The Big Four - A Nova Geração escrita por Excalibur


Capítulo 23
Passagem só de Ida para o Inferno


Notas iniciais do capítulo

AAAAAAAAAAA
Já devo ter comentado aqui, mas tenho essa história no Wattpad tbm, na conta "IceAndFire". Eu costumo usar mais esse site ultimamente, então não se assustem de ver essa história lá também.
BJKSSSSSSSSSSSSS
Excalibur



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/603159/chapter/23

— O LIVRO! — Merida gritou, quase me deixando surdo.

A tempestade estava tão forte que mesmo me concentrando muito, minha rota ainda era um pouco desviada. O vento frio não estava acolhedor e nem um pouco brincalhão, como sempre é, o que era bastante preocupante.

Os últimos segundos tinham passado tão rápido, que meu cérebro ainda tentava processá-los. Por algum motivo o universo achava que o meu casaco era algum tipo de compartimento para objetos importantes. Tudo parecia surgir dele, incrível.

Baixei o olhar a ponto de ver o livro enorme que Merida tinha arranjado cair e escorregar pelo meio de nossos corpos. Dei uma guinada para frente e logo mergulhei atrás dele. Os flocos de neve não ajudavam em nada, se metendo no meio da minha visão e atingindo minha pele como pequenos cacos de vidro. Durante todos esses anos que sou Guardião, nunca vi nada assim.

Merida definitivamente estava falando alguma coisa. Como metade das coisas que ela falava o meu cérebro automaticamente descartava, por ter uma quantidade de palavrões e ameaças maior do que o permitido, eu não entendi nada. Com um último xingamento, ela me empurrou, se separando de mim e embarcando em uma enorme queda até o chão.

Assim que ela se afastou, um arrepio percorreu todo o meu corpo. Um frio cortante tomava conta de mim, e em choque, só consegui abraçar o meu próprio corpo. O Guardião do Inverno sentir frio era o cúmulo do absurdo, e ao mesmo tempo, a confirmação de que aquilo não era mesmo o inverno.

Balancei um pouco a cabeça e logo voltei a procurar Merida. Mesmo sendo uma tentação, perder ela num monte de neve não seria muito legal. Apertei a madeira do meu cajado com força e me lancei para baixo.

Para todos os lugares que eu olhava, só havia imensidão branca e cegante do gelo. O vento com certeza tinha me afastado uns bons metros de onde Merida estava, já que soprava forte para a esquerda.

— MERIDA! MERIDA! — A chamei, tendo a nítida impressão de que assim que as palavras saíram da minha boca, retornaram no mesmo segundo para dentro.  Balancei angustiado meu cajado para os lados, mas somente uma parcela quase insignificante da neve me obedeceu. Nunca me senti tão impotente.

Por um pequeno segundo, fechei os olhos e pensei na Lua, pedindo desesperadamente por ajuda. Nada aconteceu. Onde estava o Homem da Lua?

— FROST! — Uma voz fina e conhecida exclamou os longe. Ainda de olhos fechados, me deixei ser guiado até ela. Por incrível que pareça, assim que a vi, uma lufada de vento me rodopiou, e eu perdi completamente a direção que estava indo. Alguém estava me sacaneando, impossível.

Meti a mão no bolso em uma última tentativa de fazer algo certo, e peguei um globo de neve. Não havia outro, então eu tinha que acertar. O aproximei da boca e soprei de leve, congelando sua superfície, assim ficaria mais pesado, e seria difícil o vento tira-lo de sua trajetória.

Posicionei minha mão para lança-lo e desejei pela primeira vez na vida que alguém me xingasse. Quase como mágica pude escutar uma "PORRAAAAAAAAAAAAAAA"muito alto e estridente. Um sorriso brotou dos meus lábios imediatamente, e eu arremessei.

Não muito longe de onde eu estava, dava pata ver a luz que um portal fazia quando aberto. Merida tinha conseguido. Isolei qualquer pensamento que podia ter na minha mente, e me direcionei para lá.

— Quer tentar brincar com o Guardião da Diversão? — Soltei a pergunta não para alguém em especial, só para a tempestade mesmo. Tentei parar de controlá-la, e passei a vê-la como um corpo estranho.

Com um movimento rápido, congelei parte do vento. Talvez tenha sido só a minha imaginação, mas eu podia jurar que era como se eu tivesse capturado um movimento em pleno ar. Parecia que eu tinha congelado o ar do mesmo jeito que a água fica quando um corpo se movimenta com força dentro dela. Quase como uma espécie de molde.

Fiquei chocado por um segundo, mas logo fiz de novo, sem prestar muita atenção no resultado. Meus braços já doíam quando eu cheguei perto do portal, então não me opus quando ele me puxou.



A temperatura mudou em um choque. O calor era tanto, que quase que imediatamente gotículas de suor começaram a se formar em minha pele. Demorei um pouco até perceber que estava de cara na terra. Emiti um resmungo baixo e apoiei a mãos no chão para me levantar.

Todo o meu corpo doía, era horrível. Olhei para o lado e vi Merida na mesma situação que eu, cara enfiada na terra. Pelo menos em uma de suas mãos ela tinha o livro misterioso.

Joguei meu corpo lentamente para trás, primeiro sentando, mas em seguida continuando o movimento, caindo deitado de barriga para cima. Estávamos em alguma caverna, com certeza muitos quilômetros distante do castelo do Norte.

Ela não devia ser muito grande, e qualquer criatura sinistra ou espírito vingativo estava encoberto pelas sombras. Sua saída mostrava do o lado de fora não era bem "o lado de fora", já que nem o sol nem a lua pareciam aptos para criar aquela luz vermelha e escaldante que iluminava o local.

