Planos e Promessas escrita por Mi Freire


Capítulo 22
Felipe.


Notas iniciais do capítulo

Eu achei esse capítulo curto, mas ele é muito intenso. Preparem-se.



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Como todos nós bebemos um pouco além da conta e a viagem pra voltar pra casa é longa, Duda e Pedro nos convidaram para dormir aqui essa noite, na mansão, onde os quartos de hospedes são suficientes para todos.

A ideia me deixa muito empolgado, afinal, essa é a minha chance de passar mais tempo com a Bianca sem que ela possa fugir de mim. Afinal, estaremos confinados na mesma casa por uma noite inteira. A não ser que ela fique o resto do tempo trancafiada no quarto. Aí eu serei obrigado a invadir. O que parece ridículo, mas é tudo que um homem desesperado por atenção pode fazer.

Vou até o jardim onde os empregados estão limpando toda a sujeira da festa que terminou há uma hora.

Apesar de a noite estar fria, vejo de longe a Gabi e a Bia sentada em um banquinho perto da piscina. Já posso imaginar que a Gabi está colocando a primeira etapa do nosso plano em ação: convidado a Bianca para ser a madrinha do casamento.

Fico de longe apenas observando e evitando ao máximo que elas me vejam. Não quero atrapalhar o momento. Vejo quando a noticia principal enfim é dada e a Bia reage exatamente como o esperado: ela praticamente salta do banco e joga-se nos braços da Gabi de maneira teatral.

Posso sentir, mesmo de longe, que ela está muito emocionada com o convite. Mal sabe ela que as coisas não serão exatamente da maneira como ela imagina. E sim da maneira que eu achei que seria melhor para nós dois.

— Posso saber por que você está aqui espiando?

Viro-me para trás um tanto surpreso e dou de cara com a Luiza com uma expressão não muito boa.

— Ah, e você. Nossa, você me deu um susto!

Solto um riso.

Mesmo a situação sendo engraçada, Luiza não sorri em nenhum momento. Muito pelo contrário. Ela parece prestes a me devorar com a dureza de seu olhar.

Não estou entendendo...

— Ué, o que foi que eu fiz de errado? – perguntei. — Por acaso você nunca ficou espiando ninguém?

— Acontece Felipe, que esse não é o problema. – ela cruza os braços, mostrando-se ainda mais fria.

— Então qual é o problema afinal? – insisto, ainda sem entender absolutamente nada.

Não me lembro de ter me comportado mal durante toda a festa. Não me lembro de ter sido grosseiro ou desrespeitoso com ela ou qualquer outra pessoa.

— Sabe, eu pensei que você fosse uma pessoa melhor. – disse ela, olhando-me torto. — Uma pessoa honesta, uma pessoa leal, uma pessoa querida. Por todos esses anos eu acreditei que não haveria pessoa melhor para Bianca do que você. Mas eu me enganei completamente.

Inclinei a cabeça, confuso.

— Não estou entendendo nada. Desculpa – solto um riso fraco. — Mas o que você está querendo dizer com tudo isso?

— Porque você a traiu? – ela berrou, me fazendo dar um pulo. Tive medo que ela acabasse chamando atenção das outras pessoas em volta, principalmente da Bianca.

Segurei-a pelo braço e a puxei para um canto mais afastado.

— O quê? Como assim, Luiza? Do que você está falando, pelo amor de Deus!

— Não se faça de sonso, Felipe. Eu conheço muito bem tipinhos como você. Não venha querer agora bancar o bonzinho.

— Sério, Luiza. Eu estou completamente confuso agora. Só me explica e eu prometo facilitar. Mas do que você está falando?

— Ah, então você não sabe? A Bianca me contou tudo! Você não tem que mentir pra mim. Nós nem somos nada. Nem mesmo amigos. Não depois do que você fez com ela... Você sabia que ela está muito mal desde que descobriu a verdade?

