Se você fosse uma garota... escrita por Amendo Boba


Capítulo 1
Capítulo Único - Talvez...


Notas iniciais do capítulo

Bem, a idéia veio de repente, então decidi escrever e postar, espero que gostem.



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Benjamim estava no meio de uma partida online quando Serge entrou no seu quarto sem bater. Não cumprimentou nem nada, só ficou de pé ao seu lado olhando-o jogar. Como estava concentrado no jogo, levou algum segundos pra perceber que ele estava lá.

– E ae? – falou em tom vago, mantendo a maior parte da sua atenção em atirar nos outros jogadores e não morrer no processo.

Serge soltou um resmungo indecifrável e Benjamin entendeu como um “ Tô bem ”. Continuou jogando até a partida terminar e foi ai que o outro decidiu falar a que veio.
– Preciso conversar.

Ben girou o corpo com a cadeira para olhar pra ele e assim que seus olhos se encontraram soube que era algo sério.

– Só vou avisar o pessoal do clan.

Não demorou nem dois minutos pra ele sair da sua conta e desligar o computador.

– Acho melhor levar uma blusa de frio. – aconselhou Serge e Benjamin entendeu que ele queria fumar enquanto conversavam. Pegou a primeira que apareceu no amontoado de roupas do seu guarda roupa e vestiu, pegando em seguida seu skate.

– Vão sair a essa hora? – perguntou a mãe de Benjamin quando os dois passaram pela sala em direção a porta de saída. Faltava pouco para as onze da noite.
– Vamos ficar no bairro. – quem falou foi Serge junto com seu sorriso mais cativante. – Prometo que trago de volta a Cinderela antes das doze badaladas.

Bem rolou os olhos quando sua mãe pediu que tomassem cuidado e que se caso ficasse muito tarde pra que Serge pernoitasse na casa deles. Não conseguiram sair da casa antes de Serge recusar varias vezes o pedido insistente pra que jantassem primeiro.

Enquanto desciam a rua de sua casa, Serge aproveitou para acender um cigarro em silencio. Benjamin não tentou adiar o assunto, sabia que para o outro falar de assuntos íntimos era difícil, que tinha que deixa-lo se sentir confortável o suficiente pra que começasse. Com o skate no chão saltou pra cima, deslizando em ziguezague pelo asfalto enquanto Serge fazia o caminho a pé e sem pressa.

O lugar que iriam era uma pequena praça a três quadras da casa de Ben. Havia nela gangorras, gira-gira, escorregador e balanços. Alguns bancos e um ponto de ônibus. Havia também um carrinho de cachorro quente e alguma árvores de porte médio. Exceto o canto onde se encontrava os brinquedos o chão era coberto de grama e folhagens secas. Por ser tarde e no meio da semana a praça se encontrava vazia, até o vendedor já havia se retirado pois não conseguiria nenhum lucro naquele horário.

Por várias vezes e em diferentes estágios da vida dos dois haviam ido naquela praça. Aliás, fora ali que se conheceram. Primeiro dia de aula do primário, que ficava a uma quadra da praça. Começaram a brincar juntos no gira-gira, esforçando-se para que o brinquedo girasse o mais rápido que seus braços permitiam. Fora na praça que Benjamin encontrou Serge quando ele teve uma briga com o padrasto na qual fora agredido. Na verdade não uma, mais várias vezes. O relacionamento com o padrasto nunca fora estável. Então ficava ao seu lado e esperava paciente que botasse tudo pra fora.

Era sempre ali que se refugiavam quando estavam cansados dos adultos e das suas milhares de obrigações irracionais e principalmente dos seus “ Porque sim!”. Inventavam histórias, brincavam com as outras crianças e se esqueciam das horas totalmente compenetrados nas suas brincadeiras.

Fora pra lá, que Serge, com seus quatorze anos fora se esconder pra chorar a morte da mãe em um acidente de carro, e fora pra lá que Serge o chamara pra conversarem de noite onde desabafou sobre o quão difícil estava sendo viver com o padrasto aleijado. Também fora naquele lugar que Serge contou pra ele que era bissexual. E foi ali, sentados no banco perto do parquinho que Ben o abraçara e disse pra ele que não fazia diferença nenhuma por quem ele se interessava.

Ali, Serge proferiu a frase que Benjamin sempre usava quando queria paquerar alguém, um trocadilho com seu nome. “Meu nome é Benjamin, Beija a mim...”. Foi instruído a dar um sorriso de lado e um olhar intenso. Com o tempo Benjamim acrescentou um falso rubor depois do olhar, desviando-o e trocando o meio sorriso pra um sem-graça, como se fosse a primeira vez que dizia aquilo.

Lembrando dessas coisas Ben pegou o skate do chão esperando o amigo se aproximar. Já estava no terceiro cigarro o que significava que ele estava muito nervoso para falar sobre seja lá o que fosse. Com um gesto de cabeça indicou o banco perto do parquinho. Sentaram.

Serge deu uma longa tragada, soprado em seguida a fumaça pro alto. Ben deixou o skate debaixo dos pés, deslizava-o pra esquerda e direita enquanto o esperava começar. De vez em quando Ben olhava de soslaio pra Serge e ficava mais preocupado, as mãos dele tremiam e sua expressão não era nada boa.

