– Felicity, dê um desconto ao Oliver. Ele anda confuso, tudo que está acontecendo e o conflito interno que ele vive por amar você e ao mesmo tempo não se achar digno de estar ao seu lado. Você o conhece, sabe de suas manias e o quanto é exagerado quando o assunto é proteção, não preciso lembrar das perdas que ele já teve não é mesmo? Você sempre esteve e está com ele, dê um tempo pra ele absorver e logo tudo se encaixará.

Tudo que Dig dizia era verdade eu bem sei de tudo aquilo mas, Oliver poderia me deixar ajuda-lo, poxa, ele só me afasta?! E agora tem a Emily, como vou explicar tudo isso pra ela? De repente o telefone de Dig toca e vejo que é Oliver, dou espaço pra ele e logo depois ele se despede de Lyla e pede a Roy que acompanhe ela e Sara até em casa porque ele estava indo pra Cave. Dig me dá um abraço e se despede de Emily lá da sala mesmo. Thea percebe o cansaço de Emily e diz que também precisa ir, Roy, Lyla e a bebê Sara vão junto, assim, me deixam a sós com Emily:

– Então, minha princesa, vamos tomar um bom banho e depois dormir?

– Uhum... Mamãe, atêi homi ainda vai votá? (Mamãe, aquele homem ainda vai voltar?)

– Que homem, meu anjo?

– Atêi, mamãe. Te tava ati faiando tum você! (Aquele mamãe. Que tava aqui falando com você)

– Não, ele não vai voltar.

– Putê? (Porque?)

– Emily, mamãe está tão cansada... será que podemos deixar essa conversa pra amanhã?

Emily parece pensar “na proposta” e depois responde:

– Cetú, mas eu nom vô istecê! (Certo, mas eu não vou esquecer!)

Sorriu com a inteligência da minha pequena, a pego no colo e levo pro banho, bem rápido ela adormece e é minha vez de tentar relaxar e pôr as ideias em ordem, muita coisa aconteceu hoje e eu acabo adormecendo diante de tantos pensamentos.

O dia amanhece, mas eu só percebo quando sinto cosquinhas no meu nariz. Quando abro os olhos, encontro outros olhos azuis enormes me observando com uma cabeleira loira cobrindo as laterais do meu rosto. Finjo que volto a dormir e aquele pedacinho de gente começa a pular na cama:

– Atóda, mamãe! (Acorda Mamãe)

– Não Emily, por favor!

– Nam nanim nanão! Atóda, Atóda, Atóda! O sol já atodou e eu também! (Acorda, acorda, acorda! O sol já acordou e eu também).

Ótimo, é o preço que se paga por deixar Emily assistindo Frozen enquanto fazia o almoço. Deitei por cima dela e comecei a fazer cosquinhas em seu pescoço, quase sem fôlego ela pedia por “Totorro” (Socorro) em vão! Me levantei e levei aquela pecinha pra o banheiro, escovamos os dentes juntas dançando e cantando as músicas do filme, sim, eu sei todas decoradas. Tomamos café e a levei a escolinha que escolhi pra ela estudar, fiz sua matrícula e passei uma hora com ela lá, quando notei sua adaptação me despedi e fui trabalhar. Quando cheguei a empresa, Ray havia deixado um recado que por estar distante, resolveu fazer algumas obras de restauração pelo prédio, nada muito complicado mas preferia dar folga de 3 dias a todos os funcionários. Fiquei muito feliz, se soubesse antes nem teria deixado Emily na escola, mas pensei bem e resolvi usar esse tempo para resolver assuntos pendentes com certo “patrão” orgulhoso.

Liguei pra Dig e ele me disse que havia deixado Oliver na boate, perguntei como ele estava e ele disse que bastante arrependido então resolvi que pegaria leve com ele, afinal, também era minha culpa, eu devia ter contado antes mesmo diante de todas as circunstâncias. Cheguei à boate e vi sua moto parada na frente, resolvi entrar pela boate mesmo e vi Oliver limpando algumas cadeiras. Ele não me viu, me aproximei devagar e mesmo sabendo que ele tem treinamento para notar aproximação, ele parecia mesmo distraído, resolvi me vingar, me aproximei mais e gritei:

– OLIVER!

Nada parecido com um susto, ele parou por uns segundos e deu um sorriso lindo:

– Satisfeita com sua vingança?

– Um pouco, sabe, foram muitas vezes que você fez isso comigo... acho que terei que viver muitos anos ao seu lado pra poder me vingar de todas elas! Claro, se você não fizer ainda mais vezes, não é mesmo?

– Prometo me esforçar!

Ele parecia mesmo triste, sorria, mas não era completo, então resolvi deixar as gracinhas de lado:

– Oliver, me desculpe... eu devia ter te contado mas eu estava com tanto medo de dar errado e só quem sabia era a Lyla, mas parece que ela e Dig não têm segredo, nem mesmo o segredo dos outros, e Roy é muito curioso, acabou que Thea é muito inteligente e descobriu tudo e também ficou chateada por que não contei a ela, e ...

Parei pra respirar e vi Oliver me olhar assustado, parece que ele nunca vai se acostumar com meu jeito de falar rápido. Antes que eu pudesse voltar a falar, ele me interrompeu:

– Felicity, eu que devia te pedir desculpas. Eu fui grosso, fui rude, fui idiota ao ponto de fazer você pensar que não é importante pra mim, e por favor, Felicity, nunca mais pense isso. Você é sem dúvida muito importante pra mim, acima de você só minha irmã, e que Deus não me faça escolher.

