Nico caminhava sozinho, olhando para o chão. Era noite. Mais uma noite monótona, e mais uma de suas caminhadas noturnas na praia. Entediante. Levantou a cabeça por um momento e parou abruptamente diante do que viu. Um garoto. Loiro. Olhos azuis. Falava palavras estranhas. Em sua camisa laranja, estavam escritas palavras estranhas. Nico tentou, sem sucesso, traduzí-las, mas assim que mirou-as, soube que eram palavras alemãs.

Nico balançou a cabeça e voltou a caminhar. Seu coração batia rápido. Quando olhara o Garoto de Berlim, alguma coisa despertou em si. Ele não sabia se conseguiria contê-la. Ao erguer o olhar novamente, não viu o loiro. Como ele havia sumido? Desapareceu do nada. Como ele fizera isso? Nico tentou procurá-lo, em vão. Nem seu nome sabia. Onde estaria o garoto? Quem seria o alemão que mexeu tão fortemente com Nico? Até porque, eles nem se conheciam. Mas isso mudaria logo.

*************

Na semana seguinte, Nico foi à escola, animado. Ele estava na oitava série e era o primeiro dia de aula. Ele tentava prosseguir com o mistério daquela noite. Daquele garoto. Mas isso sempre voltava a sua cabeça, o que o fez ter problemas para dormir. O que Di Ângelo tinha de animado no primeiro dia escolar, tinha de cansado.

Enquanto esperava o sinal tocar, um garoto loiro vestindo a camisa do ensino médio passou por ele. Quando se encararam, mal conseguiam pensar no que dizer.

–Hm...olá...-disse o loiro com um sotaque extremamente forte.

–Hã...oi...hm...o que faz aqui?

–Eu estudo aqui. Sou novo na escola.

–Isso é evidente, Garoto de Berlim.

–Por quê?

–Seu sotaque ainda é bem forte.

–Hm...espere...você me chamou de...Garoto de Berlim?

Nico sentiu seu rosto queimar. O loiro sorriu diante do desconforto do menor.

–É que você não disse seu nome...-explicou Nico.

–Ah, claro, onde está minha educação? Sou Will Solace.

Will estendeu a mão e Nico hesitou um pouco antes de apertá-la.

–Nico Di Ângelo.

–Di Ângelo? Parece italiano.

–Eu sou italiano.

–Você não tem sotaque nenhum.

Nico pensou um pouco e deu de ombros.

–Ah, estou no país desde pequeno. Estou acostumado com a língua.

–Você podia me ajudar a me acostumar.

Nico corou um pouco e Will sorriu. O loiro encarou o anel de caveira do moreno e franziu a testa.

–Caveira?-perguntou.

–Sim, por quê?-respondeu Nico grosseiramente.

–Nada. Eu só...não estou acostumado a ver pessoas usando anéis de caveiras. Nossa, está um calor e você usando essa jaqueta! Vai derreter aí dentro.

Nico bufou.

–Você é curioso, hein. Eu gosto da jaqueta. E não estou com calor.

–Você por acaso se expôs ao sol?

–Não. Não gosto de "me expôr ao sol".

–Bem, você fará isso hoje. Depois da aula, vamos nos encontrar na praia.

–Vamos nos... espere... isso seria... tipo... um... encontro?

Will sorriu, enquanto Nico corava novamente.

–Se você quiser...-Will falou maliciosamente.

Nico abriu um enorme sorriso.

–Está bem.

Ambos levaram um susto quando o sinal tocou. Com a conversa, esqueceram-se que estavam na escola.

–Bem, temos que ir para a aula. Até mais tarde...-Will olhou mais uma vez o anel de Nico-...Garoto da Morte.

Nico não conseguiu deixar de sorrir. Imitando o sotaque do loiro, ele disse:

–Até mais tarde, Garoto de Berlim.