Uma semana havia se passado e Almofadinhas já estava latindo, pulando, babando e entrando novamente no consultório enquanto Remus trabalhava.

-Sirius...

-Eu sei, eu sei.

E novamente aquela cumplicidade estava lá, nos pequenos gestos.

Nenhum dos dois voltou ao assunto que surgiu aquele dia no jantar, mas não dava para disfarçar como cada um havia se afetado por saber um pouco mais do outro.

O tempo em Londres estava cada dia mais estranho.

Há uma semana estavam passando mal de calor, hoje estavam cheios de blusas, congelando.

-Odeio frio, muito, mas gosto da neve.

Remus riu tomando mais um gole do chocolate quente que havia preparado para ambos, que estavam na hora de folga.

-Eu acho que o frio é o melhor tempo para fazer sexo.

Sirius tossiu, derrubando um pouco da bebida quente, logo depois sorrindo e olhando aparentemente encantado para Remus, que a cada dia o surpreendia mais e mais.

-Que falta de pudor, Lupin. - Disse, destacando o uso do sobrenome do outro de propósito.

-Você ainda não viu nada, Black.

Mais uma risada alta e Sirius estava de novo perto demais.

Remus sabia que não era coisa da sua cabeça, o outro estava mesmo mais...íntimo. Ele percebeu -e se recusou a acreditar no começo- que Sirius tinha uma mania engraçada de abraçá-lo sempre que possível, de sempre passar a mão no seu braço, ou perna, depois que este dizia algo engraçado.

Isso, porém, não era algo ruim, apenas inesperado.

Talvez fosse a proximidade da lua cheia, mas a verdade é que Remus se sentia cada vez melhor com relação a todos esses toques, e toda essa intimidade.

Era como ter um melhor amigo, só que mais que isso.

-Mundo da lua?

-Uhm?

-Trocadilho idiota, esqueça.

Sirius parecia verdadeiramente curioso sobre esse momento de distração do outro, e agora o encarava como se tentasse ler o que se passava em sua mente.

Remus rezava para que ele não pudesse fazer isso.

-Sabe, eu estava pensando, o que você vai fazer essa noite? -Continuou Black, como se estivesse pensando em como perguntar isso há horas.

-Sabe Sirius, essa não parece uma simples pergunta casual, apesar de aparentemente ela ser.

Lupin viu o rosto de Sirius passar de seguro para incerto, e enquanto ele tentava pensar no significado daquilo Black simplesmente deu um sorriso radiante.

-Bom, é que eu queria que você jantasse aqui comigo, mas você talvez já tenha marcado algo com alguma namorada que eu não conheça.

-Eu não tenho...namoradas.

"Aquilo não pedia maiores explicações", pensou Lupin.

Os dois se encararam, como se pudessem continuar a conversa sem precisar dizer nada.

-Uhm, okay, eu também não.

"Nem isso", completou mentalmente.

O ar parecia mais denso, ou era só a respiração dos dois homens que estava mais pesada, e todo aquele silêncio parecia errado.

-Eu acho que vou arrumar a sala, a Lilly vem aí daqui a pouco e ela vai falar um monte sobre ser atendida num consultório que mais parece um pulgueiro. - E dizendo isso Sirius saiu da sala onde estavam, pensando que talvez tenha ido rápido demais e estragado qualquer coisa que ele não entendia bem.

-Black, eu vou matar você se fizer outra brincadeira desse tipo, entendeu?

-Potter meu bom amigo, cala boca.

Lilly sorriu para o marido, para tranquiliza-lo, e logo depois lançou um olhar repreensor para Sirius.

-Bom, brincadeiras a parte é isso. Agora estamos na reta final, eu acho que você deveria conversar com aquela curandeira sobre o parto.

-Obrigada Sirius, por tudo.

O médico levantou-se e deu a volta na mesa para abraçar a quase "inabraçável" Lilly Potter, e sussurar um "ruiva" carinhoso em seu ouvido.

-Hey, vamos parar com essa agarração aí, 'to começando a ficar com ciúmes hein. Médico, padrinho, que mais você quer ser hein?

Mesmo sabendo que James estava apenas brincando Sirius se fez falsamente de ofendido, e colocando uma das mãos dramáticamente no peito jogou a cabeça pra trás fazendo o casal rir.

-Ele ainda é meu melhor amigo gay, James, não se esqueça disso.

-Ah, claro, toda mulher tem, como eu poderia esquecer?

-Também não sei cara, porque também sou seu melhor amigo e seu patrono é um veado.

