Oito carneiros escrita por Rose


Capítulo 9
Cap 9


Notas iniciais do capítulo

Feliz dia do Beijo!
(Espero que gostem)



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– Desculpe-me! – Nicolas não conseguiu balbuciar nenhuma outra palavra além dessas enquanto tentava se levantar, que castigo ele haveria de merecer para que o vampiro não visse quão excitado ele estava, quanto desejo havia dentro de si...Talvez nada fosse capaz de disfarçar aquela situação, que mais ele poderia fazer para desculpar-se, se ao menos ele tivesse gostado não o haveria lançado para longe, ao chão.

– O que houve aqui, criatura? Onde estamos?

– Não lembras?

– É claro que não! Se lembrasse, não te perguntaria! Até uma coruja gorda saberia me responder melhor!

Nicolas arregalou os olhos estupefato, afinal foram três longos dias desde que eles estavam ali e lhe parecia que o vampiro estava entre a vida e a morte com o veneno do demônio em suas veias...

– Tudo que eu lembro é que você estava me...Saia daqui!

Atordoado pelas palavras de Félix o jovem saiu em direção ao último carneiro que vivia, vestiu-se e ali permaneceu calado com o gosto amargurado da rejeição em seus lábios. Ainda tinha em seus pensamentos a sensação que pelo menos por um reles segundo o vampiro correspondera ao beijo.

“Devo estar engando, ele deve estar furioso, nem beijar direito eu sei...” – Só que Nicolas ainda não havia aprendido que algumas coisas não se aprendem, apenas se fazem.

Dentro da cabana Félix tentava-se lembrar exatamente o que havia acontecido, afinal como havia despertado tão rápido? Estava com muita fome não entendia como o humano ainda estava ali, onde estaria Nereida? Como ele havia ousado estar tão perto dele, um beijo, um carinho, por que ele estava tão próximo? Por que ele ao menos uma vez não se dava a chance de acreditar que poderia ser diferente?

Caminhando em direção ao rio Félix ainda podia sentir o cheiro do humano em seu corpo, precisava lavar-se para esquecê-lo ou não responderia por si e seu arrependimento seria eterno.

Conforme prometido a sereia voltaria ao início do terceiro dia, poucos quilômetros a afastavam da cabana em que havia deixado seu amigo moribundo, se tudo corresse como ela havia imaginado em três dias Nicolas desistiria daquela insanidade e finalmente partiriam como Félix havia desejado.

"Félix!"

Sim, ele havia despertado e banhava-se na água, o que haveria acontecido e o jovem onde estaria? Ela tinha certeza que teria problemas agora, podia sentir sua fúria. Nadou o mais rápido que pôde puxando a pequena canoa que havia de ser o meio de transporte para que o rapaz saísse da floresta o mais rápido possível.

O rio fluia calmamente com o amanhecer, mesmo após lavar-se com aquela água gélida, ele ainda podia sentir o cheiro do jovem em seu corpo, seria alguma espécie de feitiço? Sem saber como se livrar daquela sensação preferiu sentar-se à margem do rio a espera da ninfa, podia sentir sua proximidade.

Ainda submersa, Nereida não conseguia conter a surpresa pela recuperação de seu antigo amante.

"Você acordou! Você está vivo!"

"Eu não compartilho de sua alegria. Fui enganado! Eu lhe disse para tirá-lo daqui se algo fugisse do meu controle. Qual tua explicação, criatura?

Bem devagar ela começou a emergir, na esperança que ele a ouvisse.

"Félix , tudo isso pode ser diferente, depende de tua vontade." – Eles ainda não se falavam, ela sabia que seria melhor que conversassem em silêncio.

“Que houve que aquele fedelho foi capaz de fazê-la me desobedecer? Esquecestes quem controla essa floresta? Agora não há nenhum monstro vivo além de nós dois, queres que eu seja o último a viver?”

“Nós não somos monstros! Você um dia foi igual a ele! Félix, se de alguma maneira estás curado do veneno do demônio daquela bruxa, talvez, talvez possa ser diferente – o rapaz...”

"Não tem o que ser diferente quando eu posso matá-lo, não foste tu que me lembrou que humanos são frágeis, tão frágeis que com um deslize posso matá-lo sem sequer perceber? Ele só me terá uma serventia, a final. Depois encarregasse de levá-lo para longe daqui."

"Se te preocupas tanto com ele, por que não lhe perguntas como ele se sente? Ou você já esqueceu o que é ter sentimentos"

"Ele ficará bem..."

"E se ele não quiser fazer isso? Ele ainda poderá recusar sua oferta! Tanto eu como você sabemos que não, ele não foi fascinado, Félix ele não quis ir embora e de alguma maneira ele te despertou. O que houve naquela cabana? Por que ele chora agora?

– Não seja tola, ele está bem! – Aquele grito ecoou pelas águas do rio, a correnteza havia voltado.

– Esquecestes que enquanto ele usar o amuleto seus pensamentos lhe serão invisíveis... Preocupas-te tanto com ele e nem sequer o agradeceu por tê-lo salvo. Eu só vejo um carneiro vivo, Félix...Pergunte a ele o que aconteceu!

– Não! Ele está bem!

– Félix, vocês se beijaram? Ele...?

Não haveria como mentir ou omitir algo, então o melhor seria encerrar aquela conversa o mais rápido possível:

– A partir daqui seguiremos nessa canoa em direção a minha casa, consiguirei algo que eu possa usar como remo. Sem mais questionamentos, criatura! Cuide apenas que dessa vez, apenas dessa vez você consiga tirá-lo daqui em segurança...