— Ei, tá viva? — Perguntei cutucando o pé da Ruiva, a coisa mais perto de mim.

— Vai se fuder. — Ela respondeu, confirmando que sim, estava ótima e sem danos.

— Tô bem também, obrigado por perguntar. — Eu disse num resmungo, passando a mão no rosto. — Pra onde nos trouxe?

— Mínima ideia. — Merida respondeu com uma risada no final, se levantando e estalando as costas. — Eu até te daria o livro pra carregar, mas vai acabar perdendo essa merda de novo.

Dei de ombros ainda deitado, e me surpreendi quando ela me estendeu uma mão. A aceitei meio desconfiado, mas ela acabou me ajudando mesmo a levantar.

— Você não conseguiu controlar a tempestade. — A Ruiva comentou, ainda segurando minha mão.

— Não. — Confirmei, a olhando nos olhos. Suas pupilas estavam completamente dilatadas, por causa da falta de luz, e pequenos pedacinhos de terra se misturavam com suas sardas.

— É, vai dar merda. — Ela disse soltando minha mão e indo em direção à entrada da caverna. Merida definitivamente me deixava confuso.

Dei de ombros uma segunda vez e andei até ela, que estava parada encarando o lado de fora.

Meu cérebro demorou um pouco para computar a estranha paisagem, mas quando o fez, eu não disse nada.

Nossa pequena caverna era só mais uma na imensidão de milhares que pequenas cavernas do lado de fora. Na verdade, o "lado de fora" era uma enorme caverna, talvez um mundo inteiro de baixo da terra, que se estendia até onde meus olhos não podiam mais alcançar.

Não estávamos longe do chão, talvez uns três metros só. Estalagmites e estalactites de coravam todo o local, assim como uma ou outra árvore seca e carbonizada. Merida deu uns tapinhas no meu braço, e quando conseguiu minha atenção, apontou para o enorme rio de fogo que cortava a planície quente.

— Flegetonte. — Ela disse, num tom extremamente baixo. Eu só assenti com a cabeça, cruzando o olhar com o dela. — O rio de fogo do mundo inferior.




Depois de descer da caverna, andamos um pouco sem rumo pelo lugar. Logo a temperatura foi baixando, mas continuava quente. O chão passou a ter uma cor menos morta e pequenas plantinhas pareciam até que aventurar a aparecer para nós.

O Flegetonte fazia uma curva grande para a direita se afastando completamente do nosso caminho. Continuamos em silêncio, e só nos entreolhamos ao ver uma cabana grande e de madeira no meio do nada.

Uma escada de somente três degraus nos levava até uma varandinha na frente da casa. A porta tinha uma tela, como um mosquiteiro, e estava só encostada. Assim que toquei nela, um rosnado alto se fez soar. Eu e Merida olhamos rápido para o lado, encontrando um cão de três cabeças perdido em um sono profundo. Pelo visto só estava reclamando do barulho.

Tentei pela segunda vez abrir a porta, e consegui ser silencioso o suficiente para não perturbar o cão. Do lado de dentro o lugar era bagunçado, um misto de móveis de couro, objetos de madeira e papéis espalhados por todos os lugares. A sala era quadrada, tinha dois sofás e uma mesinha de centro em uma metade, e uma bancada enorme ocupando o resto do lugar. Ferramentas e armas de todos os tipos estavam em cima dela.

Merida se aproximou do sofá onde encontrou um chicote longo e preto. Ela franziu as sobrancelhas e continuou a observar o objeto, sem ligar muito para o resto das coisas. Eu deixei meu cajado apoiado em uma parede e andei até a bancada, tendo minha atenção sugada pata uma enorme foice que estava sobre ela.

Imediatamente a reconheci e dei um passo para trás, procurando as palavras certas pata falar.

— Não sabem que devem bater na porta antes de entrar na casa de alguém? —  A voz sarcástica e feminina de Ceifadora soou, fazendo eu e Merida nos virarmos num susto. — Que caras assustadas, parece que estão olhando um fantasma.

Merida largou o chicote sobre o sofá e andou até ficar de frente para ela, que era uns bons centímetros mais alta que a Ruiva. Ela devia estar com tanta raiva, que nem notou as profundas olheiras da Guardiã e o pano ensanguentado que a mesma segurava perto do estômago.

— Deve ser por que eu estou mesmo olhando para um fantasma. Tem três pessoas mortas dentro dela sala, mas disso você já sabia. — Ela respondeu, apertando o livro com força e sustentando o olhar da Ceifadora.

— Não, na verdade há três pessoas mais vivas do que nunca dentro dessa sala. — Ela disse abrindo um sorriso e olhando diretamente para mim. — Uma que sabe exatamente o que está acontecendo, uma que acha que sabe o que está acontecendo e outra que finge que não sabe o que está acontecendo.

— Engraçada você, hein? — Merida perguntou, mexendo no cabelo. — Até riria, se não soubesse que está mentindo.

— Eu não preciso mentir para convencer ninguém, garota. — Ela falou dando um passo para frente e ficando cara a cara com Merida. — Afinal, os únicos que estão descaradamente mentindo para vocês são os quatro Guardiões que estão agora conversando no escritório do Norte sobre como vocês são despreparados para saber o que está acontecendo.

Um arrepio desceu pela minha coluna no segundo ela disse isso e nesse momento, eu tive certeza que pelo menos sobre isso, ela falava a verdade.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Big Four - A Nova Geração" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.