—Ui, ui, ui. Parece que o novo vizinho está de olho em você. — Disse Alice.

Estávamos em seu quarto. Todos os dias que eu vinha trabalhar, Alice me convidava para tomar um lanche depois que eu acabava. Os pais dela não sabiam, já que eles tinham coisas mais importantes para fazer. E como a piscina dos Robsons era a única do dia, não me importava muito com a hora.

—Ele só deveria estar de olho na casa. Ele deve gostar de espionar a vida dos outros. — Falei. Eu não queria que alguém gostasse de mim. Nunca tive um relacionamento, já que a minha mãe não permitia. Ela vive dizendo que era para eu focar no meu trabalho. Sem distrações.

—Eu ainda acho que ele está de olho em você. Ah, você vai vir a minha festa amanhã não é? — Era incrível como ela mudava de assunto rapidamente.

—Sim, claro. — Amanhã é aniversário da Alice, e, como em todos os anos, ela fará uma festa e será uma das grandes. Ela convidou cada pessoa de cada Casta (menos das 1 e 8 já que ela não conhece ninguém) para virem. Segundo ela, toda festa tem que ter muita comida e música. Alice é do tipo de garota que come e não engorda. Eu também sou desse tipo, só não como muito às vezes.

—Tem certeza? Não será muita coisa para você? Digo, amanhã você tem três piscinas em três casas diferentes...

—Não se preocupe, Alice. Eu virei amanhã, ok?

Alice concordou com a cabeça e deu uma mordida no sanduíche de peito de peru.

Depois do lanche fui para casa ajudar a minha mãe com o jantar. Quando entrei dentro de casa, Vênus me recebeu com um abraço. O que achei estranho era como estava a sua aparência. Seus cabelos escuros, como os meus, estavam soltos e com um lacinho branco. Seu vestido branco com detalhes azuis (que eu não via desde a sua festa de quatorze anos) estava tão bem nela quanto em mim. Esse vestido era meu mas Vênus insistiu tanto nele que eu o dei a ela. Não tínhamos dinheiro suficiente na época para comprar e eu sempre quis dividir alguma coisa com a minha irmã mais nova, já que Amora sempre dividia comigo.

—Ruby, você chegou! — Disse Vênus, animada. Ela me soltou, pegou a minha mão e me puxou escada acima. —Temos que te arrumar.

—Por quê? — Perguntei.

Ela não respondeu e continuou me puxando.

—Não, esse vestido não ficou bom. Tenta esse. — Vênus me jogou outro vestido. Era o quarto.

—De onde vieram todos estes vestidos? — Perguntei. Desde que eu sai do banho, Vênus vem me forçando a colocar vestidos. O primeiro era rosa, ainda bem que não ficou bom porque eu não gosto de rosa; o segundo era preto mas Vênus achou que não seria bom para a ocasião. E mais uma vez quando eu perguntei qual era a ocasião ela não respondeu.

—Mamãe que comprou. Não me pergunte de onde ela tirou o dinheiro porque eu não sei! — Acrescentou rapidamente.

—E qual é o problema deste aqui? — Perguntei, indicando o vestido laranja que eu estava usando.

—É muito chamativo...e eu não gosto de laranja. — Ela olhou para o vestido e fez uma careta. —Anda logo! Esse vestido está me dando enjoo.

Troquei rapidamente o vestido laranja pelo cinza. Ele deixava metade das minhas costas expostas e chegava a encostar no chão.

—O que achou? — Perguntei a Vênus, que estava lendo uma revista.

Quando ela tirou a revista da cara, sua boca abriu em um "O". Ela jogou a revista em cima dos outros vestidos que estavam na cama e veio até mim.

—Ruby...você está linda! Se não tivesse esse piercing na sobrancelha seria mais linda ainda.

Vênus nunca gostou do meu piercing. Foi um ato de rebeldia tê-lo colocado aos meus quinze anos sem meus pais saberem. Eu ainda devo a um velho amigo por ficar do meu lado naquele momento doloroso...

—Deixa o meu piercing fora disso. — Falei. —O que mais você vai fazer?

—Primeiro vamos ajeitar esse cabelo, depois veremos o que você calçará.

