The Perfect Imperfections: "Hope" escrita por Yurii Lee


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

A tortura é a imposição de dor física ou psicológica por crueldade, intimidação, punição, para obtenção de uma confissão, informação ou simplesmente por prazer da pessoa que tortura.
Em nosso ordenamento jurídico a tortura é considerada um crime inafiançável.



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Washington DC, United States, 25 de Dezembro de 2001

-Acontece que eu não mandei você comprar nada, eu mandei você ir no escritório e trazer o relatório que minha assistente te entregasse. -Era a voz do meu padrasto.

-Mas é que... - Minha mãe tentava reparar a situação.

-Não quero saber! Quando eu te mandar fazer algo, faça exatamente como eu mandei. - Ele estava realmente muito furioso. - Se você não fosse essa estúpida, estaria em casa horas antes pra cuidar do seu filho... Que ainda está na cama, vá acorda-lo antes que eu me irrite mais.

-Bom dia meu amor, Feliz Natal ! -Disse mamãe.

-Feliz Natal mamãe, posso abrir os presentes agora ?

-Pode filho, vai lá garotão.

Abri os presentes debaixo da árvore de Natal, toda enfeitada. Era um carrinho de controle remoto e um boneco do -Batman! Brinquei com meus presentes o resto da manhã. A tarde fomos na casa do meu avô, havia uma festança lá, comemos, bebemos, nos divertimos e trocamos ainda mais presentes.

-Mamãe, eu quero um pedaço de peru. -Apontei para a mesa no centro da cozinha.

-Tudo bem querido, mas vem à mesa com Gordon pra vocês comerem juntos. - Ela foi até a mesa e encontrou os olhos de desaprovação do meu padrasto, ele a criticava até na maneira como ela retirava minha fatia de peru.

-Aqui está querido. -Ela me entregou a fatia.

Comecei a comer, minha mãe tinha posto algumas verduras e algumas outras coisas no meu prato, Gordon começou a me olhar.

-Não, não é assim que se faz um prato pra este garoto. -Ele apanhou meu prato e começou a reorganizar, reparei que ele só deixara os legumes e a batata no molho. Ele retirou tudo que havia de bom no meu prato. -Agora coma.

-Por quê você faz isso ? -Minha mãe.

-Assim ele aprende a comer o que é bom, e aprende que a recompensa só vem com um pouco de amargura nas nossas vidas, assim como os legumes. -Ele sorriu. --E depois eu darei o peru pra ele comer, mas só depois que comer os legumes.

-Mas meu filho não é um cachorro, ele não precisa fazer tudo pensando que ganhará uma recompensa no final.

-Isso é educação. Estou ensinando seu filho. -Ele levantou as sobrancelhas.

-Não, isso pra mim está parecendo adestramento de um animal qualquer.

-Basta !-Ele saiu da mesa resmungando.

George Luccas, meus avô, me contou histórias de quando sua filha Susan Connor, minha mãe, era da minha idade. Eu fiquei surpreso de como minha mãe era doida, ela fazia coisas que eu nunca faria. Meu avô era como um pregador, ele falava sobre a vida e sobre Deus. -Sim, ele era algo como um professor.

-Filho, Deus só ajuda àqueles que aprendem a se ajudar. -Ele olhava nos meus olhos. -Não ligue para o que o resto irá pensar, aprenda a se ajudar e siga seu caminho, Deus dará sua glória no fim de toda a sua jornada, não se preocupe com isto. Agora vá pegar chocolate pra gente, escondido daquele homem.

-Vou pegar, já volto. -Estava pegando mais um pedaço de chocolate, quando meu padrasto chegou.

-Você gosta disso ? Vá se despedir do seu avô, estamos indo pra casa. Vou procurar sua mãe e volto pra te pegar. -Ele saiu andando até desaparecer no interior da casa.

-Vovô, Gordon mandou me despedir de vocês, eu não queria ir embora, mas Gordon mandou. -abaixei a cabeça.