— Verdade? Mas que verdade?

— Ai, nossa. Você é muito tonto, Felipe. Eu estou falando do seu caso com a sua aluninha preferida. Não tá lembrado?

Novamente eu ia perguntar do que ela estava falando, porque eu estava de fato boiando, quando tudo começou a fazer sentido da minha cabeça.

Foi como voltar no tempo.

Aquelas ligações estranhas, o aparecimento surpresa da Bianca na faculdade após o termino do meu experiente, a ceninha da Valéria mesmo diante da universidade inteira, os berros da Bianca na calçada, o tapa na cara, o olhar de desprezo que ela me olhava, a raiva de mim, as palavras sem sentido e depois o seu desaparecimento por toda uma noite.

É claro! Agora estava tudo muito claro pra mim.

— Não, isso é um engano. Nada disso aconteceu. Sério, acredite em mim. A Bianca está completamente enganada. Eu nunca teria sido capaz de traí-la dessa maneira.

Não esperei para ouvir a Luiza dizer que não acreditava em mim, porque eu era um canalha, cafajeste, mentiroso e infiel.

Como se eu algum dia fosse capaz de tomar uma atitude desleal dessa com a pessoa que eu mais amo na vida.

Francamente!

E lá fui atrás da Bianca para saber direito que história é essa. Mas antes que eu pudesse chegar até ela, ela chegou até mim. Não foi um encontro planejado. Nós simplesmente demos de cara um com o outro pelo meio do caminho.

Eu a segurei, devido ao grande choque daquele esbarrão.

— Felipe? O que você está fazendo aqui?

— Bianca, nós precisamos conversar. E dessa vez é serio. Não que todas as outras não tivessem sido. Mas dessa vez eu preciso de uma explicação. Eu preciso saber por que é que você duvidou de mim. Eu jamais te trairia!

Ela franziu o cenho e precisou de alguns segundos para assimilar tudo que eu estava falando assim tão depressa.

Fomos até o banco perto da piscina onde até então ela estava conversando com a Gabi. Ali era um lugar calmo e mais reservado para termos essa conversa sem interrupções.

— Bianca, por favor, me diz que isso não é sério.

— Me diz você! – ela parece bem brava ou chateada comigo. — Eu vi tudo, Felipe. Não precisa mentir!

— Você viu o quê? – eu também comecei a ficar bem alterado. — Viu uma aluna qualquer se aproveitando de mim em uma situação que eu não esperava? Porque eu tenho certeza que você não viu nada além disso. Nem mesmo um beijo.

Disso ela não tinha do que discordar.

Porque apesar de a Valéria está sempre no meu pé, todas às vezes ela tentou algo mais além das provocações verbais, ela nunca conseguiu arrancar de mim nada além de desprezo.

— É, isso é verdade. – como se tivesse envergonhada, ela abaixou a cabeça e refletiu a respeito. — Mas eu vi a forma como ela te tratava, como vocês pareciam tão íntimos diante de toda aquela gente que poderia servir de testemunha. – ela voltou a me encarar. — Você sabe não sabe? Isso é ilegal, Felipe!

Isso o quê? Algo que nunca aconteceu? – rebati. — Pelo amor de Deus, Bianca. Eu não acredito que você foi capaz de desconfiar de mim a esse ponto. – não sei, mas me de repente me deu uma vontade tremenda de chorar. Mas eu me segurei, porque lágrimas só atrapalhariam. — Ela te ligou não foi? E inventou uma história qualquer na qual você caiu e tirou suas próprias conclusões precipitadas!

Bianca não disse nada, permanecendo imóvel, de cabeça baixa e muda.

— Não é justo. – continuei. — Você deveria confiar em mim! Deveria saber que eu jamais faria algo assim com você.

— Nem mesmo com tudo que estávamos passando? – perguntou ela, baixinho. — Com tantas brigas, tantos desentendimentos, mentiras, frieza, distancia...

