Transcendente escrita por Wina Hayate


Capítulo 8
Capítulo 8 - Red




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O sol naquela manhã desistiu de tentar brilhar, as nuvens cinzas cobriam todo o céu. Era o anúncio de chuva, Anne estava sentada na janela do quarto observando o tempo, seus olhos abaixaram-se para a pulseira lembrando daquele dia. Sempre achou que Kerberus não merecia um irmão como aquele, um irmão sujo e repugnante. Merecia mais, muito mais.

Já faziam dias que tinha se comunicado com sua avó, estava preocupada e curiosa por saber onde ela iria. A primeira gota caiu do céu batendo em sua janela e foi ali que viu um carro negro e lustroso na frente da porta da mansão em que vivia.

Seus olhos escureceram por puro desespero e saiu da janela fechando as cortinas.

– Calma, Anne, calma – ela respirava ofegante falando consigo mesma – Não é ele. Não é. Ele não está desconfiando de nada.

Batidas nervosas ecoaram pelo seu quarto, seus olhos correram direto para a porta sentindo o cheiro de Ethan, abriu sem nem mesmo se importar com seu pijama. Seus cabelos estavam bagunçados e ele parecia aflito.

– O que houve? – Anne perguntava assustada.

– Acho que Keita resolveu fazer uma visita surpresa por sua causa – os olhos azuis pareciam denunciar medo da situação, ele entrou no quarto e fechou a porta – Já tocou a campainha dezenas de vezes, não acenda as luzes vamos fingir que estamos dormindo.

– O problema é que eu estava na janela e eu não sei se ele me viu – ela parecia pálida pelo medo, suas mãos suavam e ela desabou sentada na cama – Ele vai descobrir e vou ter que voltar pra lá – as lágrimas começavam a descer pelo seu rosto.

– Não, ele não vai – o rapaz se aproximou da cama e sentou ao lado dela, um pouco afastado e receoso – tem um jeito de ele não sentir seu cheiro.

– O que seria?

Ele a olhou, os olhos dela pareciam brilhar de esperança, teria coragem de dizer? Na verdade tinha até dois jeitos de camuflar o cheiro e claro, ele não era louco de fazer a segunda opção. Anne não era sua companheira, não podia fazer e quanto a outra... Era a única solução. Sem nem mesmo pensar no que estava fazendo colocou a mão na bochecha da pequena e limpou as lágrimas.

– Você teria que tomar meu sangue – novamente os olhos dela perderam o brilho e ela cortou o olhar.

– Não posso, não consigo – sentiu a mão dele sair de sua bochecha enquanto brincava com seus próprios dedos.

– Sinto muito, é isso ou ele vai descobrir.

– Ethan... – ela suspirava – Não posso te machucar, eu não consigo.

– Machucar? Está dizendo morder? Esse é o problema? – ele se surpreendeu com isso e deu um riso abafado.

– O que foi? É engraçado?! – Anne olhava sem entender.

– Não é nada, se for esse o problema eu resolvo.

Pontier o olhava de canto, prestando atenção no que ele fazia. O viu dobrando a manga direita da camisa negra, deixando seu pulso exposto e quando se percebeu na situação ele já tinha levado o pulso na boca, mordendo a si próprio. Em questão de míseros segundos o sangue já pingava no lençol de sua cama, seus olhos fixaram naquela cena. O cheiro invadiu seu corpo levando-a por um misto de sensações, queria aquele sangue, precisava dele. Só conseguia focar naquilo, ouviu ao fundo uma voz dizendo “tome” e pressionando aquele pulso ensangüentado contra seus lábios.

Por puro instinto segurou o braço de Ethan e abocanhou o local da mordida, não deixando nem se quer uma única gota pingar dali. O sangue que fluía para dentro de si a preenchia, era como se parte dele estivesse com ela agora, sentiu seu corpo ficar quente. Não uma quentura febril e sim como aquele finalzinho de tarde que o sol somente acariciava sua pele. Era uma sensação boa, como se o sangue desse um gosto de pôr-do-sol com algo tão gostoso de presenciar que ela ainda não conhecia. Era doce e diferente. Nunca havia experimentado nada igual.

Sentiu um leve cafuné em sua nuca e foi aí que abriu os olhos. Não sabia quando e nem como, mas estava sentada de lado no colo de Morgan, ele acariciava seus cabelos com a testa apoiada no ombro dela. Aquilo fez seu sangue ir todo para o rosto deixando-a completamente vermelha. Ethan levantou a cabeça vendo que ela já não estava mais bebendo seu sangue e que seu pulso estava livre, porém sangrando.

– Vou te ensinar um truque, ele vai parar de sangrar – ainda atordoada pelo sangue os olhos lilases acompanhou o movimento dele, Ethan tinha lambido o próprio pulso estancando o sangue – Viu?

– Des-desculpa! – na mesma hora ela se levantou do colo de Ethan, ainda vermelha de vergonha pelo ocorrido.

– Pelo o que? – ele a olhava confuso arrumando a manga da blusa.

– Vo-você sabe – ela gaguejava virando o rosto de lado, nesse momento Ethan sorriu escondido dela.

– Que nada, na verdade eu que te puxei para o colo, você estava quase caindo da cama – Ethan riu atraindo a atenção dela e viu a menina se encolher de vergonha.

– Obrigada – sussurrou ela e caminhou até a penteadeira pegando a escova de cabelo, não que precisasse pentear os seus, se tem algo que ela amava em si eram os cabelos, eles já acordavam comportados.

