Segunda chance escrita por Mary Jane


Capítulo 2
2. Ciclo sem fim


Notas iniciais do capítulo

Se tu choras por ter perdido o sol, as lágrimas te impedirão de ver as estrelas.
Antoine de Saint-Exupéry



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~

Tudo aquilo estava sendo demais para Pepper digerir. Ela continuou olhando para os próprios pés enquanto a água da banheira se tornava fria e a pele de seus dedos se enrugava. Ela não se importava. Continuava imóvel.

Não conseguia se lembrar de muita coisa nas últimas doze horas. E agradecia a Deus por isso. Se lembrava apenas do básico: Roupas pretas, Harry, familiares dele indo abraça-la, palavras de consolo, choro, cemitério, verde, cheiro de flores, terra.

E acabou.

Harry estava enterrado. Ela nem ao menos se lembrava que havia sido trazida para casa, mas aquilo agora já não era mais importante.

As lágrimas já não caiam pela sua face. Era tudo simplesmente irreal demais para se digerir. Respirar já não era mais automático, ela precisava constantemente se lembrar do ato, quando seus pulmões queimavam implorando para que o ar entrasse.

Ela vestiu-se rapidamente, sem ao menos se secar, tomou duas aspirinas para dor de cabeça, fechou as cortinas do quarto, apagou as luzes do apartamento e se deitou na cama. O peso das últimas vinte e quatro horas obrigando-a relaxa. Fechou os olhos. Levantou a camisa Laranja que pertenceu a Harry e deslizou uma das mãos pelo abdome ainda reto lentamente.

Ela não podia simplesmente desistir de tudo, não agora, não com o presente que Harry tão carinhosamente deixou para ela.

Um filho. Um bebê com cinquenta por cento do DNA de Harry James McDavon e cinquenta por cento do DNA dela. Ela simplesmente não conseguia acreditar. Ela nem ao menos tinha tempo para se cuidar, o que diria agora de um bebê, completamente dependente de si. Ver o seu corpo se transformando, sua barriga crescendo, suas escassas horas de sono perdidas. Era simplesmente demais para se aguentar.

Se ela simplesmente fechasse os olhos e parasse de pensar. Mas ela não conseguia.

— O que eu faço agora? - Com seus olhos fechados, sua respiração regulada e a mão ainda apoiada contra o ventre liso, Pepper aguardava uma resposta.

Se a vida a tinha dado aquele milagre, ela era grata. Aceitaria e cuidaria de seu herdeiro. E só teria olhos para ele.

— O que você está fazendo aqui? - Os olhos inchados e os cabelos bagunçados deixavam claro que Tony Stark acabava de acordar.

— Trabalhando.

— Pensei que você tiraria alguns dias para, bem... resolver tudo. - Ele disse se aproximando da bancada e preparando um drink para si.

Pepper olhou para o relógio, os ponteiros marcavam onze e vinte e sete da manhã, ela não pode deixar de revirar os olhos. - Sim e já resolvi.

— Dois dias não são suficientes.

— Parece que para mim, são. - Ela continuava digitando incessantemente no o notebook aberto.

— O que você está fazendo?

— Aparentemente cuidando dos seus compromissos para hoje, e devo dizer, você está atrasado para se encontrar com Rhodey.

— Ele pode esperar. - Tony se aproximou de Pepper e lhe tocou os cabelos. - Você está bem? - O suspiro que ela deu lhe provou que não, mas o pequeno sorriso forçado que ela lhe lançou ao menos o acalmou.

— Vou ficar. - Ela disse voltando seus olhos para seus e-mails. - Você pode, por favor se arrumar para viajar. Hogan esta te esperando. Rhodey esta te esperando. Eu estou te esperando. Eu tenho oito mil coisas para fazer e você está atrapalhando tudo.

— Pensei que eu ser o dono de tudo isso fosse motivo suficiente para fazer você me tratar um pouco melhor. - Ele se vangloriou internamente quando viu o pequeno sorriso sincero que Pepper lhe lançou.

— Vá se ferrar. - Ela disse honesta.

— Tudo bem, tudo bem. - Suas mãos se elevaram para sua cabeça em pleno sinal de rendição.

— Você está certa, vou me arrumar. - Ele se afastou dela. - Hm, você pode me ajudar com a minha mala? - Ela levantou uma sobrancelha e lhe chutou a mala que estava ao seu pé.

— Vista roupa social Senhor Stark.

— Você age como um verdadeiro idiota às vezes. - Ela disse se aproximando dele, Rhodey os aguardava na porta do avião, a cara não muito satisfeita. Happy corria até o porta-malas do carro preto e retirava a mala pequena de mão de lá.

— Pep, carinho. Disparou o alarme de chatice? - Ele lhe sorriu e colocou os óculos escuros em sua face. Ela não pode deixar de revirar os olhos. - Volto dentro de dois dias, está tudo certo para a minha festa de aniversário?

Ela revirou os olhos.

— Eu realmente acho que essa não é uma boa ideia para uma de suas festas.

— Ei, relaxa. - As palmas das mãos quente dele se instalaram contra os ombros dela lhe dando uma sensação de tranquilidade. - As empresas estão indo bem, está tudo ótimo. Você pode tomar conta de tudo, você é mágica, Pep.

