ROMA — Interativa escrita por Eoin Hailyn


Capítulo 2
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CAPÍTULO I

"Semper Paratus"
— Sempre Prontos

— Bendito seja Marte! — o rapaz praguejou — Levanta-te, Cesare!

O outro, um ano mais novo e ainda assim mais alto, bufou e colocou-se de pé, frente a frente com o irmão. Bem, eles só podiam ser irmãos; ambos tinham os fios castanhos e lábios ligeiramente carnudos, a forma física que colocaria Hércules nos chinelos. As bochechas sobressalentes, embora de feminino nada tivessem. Eram irmãos, definitivamente.

— Está te esquecendo que sou um erudito, irmão. Tenho sangue grego. Sou um saguidor de Apolo, o belo e artístico.

Callum revirou os olhos, erguendo a espada para o queixo do irmão.

— Engraçado como de belo e artístico você não tem nada…

Foi interrompido pela lâmina da espada de Cesare, que veio por baixo furtivamente. Ele pulou e se desviou, fazendo com que o barulho estridente das lâminas se chocando ecoasse pelos corredores do palácio. Ambos sabiam que se a mãe os pegasse praticando ali, tão perto de seus preciosos vasos de porcelana, ela serviria-lhes chá com um veneno que os deixaria beijando o chão e abraçando árvores por dois dias inteiros. Não que houvesse precedentes, é claro.

— Callum! Cesare!

Foi um grito feminino, os rapazes perceberam, e por alguns segundos realmente acreditaram ser o da mãe. E então se depararam com algo muito pior.

— Cassia.

— Cassia — ela repetiu, seus olhos azuis tempestuosos os observando — Vamos ver… Essa pequena artimanha… Mamãe está ciente? — como nenhum dos dois respondeu, ela sorriu, — Hm, acho que irá me render algumas boas semanas de trabalho escravo.

Callum fez uma cara perplexa.

— Você tem um trabalho escravo.

— Não é o trabalho escravo que eu quero — ela moveu as mãos até a cintura, as pulseiras douradas acima do cotovelo brilhando — É o trabalho escravo de vocês.

Callum jurava: ele jamais entenderia a linha de pensamento maligna da irmã mais velha.

Ela havia crescido, definitivamente, perdido toda aquela gordura infantil e ganhado altura, seios, coxas e a cintura arrendondada tão desejada pelas mulheres da época. Possuía, ainda, os lábios carnudos e maçã do rosto bem definida, amortecida por bochechas, as características marcantes da família. E quando alguém mencionava que era estonteante, os irmãos sempre se seguravam para não acrescentar o mortalmente. Era como brincar com o próprio fogo.

— Venham — ela se virou — O Instrutor está lhes procurando. Aula de grego.

— Eu sou fluente em grego — Cesare protestou.

— Todos nós. É aula de dialetos e grego arcaico antigo.

Os rapazes suspiraram. Certo que a mãe era grega, e como todo grego, suas aspirações acadêmicas para os filhos eram enormes, mas Callum sinceramente preferia ferir gravemente do que estudar as estrelas. E mesmo Cesare, que sempre se dizia um erudito, não gostava muito de passar horas estudando números, checando as posições das estrelas e relendo livros em sânscrito.

Então Cassia sorriu, debochada.

— Vocês estão ferrados.

— Você também, senhorita — Callum a lembrou.

— Uhuh — sacudiu a cabeça — Tomei essas aulas dois anos atrás, enquanto vocês brincavam com espadas de madeira.

Callum e Cesare trocaram um olhar.

— Cass, querida, você não deveria estar em outro lugar?

— De modo algum — ela sorriu — Eu vivo e respiro para importunar vocês.

— Honestamente — Cesare retirou as luvas de couro — Deveria se juntar às Virgens Vestais. Assim nos pouparia muita chatísse.

Ela quase gargalhou, sendo interrompida pelo animal que se enrolou em suas pernas. Tinha a altura de seus joelhos e de pelo dourado e bem aparado. Podia ser um gato, mas quando a moça tomou-o nos braços ficou evidente que se tratava de algo mais perigoso. Um leão.

