Esquecidos, O Arauto do Silencio. escrita por Igor Feijó


Capítulo 2
Capitulo 1




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O veículo deslizou por mais alguns metros mantendo-se em linha reta até que minutos depois o arco da cidade pode ser visto. Uma placa de retorno havia passado a cinquenta metros atrás e Francis refletiu sobre a possibilidade de mudar seus planos. Era seu último trabalho antes de tomar a decisão de publicar seus escritos, mas algo lhe dizia que não terminaria desse jeito.

Receptividade, uma palavra pouco conhecida em Almas, as pessoas pareciam ter um olhar eternamente desconfiado. Francis estudou o rosto de cada uma delas a medida que conhecia a cidade bloqueado pela escuridão do vidro fumê.

“Olhe como essas pessoas julgam a minha entrada na cidade que as pertence. Pareço com um lobo visitando a toca dos coelhos, mas mal sabem que sou apenas o cara que escreve o documentário escondido em um arbusto.”

Um bar com a temática ultrapassada, mas de público frequente mostrou ser a primeira parada de Francis. Algo longe de ser ocasional ou apenas um convite para socializar com estranhos, aquele lugar estampava um propósito em forma de nome: Ellen.

Nada de amores antigos ou romances casuais, Ellen era apenas uma conhecida de longa data, apenas alguém para se ter uma boa conversa. Francis não costumava criar vínculos, era um processo demasiadamente trabalhoso. A brisa gelada do final de tarde acariciou o rosto de Francis assim que deixou o carro, vestiu uma jaqueta de coura preta e ajeitou o cabelo, as olheiras sempre estiveram lá.

O local lembrava o interior de um restaurante australiano, porém há muito esquecido pelo tempo. Ellen estava no balcão terminando de guardar alguns copos recém-lavados, seu cabelo loiro-escuro e sua blusa xadrez eram o toque perfeito para uma Pop Star da música country, sua beleza de traços finos esbarravam no auge dos quarenta, seus olhos azuis eram o contraste do mar de mogno e luzes amareladas emitidas por pequenos lustres.

Francis não suspirou, pois teria que se lembrar de como o fazer. Se aproximou a passos lentos estudando o ambiente, alguns poucos fregueses se espalhavam em cantos isolados, uma fumaça serpenteava em ascendência de um canto escuro ignorando o aviso que proibia o ato. Limpou a garganta com um pigarro ensaiando um sorriso logo após.

Ellen virou-se e retribuiu o sorriso, mesmo a expressão cansada de um dia de trabalho não apagava sua beleza.

– Boa noite Francis, quanto tempo não o vejo.

– Desde a viagem a Santa Clara, se me recordo bem – devolveu simpático.

– Exatamente. Nossa o que tempo fez com você homem? Está parecendo mais velho do que eu! – colocou em tom de divertimento.

– Ellen, mesmo que eu estivesse no auge da minha juventude, jamais chegaria a parecer mais jovem que você. Esta batalha é claramente uma injustiça – brincou.

Ellen deu uma boa risada enquanto pegava um copo e preenchia uma dose de Whisky. Francis apenas fez um sinal com a mão pedindo que parasse.

– Você está brincando, parou de vez?

– Estou tentando. Um ano sóbrio – fechou o punho em sinal de força ensaiando uma careta otimista.

– Pois parabéns para o senhor! – sorriu enquanto virava a dose garganta a baixo – Mas me diga, o que o traz a Almas? Claramente não está a trabalho em uma cidade como essas.

– Férias não é uma palavra inclusa em minha rotina. Estou para fazer algumas entrevistas, nada demais.

– Bem, se precisar o quarto de cima está vago. Faz alguns meses que não alugo – disse enquanto lavava o copo olhando para baixo.

– Está bem, lhe agradeço, mas estou pensando em ficar no hotel mesmo – e Ellen sabia que não era ingratidão.

– Você que sabe, vai perde o melhor da vida noturna de Almas – sorriu enfatizando a ironia.

– A única vida noturna que tenho prezado é a do sono. Te vejo por aí – despediu-se com um aceno de cabeça e as mãos no bolso da jaqueta.

Mas isto estava longe de ser a verdade.


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