– Serge...?

– Eu estou apaixonado... – falou rápido, interrompendo-o.

Abriu a boca mas não disse nada. Alguns dizem que a expressão de Benjamim quando ele não entende algo de imediato é cômica. Afirmariam se a visse agora. A boca se reprimia, o cenho era franzindo. As vezes ele ficava abrindo e fechando a boca, que nem os peixes.

– Apaixonado? – repetiu meio surpreso, sorrindo um segundo depois – Achei que fosse algo mais sério.

Ele ouviu Serge soltar um suspiro cansado.
– E quem é? – perguntou sentindo-se mais calmo – Eu conheço ele ou ela?
– Conhece. – falou Serge soprando a fumaça. Virou de frente pra Ben e olhando-o nos olhos quando falou – Eu estou apaixonado por você.

Ben piscou os olhos pateticamente voltando a expressão cômica de antes, se perguntando se havia ouvido direito. Pra Serge era quase real a visão de uma barra carregando o entendimento da informação sobre a cabeça do amigo.

– É – confirmou Serge poupando o amigo de uma discussão interna – Você ouviu direito. Eu disse que estou apaixonado por você.

– Eu...

– Não se preocupe com isso. – interrompeu – Tudo que eu preciso é que você me dê um fora.

– O que?!

– Ben eu te conheço a um tempão e gosto muito de você, agora até demais, e sinceramente, você é meu melhor amigo, um irmão. – falou tentando manter a calma no tom de voz – E é por isso... Que não quero estragar essa amizade com essas porcarias de paixão e tal. É por isso que eu preciso que você me dê o fora, assim eu choro minha foça e poderemos continuar como somos. Amigos.

– Eu não sei o que te dizer, cara... Eu nunca imaginei que você pudesse gostar assim de mim.

– Eu tentei acabar com isso sozinho, sério. – assegurou ele – Mas eu não consigo eu.... Nunca achei que fosse gostar desse seu jeito idiota.

– Ei!

– Qual é, não é a primeira vez que eu digo isso. – falou rolando os olhos, se sentindo um pouco mais confortável pelo amigo não estar simplesmente querendo arrebentar sua cara, ou pior, o ofendendo de uma forma irreversível. – Olha pra você e esses dreads, tá com a maior cara de maconheiro.

– Que preconceito, nem todo mundo que usa dreads é maconheiro! – indignou-se Benjamim – Como eu por exemplo, tenho dreads e não fumo maconha.

– E nem precisa, - retrucou Serge com um sorriso irônico – Só de ficar perto já está inalando também.

– Olha só quem fala ! – Ben devolveu o sorriso da mesa forma – Você fuma uma cartela por dia.

– Eu sou eu. Se eu pular da ponte você vai pular junto?

– Só se for pra te salvar de morrer afogado. – retorquiu Benjamim com uma sobrancelha arqueada – Já que você não sabe nadar!

Serge abriu a boca para protestar mas tudo que saiu foi fumaça antes dele tornar a fechá-la com um sorriso mal disfarçado. Deu mais uma tragada antes de voltar ao motivo de estarem ali.

– Mas o que eu disse é verdade, tô muito afim mesmo de você e está sendo um saco ficar por perto ou te vendo com a Sara. – que é o nome da namorada de Ben. Ele soprou a fumaça pro alto antes de continuar, mantendo o olhar no céu. - Tô quase me batendo de tanto que eu fico pensando em você. Tá difícil de me concentrar em outras coisas.

Benjamim sentiu-se constrangido ouvindo aquelas coisas, pois não era como quando Serge falava gracinhas ou aprontava pegadinhas com ele. Estava sendo sincero. Parou para pensar no longo momento de silencio que abateu sobre os dois para avaliar como se sentia sobre ele ao mesmo tempo que sentiu uma pressão sobre lhe dar uma resposta.

Estou apaixonado por você . Soava estranho todas as vezes que a frase repetia em sua mente. E nada tinha a ver com o fato de Serge ser homem, mas sim porque ele sempre o considerou como um irmão, e era somente assim que conseguia vê-lo. Entender que ele estava se declarando para ele é esquisito, surreal.

Uma onda de nervosismo trespassou seu corpo e ele involuntariamente esfregou o rosto com as mãos, sem perceber que Serge acompanhava cada expressão e movimento dele com um olhar de soslaio.

– Eu não sei o que te dizer! – admitiu por fim erguendo os braços pro alto em desespero, Serge até chegou a abrir a boca pra falar, mas Ben continuou – Cara, eu te considero pacas, mas não gosto de você desse jeito, tanto que... Eu não sei o que fazer, sério, tô perdido... Pra mim você é meu melhor amigo, um irmão de outra mãe... – suspirou, e um pouco mais calmo disse - Desculpa mas, é só o que podemos ser.

Serge o olhou longamente. Ben pode ver surpresa, seguido de mágoa e decepção. Por fim ele deu um sorriso forçado fechando os olhos levando o cigarro na boca. Sua mão tremia.

