Ele soltou um longo suspiro ao olhar para a roupa em cima da cama, assim como muitas outras estava muito bem dobrada. Pegou-a com cuidado, indo diretamente para seu guarda-roupas, na intenção de guardar e tirar aquilo da cabeça.

Mas como? Como simplesmente esquecer tudo só por que mudaria de vida? Não. Não podia ser assim. Aquele não era ele. Aquele não o Mamoru Endou que todos conheciam.

Parou em frente ao móvel, o encarando por um segundo, hesitante. Era como se analizasse lentamente a madeira um tanto envelhecida. Estendeu a mão, interrompendo o movimento logo depois e a trazendo de volta. Não, isso era impossível. Não podia. Não podia simplesmente largar as lembranças como se fossem algo completamente chulo.

O toque estridente do telefone o tirou de seu devaneios, o fazendo revisar seus bolsos a procura do aparelho, atenderia e diria para quem quer que fosse lhe ligar mais tarde, daria a desculpa de estar ocupado demais. Porém, ao ver o número retratado na tela desistiu; O que menos precisava era ser cobrado agora;

— Desculpe, Natsumi. — murmurou sem atender, colocando o objeto no silencioso, pois sabia que a garota não ia desistir.

Voltou a prestar atenção no que deveria fazer. Isto é, se devia mesmo. Balançou a cabeça, tentando afastar esse tipo de pensamento. Não estava bem, mas também não estava mau; O que diabos devia fazer?

O moreno nunca fora alguém de dúvidas, sempre soubera aquilo que queria e o que precisava fazer. Naqueles dias, no entando, não estava sendo assim, com tantas mudanças na sua vida jovem as primeira perguntas começavam a surgir. Mais tarde que na maioria das pessoas, já que apenas agora começara a pensar demais nas coisas.

Não podia mais agir por impulso.

Não era mais uma criança.

Tinha que tomar uma atitude.

Uma maldita atitude.

Tocou com cuidado o puxador gelado, sentindo seu coração acelerar conforme o puxava, trazendo-o para a frente com cuidado, encarando as roupas que tinha guardadas. Engoliu seco, enfiando as peças ali dentro rapidamente, deixando algo cair.

Se abaixou para pegá-la, deixando os olhos castanhos — nem claros, nem escuros. Apenas castanhos — se arregalarem, e, logo depois, exibirem uma pequena doçura.

Passou os dedos grossos pela fotografia, sentindo a textura do papel com cuidado, com recordações, permitindo que os orbes de fechassem levemente. Tudo o que tinha de esquecer passava por sua cabeça agora. Por que?

Sorriu de canto. Tanto coisa. Tantos sentimentos. Tantas emoções. Tanta coisa acontecendo de uma só vez e ele perdendo o completo comtrole da situação. Onde estava o Mamoru de um ano atrás?

Ah, é. Havia crescido, terminado o cologial e agora ia para a faculdade. o seu 'eu' de uma ano dissera para si mesmo que precisava crescer e amadurecer, que tudo fora muito divertido, mas que agora havia acabado. E o seu 'eu' atual tinha de aceitar isso. Mesmo que não quisesse.

— Pare de se apegar a droga do passado. — murmurou, pegando a foto do chão, fitando-a, analisando suas feições e a de seus companheiros. Eles pareciam tão felizes, tão leves, tão animados, quase infantis. — Isso é passado. Passado... — repetiu duas, três, quatro vezes, tando colocar aquelas palavras em sua cabeça de uma vez, sem conseguir.

Afinal, não era bem passado, fazia um ano do fim.

Riu baixo, sem emoção alguma, levando mais uma das mãos até a imagem, forçando ambas para lados diferentes, parando em seguida. Não tinha coragem de simplesmente rasgá-la. Não tinha coragem de jogar as coisas fora assim.

Apertou a pequena lembrança contra seu dedos, levando-a para o peito. Sentiu uma pequena lágrimas escorrer enautno tentava sorrir. Não precisava de nada além disso. Sorrir sempre fora sua especialidade.

Mas não hoje.

'Chega.' pensou, voltando a olhar para seu quarto, prestando a atenção nos detalhes, roupas e sapatos jogados por aí, caixas para todos os lados, sua cama completamente desarrumada, a o uniforme da Raimon em cima da colchão.

Vazio. Um completo vazio.

Suspirou mais uma vez, desistindo de uma vez. Havia acabado, simplesmente acabado. Foi até o guarda-roupas, colocar a fotografia em seu lugar. Foi quando o viu. Sua maio lembrança. Sua maior dor.

Tocou com cuidado o trofeu dourado, soluçando depois. Já não aguentava mais que fingir que estava bem. Aquilo o estava machucando, estava uma merda! Só queria gritar isso para o mundo, mas não podia. Tinha que ser Mamoru Endou. Apenas Mamoru Endou;

Os dias não iriam voltar, nunca.

Retirou os dedos do objeto, com cuidado, hesitando. Já era hora de parar com isso, já era hora de seguir em frente. As lágrimas pendiam enquanto fechava a porta do móvel. Pensava apenas em uma coisa.

'Por que eu não posso ser uma criança para sempre?'