso de lado e piscou para mim. Suspirei desviando a vista e recostei a cabeça ao vidro, fechei os olhos assumindo que deveria adormecer e ignorando fato de que ele usava uma blusa da mesma banda que tocava nos meus fones.

Coincidência, é claro.