-Eu te entendo meu filho, mas logo ficará tudo bem. -Ele apertou minha mão. -Eu tenho um presente pra você -Feliz Natal Connor. -ele me entregou a caixinha. - abra-o.

Na caixinha havia um colar e um pingente, era algo como um anjo sentado com as asas abertas. O cordão era preto, e o pingente de anjo era de prata.

-Filho, você tem um anjo, para perseguir os demônios à noite. -Ele me abraçou. -Tome cuidado filho, se sentir minha falta, diga meu nome baixinho, eu sempre o escutarei, estarei ao seu lado.

Na volta pra casa Gordon passou no mercado, ele disse que eu havia gostado muito dos chocolates na festa do vovô e queria compra-los para mim. Quinze minutos mais tarde estávamos em casa, mamãe subiu tomar um banho e eu fui pra sala, Gordon arrumou algumas coisa na cozinha e depois foi pro escritório mexer nos seus papéis. Eu esperei ele fechar a porta e fui pra cozinha, abri os armários e procurei os chocolates.

-O que está procurando jovem Connor ? -Gordon.

-Eu... Eu queria experimentar o chocolate que você comprou.

-Ah, você já não se entupiu o suficiente ? -Ele pegou as cinco barras de chocolate e pois sobre a mesa. -Coma !

-O quê ? -Perguntei.

-Coma, coma tudo, estou mandando. - Ele puxou a cinta da calça, a dobrou em duas e começou a bater nas mãos.

-Sr. Gordon, eu não aguento mais comer chocolate, eu posso sair da mesa ? -Após duas barras eu não queria mais o chocolate, ele estava preso na minha garganta.

-Não não, agora você vai comer todas essas barras ou eu vou fazer você comer assim mesmo, e se engasgar lhe darei uma surra! -Ele colocou um copo de água na mesa.

Comecei a chorar, eu realmente não conseguia mais engolir, meu estômago começava a dar sinais de rejeição, eu sentia o chocolate descer pela minha garganta como se fosse uma bola de beisebol, as lágrimas estavam escorrendo pelo meu rosto, e eu era obrigado a engoli-las junto com todo aquele chocolate. Não havia saliva o suficiente, então tomei mais um gole de água.

-O que você está fazendo com o meu filho ? -Minha mãe berrou. Senti um alívio tão grande quando a vi.

-Não fala nada. -Gordon pois a mão impedindo ela de se aproximar de mim.

Ela não se intimidou e ultrapassou o limite estabelecido por ele. Gordon pegou ela pela cintura e a jogou no chão. Engoli mais um "bolo" de chocolate.

-Você já me impediu de educa-lo muitas vezes Susan, mas agora ele conseguiu me irritar, e você vai ficar ai vendo tudo sem poder falar nada, sabe por que ? Porque você depende de mim, e você sabe que sua família vai dar as costas pra você, porque eles tentaram te avisar sobre mim, Susan, e você não deu a mínima, porque você me ama, agora você tem vergonha de assumir que estava errada. Não é verdade, Susan ?

Ela se pôs a chorar, as lágrimas percorreram seu rosto rapidamente. Ela olhava pra mim passando a seguinte informação: "Me desculpe por tudo isso, Connor". Meu corpo agora dizia que eu precisava parar, meu estômago era incapaz de aguentar aquilo, mas eu não podia parar, Gordon me bateria se eu parasse, ou então ele usaria a minha mãe para me fazer comer, como acabara de fazer.

Naquela hora, olhando para Gordon, me veio a imagem de meu avô, ele estava repetindo o que me dissera quando me entregou o anjo, por várias vezes: "Filho, você tem um anjo, para perseguir os demônios à noite. Filho, você tem um anjo, para perseguir os demônios à noite". Olhei para Gordon e depois fechei os olhos com força, expulsando as últimas lágrimas que eu derramei em cima da última embalagem de chocolate que eu comera naquela noite.


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