–Bom...eu acho que agora você conseguiu lembrar como os botões caíram, não? –Ele falou passando o dedo indicador nos lábios.

Dei o sorriso mais falso e forçado que eu poderia dar, cerrando os olhos e cruzando os braços.

Ele riu baixo

Ele se aproximou. Senti meu rosto queimar ainda mais, se é que isso era possível.

–Você realmente deveria ser mais cuidadosa. –Tente manter a calma e me afastei um pouco.

–Seu cretino. –Respondi com os dentes cerrados, ele sorriu parecendo surpreso.

Mas por que estava surpreso, como se fosse eu quem tivesse quebrado as regras? Uma coisa era ele ser babaca comigo, outra era ele me agarrar no meio do meu trabalho. Ele iria ouvir umas verdades mais tarde!

Me virei e saí praticamente correndo de lá, com passos apressados. Mas, como esperado, ele veio atrás de mim para o elevador. Ficamos em silêncio enquanto descíamos para a recepção.

Por que o elevador era tão devagar, justo naquele momento?

O prédio da delegacia tinha quatro andares, pois também abrigava uns meliantes que precisavam passar a noite no xadrez. Existia o andar das celas, o das salas de interrogatório, a do delegado e seus assistentes, e claro a recepção com a telefonia.

O elevador não era muito grande, e me praguejei mentalmente quando o elevador parou e Regina entrou com mais 4 policiais. Ambos não tão amigos meus, mas trabalhavam nas viaturas. Bob, Daniel, Dylan e John. Os cumprimentei com um fraco ‘’oi’’ e um sorriso fraco enquanto Regina conversava (exageradamente alto) com eles, que pareciam muito empolgados com a conversa. Logo o som das vozes aumentou até se tonar um burburinho alto, praticamente cobrindo os palavrões que eu dizia em minha mente para Jones.

O elevador abriu mais uma vez. Por Deus! Nunca foi tão demorado chegar ao primeiro andar!

Duas pessoas entraram, certamente familiares de algum detento. Pois carregavam uma sacola que aparentava ser um cobertor.

O elevador estava quase lotado, e eu acabei sendo empurrada para ainda mais perto dele, com minhas costas encostando em seu peito e minha bunda em... oh.

Fechei meus olhos e ouvi sua boca respirando fundo. Segurei com mais força duas pastas que estavam nos meus braços e me afastei dele o máximo que podia. Mas ele esticou o braço e agarrou minha cintura, puxando meu corpo de volta.

–Eu gosto de você aqui. –Ele murmurou com a voz macia e quente no meu ouvido. –Onde você...

–Estou a dois segundos de te castrar com meu calcanhar.

Ele me puxou ainda para mais perto.

Olhei para Regina que não percebia nada, estava entretida demais com os 4 rapazes.

–Porque você de repente ficou mais bravinha que o normal? –Virei a cabeça de disse, quase sussurrando.

–Porque você me agarrou, e não se importou nem um pouco se alguém poderia entrar, nos ver, e consequentemente, eu ficar sem emprego. Você está garantido, não tem mais o que perder.

–Não –Piscou. Piscou de novo. –O quê? –Killian confuso até que ficava atraente. Idiota! –Eu só estava brincando.

–Ah, é? Você estava “brincando’’? e se alguém tivesse visto a sua “brincadeira’’?

–Ninguém viu.

–Mas poderiam.

Ele genuinamente parecia não ter pensado nisso, e provavelmente não pensou mesmo, acho que ele não seria tão miserável a ponto de me expor e eu perder meu emprego. De propósito.

Mas isso não perdoa, para ele era fácil ficar brincando, já que ele era o chefe. Ele era o delegado de uma das principais delegacias de Nova York. Mas eu era a garota que ainda estava na metade do caminho.

Regina olhou em nossa direção e nós imediatamente nos ajeitamos. Eu bati com o cotovelo em suas costelas. E em troco ele apertou minha cintura com força que me fez perder o ar.

–Não vou pedir desculpas. –Ele disse disfarçadamente.

É claro que não. Babaca.

Chegamos na recepção e Regina saiu com os 4 rapazes, alguém ligou pedindo ajuda dos policiais, pois tinha um bêbado no meio do trânsito de NY. E como era especialidade de Regina resolver casos com bêbados, ela se ofereceu para ajudar.

Saímos do elevador. Estiquei o braço atrás de mim , deslizei entre nós dois e a coloquei sobre seu abdômen. Ele suspirou e sussurrou.

–Oh, sim.

E então eu dei um soco.

–Merda, Swan! Desculpa! –Ele disse rispidamente em meu ouvido.

Me virei para ele sorrindo.

–Deus, eu estava apenas brincando com você.

–Escuta uma coisa, Jones, eu odeio brincar. –Sorri sarcasticamente e me virei para pegar um café no balcão da recepção.

Graham estava na porta da delegacia, de costas para nós, ele falava ao telefone. Apenas ele estava por lá. Pois estava havendo um interrogatório, muito importante e a maioria dos meus colegas de trabalho estavam acompanhando.

Peguei meu café e saí em direção as escadas. Não correria o risco de ficar presa no elevador outra vez. Muito menos só eu e ele.

Killian estava encostado no balcão. Me observava calado. Então segui meu caminho, subindo as escadas rápido, com um copo plástico de café em uma das mãos e duas pastas na outra.

Só então percebi que Killian estava atrás de mim.

–Céus, Jones! Você está mesmo empenhado em me seguir, não é? –Falei me virando para ele. Ele olhava para os lados. O corredor estava totalmente vazio. Ele estava louco.

Entrei em minha sala e antes que eu fechasse a porta ele entrou. Coloquei o café em cima da mesa e respirei fundo.

–O que você quer?

–Eu não estou certo disso, na verdade a única certeza que eu tenho é que nesse momento eu quero você.

–Oi? –Como assim agora Killian sentia uma paixão avassaladora por mim? Se antes ele me tratava de uma maneira tão cretina e idiota?!

–Você me escutou, Emma. –Eu estava sonhando, ou melhor, tendo um pesadelo, isso não era real, eu o odiava... não era?

–Killian eu não sou uma dessas suas secretárias que você saí uma, duas vezes e depois finge que não conhece. Eu sou Emma Swan, e tenho princípios.

–Pare com essa besteira! Eu não estou te comparando com nenhuma delas!

–Mas me trata como.

–Estou atrapalhando? –Graham falou, limpando a garganta em seguida.

–Há quanto tempo está aí? –Eu praticamente gritei.

–Cheguei agora...-Ele me olhou desconfiado mas logo voltou sua atenção para Killian.

–Algum problema Graham?

–Prenderam um bêbado, ele provocou um acidente, que por pouco não deixou vítimas. Preciso que autorize a prisão temporária dele.

–Sim, claro. Estou indo. –Dizendo isso Killian saiu acompanhado de Graham. Agradeci mentalmente por felizmente Graham ter chegado naquele momento. Ou será que infelizmente.

O que será que aquele idiota escutou..

Olhei no relógio mais de seis da tarde. Aproveitei que Killian não estava e fui embora, antes que me dessem mais trabalhos “extra’’ .

Antes que eu pudesse destravar o carro, ouvi a voz de Killian.

–Hum... fugindo.

–Não me enche. –Entrei no carro e o deixei falando sozinho. Eu precisava pensar. Raciocinar. O que diabos está acontecendo com a minha vida, comigo, com Killian? (separadamente falando, claro.)