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— Então, de onde você é? — Perguntou Kira depois de sair da sala, olhando pra mim enquanto caminhava ao seu lado.

De onde eu sou? Perguntei pra mim mesma, inquieta. A verdade era que eu nunca tive interesse de saber, nunca perguntei sobre isso, nunca achei importante.

— Eu... eu não sei — respondi franzindo o cenho.

— Como você pode não saber?

— Eu nunca parei para pensar nisso, eu nunca vi minha certidão.

— E nunca perguntou para os seus pais?

Oh, um assunto delicado. Eu não esperava que em poucos minutos de conversa ela já iria tocar nesse assunto, fiz uma cara de desconforto e neguei para Kira, não iria mentir agora, já que eu estava perto de uma amizade... pela primeira vez.

— Aconteceu alguma coisa com eles? — Inquiriu Kira vendo o rosto que eu fiz. — Não, deixa. Eu estou sendo muito curiosa, não precisa me contar, sério...

Eu decidi, iria contar. Não estava nem aí se era uma estranha, se Kira achasse aquilo demais para minutos de conversa, eu iria superar, eu sempre superava.

— Eles estão mortos — suspirei. — Ataque de animal — engoli em seco, como se estivesse sentindo o gosto da minha própria mentira, que não era tão mentira assim, eu apenas omiti que o animal que foi eu.

Kira me lançou um olhar de lamentação, e eu agradeci o ato silenciosamente, não estava com vontade de ouvir um “sinto muito” de mais alguém.

— Você têm dificuldades em fazer amigos, não é? — Perguntou Kira depois de perceber que o assunto anterior não me agradava.

— Sim — disse envergonhada com o fato que eu não conseguia esconder nem se eu quisesse.

— Eu também sou assim, mas no começo do ano eu conheci pessoas bem legais, espero que você queira os conhecer.

Eu estava prestes a responder com um sorriso ou algo do tipo quando Kira foi puxada do meu lado, eu olhei para a cena confusa. Será que Kira estava sofrendo bullyng? Será que ela era da pesada e seria uma má influência pra mim? Pensamentos bobos, eu sabia.

— Eu te achei — disse o garoto com o maxilar torto para Kira. Ele era diferente, parecia gente boa, e eu achava isso legal, logo me acalmei e apaguei todas aquelas perguntas idiotas da minha cabeça.

O garoto olhou para o rosto de Kira e depois olhou para trás confuso, olhando pra mim estranhamente, notei que eu estava com um sorriso bobo no rosto, e rapidamente fiz uma cara séria como se não tivesse encarando o casal, olhando para outro lugar.

— Quem é ela? — Sussurrou o garoto para Kira, mas eu conseguia ouvir bem, muito bem.

— Uma amiga — respondeu Kira, depois virou-se para mim e deu um sorriso sincero, como se soubesse que eu estava ouvindo, fazendo eu sorrir também.

— Olá, eu sou Scott. Scott McCall — disse ele quando já estava perto de mim, estendendo sua mão.

Eu olhei para a mão dele e logo depois apertei-a, e sorri depois, um ato que estava se tornando frequente demais.

— Sou Miriana Collins.

— Nome legal — falou alguém atrás de mim, olhei para trás franzindo o cenho e encontrando um rapaz moreno cheio de pintas, muito bonitinho, e que parecia legal, como todo mundo ali.

— Stiles — disse ele acenando com a sua cabeça.

— Stiles? — Me permiti perguntar, nome estranho.

— Meu nome verdadeiro é muito pior — sorriu ele amigavelmente.

— Mais uma garota para o time! — Eu encarei a outra garota, muito bonita e bem vestida, fazendo eu parecer uma mendiga. Mas eu me perguntava depois desse pequeno show de Stiles e Lydia: Qual era o prazer de aparecer do nada?

— Olá, Lydia — falei acenando.

— Se prepare, tem muito mais de onde esses vieram — avisou Scott.

Sorri. Havia conhecido aquele pessoal em no máximo uma hora e já me sentia acolhida, como se já fizesse parte do time, como disse Lydia.

