Oito carneiros escrita por Rose


Capítulo 8
Cap. 8


Notas iniciais do capítulo

Saber. Saber e não morrer por isso.



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Nicolas estava exausto pela manhã, mesmo tendo a certeza que só faziam três dias que havia saído de seu vilarejo parecia que já havia vivido uma vida inteira. Até alguém para se preocupar havia conseguido, por um desses motivos que ninguém jamais saberia explicar.

Aquelas lamúrias incompreensíveis do vampiro o martirizavam, o que mais ele poderia fazer? Será que ele sofria? Nicolas tentava se convencer que sangrar os carneiros e a si era a única maneira de salvá-lo, o que faria a sereia que não voltasse como prometido? Tinha medo que ele não resistisse até o retorno da ninfa.

Só lhe restava insistir na sua única esperança, durante a noite mais um carneiro e seu sangue serviram de alimento a Félix. Agora só restavam três carneiros; próxima noite, dois carneiros vivos e um vampiro moribundo naquela minúscula cabana com um homem exausto e fraco.

– Se ela não chegar amanhã, eu não saberei mais oque fazer...Imaginava que conseguiria salvar-te se de alguma maneira bebesses meu sangue. Errei. Eu sinto muito Félix, amanhã só terei dois carneiros para matar e a mim, mas se eu morro quem poderá cuidar de você até que ela volte?

Pela terceira noite ele limpou o vampiro antes de alimentá-lo, Félix permanecia de olhos fechados e gemendo ou lamuriando-se de uma dor que parecia não ter fim, ele somente se silenciava quando era tocado pelo humano que não entendia o porquê do seu toque acalmá-lo. Talvez de alguma forma ele entendesse que não estava sozinho.

Nicolas se controlava cada vez que tocava o vampiro mas haviam partes em seu corpo que jamais obedeceriam seus pensamentos, esse conflito lhe causava tanta angústia afinal mesmo que ele despertasse os únicos braços que ele procuraria seriam o da sereia, senhora de seus segredos mais antigos. Quem diria que ele algum dia havia se interessado por outro homem, o chefe da guarda do rei, alguém forte e destemido, diferente dele em todos os aspectos, jamais seria digno dele.

Enfim Félix estava alimentado e parecia dormir em paz, Nicolas acabou adormecendo aos pés da velha cama de madeira...Não teve forças nem para se deitar ao chão como nas noites anteriores...Já perto do nascer do sol algum ruído da floresta o despertou, meio sonolento e dolorido da posição que se encontrava esqueceu-se do perigo e na mais completa confiança que nada lhe aconteceria espremeu-se na velha cama a fim de observar o rosto daquele que havia se tornado em tão pouco tempo seu maior desejo

– Não me ouves, não é? Deixe me ajeitar suas sombrancelhas, não estão certas. Eu percebi que sempre as ajeita. – Um riso tímido poderia ser ouvido por Félix se assim ele se permitisse. – Tão bonito, tão vaidoso, tão ranzinza.

Novamente a razão se separava do corpo de Nicolas, por mais que seus pensamentos lhe dissessem não, nada disso seria importante...Eles estavão próximos que ele poderia jurar que Félix abriria os olhos a qualquer momento para perguntar porque ele estava insolentemente perto, tão perto que poderia até beijá-lo.

– Félix, ela disse que você me enfeitiçou, que fazes isso para poder matar suas vítimas sem que elas sofram. Eu não me importo. Que assim seja...Eu só queria que me matasses dando-me a chance de saber como seria ser correspondido. A insanidade de seu feitiço me consome.

Nicolas ousou encostar seu nariz na face de algoz, a cada toque tudo aquilo que ele sempre fugiu, que ele sempre tentou disfaçar estava mais evidente. Não haveria como se enganar ou fugir dessa vez. A face firme e fria do vampiro o enlouquecia fazendo-lhe perder a noção do perigo que corria caso ele despertasse:

– Longe de mim aproveitar-me de sua fragilidade, mas eu sempre quis saber como seria isso, como seria com alguém que eu, bom, mesmo que eu tenha sido enfeitiçado, eu queria saber como é...Os gritos da sereia não saem da minha cabeça...Acorde, me faça sentir igual... Se fosse um conto de fadas um beijo lhe despertaria...Eu só preciso de um beijo seu para me libertar...Eu preciso

Com essa súplica, esse devaneio e tão sem jeito, sem experiência, sem saber muito bem o que ou como deveria agir Nicolas se aproximou mais e mais até que sua boca pudesse sentir o frio da respiração dele...Se ele iria morrer, pelo menos que morresse sabendo.

Quando seus lábios se tocaram ele entendeu que ainda precisava de mais; mesmo que não soubesse ao certo precisava buscá-lo para dentro de si e começou a mexer em seus lábios com os seus na esperança ingênua de ser correspondido, de sentir suas línguas se procurando como nunca antes - seria errado querer alguém daquela maneira?

Félix permanecia imóvel enquanto sua mente o aprisionava na curiosidade de saber o que estava acontecendo, não queria que aquela sensação fosse embora novamente, algo que ia e vinha lhe deixando tão bem naquele vazio provocado pelo veneno do demônio. De repente lembra-se de tocar os próprios lábios:

“Mas o que está acontecendo? Eu morri? Eu quero sair daqui. Desperta Félix. Não será dessa vez que terei minha morte! Inferno! Liberta-te”

Os lábios quentes de Nicolas finalmente saberiam o que seria ser correspondido, Félix havia despertado para corresponder ao beijo apaixonado de Nicolas, o humano era tão quente e lhe enchia de tantos desejos que jamais imaginou sentir novamente. Os lábios do humano se entregaram a seu algoz, se fosse morto naquele momento Nicolas estaria feliz.

Todos os medos do humano estavam se esvairindo, tudo que ele queria era ser possuído pelo vampiro, era verdade que ele estava lhe acariciando como ninguém mais poderia? Se em todos seus sonhos de adolescência ele imaginasse que seria daquela maneira, há muito tempo ele teria adentrado na floresta dos desengandos. As mãos antes perdidas começaram a se encontrar no corpo do outro na forma de um abraço, uma carícia, um afago.

O abraço de ambos conduzia ambas mãos no desejo mais profundo, Félix sem entender que havia despertado das trevas tocou Nicolas em busca de seu sexo, firme, pulsante e sim, tudo aquilo que imaginava estava ali diante dele apenas o esperando. Era insandecidamente bom tocá-lo e sentir seu corpo incendiado junto ao seu.

– Nicolas...

– Félix...

– Nicolas, pare...

Há quantos séculos ele vivia sozinho na esperança que algum dia ele encontrasse alguém que pudesse gostar do monstro que ele se tornara, sim, um monstro! Violento e ciente de sua realidade ele empurrou Nicolas para o chão:

– Afasta-te criatura! Eu posso te matar!


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Notas finais do capítulo

obrigada por continuarem lendo, espero que gostem.
Vou me esforçar pra terminar até a semana que vem tudo. Falta pouco



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