Fiquei quieta enquanto Vênus fazia cachos leves nas pontas do meu cabelo liso. Os cabelos de Amora eram cacheados, bem, antes de ela cortar era...

—Ai, eu odeio o seu cabelo, Ruby! Ele é sem graça. Se fosse como o meu seria mais fácil! — O cabelo de Vênus era estranho. Era cacheado, mas tinha algumas mechas lisas. Algumas começavam cacheadas e terminavam lisas e algumas na outra ordem.

—Eu não acho meu cabelo sem graça. — Retruquei. —Pelo menos, não dá trabalho como o seu.

Depois daquilo, Vênus se calou e continuou a cachear as minhas pontas.

—Eu acho que os brancos ficam melhores com cinza... — Começou Vênus.

—Mas eu gosto de vermelho. — Falei.

—Mas o vermelho é muito vulgar para a ocasião.

—Eu que vou usar e não você.

—Mas eu que tenho bom gosto aqui!

Abri a boca três vezes mas nada saiu. Vênus riu e me deu os sapatos brancos. Os calcei e fui olhar como eu estava no espelho.

Minha aparência estava ótima. Eu estava linda com o vestido cinza longo e as joias simples da minha mãe. Meu cabelo (que, segundo Vênus, tinha dado muito trabalho) estava lindo e bem arrumado. Não sei porque Vênus não quis que eu usasse os sapatos vermelhos. Os brancos nem apareciam!

—Ruby, eu sou incrível! Consegui esconde a sua cara feita com essa maquiagem! — Disse Vênus. Ela está ficando igual Amora.

—Vou encarar isso como um elogio. — Senti um cheiro bom vindo do andar de baixo. —Isso é cheiro de frango e torta de maçã?

—Sim, é sim. — Concordou Vênus. Seus olhos cor de âmbar brilharam. —Vem, vamos descer. Eles devem estar nos esperando.

Ela segurou a minha mão e me levou para fora do quarto.

Quando chegamos na sala, as primeiras pessoas que eu vi foram Amora e Jason, seu marido, sentados no sofá. Amora estava linda com um vestido verde esmeralda e sapatos beges. Seus cabelos negros estavam cortados e tinha uma franja que quase cobria o olho. Seu marido Jason estava com um terno preto com uma gravata vermelha. Ele não havia mudado nada. Loiro de olhos azuis. Faz uns quatro anos que eu não os via. Depois que Amora virou uma Quatro, no caso.

—Ruby, Vênus. — Amora se levantou, correu até nós e nos abraçou.

—Amora. — Dissemos eu e Vênus juntas, sendo esmagadas pelo abraço.

—Oh! Como é bom ver todas as minhas filhas juntas novamente!

Amora nos soltou (o que foi um alivio) e aproveitei para olhar minha mãe. Ela estava linda com o seu vestido azul turquesa e sapatos pretos, seu rosto "angelical" tinha uma maquiagem leve. Mas, por trás daquela maquiagem, ela era uma mulher compulsiva e mandona. Eu a amava, era minha mãe, mas mesmo assim ela era um pouco chata. Legal, mas chata.

Meu pai estava como sempre. Com um terno branco e seus cabelos castanhos bagunçados. Eu o admirava muito. Ele que havia construído a nossa casa, com a ajuda de um amigo, claro. Quando ele me contava o jeito que conheceu a minha mãe eu chorava.

Minha mãe era uma Cinco. Meu pai foi a um concerto com seu amigo, que era um Quatro. No instante em que ele viu minha mãe, se apaixonou. Ele até lembra de como ela estava naquele dia. Dissera que seus cabelos loiros estavam presos em um coque com sua franja solta. O vestido era lilás e os sapatos pretos. Quando ela começou a cantar, meu pai ficou encantado. Depois que eles se conheceram tudo mudou.

Minha mãe desistiu de ser uma Cinco para ficar com o meu pai e ter uma vida de Sete. E ainda dizem que amor verdadeiro não existe...

—Mãe, o que está acontecendo? De onde veio tudo isso e por quê? — Eu tinha tantas perguntas que nem sabia por onde começar.

—Querida, você recebeu a carta e vai participar da Seleção. — Respondeu minha mãe.

—Mas eu não quero. — Falei.

—Ruby, você vai participar da Seleção querendo ou não.