— Não, Bianca. Nem mesmo com tudo isso. Nem mesmo se você dissesse que deixou de amar há muito tempo. – pousei a minha mão sobre a dela, que por sinal estava bem gelada. E ela estava tremendo. — Por acaso você não se lembra de todas as promessas que eu já te fiz?

Não esperava que ela me respondesse.

— Eu disse tantas vezes que te amaria para sempre, não disse? Eu não menti. E traição não é algo que uma pessoa que ama faça com a outra. Eu disse também que sempre estaria cm você, não disse? Pois aqui estou e sempre estive, mesmo sabendo que nem sempre as coisas seriam fáceis entre nós.

Eu não conseguia bem ver seu rosto. Ela tinha soltado o cabelo há um tempinho e agora ele caia feitas ondas em frente ao seu rosto, pois ela ainda estava com a cabeça baixa, olhando para nossas mãos juntas sobre seu colo.

Mesmo assim, eu pude sentir que ela estava chorando baixinho, com medo que eu escutasse. Como ela sempre fazia a noite, quando chegava do trabalho e deitava-se ao meu lado porque não tínhamos trocado nenhuma palavra durante todo o dia.

O ponto auge da frieza e o distanciamento da nossa relação.

— Quando eu digo que amo você, não estou dizendo só por dizer. Digo isso de coração aberto. Porque ter me apaixonado por você foi uma das coisas mais maravilhosas que já me aconteceram em toda a vida. Depois de você nada foi igual. Passei a sentir as coisas com muito mais intensidade. Tanto o amor, quanto a tristeza. E não digo que isso seja algo ruim. Não. Porque o seu amor me tornou um homem cada vez melhor, mesmo quando as coisas são difíceis entre nós. E mesmo se eu quisesse, eu nunca conseguia me desfazer desse sentimento. Porque hoje ele já consome cem por cento da minha vida e me faz querer continuar e lutar.

Eu a abracei de lado, porque agora ela já estava chorando muito mais alto e parecia tão fragilizada e sensível.

— E se digo que eu jamais faria algo assim, é porque tenho total certeza é a única na minha vida. Você sabe que isso é verdade. Porque eu também já fiquei com várias outras mulheres no tempo em que estive estudando fora e nada do que eu tenha sentido por elas se compara ao que eu sempre senti quando estou com você. Você é insubstituível, Bianca. Tudo em mim é você. Do começo ao fim.

Estava sendo muito difícil pra eu dizer aquelas palavras em voz alta, há muito tempo eu não colocava pra fora tudo que estava preso em mim. E ela não era a única que estava chorando não, apesar de eu não saber o se que se passava na cabeça dela naquele momento.

— Eu não quero te perder. Eu tenho medo só de pensar que algum dia isso possa acontecer. – beijei seus cabelos, apertando-a mais forte. — Eu não quero que a gente se perca no meio da nossa própria bagunça. Já se passaram tantos anos! E eu ainda continuo aqui. Porque me importo, porque me preocupo. Continuo aqui porque o meu amor por você vai além de qualquer erro nosso.

Ela aperta firme a minha mão em meio aos soluços, o que me faz ter coragem suficiente de erguer seu queixo e fazer com que ela olhe diretamente no fundo dos meus olhos e veja o quanto eu estou sendo sincero e verdadeiro.

