POV KILLIAN

Inspirei fundo e quando a olhei ela ainda estava com a mesma expressão indignada e emburrada, mas ainda parecia lindamente desarrumada, e parte de mim desejou a beijar novamente. Mas uma parte maior chama orgulho e juízo não me deixaram, ainda mais com ela me encarando com o semblante raivoso.

–Faça para os outros aquilo que você quer que façam para você. –Sorri irônico.

–Pena que o que você quer para você é tão pouco. –ela respondeu calmamente, depois se virou para continuar descendo as escadas, mas parou abruptamente e girou de volta. –E ainda bem que ninguém viu essa merda. Sorte sua as secretárias não estarem por aqui. Filho da puta.

Assisti enquanto ela desaparecia escada abaixo, e então voltei para minha sala. Joguei meu corpo na cadeira, passei as mãos pelos cabelos e pensei alto.

–O que está acontecendo com você Killian ?!

///////////////////////////// POV EMMA /////////////////////////

Como consegui descer aquelas escadas sem me matar é algo que nunca vou entender. Corri de lá como se estivesse pegando fogo, deixando Killian sozinho na escadaria com o queixo caído, a jaqueta desalinhada e o cabelo bagunçado, como se ele estivesse sofrido um ataque.

Passando direto pela cafeteria da recepção e pulando os últimos degraus até chegar na porta da delegacia com um só movimento. Tarefa nada fácil com essas botas de frio. Abri a porta de metal e me encostei na parede arfando.

O que foi que acabou de acontecer ? Eu beijei meu chefe na escada ? Não, ele me beijou.

Tomei fôlego e coloquei as mãos na frente da boca.

Oh, Deus. O que há de errado comigo ?

Atordoada, arrastei meu corpo pela parede e subi alguns lances de escada até o banheiro mais próximo. Olhei rapidamente para ter certeza que não havia ninguém ali, então fechei o trinco na porta principal. Ao me aproximar do espelho, estremeci. Parecia que eu tinha passado por uma centrífuga e depois sido posta para secar.

Meu cabelo estava um pesadelo. Todas as ondas, que peteei com tanto cuidado, estavam agora completamente embaraçadas. Aparentemente, o Killian gostava do meu cabelo solto. Eu precisava me lembrar disso.

Espere. O quê ?! De onde eu tinha tirado isso ? Eu certamente não precisava me lembrar disso. Soquei a pia e me aproximei para medir o estrago.

Do batom que eu tinha colocando há poucas horas, só restava manchas.

Filho. Da. Puta.

Balancei a cabeça, esfregando o rosto com as mãos. Deus, eu armara uma imensa confusão. Quando cheguei ao trabalho naquela manhã, eu tinha um plano. Iria entrar lá, jogar o recibo naquele rostinho bonito e mandar ele enfiar no cu. Mas acontece que ele estava tão lindo naquela jaqueta preta de couro, e o cabelo arrumado como se estivesse gritando ''me agarre’’, que eu simplesmente perdi qualquer pensamento coerente quando ele me beijou. Patético. O que esse cara tinha que transformava meu cérebro em geleia e me irritava tanto?

Isso não era bom. Como eu conseguiria encará-lo sem ficar imaginando o que ele fez?

Eu poderia pedir demissão. Pensei por um momento, mas não gostei da maneira como me senti. Eu amava meu trabalho o Killian podia ser o maior babaca do mundo, mas eu não desistiria de tudo apenas pelo incidente de hoje.

E por mais que odiasse admitir, eu adorava assisti-lo trabalhando. Ele era um cretino, impaciente, mas ao mesmo tempo obcecado pela perfeição.

Além do mais eu amava todos ali, então pedir demissão simplesmente não era uma opção.

Eu era uma mulher forte e independente. Tinha uma boa profissão e trabalhara e estudara ridiculamente duro para chegar onde estava. Minha mente e meu corpo não se guiam pela luxúria. E Killian era sedutor barato, arrogante, chauvinista, que pensava que todo mundo ao seu redor era idiota.

Sorri para mim mesma no espelho e percorri minha coleção de memórias recentes de Killian, tirando de lá uma das nossas primeiras desavenças.

''Você tem alguma boa razão para demorar tanto com os boletins? Seu hábito de ficar sonhando acordada com os garotos da fazenda está tomando seu tempo? ’’

Ele realmente achava que eu vinha de uma fazenda e sonhava acordada com garotos?

Inferno, na verdade, isso seria mais fácil do que eu pensava.

Sentindo uma nova brisa de determinação, ajeitei o cabelo e saí do banheiro, confiante. Rapidamente peguei o café que tinha ido buscar e me dirigi para minha sala, evitando a escadas.

Abri a sala e entrei. A porta da sala de Killian estava fechada e não havia nenhum barulho lá dentro. Talvez ele tivesse saído. Só se eu estivesse com sorte. Sentei em minha cadeira, peguei minha nécessaire na gaveta e arrumei o meu batom antes de voltar a trabalhar. A ultima coisa que eu queria era dar de cara com ele, mas, como eu não pretendia me demitir, am algum momento teria de enfrentar a situação.

Quando olhei os papéis da minha mesa, lembrei que Killian teria que assinar os registros de acusações e isso tinha ficado por minha conta. Estremeci quando percebi que isso significava que eu teria de falar com ele.

Durante a hora seguinte, fiquei olhando de tempos em tempos para sua porta. E, cada vez que fazia isso, meu estômago começava a embrulhar. Eu estava nervosa. Isso era ridículo! O que havia de errado comigo ? fechei o laptop que estava ligado na minha mesa no mesmo instante em que ouvi a porta se abrindo.

Killian saiu de lá, sem olhar nos meus olhos. Ele tinha arrumado o cabelo e sua jaqueta estava pendurada em seu braço.

–Estou saindo, se perguntarem por mim, por favor diga que talvez eu não volte hoje. –Ele disse estranhamente calmo.

–Killian –Eu disse o fazendo-o parar com a mão na maçaneta. –Preciso da sua assinatura nesses registros.

Certo, eu até que estava gostando disso. Não havia nada na postura dele que dissesse ''estou confortável’’. Ele assentiu e girou os calcanhares para se dirigir até minha mesa, e ainda sem encontrar meus olhos, baixou e percorreu os papéis com o olhar, procurando o lugar das assinaturas.

Coloquei uma caneta ba mesa.

–Por favor Killian, assine na linha indicada, sim.

Ele odiava ouvir uma ordem para fazer algo quando já estava fazendo, e eu tive de conter uma risada. Pegando a caneta e assinando, ele vagarosamente levantou o queixo , trazendo seus olhos azuis ao mesmo nível dos meus. Nós nos encaramos por uma eternidade, sem que nenhum dos dois desviasse o olhar.

–Boa noite. –Ele disse, ríspido, jogando a caneta na mesa.

–Cretino. –murmurei para mim mesma enquanto ele ia embora.