Minha terça-feira começou agitada, era o dia que Hany completava 5 anos, era incrível como o tempo passava rápido, não parece que são anos que me separam daqueles dias onde eu era uma mãe inexperiente e cheia de dúvidas, mas felizmente o tempo é um ótimo professor.

Eu sei que eu deveria estar feliz por minha filha estar fazendo mais um ano, e eu estava, mas algo perturbava minha cabeça desde o dia anterior quando fui fazer compras na cidade (incluindo um cupcake para dar a Hany hoje), eu vi Patch no mercado, ele não me viu, pelo menos eu acho que não, Patch estava com outro homem, igualmente alto, tinha uma pele pálida, mas não tanto quanto a de Patch e eles conversavam coisas suspeitas, lembro do outro homem mencionar uma criança, como mantive certa distancia não pude ter certeza sobre o assunto que falavam, mas não tinha bom pressentimento, acho que ouvi vagamente Patch falar que tudo estava ‘’de acordo com o plano’’. Não sou nenhuma stalker ou bisbilhoteira, mas se pudesse teria ouvido bem mais.

Meus sentidos diziam para por Patch para fora da minha vida o quanto antes, para afastá-lo da minha filha, o que mais me preocupava era que meus instintos de mãe não costumavam estar errados, mas eu não podia fazer algo assim do nada, Hany havia criado uma certa amizade com ele mesmo que contra minha vontade, e isso só me deixava ainda mais incomodada. Da ultima vez que os dois se viram ele deu para a pequena um saco de balas e chocolates, algo que eu não costumo fazer, geralmente dou a Hany coisas saudáveis, era difícil eu permiti-la comer doces daquela forma.

Mas deixando todos esses pensamentos de lado (que sinceramente estavam me deixando um tanto louca), eu levantei da cama e peguei o cupcake de Hany, coloquei uma fina velinha em seu topo e acendi a pequena chama, dessa forma fui até o quarto da pequena tomando todo cuidado para que a velinha não apagasse, e lá estava ela dormindo tranquilamente, comecei a cantar parabéns pra você e quase que imediatamente ela acordou coçando os olhinhos e meio perdida, mas assim que pode assimilar as coisas abriu um sorriso gigante e ficou de pé em sua cama, batendo palminhas e dando pulinhos.

– É hoje mamãe, é hoje! – Dizia ela entre gargalhadas.

Terminada a curta musica, ela assoprou a vela e me fitou – Fez seu pedido, querida ? – Falei sorridente.

– Sim mamãe! – E então ela pegou o cupcake e deu a primeira mordida – Tão gostoso... T odos os dias podiam ser aniversário! –

Ao ouvi-la dei uma risada – Não se acostume, hm? Já te expliquei que quem come doces demais tem dentes feios – Fiz uma careta para enfatizar o que havia acabado de dizer.

– Patch me disse que toda criança tem direito a comer doces! – Ah não, esse cara de novo.

– Querida, Patch não sabe de nada, sobre nada, não dê ouvidos para as besteiras que ele diz. – Tentei falar com toda minha segurança, mas parecia uma mãe ciumenta. – Vamos Hany, você tem que se arrumar para a escola – Eu disse tentando mudar de assunto.

Já estávamos prestes a sair quando vi que correspondência havia chegado, as contas do mês vieram aos montes, suspirei olhando os envelopes jogados no chão, logo os peguei e dei uma boa olhada, com certeza minha cara não foi boa.

– O que foi mamãe ? –

–Não é nada querida... Hm, ainda temos aquele quarto do ultimo andar vago, acho que vou ter que por para alugar – Falei desanimada, a ideia de ter mais alguém morando na minha casa me incomodava, mas eu terei que usar todo meu dinheiro para as contas e não iria sobrar nada para comprar tudo que era necessário para mim e para Hany, e para o salário de Patch, claro.

Ainda estava meio estressada quando deixei Hany na escola, tentei pensar em outra saída para o nosso problema, mas não me veio nada a cabeça, a única solução seria a pior de todas, alugar um quarto da minha casa, mas claro, iria impor regras, regras muito claras, com certeza manteria a ordem da minha casa que sempre fora impecavelmente limpa e calma.

Antes de ir para o escritório fui colocar o anúncio no jornal, tive um péssimo pressentimento, mas não tinha tempo para pensar sobre aquilo.

Aluga-se quarto espaçoso na casa do lago.

Preço a combinar.

Falar com Honnie Blay

Feito isso corri para mais um dia na rotina de sempre no meu trabalho. Ao fim do meu expediente fui pegar a pequena na escolinha, ainda podíamos aproveitar um pouco mais do seu aniversário, eu pretendia leva-la para tomar um sorvete ou fazer algo que ela queria.

– Então querida, você escolhe o que vamos fazer – Já estávamos no carro e eu dirigia ainda sem um destino.

– Podemos ir ao parque mamãe! – Ela falou animada, eu tinha pouco dinheiro, mas não podia negar isso para ela.

– Tudo bem, querida... Vamos lá, mas não podemos chegar tarde, amanhã você tem aula. – E assim dirigi até o parque de diversões, Hany brincou bastante, ela estava muito feliz e isso fazia tudo valer a pena.

No dia seguinte, quarta-feira, repetíamos a nossa rotina, eu estava com o humor particularmente ótimo, não havia visto Patch ontem e eu tinha a leve sensação que esse era o motivo.

Hany e eu estávamos tomando café da manhã quando eu ouvi algumas batidas na porta, era estranho ter visitas lá, e mais estranho ainda por ser muito cedo.

