Oito carneiros escrita por Rose


Capítulo 5
Cap. 5


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todas que continuam me incentivando a escrever isso aqui. Espero que gostem!



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Mais um carneiro se fora e Nicolas nem sequer questionava se seria Félix o culpado, isso de uma certa forma o tranquilizava, ao menos não precisaria entrar nos detalhes de suas preferências alimentares.

Após sua refeição foi a margem do rio lavar-se mais uma vez e também ser importunado pela sereia:

– Queres mais?

"Se não me responderes, ainda estarei em sua mente, meu querido"

– Será que eu salguei o mar morto, preciso realmente responder? Porque não me deixas? Já nos deitamos, não há mais o que me cobrar...

– Tudo isso por que achas que o humano ouviu? Eu já lhe avisei que eles são frágeis. Onde queres chegar com isso?

– Criatura, se não me conhecesse por séculos me daria ao trabalho de responder-te.

– Mas é por isso que estou preocupada. Humanos são frágeis demais. Você sabe disso...Você é dono dos seus caninos. Eu seguirei vocês até o castelo....

– Eu não pagarei mais nada por isso.

– Farei isso pela nossa amizade, assim como mais cedo lhe entreguei o amuleto. Mesmo que você não me aceite em alguns momentos saiba que sempre seremos amigos. Não me importa que destino você escolher.

– Errr...Obrigado, obrigado por tudo. Posso lhe pedir uma coisa?

– Eu manterei o humano em segurança, se assim o for preciso. Tens minha palavra. Agora me vou.

– Espere...Quando tudo terminar peça as suas amigas sereias que lhe guiem até alguma cidade grande da região da Galícia, talvez Paris ou mais longe na Bretanhã em Londres, talvez lá com o que lhe deixarei ele leve a vida que merece, em cidades grandes e com muito ouro ele poderá viver como jamais sonhou.

– Félix, eu ainda acho...

– Você não acha nada criatura, pelos cachos de Maria Madalena você já teve o que queria, agora eu preciso ficar sozinho...Obrigado Nereida.

Sem ter mais o que dizer Félix permaneceu calado confirmando para a ninfa que ela deveria adentrar nas águas; só que ela era tão insistente como água do rio que corre para o mar e lhe advertiu mais uma vez...

"Félix, melhor será não vê-lo, aguarde até amanhã e peça para que use o amuleto antes que conversem. Acredite em mim. Será o melhor a ser feito"

Pelas frestas da velha cabana o jovem Nicolas tentava observar o que acontecia, a lembrança dos gritos da sereia lhe cravavam a alma e o sono. Dormiu imaginando que nunca saberia o real motivo porque algumas pessoas gritavam tanto.

A aurora veio juntamente com a presença de Nicolas se aproximando para seu banho, antes que ele se aproximasse Félix jogou algo em seus pés:

– Use isso antes de se aproximar, criatura.

O jovem viu algo que se assemelhava a uma corrente com uma pequena concha presa, não tendo outra opção a não ser obedecer-lhe, colocou o amuleto em seu pescoço e seguiu para o banho.

– Não vai reclamar que lhe chamei de criatura, criatura?

– Não. Chame-me como quiser. – Nicolas fingia que não sabia porque estava irritado, mas sabia e ficava cada vez mais irritado quando lembrava da noite anterior.

– Insolente! – E Félix saiu de perto dele para dar-lhe privacidade.

Após Nicolas alimentar-se eles partiram, seria uma longa caminhada até a próxima cabana que Félix queria que pernoitassem. Como estavam tendo sorte com o tempo conseguiam andar mais rápido pela margem do rio que adentrando a floresta.

– Você não vai falar nada o dia todo, criatura?

– De que adianta falar se você já sabe o que eu penso...Fale do que quiser eu lhe escutarei...

“Por que será que a Nereida disse que seria mais fácil se eu não soubesse o que ele pensa....É um inferno esse jogo de adivinhação...Eu só queria conversar um pouco.”

– Senhor...

– Se você já me chamou de Félix porque agora queres se retratar?

– Senhor, preciso alimentar-me.

Durante toda a manhã Nicolas permaneceu calado e distante em contra-partida à Felix que ansiava por alguma conversa com o humano, afinal havia já alguns séculos que as únicas palavras que saiam de sua boca eram apenas ameaça para conseguir o que queria, sangue.

– Nicolas?