— Saiba que eu continuo te amando da mesma forma. Continuo te querendo e te desejando como antes. Não importa quando tempo tenha passado. Não importa quantas vezes nossos caminhos foram separados ou quantas coisas tenham acontecido para nos afastar. Nada que eu já vivi tem tanta importância quanto você. Ninguém que eu tenha conhecido superará o significado que você tem pra mim. Eu te quero muito e não te quero só por agora, eu te quero pra sempre. E isso não é só uma promessa. Não vou deixar que essa crise abale de vez o nosso relacionamento. Não vou permitir que esse desgaste destrua nossos planos. Eu vou te provar, todos os dias, por toda vida, que ainda vale a pena continuarmos juntos. Porque só eu e você sabemos o quanto foi custoso chegarmos até aqui e não vai ser agora, nem nunca, que eu vou deixar você ir. Mas pra isso precisaremos lutar juntos. – apesar do medo de ouvir a reposta, e eu tinha que perguntar: — E mais do que nunca eu preciso saber de você: vale a pena ou não vale? Você está disposta a lutar comigo ou não? E o mais importante: Você ainda me ama? Porque eu acho que nunca te amei tanto quanto agora.

Antes de responder em palavras, ela me abraçou forte. Com a cabeça deitada no meu ombro e continuou chorando. O que eu não poderia saber se era bom ou ruim.

Foi um abraço longo e demorado, mas quando ela enfim olhou para mim com os olhos verdes cheios de lágrimas ela me deu um pequeno sorriso e isso foi o bastante para disparar o meu coração.

Vagarosamente ela aproximou seu rosto do meu, colou nossas testas e fechou os olhos.

Fiquei ali aguardando, mais ansioso do que nunca para que ela dissesse algo. Qualquer coisa. Mas ela não disse e sim me beijou.

Um beijo lento, um beijo calmo, um beijo molhado e totalmente carinhoso e sensível.

— É claro que eu te amo, Felipe. Te amo mais do que amo a mim mesma. Mas – nossos rostos ainda estavam muito próximos e as lágrimas não paravam de cair de seus olhos. Já eu estava bem mais controlado, apesar de muito apreensivo. — eu não posso continuar. Eu ainda preciso de tempo.

Ela fez que ia se levantar e dar aquela conversa por terminada, mas eu a impedi bem a tempo, puxando-a de volta.

Tempo? Tempo pra que, Bianca? Você não acha que já ficamos muito tempo separados? – comecei a chorar de novo, sentindo que a ferida no meu coração estava mais aberta do que nunca. — Eu não aguento mais ficar longe de você. Eu quero você. Eu preciso de você. E preciso agora.

— Eu sinto muito. – disse ela muito baixinho, enquanto tentava conter as próprias lágrimas. — O problema não é você. Eu acredito, eu confio em você. O problema sou eu. Sabe, eu estou cansada de arruinar o nosso namoro. Depois de tudo que você acabou de me dizer, eu cheguei a uma conclusão e percebi que eu sou a única que nos impede de sermos felizes. Fui eu quem me afastei primeiro, fui eu que me mantive ocupada demais com o trabalho, fui eu quem desconfiou de você, fui eu quem tornou esse relacionamento frágil, fui eu quem quebrou todas as promessas e arruinou todos os nossos planos.

Abri a boca para protestar, para dizer que ela estava completamente enganada, que a culpa sempre foi de nós dois, mas que tínhamos a chance de mudar essa história agora, mas ela me impediu e continuou dizendo tudo que estava pensando.

— Por favor, me dê só mais esse tempo para pensar sobre as minhas próprias atitudes.

Pela maneira como ela estava pedindo, pela maneira que ela estava me olhando não é como se eu pudesse negar algo assim a ela, apesar de não concordar em nada com aquilo.

Mas se eu já tinha esperando até agora, eu poderia muito bem esperar pelo tempo que fosse necessário.

— Tudo bem. Eu te dou esse tempo. Mas eu te peço para não se culpar tanto. Pois tanto eu quanto você somos responsáveis por isso. E cabe apenas a nós dois mudar a direção da nossa própria história, para nos levar ao lugar onde sempre sonhamos em estar.

Juntos levantamos e antes que seguíssemos direções contrárias, eu a beijei na testa e a deixei partir pela ultima vez.


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Notas finais do capítulo

No próximo capitulo terão mais cenas fofinhas entre esses dois. Aguardem!



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