— Aí está você, Nemaeus* — acariciou o felino — Deveriam saber que tem de seguir à risca o título. E, irmãos, — piscou — Isso já não posso garantir.

Qualquer outro irmão teria ficado surpreso e repreendido suas atitudes, mas não Callum e Cesare, não com Cassia. Talvez se surpreendesse com Harmonia, gêmea de Cassia, e com Cordelia, e Cassandra era demasiadamente nova para se envolver com alguém. Mas Cassia era um terror.

— Vamos logo com isso, — Callum suspirou, cruzando com ela e se adiantando corredor afora.

O rapaz morava ali desde que podia se lembrar. Tinha poucas memórias do pai, e menos ainda de sua fuga do antigo palácio imperial. Sabia apenas que fora criado no Palácio de Láton e seria um Imperador algum dia. Ou pelo menos era isso que a mãe dizia. Enquanto dava longas passadas, buscando pela sala de armamento bélico para guardar sua espada, quase tropeçou em alguém.

— Flávio — se empertigou diante do legado. Fazia parte da Guarda Pretoriana, era o segundo no comando e apenas respondia a Tiberius, o general e Leonora, sua mãe. Era bonito, com um corpo escultural e cachos loiros na cabeça.

— Senhor — se curvou ligeiramente — Recebemos notícias de um grupo que se aproxima do Palácio.

Callum sabia que não deveria ficar ansioso ou excitado com isso, mas ficou. Era um conflito? Então queria dizer que ele poderia, enfim, colocar em prática suas habilidades com a espada.

— Quantos deles?

— Suficientes para fazer uma bagunça.

— Estandartes?

— Nossos homens afirmaram ver algo dourado brilhando. Não puderam afirmar com certeza.

— Armados?

— Até os dentes.

Ele deixou que um sorriso escapasse, logo sentindo uma mão em seu ombro. Cesare, que também estampava no rosto uma expressão divertida.

— E onde está mamãe?

— Foi até a cidade. O General Tiberius e um grupo a acompanhou.

Sabe, vocês deveriam se sentir menos empolgados com tudo isso”, escutaram uma voz feminina se aproximando de longe.

— As ordens vêm de mim, então? — Callum ignorou a irmão, voltando-se para Flavius, que concordou com a cabeça — Coloque um grupo pequeno e armado na estrada para vigiá-los. Leve Hórus e ao menor passo ofensivo, reportem ao palácio, onde teremos mais homens para contê-los.

— Está sendo precipitado — Cesare virou-o — Podem não ser homens do Capitólio. Apenas… Pessoas de passagem.

O rapaz girou a adaga no punho, fitando o irmão.

— E então não haverá nada a temer.

Do fundo de seu coração, Callum realmente esperava que fosse uma ameaça. Em toda sua vida, nunca havia participado de um torneio real, uma batalha séria. E tinha certeza que era um brilhante soldado, abençoado por Marte, e que seria de grande ajuda num conflito sério.

— Senhor — Flavius chamou novamente — Temos de nos precipitar e tirá-los daqui. Caso seja uma ameaça…

— Eu fico. Levem minhas irmãs, preparem uma carruagem e cavalos silenciosos e partam pela estrada oculta — então levou dois dedos à boca e soltou um assobio alto e agudo. Alguns segundos depois, um falcão grande e majestoso de penas amarronzadas e o interior das asas dourado — Aqui está Hórus. Não o deixe se ferir — o falcão pousou na mobília enquanto Callum o acariciava — À batalha, meu caro.

— Eles têm… Esse animal e ninguém antes percebeu? — Cesare virou-se para Callum com uma expressão perplexa.

— Se chama elefante, criatura — Cassia corrigiu-o.

Era de se esperar que ela ficasse, já que se recusou a deixar o palácio.

— São animais típicos das terras ao Leste e mais ao Sul do Grande Deserto — Cordelia acrescentou.

Era de se esperar que ela também decidisse ficar.

— E eles têm véus em seus lombos. Sabemos muito bem quem gosta de levar elefantes à batalha — Harmonia suspirou.

