Zoro havia lhe dito uma vez que nada atrapalharia sua ambição, nem mesmo Luffy, se esse tentasse intervir, estaria morto.

Na época, o espadachim falara sério, mas então, por que razão estava disposto a morrer no lugar de seu capitão? Qual seria seu motivo para assumir toda a dor que deveria ser de Luffy?

Era verdade que o garoto do chapéu de palha sempre tivera a melhor das intenções com todos a sua volta e que com o passar do tempo, ser tornara impossível não nascer uma amizade entre o primeiro companheiro e o capitão.

Também era verdade que, apesar de Luffy ser apenas um idiota infantil na maior parte do tempo, suas mentes estavam em sintonia nas grandes decisões. Zoro o respeitava e sabia que o capitão sempre faria o melhor para todos, ele estava disposto a aceitar qualquer que fossem as ordens do garoto do chapéu de palha sem duvidar, nem por um instante, de suas intenções.

A confiança que ambos tinham um no outro era apenas uma loucura. Tão louca que quase não parecia ser possível.

Mas... Agora, Luffy parecia tão frágil com o corpo esparramado pelo chão daquela forma, totalmente desacordado. Totalmente vulnerável.

Com os olhos cerrados e os lábios levemente separados, o rosto sujo e as roupas rasgadas, ele parecia apenas uma criança dormindo pacificamente em sua cama. Sem considerar qualquer mostro que poderia estar escondida sob sua cama ou dentro de seu armário.

Luffy tinha 17 anos, no entanto. E todos pareciam esquecer esse fato, talvez fosse culpa de suas atitudes infantis e de sua inocência natural ou mesmo de seu rosto sorridente e seus olhos grandes, cheios de energia que expressavam a juventude que ele nunca perderia.

Kuma era como o bicho papão assolando o doce sonho que havia sido o tempo em que a tripulação havia viajado em buscas de aventuras na Grand Line.

Aquele homem estava ameaçando levar seu capitão e não havia nada que Zoro pudesse fazer, nem toda sua força era capaz de sequer arranhar aquela máquina.

O cansaço se fazia presente e seus companheiros estavam desacordados, era como uma facada em seus orgulho admitir que sua força não era suficiente para salvar aquele que por muitas vezes lhe ajudara.

A honra era o que definia um espadachim, seu grande orgulho e Zoro estava prestes a fazer algo que pensou que jamais seria capaz de fazer por outra pessoa: Jogar seu orgulho ao vento e abaixar sua cabeça.

─Luffy é o homem que vai se tornar o rei dos piratas! ─ Declarou com convicção como justificativa pela qual ele deveria morrer e não seu capitão.

Zoro estava verdadeiramente disposto a abandonar suas convicções e morrer por Luffy, seus motivos iam além de simples respeito ou honra. Apenas não havia sentido em seguir em frente sem aquele idiota sorridente lhe atazanando para jogar jogos bobos no convés todos os dias.

Quando Kuma lhe dera uma amostra da dor que o garoto sentira, doera, não somente fisicamente, mas também em pensar que aquela era apenas uma pequena parcela do que seu amigo havia aguentado por eles.

Sua era imprudente e estava sempre se sacrificando pelos outros.

O espadachim não era o único que notara que Luffy havia abusado demais do próprio corpo diversas vezes nos últimos tempos, o garoto chegara além de seus limites para ajudar os amigos tendo plena consciência do que aquilo lhe levaria.

Diminuía aos poucos seu tempo de vida com o Gear Second e esgotava toda sua energia com Gear Third. Concordara em aceitar a dor e cansaço quando colocara cem sombras em seu corpo ao mesmo tempo. Cem personalidades diferentes gritando dentro de si e mesmo assim, a determinação de Luffy tomara conta para que elas não o dominassem.

Como poderia seu capitão não ter ido à loucura?

Quando toda dor explodira em seu corpo, ele fez questão de manter a postura, Zoro era um homem orgulhoso, afinal.

Mesmo quando o ero-cook lhe perguntara o que acontecera, tudo que pode deixar escapar fora um:

─N-não aconteceu nada.

A dor era delirante, seu corpo estivera queimando por todo o tempo, o sangue escorrera e sujara todo o chão a sua volta, seus ossos rangiam em desgosto pela força que lhes obrigava a fazer para manter-se em pé. Zoro estivera paralisado naquele mesmo lugar escondido entre as grandes árvores e suas katanas estavam fora de vista.

Não se lembrara de nada depois disso, apenas do grande escuro vazio e o pensamento de que acabaria ali. Zoro esteve desacordado por horas a fio sem que qualquer um de seus companheiros tivesse qualquer ideia do que ele havia feito por todos ali.

Mas, quando lutou para abrir, nem que fosse apenas um pouco, os olhos e deu de cara com o sorriso brilhante de Luffy que exclamava com alivio que seu primeiro companheiro havia enfim acordado, tudo parecera valer a pena.

O garoto pulava de um lado para o outro como um macaco hiperativo, dando risadas exageradamente altas e batendo palmas sem qualquer ideia de que era o único culpado pelo estado de seu amigo.

Doera, mas Zoro não poderia ficar mais feliz de assumir a dor de seu capitão. E não havia nenhum ponto em dizer a qualquer um dos presentes o que fizera, não havia qualquer sentido em lamentar o passado ou reclamar de suas dores.

Luffy estava bem, afinal. E isso era tudo que importava para o espadachim.