– Que cara essa, Ben ? – perguntou tentando soar humorado – Não espero de você mais que amizade. Já sabia que não tinha como ter algo a mais, eu... Precisava ouvir isso... Sabe? Pra isso aqui – e destacou o dedo do meio e indicador para tocar o peito, do lado onde fica o coração – Entender que não adianta ficar assim por você.

Ben desviou o olhar dele olhando para suas próprias mãos, não demorou muito pra ouvir o farfalhar de roupa. Serge havia levantado.

–Bom, era isso. – falou em tom de despedida – Acho melhor eu ir pra casa dar início a minha foça. – e jogou a bituca do cigarro no chão, apagando-a com a sola do sapato. – To indo cara, acho que amanhã não vou pra escola... Até...Até mais.

Foi só depois de Serge ter dado alguns passos que Benjamim resolveu dizer algo.

– Cara você está bem? – perguntou, e logo após dizer se xingou mentalmente.

Serge parou, mas não se virou para olhá-lo quando disse: - Estou sim.

Ben pegou seu skate e correu para alcançá-lo. Ao chegar perto tocou seu ombro e o virou pra ele, se deparando com o rosto de Serge molhado pelas lágrimas. Sem hesitar o abraçou e o deixou chorar no seu ombro enquanto dava tapinhas no ombro dele.

Isso durou mais do que ele imaginou que fosse durar.

Quando Serge parou de soluçar e tremer, ele se afastou vendo o amigo enxugar o rosto com a gola da camisa. A cena de Serge criança fazendo o mesmo veio à mente de Benjamim e ele não consegui evitar um sorriso dolorido por ser ele dessa vez a fazer o amigo chorar.

–Agora... – fungou Serge - Estou melhor.

– Certo, - concordou Ben – Quer que eu vá com você até sua casa?

– Não, de boa. Agora eu só quero um tempo sozinho. – e deu um sorriso fechado para confirmar que estava bem mesmo. – Até depois Ben.

E deu um abraço forte no outro, que foi rapidamente retribuído. Quando foi se afastar, seus olhos se cruzaram e por alguns instantes Serge hesitou preso ao olhar de Ben. Foi o outro que quebrou todo o contato, tanto visual quanto físico reforçando a despedida.

– Qualquer coisa, me liga ou manda mensagem depois.

– Tá. – concordou dando meia volta para seguir em direção contrária à do skatista. Sua casa ficava a três quadras dali. Benjamin o olhou ir embora por algum tempo e até acenou quando a certa distância Serge virou pra olhar e balançou a mão pra em ele em um tchau.

Assim que Serge sumiu em uma esquina, ele deu meia volta pra fazer seu próprio caminho pra casa.





Mais ou menos uma hora depois, quando Serge estava se deitando pra dormir, seu celular tocou com a chegada de um áudio no WhatApp. Era de Benjamim.

Ele hesitou em tocar a tela no “play”. Respirou fundo e logo ouviu a respiração de Benjamim seguida por sua voz.

“Cara, eu queria ter dito que você tem muitas qualidades que eu gosto em você, e que tenho certeza que outra pessoa vão gostar também... E que quando você tiver agindo que nem idiota quando tiver apaixonadão por essa pessoa, eu quero estar lá pra rir da sua cara e dar o troco de quando você riu de mim... Se... Se você fosse uma garota... Eu namoraria com você, sério. Mas você não é. E eu sou hétero, então... É... Eu só queria ter dito isso. Boa noite”


Ele ouviu mais uma vez, antes de rir sem humor de quanto Benjamim era idiota. Mas não conseguia ficar com raiva dele, não por muito tempo. Com um longo suspiro enfiou o celular debaixo do travesseiro e deitou na cama. Talvez conseguisse dormir, talvez não, ele só sabia que iria tentar, e que havia uma foça a ser curtida.


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Notas finais do capítulo

Olá, se você curtiu esse vídeo deixe um joinha aqui em... não pera! Então pessoal, oi o/ A ideia inicial era somente sobre o áudio que Serge recebe, mas ai a criatividade resolveu dar as caras e acabei acrescentando mais coisas e mudando o roteiro inicial. Esse áudio, foi baseado em uma coisa real. Meu amigo recebeu uma mensagem com mais ou menos essas palavras uns dias depois de se declarar pra um amigo em comun e quando ele me mostrou fiquei tipo what?!!, ele também não entendeu e quebrei a cabeça tentando entender. (Não sou muita boa com esses assuntos sentimentais, sou do tipo que fica pensando vish, o que tenho de falar agora pra ajudar?, mas sou boa ouvinte.) Por fim eles continuam amigos, e admiro essa atitude do outro de não se afastar embora as vezes fale que super shippo os dois xD Tentei fazer o Benjamim meio lerdão que ajuda da forma que pode, mas não tenho certeza se consegui em certas partes. Era pra ter mais momentos engraçados no texto mas conforme fui escrevendo não vi brechas pra por. Bom é isso, se você gosto dessa oneshot, deixe um comentário dizendo o que gostou e o que não gosto da historia. XOXO Amendo Boba o/



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