A Resistência escrita por ShiroMachine
Julia correu para abraçar Renne, me deixando mais ou menos que sozinha. Sentei-me do lado de fora da sede, onde só estavam Renne, Julia, o garoto chamado Jack e eu, depois que Alex e Nicolas entraram.
Eu olhava para o chão, tentando assimilar o fato de que papai e Lívia se foram. Lágrimas chegaram aos meus olhos, mas eu as reprimi.
_Sinto muito pelo seu pai._ Disse Jack, aparecendo ao meu lado.
O mais estranho é que eu senti como se ele sentisse mesmo.
_Não foi culpa sua._ Falei. _A culpa é do Marechal.
Jack suspirou.
_O Marechal não é mais o mesmo._ Falou ele, quase com um sussurro. _Ele abandonou a pesquisa da cura, e decidiu acabar com os Exodus com violência. Nos últimos dez anos houve mais mortes em Aeon do que nos primeiros dez anos da Resistência. E grande parte disso é culpa do Marechal. Ele transformou a Resistência apenas numa força de guerra, não numa potência que mistura força e inteligência, como deveria ser.
Eu olhei pra ele. Os olhos verdes dele estavam cheios de mágoa, e ele estava de punhos cerrados.
_Ele acabou com nossos sonhos._ Falei. _Acabou com os sonhos de muitas pessoas.
_General Linz foi o que mais desafiou ele._ Ele falou repentinamente.
Eu olhei para ele, um tanto assustada.
_Como assim?
_Creio que não conhece essa história. Meu pai é um general, contou ela pra mim._ Ele começou. _Muito tempo atrás, quando seu pai conheceu sua mãe, o Marechal fez uma proposta a ele. Que ele se tornasse um membro da Elite, com a condição de entregar sua vida à Resistência. Ele teria que deixar tudo pra trás e se tornar o braço direito do Marechal._ Jack fez uma pausa e olhou pra mim, os olhos verdes me trazendo uma sensação de segurança. Notei que ele tinha um tipo de beleza estranha, quase que única. _Todos pensavam que ele ia dizer sim, mas seu pai disse não. Foi o primeiro a recusar a Elite. Ele amava muito sua mãe, não queria deixa-la pra trás. Depois, ele ainda desafiou o Marechal outras vezes, e quase conseguiu evitar a expulsão de Lecionadores. Com toda a certeza ele será um grande herói dessa revolução.
Ele me olhou, esperando algum tipo de reação. A verdade é que eu não tinha nenhuma. Meu pai havia deixado tudo, inclusive a proposta de se tornar um membro da Elite, pela minha mãe.
_Obrigada._ Eu disse para Jack.
Ele franziu a testa.
_Pelo o quê?
_Por me contar essa história._ Falei. _Isso me lembra... o que meu pai era, sabe?
Ele olhou pra mim, sorrindo, mas com um olhar melancólico.
_Seu pai está no exército que defende o Marechal, não é?_ Perguntei.
Ele assentiu.
_E minha mãe também._ Ele cerrava os punhos. _Eles nunca deram a mínima pra mim. Como pessoas assim podem existir?
Eu olhei para o nada, desejando saber a resposta. Ao invés disso, lembrei-me de uma coisa que meu pai havia dito.
_Família não é só sangue._ Recitei. _São as pessoas que cuidam de você, que te protegem, não importa a situação.
Ele sorriu.
_Se você estiver certa, então minha única família é Ruth e Alex.
Eu me levantei e estendi minha mão pra ele.
_Pode me incluir nessa família também, Jack.
Jack franziu a testa.
_Por quê?_ Indagou, cauteloso.
Eu sorri, apesar de ainda sentir como se fosse desabar em lágrimas a qualquer minuto.
_Você me ajudou, Jack. Me fez sorrir nesse momento difícil. É isso que uma família faz. Tenho que devolver o favor.
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