Prólogo

Aquilo não podia estar acontecendo, eu disse a mim mesma. Não podia.

Eu encarei meu reflexo no espelho, entorpecida. Talvez, se eu tivesse sido inteligente o bastante, nada daquilo teria acontecido. No entanto, como eu sabia que uma parte de mim estava enganada, eu simplesmente me deixei levar, mesmo que fosse totalmente errado.

Minha cabeça estava à mil, minhas pernas tremiam. Eu parecia uma idiota, pensei. Se eu não tivesse...

Mas agora já era tarde para voltar atrás, e eu teria de me conformar com meus próprios erros. Quando eu era pequena sempre fui assim: aquela criança estranha que assumia o que tinha feito.

O espelho refletia uma pessoa, mas aquela não parecia eu. Meu cabelo estava bagunçado, minha saia, amarrotada. E meus olhos pareciam selvagens. Se fosse de raiva ou devido ao que aconteceu, eu não sabia.

Eu deixei que meus dedos tocassem em meus próprios lábios, relembrando. Aqueles olhos, aqueles malditos olhos continuavam me seguindo, quase como uma visão. A confusão era evidente em seu rosto, também. E eu tive a completa certeza de que nenhum de nós sabia, ao certo, o que houve.

Então aquela era sensação de se sentir eufórica com um beijo, eu pensei. E não houve apenas um, e isso só fez a situação parecer mais ridícula ainda.

Eu ri de mim mesma. Aquilo continuava não parecendo certo. Seus lábios contra os meus, no meu pescoço, suas mãos em minha cintura... Nada fazia sentido.

Depois de tomar um ar, eu voltei à festa, encontrando com seus olhos. Eu ainda não me sentia pronta, mas, de um jeito ou de outro, eu teria de encarar a realidade, por mais estúpida que ela fosse.

Ele sorriu, e eu tive que sorrir, também. Porque, mesmo me corroendo de arrependimento, uma parte de mim queria de novo: e mais uma vez, e de novo.

Mas, depois de perceber o que eu estava fazendo, meu sorriso morreu. Eu o encarei, assustada. Depois comecei a andar pelo caminho contrário, fugindo daquela realidade.