Os olhos dela se tornaram escuros de repente. - Talvez eu não consiga tomar conta de tudo, não mais.

— O que está dizendo? Eu sei que o que aconteceu foi uma fatalidade, mas Pep, você é invencível, a melhor assiste... - Seja lá o que ele iria dizer, morreu em seus lábios após a frase dela.

— Eu estou grávida de um noivo morto, Tony. Eu estou explodindo. - Ela disse em voz baixa e só então ele percebeu o quão pálida e cansada ela estava.

Se ele se assustou, soube esconder muito bem suas feições atrás da sua mascara de deboche. - Caramba, façamos assim, conversamos quando eu voltar, Rhodey esta me esperando. - Ele se esquivou.

— Como você queira. Isso é tudo Senhor Stark?

— Sim, isso é tudo Senhorita Potts. – Deu as costas para ela e se afastou sem dizer mais nada.

O armário parecia tão grande sem as roupas de Harry. Tudo ali lhe parecia muito assustador, muito impessoal, ela não reconhecia mais seu próprio apartamento. Ou a si mesma.

Ela gostaria de se sentir mais aliviada por finalmente estar se desfazendo das coisas dele, por abrir o armário e não encontrar os pertences dele e sucumbir ao choro. Todos diziam para ela se manter forte, mas ela já não estava o sendo?

Algumas camisas dele estavam agora no fundo das gavetas dela, ela precisava do cheiro dele, mesmo Eleonor dizendo que tudo dele deveria ser desfeito, que deveria ser doado, as roupas, joias, sapatos. Que as fotos deveriam ser rasgadas. Que a memória dele deveria ser esquecida para que Harry pudesse descansar em paz. Ela não entenderia, Eleonor não compreendia seu próprio filho. Não compreendia Pepper que necessitava do cheiro dele e da memória dele para que ela conseguisse passar por todas as mudanças que seu corpo, sua alma e sua vida mudariam.

Eleonou McDevor era uma mulher mesquinha e completamente rude. Pepper ainda não podia acreditar que Harry, uma alma tão boa e carinhosa poderia ser filho de tão mulher tão fria quanto ela. Nem ao menos olhos verdes que Harry havia herdade lhe agregava felicidade, ao contrario. Eleonor era uma mulher de feições duas e  olhos frios e cruéis, e seu rosto era uma máscara de frieza. Ela ainda era muito bonita, mas beleza nenhuma recompensava a aspereza em sua voz.

Esperava que seu filho tivesse os olhos tão verdes quanto os de Harry e a boca carnuda e os cabelos castanhos que nunca paravam arrumados, e o sorriso. E tudo.

— Você está me escutando?

— Me desculpe. - Ela disse ainda segurando a camisa contra o rosto.

Eleonor revirou os olhos. - Temos o testamento do meu filho para ler, você irá comigo ou?

— Bem, eu vou depois de qualquer modo, não estou me sentindo muito bem.

O perfume dela lhe trazia enjoos.

— Se não te conhecesse diria que está grávida, mas bem, Deus, ou seja, lá quem for não daria um filho a alguém como você.

Aquele comentário desconcentrou Pepper.

— Como disse?

— Você não pode criar um filho ainda mais agora que não esta emocionalmente estável, você e meu filho, sempre foram dois idiotas. - Ela franziu a sobrancelha loira. - Meu filho deveria ter proposto Marta para se casar, uma moça de família tradicional como a nossa, mas não. Parece que minha opinião nunca valeu de nada para ele.

— Me desculpe Senhora McDevon, acho que está na hora da senhora se retirar da minha casa, você está me ofendendo e isso eu não aceitarei.

— Como queira senhorita Potts. 

Segurando as lágrimas, Pepper a levou até a porta da sala e a fechou antes que Eleonor tivesse tempo para dizer mais alguma coisa. Mesmo respirando rapidamente tentando recuperar o fôlego, as lágrimas lhe invadiram a face. Sim, ela era uma maldita orfã, não tinha sangue nobre nem um nome de uma família tradicional, mas com certeza seria uma ótima mãe para o pequeno amendoim que crescia em seu ventre. Eleonor nunca saberia do neto, ou dela novamente.

— Pepper? - Quanto disso ela ainda teria que aguentar? - Você ainda está ai?

— Rhodey. - Suas mãos apertavam com tanta força o telefone que ele poderia facilmente se quebrar sobre os seus dedos. - Por favor. - Ela implorou, a voz abafada pelo choro.

Pepper, se acalme, sim? Nós estamos procurando por ele, vamos encontrá-lo, você só precisa ficar calma, não pode passar nervoso na sua situação. Tudo bem?

— Me mantenha informada. Qualquer coisa. Por favor. - Sua cabeça latejava.

— Eu te aviso, juro. - A ligação do outro lado da linha ficou muda.

Ela suspirou derrotada, precisava se deitar, ela não conseguiria se manter sã nas próximas horas. Respiração regular e olhos fechados não estavam a ajudando.

— Será que esse ciclo nunca tem fim? - Ela fechou os olhos, o sofá branco da sala de estar de Tony lhe parecia agora tão desconfortável. - Tony esta desaparecido, oh meu Deus!


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