Coitadinha. Criou a própria gaiola, a própria loucura. Vamos tentar algo diferente? Sorria. O resto é automático para todo mundo. Você mesmo disse.

Um pássaro bateu na minha janela. Não, não, foi real! Ele bateu na minha janela. Riram. Ah, coitadinho... Eu não deveria ter falado. Eu deveria ter desistido. Cedido. Eu deveria ter dado o último passo. Eu sinto muito... Vocês estão chorando pela garota errada.

Só parem de criar ilusões. Parem de inventarem coisas sobre mim. Eu não sou um número. Eu não sou espontânea! Eu sou mentirosa. E eu vou mentir o tempo todo. Estão assustados? Pois bem, eu acho que não sobrou mais nada dentro de mim. Acho que eu estou morrendo. E sorrindo demais.

Mas e vocês? Vamos tentar uma coisa diferente, vamos? Ah, claro, vocês só conhecem a rotina. Modo automático. Sei bem como é. Coitadinhos... Eu não deveria ter falado. Nunca, nunca, nunca. Porque agora as palavras me perseguem. Elas me aprisionam e eu estou enlouquecendo com elas, comigo, com o mundo. E é real.

Assim como o pássaro. O pássaro branco... Ele me assustou porque eu me vi nele. Será que ele está machucado? Será que ele queria morrer? Por que ele bateu na minha janela? Eu assobiei para ele voltar. Ele me ouviu? Não importa: ele foi embora e... Eu queria muito ir também.

Mas querem que eu fique. Por favor, não diga nada. Por favor, me deixe sozinha. Me deixe ir!... E não tem nada me impedindo. Coitadinha. Criou a própria gaiola, a própria loucura. Vamos tentar algo diferente? Sorria. O resto é automático para todo mundo. Você mesmo disse.

Então, eu fecho os meus olhos. Parem de falar. Parem de mentir! Eles também não me ouviram. Eu falei mesmo? Não, eu tenho medo das palavras. E tudo isso é tão real assim? Os meus sonhos deixaram de ser. Eu também devo ter deixado. Sou só mais um fantasma, uma sonâmbula, uma sombra. Eu estou desaparecendo e no entanto, - eu sinto muito - eu continuo aqui.