A poucos metros dali, Nicolas permanecia amuado, seus pensamentos o traziam de volta a realidade, se desejar o seu melhor amigo fora uma insanidade sem fim, beijar aquele que conspirava por sua morte não lhe parecia a melhor das escolhas, se é que ele tinha alguma condição de eleger seu destino.

– Nicolas, precisamos conversar.

– Eu já me desculpei, eu perdi a cabeça, desculpe foi o cansaço. – Talvez o veneno tivesse tirado os poderes do vampiro em ler pensamentos, pela primeira vez Nicolas teve certeza que seus pensamentos eram só seus de novo, mas até por quanto tempo.

– Eu decido se conversamos ou não! Onde estão os outros carneiros? Eu me lembro de mais carneiros.

– Eu não sei. Fugiram.

– Nicolas, eu preciso daqueles carneiros, o que houve com eles?

– Eu não sei.

– Você não conversará comigo até que eu lhe responda, não é? Mesmo que eu não consiga ver o que pensas, eu tenho certeza que essa dúvida lhe consome.

– Eu vou morrer, por que não me matas logo?

– Eu não te trouxe aqui para que você morresse, mas algumas coisas eu só poderei explicar quando chegarmos a minha casa, a meu castelo. Nós precisamos ir embora agora.

Os olhos de Nicolas se iluminaram de esperança, talvez algo houvesse mudado naquele ser, talvez ele tivesse a chance de um futuro diferente, quem sabe ele não precisasse apenas de alguém que lhe fizesse companhia. Tanta excitação em seus olhos por mais explicações acabaram por desconcertar Félix que começava a achar que a ninfa estava a brincar com ele, afinal porque era tão importante que ele não soubesse o que o jovem pensava.

– Nicolas eu preciso que você me faça algo, um favor, depois você será livre para ir. Eu não te prenderei aqui. Há muito nesse mundo que poderás conhecer depois que me realizes esse pequeno pedido.

– E se eu não quiser fazer esse favor?

– Como posso fazer que confies em mim? Eu aceitei trocá-lo por seu sobrinho pois tive certeza que no momento em que te vi que somente uma pessoa de coração puro como o seu poderia entender meu pedido e realizá-lo. Vê esse carneiro, tu és como ele, puro, sem maldade no coração. Mesmo sabendo que posso te causar mal, não tens medo de mim. Estou aqui disposto a provar que não te farei mal.

Eles estavam próximos agora, um mirando outro, os olhos negros do vampiro tentavam disfarçar o medo que ele sentia em relação ao humano de olhos claros, tão límpidos que deixavam transparecer a própria alma, algo que Félix há muito achava que tinha perdido.

– Diga Nicolas, como posso provar que sou digno de sua confiança?

Todos aqueles acontecimentos haviam ensinado a Nicolas que a morte sempre chegaria e que se ele havia sobrevivido há quase uma semana na presença de um vampiro e uma sereia de rio, por que não arriscar as únicas coisas que lhe eram realmente suas, afinal se sobrevisse não haveria como se arrepender de não ter tentado:

– Beije-me, sem me matar...

Félix fujiu daquele pedido, mil vezes não tivesse ofertado uma barganha para que ganhasse a confiança do rapaz por mais um único dia sem que precisassem guerrear. Ele sorriu nervoso para tentar convencê-lo do contrário:

– Sabes para que eu preciso dos carneiros? – Quem sabe assim ele não recuaria de tamanha audácia.

– Sim e eu não me importo...Tens nojo de mim? É por isso que me lançaste longe de seus braços mais cedo. - E Nicolas toca seu braço com a mão, seria possível jurar que o vampiro ficara arrepiado com aquele gesto.

– Nicolas, eu posso matar você. Eu te salvei hoje cedo de mim mesmo...

– Se queres que eu confie em ti, prova-me o contrário.

Félix fechou os olhos para repensar o que estava acontecendo, ele tinha certeza que não o havia enfeitiçado; e ainda assim como o rio que busca o mar ele se viu segurando o rosto daquele rapaz loiro e audacioso, ainda que sentindo um certo calafrio por ver-se gostando da sensação da barba que teimava em surgir nas suas mãos ele se aproximou:

– Se eu te matar, não venhas me assombrar, estás bem?

Antes que Nicolas pudesse responder qualquer coisa, Félix havia desistido daquele jogo de palavras para que pudessem tocar novamente, seus lábios estavam cientes que não poderiam feri-lo. De um toque tímido a angústia da aproximação que não conseguiam disfarçar...Por fim a língua quente e úmida solta em sua boca apenas confirmava que estavam entregues e se pudessem ficariam ali pela eternidade, sem lembraresem de quem realmente eram e o perigo que um deles representava:

– Agora chega. Vamos para o rio, há uma canoa esperando por nós.

Ainda desconcertado e sem fôlego ele apontou para o carneiro, como o embarcariam em uma canoa?

– Nicolas, espere me na beira do rio, o carneiro sela seu destino aqui. Por favor agora vá,não quero que me vejas saciando minha fome.

Nicolas apenas sinalizou com a cabeça e virou-se em direção ao rio. Não tinha nenhuma condição de desafiá-lo naquele momento, principalmente porque ele se sentia mais e mais fraco.


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Notas finais do capítulo

até breve!



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