As trigêmeas eram absurdamente sincronizadas; nenhuma delas aceitou deixar a diversão, apesar de Cassandra ter aceitado partir com a irmã mais nova. É claro, Callum pensou, que se a batalha real ocorresse haveriam uma carruagem e aias esperando para partir com elas.

— Huh, eu não sei— Callum franziu o cenho.

— Pérsia — uma das irmãs explicou, impaciente, — A Pérsia gosta de levar elefantes para a guerra.

— Eu nunca vi um elefante — deu de ombros.

— Isso porque nunca foi à Persia, criança — Cassia o lembrou com um tom sínico — Espere. Eles pararam. Estão levantando um estandarte…

— Estão convocando uma audiência.

Os cinco irmãos presentes atravessaram a torre descendo as enormes escadas de mármore branco e polido de dois em dos andares. Os tecidos tremulavam atrás das moças, as pulseiras tilintando. Elas estavam estonteantes para uma audiência.

— Sala de reuniões — Callum virou no corredor, passando por alguns guardas quais trouxe consigo — Estejam em posição diplomática.

Harmonia, Cordelia e Cassia arrumaram-se num amontoado de almofadas e materiais coloridos, como se estivessem ali durante a manhã inteira, ao lado da enrome cadeira imponente de ouro, onde Callum se sentou. Cesare aprumou-se logo ao lado do irmão, de pé, enquanto os soldados formavam uma estrutura defensiva, porém acolhedora, em forma de ‘V’.

Então dois homens abriram as portas do salão, ambos seguravam cornetas e vinha quase toda uma legião atrás deles. Ocuparam quase toda a sala do trono, que já era enorme, segurando suas bandejas de damascos, pêssegos e outras frutas exóticas. As mulheres se vestiam de maneira quase similar às das irmãs, embora não fossem togas ou túnicas, mas calças soltas, justas nos tornozelos e cintura apenas, de um material tão fino que ele podia quase ver suas pernas. Elas usavam também um lenço com alças para cobrir os seios, deixando a barriga à mostra, com penduricalhos nas barras que tilintavam enquanto faziam sua dança hipnotizante com o quatril. Tinham pulseias e lenços, a pele morena e o cabelo escuro, embora do rosto se visse apenas os olhos e o início do nariz. Era magníficas.

Então entraram as criaturas gigantes. Elefantes. E Callum temeu que fossem quebrar o piso de mármore com os seus passos pesados que quase tremiam o chão. Felizmente, a construção era alta e forte o suficiente. Então a música cessou, as dançarinhas ergueram as mãos como se estivessem adorando algo enquanto os elefantes se abaixavam.

— Da Pérsia, apresentamos os Príncipes do Terceiro Império Dourado dos Rajaram; Dashian Hardan Rajaram e Kishan Mulaain Rajaram.

Dois rapazes bronzeados pularam dos elefantes.

Callum pensou ter escutado Cassia suspirar.

E todo o salão.

Seus pensamentos eram quase evidentes demais: mulheres podem ter dois maridos também?


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Notas finais do capítulo

*Nemaeus = é do latim "leon de nemaeus', o Leão de Nemeia. Achei uma boa apologia, :D
***
Bem, espero que tenham gostado do capítulo! Estou amando as fichas de vocês. Acabei fazendo um dreamcast para as irmãs, meu Trio Dourado, e mais um bônus da Cassandra.
Harmonia (Gemma Arterton): http://media.tumblr.com/tumblr_m67mb9VyJ21r3rjxq.gif
Cassia (Laura Haddock): http://31.media.tumblr.com/b761243c275cbcff057937846ca00333/tumblr_mp3w0ne2mQ1qch5bxo5_250.gif
Cordelia (Alexandra Dowling): http://images6.fanpop.com/image/photos/36700000/The-Musketeers-BBC-image-the-musketeers-bbc-36736761-500-500.png
Cassandra (Emily Browning): http://media.tumblr.com/8f39260d577112d4c0d91c92839243ef/tumblr_inline_n50puaJ2ku1qgrm3t.gif