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— Você sabe onde ‘tá a caixa de documentos? — Perguntei pro meu tio logo depois de abrir a porta.

— Olá para você também, mocinha — disse ele, olhei com uma cara de tédio, estava desesperada. Queria saber logo de onde eu era, Kira tocou no assunto e abriu meus olhos, fazendo eu querer saber minhas origens. E meu tio entendeu o recado. — No closet debaixo da escada, vai ter uma caixa escrito bem grande “DOCUMENTOS”.

Sorri para ele em agradecimento e passei por trás do sofá, caminhei um pouco e entrei num pequeno corredor, onde havia duas portas: o banheiro, e o closet cheio de parafernálias. Abri a porta e encontrei a tal caixa, agradecendo por ela estar logo no começo, e não escondida no meio de toda aquela bagunça, peguei-a e a levei para a frente do sofá, tentando aproveitar pelo menos um pouco a companhia do meu tio.

Faturas, Faturas, Faturas, passava meu olho pelos papeis que tinham na caixa, nada sobre mim, nenhuma folha de papel escrito “Certidão de Nascimento”, já estava desanimando e não tinha nem 1 minuto que havia começado com a procura.

— Como foi o primeiro dia? — Perguntou meu tio sentado no sofá, onde ele sempre estava.

— Foi legal, conheci pessoas legais... Muito legal — falei sem prestar muita atenção nele, e notei que precisava desesperadamente de adjetivos novos.

— Legal, huh? — disse ele arqueando a sobrancelha.

Finalmente prestei atenção nele já que ele fez um tom de deboche, tirei minhas mãos de dentro da caixa e estava pronta para falar tudo, precisava dividir aquilo com alguém.

— Tudo bem, vou ser sincera. Eles eram incríveis, tio! Me trataram tão bem como se eu fosse amiga deles há muito tempo, e eu esperei muito por isso. Ainda lamento não ter feito amigos antes e ter descoberto o quão legal é — falei entusiasmada, quase gritando.

— Eles? — Perguntou interessado com um sorriso no rosto.

— Sim! Tinham tantos... — Sorri abertamente, lembrando de todo mundo, Kira, Scott, Stiles, Lydia... E ainda tinha mais!

— Bom te ver de bom humor — ele sorriu de canto, e eu simplesmente adorava aquele sorriso, ele era com certeza, um dos mais sinceros que meu tio tinha.

Botei minha mão de novo na caixa e peguei apenas os papeis que achava importantes, alguns eu peguei por curiosidade, mas não deixando de lado minha certidão de nascimento, finalmente havia a achado.

Subi as escadas e vi meu quarto, ele estava completamente arrumado, meu tio havia colocado algumas prateleiras pelas paredes e nelas estavam meus livros, tinha uma escrivaninha relativamente grande, tamanho suficiente para um computador e ainda um espaço para estudar, abri meu closet e todas minhas roupas estavam dobradas perfeitamente. Meu tio tinha passado muito tempo sozinho de manhã aparentemente, devia me lembrar de agradecer depois.

Parei de fitar cada canto do meu quarto e me sentei na cadeira que tinha na escrivaninha, e era muito confortável, devo acrescentar. Joguei todos os papeis em cima da mesa e já estava começando a ficar com preguiça de tanta coisa que tinha pra ler. Peguei minha certidão que estava depois de um papel qualquer e observei-a, eu realmente queria saber de onde eu era? Sim.

Nome: Miriana Wilhealm Collins

Data de Nascimento: 9/01/1995

Cidade de Origem: Beacon Hills, Califórnia.

Olhei para aquelas letras boquiaberta. Eu não sabia o que pensar, não sabia o que falar. Apenas absorvia aquelas palavras com um grande ponto de interrogação em cima da minha cabeça. Eu apenas, apenas... não sei. Mas pensando bem, eu fiquei feliz, feliz de saber que aquela cidade que eu havia gostado tanto logo de cara era a cidade aonde eu nasci. Apenas não me lembrava que era aqui, não lembrava nem um pouco da minha infância, nem sei em qual cidade eu passei essa época da minha vida. Eu não sabia de muita coisa.

E no final, eu tinha as mesmas raízes que o meu tio.