Oliver fechou os olhos como se a pior imagem tivesse vindo a sua mente, me aproximei dele e o abracei, precisava que ele não sentisse mais medo, eu estava ali pra isso, para lhe dar força... eu estava ali para lhe dar... amor! Com uma mão em minha cintura e a outra procurando meu rosto, Oliver se afastou apenas o suficiente para encostar sua boca na minha e confesso, não esperava por aquilo.

O beijo era lento e carinhoso, não havia pressa e nem dor, só havia amor. Seus lábios macios e ao mesmo tempo fortes, sua mão percorria toda minha coluna e a outra tirava a liga que prendia meu cabelo, ele começou a alisar meus cabelos enquanto eu acariciava seu cabelo. Oliver começou a apertar meu corpo contra o dele e eu senti o quanto seu coração estava acelerado, não mais que o meu. Quando estávamos sem ar, separamos nossas bocas, mas nossas testas permaneceram unidas, ele segurou meu rosto com as duas mãos e beijou minha testa, abri os olhos e vi um sorriso em Oliver que ainda não conhecia. Oliver me abraçou e sussurrou em meu ouvido:

– Você não faz ideia do bem que me faz... eu preciso de você Felicity.

Apertei mais ainda o abraço, pois estava tão emocionada por ouvir aquilo que realmente não conseguia falar nada, acho que ele sentiu uma lágrima minha em cair em sua camisa e então me afastou para olhar nos meus olhos, extremamente assustado:

– Felicity, eu fiz alguma coisa errada?

Eu só consegui balançar a cabeça de forma negativa...

– Mas porque você está chorando?

Enxuguei meu rosto e sorri tentando acalma-lo, respirei fundo e me abrir:

– Oliver, desde aquele dia no hospital eu me proibir de lembrar daquele beijo, eu reprimia todas as dezenas de vezes que aquele momento vinha a minha mente, e após uma luta muito forte, eu finalmente consegui não mais me arrepiar quando lembrava do seu beijo, do seu toque. Eu sei que essa não é a hora de fazer comparações, mas Ray nunca conseguiu acelerar meu coração como você consegue só em pronunciar meu nome. Oliver, eu lhe faço bem porque tudo que sinto por você nasceu... sem querer! Eu não forcei, não usei como fuga para tentar esquecer alguém ou esquecer uma dor que estava sentindo. Eu lhe faço bem porque você me faz bem, você me faz feliz mesmo quando tenta me afastar de você. Dói muito te ver se afastando de mim, mas aí eu me lembro que você só faz isso porque me ama, porque quer me proteger mas eu não perdi as esperanças de que um dia você ia perceber que somos muito mais fortes juntos do que separados.

Oliver me olhava com ternura e seus olhos pareciam marejados, ele me abraçou forte e depois me olhou nos olhos dizendo:

– Felicity, você é minha força, minha sanidade, minha parceira e minha garota e eu quero ser tudo isso e muito mais pra você. Não tenho nenhuma experiência em como ser um bom namorado, mas eu prometo me esforçar pra aprender, eu sou um bom aluno quando o assunto me interessa.

E aí ele deu aquele sorriso cafajeste. Mas continuou:

– Eu sei que você está passando por um momento de adaptação com Emily e que precisa de espaço, eu não quero ser um fardo pra você tão pouco lhe forçar a nada, mas eu preciso que você saiba que eu te amo e que não importa quanto tempo seja necessário, eu vou lhe esperar... você não perdeu as esperanças em mim mesmo eu sendo um completo idiota... esperar por você será fácil mas ao mesmo tempo, será torturante.

Oliver fez uma carinha de cachorro carente, não me contive e o beijei novamente e ficamos um bom tempo assim, nos beijando e conversando. Oliver falou todas as vezes que tentou se abrir pra mim, quase não confessa que não tinha compromisso nenhum e que na verdade estava me vigiando, dei um soco no ombro dele que doeu mais em mim quando ele disse que estava mexendo na minha gaveta e achou a foto, contei pra ele que um senhor veio me procurar 3 dias depois com aquela foto. Oliver me fez prometer fazer uma cópia pra ele. Thea chegou e nos viu juntos, nem preciso falar sobre os gritos e pulos e palminhas que ela ficou fazendo, correu pra me abraçar e depois torceu a orelha de Oliver o chamando de lerdo.

Recebi uma ligação e me afastei pra falar, quando voltei os dois estavam conversando e pararam quando me viram, Oliver perguntou:

– Algum problema?

– Não, a professora da Emily teve uma urgência e precisou liberar a turma mais cedo. Tenho que ir agora!

Oliver veio em minha direção, me beijou e me acompanhou até o carro. Antes de abrir a porta, ele reforçou a proposta:

– Felicity, pensa com carinho em tudo que eu te disse?

– Claro, Oliver. Te agradeço por entender que estou passando por um momento de mudanças mas não quero nunca me afastar de você, só vamos com calma, sim?

– Como você quiser.

Me beijou de forma intensa e então me deixou ir. Cheguei a escola de Emily e meu sorriso não cabia de tanta felicidade, minha pequena veio correndo em minha direção e perguntou:

– Mamãe, você tá munto féiz? (Mamãe, você tá muito feliz?)

– Sim, meu amor! Vamos pra casa?

Emily balançou a cabeça do jeito que eu adoro fazendo seus cachos parecerem molas. Chegamos em casa e liguei a tv, antes mesmo de mudar de canal, estava em um programa de culinária que ensinava como fazer Cookies de chocolate, quando penso que não, Emily me vem com essa:

– Mamãe, vamos fazer tutis juntas? (Mamãe, vamos fazer cookies juntas?).

– Vamos?

– Uhum, aí você me tonta tem é atêi homi te tava ati faiando tum você, né? Eu nom esteci, mamãe! (Uhum, aí você me conta quem é aquele homem que tava aqui falando com você, né? Eu não esqueci, mamãe).

O que é Emily me pede que eu nego? Nada.