– Não quero que ele te leve daqui e faça... Coisas ruins com você, não me importo de dar meu sangue – ela caminhava em passos curto e parou na frente dele passando a escova em seu cabelo, ele a olhou um tanto surpreso e depois sorriu de canto aproveitando o momento.

– Deixa a cabeça baixa – ela ajeitava a posição que queria ainda um tanto vermelha – Você é alto, assim fica difícil.

– Alto? Você que esqueceu de crescer – ele ria.

– Falta de fermento, sabe como é – Anne entrava na brincadeira – Prontinho, você ta lindo – o risinho dela já dizia o contrário. Ethan levantou e se olhou no espelho, seu cabelo estava completamente arrumado e jogado para o lado.

– Eu pareço um velho assim – Ethan sacudiu a cabeça deixando o cabelo bagunçado novamente – Assim ta melhor não acha?

– Ahhh deu tanto trabalho – ela fingia desapontamento vendo um sorriso vindo dele, tentava brincar para esquecer que bebeu o sangue dele, só de pensar suas bochechas já ganhavam cor pela vergonha – A propósito... Quantos anos você tem?

– Eu...

A campainha tocou e ele jogou um roupão para ela e sinalizou como se dissesse: Te espero lá em baixo. Vestiu o roupão e olhou para o quarto, para ela ter o sangue dele era algo... Diferente, mas será que ele queria o dela? Era o que pensava. Suspirou trocando de roupa, colocando um dos vestidos singelos que havia no armário e colocou o roupão por cima da roupa descendo as escadas.

*~*~*~*

Ethan já havia aberto a porta para o colega e estavam conversando de pé ali no cômodo de entrada, Keita insistia em esperar pela menina que vivia ali com Ethan.

– Como ela é? – perguntava o albino ansioso.

– Deixa de ser curioso – Ethan revirava os olhos.

– Hum... Bom dia – a voz doce que Ethan conhecia preencheu o cômodo, ele a olhou descendo as escadas ereta e formosa. Sorriu ao ver que todo treinamento de esgrima deu postura a ela.

– Alícia! Já está acordada? Estava tentando dizer ao Keita que estava dormindo ainda. – Ethan sorria e ela captou a mensagem. Interprete.

– Então é ela a moça de quem você tanto me conta? – Keita sorria radiante, nem parecia aquele homem frio e maléfico que conhecera. Não pode esconder a surpresa de ouvir que Ethan contava sobre ela.

– Ele me perguntou sobre você só isso – Ethan viu a surpresa nos olhos dela e respondeu o mais rápido que pode ficando vermelho.

– Pensei que fosse me apresentar só no baile – ela terminava de descer a escada e parava próximo aos dois.

– Keita é um colega das antigas sabe – ele ria nervoso – Bem, Keita essa é Alícia Vignoli, Alícia esse é Keita Finelix Bellacourt.

– Prazer, ma chérie – Keita beijou a mão dela e ela fez uma pequena reverência.

– Prazer.

– Bom então é isso –ele sorriu – Vim para entregar isso – Keita estendeu um envelope para Ethan que pegou na mesma hora – Queria que fossem meus convidados de honra.

– Ah puxa, muito obrigada – disse Anne surpresa.

– Obrigada Keita, mande um abraço para o Kerberus.

– Se ele me ouvir, ele anda um saco ultimamente depois que a bonitinha fugiu – Keita bagunçava seu próprio cabelo – Vou tentar dar o recado, bom dia para os dois e foi realmente um prazer conhecê-la senhorita Vignoli. – ele deu um sorriso arrebatador e saiu da casa.

– Até senhor Finelix – Anne tentava não ficar tensa.

– Até mais Keita.

*~*~*~*~*

Keita caminhava pelo imenso jardim da mansão do seu amigo, as estátuas de mármore o observavam. O carro negro como o céu noturno esperava por ele e assim que bateu a porta mandou seu motorista o levar para casa. Se arrependia profundamente de não ter prestado tanta atenção na sua garotinha preciosa.

– Droga – socou o banco frustrado.

Alícia era bem atraente, confessava. Para ele, ela tinha as curvas no lugar certo, imaginou-se apertando cada parte que gostara. Em sua mente ela era o posto daquela garotinha bonita que vivia de roupas largas. Entretanto, por infelicidade do momento tudo que conseguira sentir nela foi o cheiro do amigo. Ela tinha tomado o café da manhã. Abriu um sorriso de ponta a ponta da orelha, um sorriso que continha pura maldade.

Finelix queria Alícia para ele, aquele corpo chamara a atenção dele. Precisava primeiro conhecê-la, se ela não quisesse ter uma noite com ele, teria que dar um jeito de ter sem que ela recordasse.

Ele pouco se importava com Ethan, o amigo não saberia de nada e muito menos ela.

– Nicolas quero que ligue para o Yanke, quero uma dose bem forte daquilo.

– Sim, meu senhor.

O carro cantou pneu na esquina e corria pelo asfalto molhado pela chuva abrigando um Keita com idéias nada boas para aquelas pessoas que chamava de amigos. Mas era assim que ele vivia, se ele quer, ele terá não importa o preço.


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Notas finais do capítulo

E aí povo bonito? Como vocês estão? *-*
Finalmente esse capítulo saiu, a culpa foi do computador que não estava cooperando *olha feio para o computador* mas nada que umas boas batidinhas não funcionem hehe e.e
E agora? o que será que Keita está tramando? Na boa esse Keita é muito duas caras, jamais quero um amigo igual a ele x_x
Bom, até a próxima semana!