– Fique aqui e termine seu café, eu irei ver quem é, termine de se arrumar logo querida, está quase na hora de sairmos. –

Ao abri a porta tenho certeza que meu queixo caiu por conta daquela surpresa, estava lá bem na minha frente, Patch, como de costume, vestido de preto dos pés a cabeça, me pergunto se isso seria algum tipo de fetiche estranho.

– Hoje é quarta, o que está fazendo aqui? – Tudo bem, normalmente eu não era tão rude, mas ele despertava o pior de mim, e ao ouvir minha pergunta ele levantou o jornal na página dos anúncios, quase caí de costas quando vi circulado em vermelho o MEU anúncio sobre o quarto.

– Preciso alugar um quarto, e morar no meu local de trabalho me parece bem viável – Ele queria me deixar louca, era isso, ele queria que eu ficasse completamente fora de mim, só que isso não irá acontecer, não darei a ele o gostinho de ver eu me descabelando por ai.

– Ah, isso ... – Vamos Honn, pense em algo – Bem, temos que combinar os detalhes, e eu estou meio... Atrasada – Forcei um sorriso.

– Eu sabia que você estaria de saída, por isso vim com uma proposta pronta – Ele sorria sínico para mim e minha raiva aumentava a medida que os segundos passavam.

– Então vamos lá, lance sua proposta! – O que ele poderia oferecer? Era um jardineiro três dias na semana, ganhava pouco, com certeza sua ‘’proposta’’ não seria nem um pouco viável.

– 2.500 por mês – E mais uma vez meu queixo quase caiu, e aquele sorriso sínico permanecia em seus lábios, era visível que ele adorava me deixar sem ação.

– Você é só um jardineiro, como vai poder pagar tudo isso – Sem chance, eu não podia negar, não teria outra proposta como aquela.

Ele deu uma risada, acho que era a primeira vez que o ouvir dando uma risada, normalmente ele só dava sorrisos irritantes – Honnie, eu nunca disse que era apenas um jardineiro, tenho certeza que falei que jardinagem é só um hobbie – Ele piscou. GRRRR, que irritante, sempre parecia estar um passo a frente!

Ha Ha Ha

Meus olhos se arregalaram, tenho certeza que fiquei sem cor, o que era aquilo? ERA A VOZ DELE NA MINHA CABEÇA, Meu Deus, o que está acontecendo?

– Honnie? Está tudo bem? Ficou pálida de repente – Ele parecia preocupado, mas pude ver em seus olhos demasiado negros que ele se divertia.

– Está... Está tudo bem – Tudo bem, eu estava levando isso longe demais, eu estava ficando fora de mim e foi exatamente o que eu disse que não faria – Acho que... O quarto é seu! – OQUE? O que foi que eu acabei de falar? Como assim?

– Ótimo fechar negócio com você, Chefinha – Pude sentir uma certa ironia ao ouvir o ‘’chefinha’’.

– Paaaaatch – Hany veio correndo até a porta – Você vai ficar aqui? – Ela parecia animada, pelo menos uma de nós gostou da novidade.

– Hany, vou te levar para a escola – Falei ainda sem crer no que estava acontecendo, quando foi que minha maravilhosa vida normal deixou de ser maravilhosa?

– Vou por minhas coisas aqui dentro. – Patch disse dando uma piscadinha irritante para mim.

– Espera, espera, espera, você já trouxe suas coisas? – Eu estava incrédula, ele por sua vez só sorriu e foi buscar a primeira caixa que estava dentro de um Jeep Commander Preto.

Olhei o relógio e vi que já estava atrasada. Ótimo.

Levei Hany a escola, eu estava calada, mas ela parecia incrivelmente satisfeita, aquilo continuava a rodar na minha cabeça, e o pior é que já estava feito, não tinha para onde correr, e eu precisava daquele dinheiro, mas aturar o Patch, não sei se consigo.

Mais tarde naquele mesmo dia quando Hany e eu voltamos para casa ele não estava lá, soube assim que cheguei pois não vi o Jeep, era melhor assim, quanto menos contato tivéssemos, melhor seria.

Ao entrar na minha casa quase dei um troço, haviam caixas espalhadas por todo lugar, respirei fundo para não parecer uma louca na frente da minha filha – Querida, vá para seu quarto, vou dar um jeito aqui e já te chamo para jatarmos! –

Gastei quase meia hora carregando caixas da sala de estar para o ultimo andar, Patch me iria me pagar por ter feito isso, sabia que seria ruim, mas ainda era o primeiro dia e eu já estava quase no meu limite, finalmente faltava apenas uma caixa, essa estava mal selada então por isso quando eu a peguei algo caiu de lá de dentro, era um DVD, e nele estava escrito com letras de forma, JIN.

Claro, existem incontáveis Jin’s por ai, mas se tratando de Patch, poderia ser apenas um incrível acaso? Não!

Eu estava com medo de ver o que continha aquele DVD, algo em mim me advertia claramente sobre isso, senti um enorme frio na minha barriga, eu tremia, mas precisava ver, desde que vi Patch conversando com aquele outro cara eu estava enlouquecendo, talvez se eu visse que aquele DVD não continha nada que o acusasse, ficaria mais tranquila, seria mais fácil conviver com ele.

Então ali mesmo na sala de estar eu vi o que continha lá.

Jin e Patch se casando, e a única testemunha era o homem com que vi Patch conversar no mercado.

Meu coração se apertou, o que era aquilo? Meus olhos só podiam estar me enganando, não podia ser verdade.

Minha melhor amiga.

O Homem por quem eu tinha uma enorme aversão.

Fiquei parada na frente da TV vendo aquelas cenas, não consegui fazer nada, as lágrimas desciam pelo meu rosto, mas eu não sabia dizer bem o que era.

Raiva?

Decepção?

Pior. Os dois.