Remus que estava na porta se preparando para bater estancou do lado de fora, respirando com dificuldade depois das últimas informações.

Os três ainda riam muito dentro do consultório quando Lupin decidiu que deveria sair dali antes que o descobrissem ouvindo atrás das portas.

Já era noite, o jantar ainda não estava pronto, e Remus duvidava que fosse ficar num futuro próximo.

Sirius trabalhava arduamente na cozinha, acompanhado de perto pelo outro, que vez ou outra oferecia ajuda, e tendo a oferta reclinada.

Lupin estava muito mais solto, e tranquilo. O lobisomen sabia que aquilo se devia ao fato de agora ter certeza que não seria jogado para fora e humilhado pelo amigo quando o outro descobrisse que além de ser uma aberração uma vez por mês também era gay.

Não que ele tivesse alguma vez achado que Sirius fosse preconceituoso, mas alguns caras não conseguem lidar com o fato de ter que conviver com outro homem, quando este sente-se irremediavelmente atraído por ele.

Sirius Black foi o primeiro amor de Remus Lupin.

Em Hogwarts eles estavam na mesma casa, no mesmo ano, e muitas vezes no mesmo dormitório.

Ainda assim Remus era praticamente invisível para Sirius, que vivia cercado de admiradores, meninas fáceis e é claro, James Potter.

Lupin não tinha amigos, apenas colegas, por medo que alguém pudesse descobrir seu segredo.

Quando chegou a idade de começar a namorar e se interessar por garotas...bem, isso não aconteceu.

Cada vez que Black olhava na direção dele um arrepio gostoso passava por todo seu corpo, e aquilo não poderia ser normal.

As vezes ele sentia que Sirius tentava falar, e ser simpático com ele, mas Remus era apenas um nerd, e conhecendo a fama de pregador de peças que Sirius e James tinham, ele tinha medo de se aproximar e acabar vítima de alguma humilhação pública.

-Tão quieto.

-Estava pensando.

-Posso perguntar no que?

Remus queria rir da ironia da situação.

Há tanto tempo ele havia superado Sirius Black, e agora estavam ambos alí, sentados um de frente para o outro, como bons amigos. E ele ainda sabia que Sirius não iria julga-lo por sua orientação sexual, já que aparentemente o outro também era do clube.

-Você acredita no destino Sirius?

-Você acredita Remus?

-Talvez...quer dizer, nós tivemos noventa oportunidades de sermos grandes amigos, e isso só foi acontecer agora, na centésima.

O hálito de Sirius era de menta, e Remus nem registrou o que significava conseguir identificar isso.

-Não é como se eu tivesse reparado na sua existencia só agora.

-Ah Sirius, você era tão popular em Hogwarts e eu era tão...apagado, ninguém realmente prestava atenção em mim.

-Eu sempre prestei, é como se eu sempre tivesse tido essa certeza que você era um cara legal, mas só na centésima tentativa você me deixou comprovar a teoria.

Remus cheirava a cravo, e Sirius estava muito feliz de conseguir classificar o cheiro do outro só com a proximidade de ambos.

-Você ainda não me respondeu.

Sirius enxugou as mãos na lateral da calça e pensou, que talvez se arriscasse agora não perderia tudo, e que já havia pensado demais para agir.

-Acredito que talvez tantas chances de ficar junto de você signifiquem algo maior.

Lupin estava ofegante, e corado.

-Seja mais específico.

Diminuindo o espaço que os separava Sirius beijou os lábios quentes do outro, puxando-o carinhosamente pela cintura para um abraço gostoso e protetor, que não passava malícia, apenas possessividade. Remus gostou muito, e sem conseguir conter a empolgação abraçou de volta forte, sorrindo durante o beijo.

-Eu gosto de você.

-É, você foi bem óbvio.

Sirius girou os olhos, ainda abraçado ao outro, e deu um beliscão nele por baixo das blusas de frio que o Lupin usava.

-Um pouco de romantismo, por favor? - Pediu Black girando os olhos.

Remus beijou o outro novamente, um pouco mais ousado dessa vez, gemendo baixinho enquanto o abraço se tornava agora um pouco mais intenso.

-Estou beijando meu primeiro amor. É romantico o bastante pra você?

Ia fazer quase um ano que Remus Lupin estava trabalhando com Sirius Black, e alguns beijos depois do primeiro meses antes, vieram brigas, reconciliações, mais beijos, outras carícias, e mais brigas.

Sirius havia pedido Remus em namoro oficialmente há cinco minutos, e Remus já podia se sentir ainda mais feliz que antes, porque o tempo não era realmente importante.

FIM