Enquanto abocanhava um pedaço de peixe assado o loiro se espantou em ser chamado pelo nome, talvez ele devesse guardar sua angústia consigo e se preocupar em conseguir um jeito de manter-se vivo...Só que isso era o que menos lhe preocupava naquele momento, a sensação mais próxima que pôde imaginar eram os susurros e gritos abafados da sua irmã com seu marido, que ele sempre escutava com um aperto no coração.

Eron sempre fora seu melhor amigo, tão amigo que desposara sua própria irmã, o que ele jamais conseguiu perdoar no seu íntimo. Tantas mulheres no mundo, justo a sua irmã para que permanecessem juntos na mesma casa?

Dentre tantos pensamentos um momento de pânico, o vampiro estava insistindo na conversa pois já sabia tudo que se passava na cabeça dele e devia estar se divertindo com toda aquela situação.

– Por que não me matas de uma vez? Nem para cuidar de seus carneiros eu sirvo, perdemos outro essa noite...

– Você é engraçado, rapaz. Eu não me preocuparia com os carneiros. O propósito que tenho para você é maior que isso. Só que até lá, por favor, vamos conversar....Pergunte-me o que quiseres.

– A sereia, sua moeda de troca com ela, é por isso que não poderia pagá-la?

Nicolas colocou as mãos sobre a boca, o que ele estava perguntando talvez causasse a irã de seu algoz, por outro lado seria bom que ele acabasse com tudo aquilo de uma vez.

– Você tem curiosidade não é? As três moedas que pagou a meretriz...Está bem, se é disso que queres conversar, assim será.

E assim Félix se senta próximo dele para explicar que as sereias são seres extremamente sensuais e que lhes interessam muito os prazeres mundados por essa razão elas sempre estão atrás de homens pelos mares para seduzi-los e muitas vezes matá-los. Só que como os vampiros não podem morrer tão facilmente acabaram por se tornar os amantes ideais. Alguns concordavam com aquela situação e outros não como ele, entendia que tudo aquilo era somente um pagamento por um favor prestado.

– Você diz como se não tivesse gostado...

Félix se fez surpreso com o comentário, talvez o rapaz desejasse a sereia:

– Queres que eu fale com ela? Sob meu pedido, ela não lhe matará e poderá lhe dar toda a experiência que eu já sei que lhe faz falta....

– Não! Você sabe por que eu paguei a meretrix? Eu tinha um desejo dessas cantigas bobas.Eu queria encontrar alguém que...Chega...Agora não me importo mais com isso, mas mesmo assim a sereia não me interessaria.

“Um dia...Um dia espero que ele encontre o que procura.” Félix preferiu mudar de assunto para que seguissem a caminhada, com o entardecer o tempo trazia uma brisa fria do norte, a noite deveria ser mais gélida que as anteriores.

Não escutar os pensamentos de Nicolas trouxe a Félix, como a sereia havia dito, uma certa tranquilidade já que o jovem humano lhe causava estranhamento consigo mesmo.

Faltavam apenas alguns milhares de passos até a cabana que deveriam pernoitar, em menos de meia hora estariam lá.

– Senhor, como é beijar uma sereia?

– Criatura, você pode me chamar de Félix?

– O senhor pode me chamar de Nicolas?

– Eu não vou responder a pergunta se você não confessar que quer que ela te beije... – Félix estava se cansando daquelas perguntas, afinal onde ele queria chegar?

– Que se dane, então!

Félix não soube o que dizer, Nicolas puxou os carneiros com sua voz para que se distanciassem mais dele que já estava irritadíssimo com tamanha audácia, tanta fúria gerada fez com que ele ficasse cego a chegada de um demônio, talvez o último que restasse na floresta dos desenganados.

Naquele momento Félix escutou Nereida em sua mente, alertando que não era ele que o demônio vinha buscar e sim o humano.

Ao erguer os olhos já viu o demônio de frente à Nicolas, já o derrubando. Era Lupus

– Deixe o humano em paz, Lupus!

– Você matou minha dona, agora é a hora de ser morto ou juntar-se a mim Félix, nós dois juntos teremos uma ótima refeição com esse humano ou eu comerei a vocês dois!

Félix correu para salvar o humano, Nicolas foi brutalmente jogado em uma árvore pelo impacto de Fêlix ao atracar-se a seu último inimigo para salvá-lo e pelo que estava por vir.

"Fazia tanto tempo que o procurava, que inocência foi essa em baixar a guarda?" - O pescoço do demônio em forma de lobo já era segurado pelas mãos firmes de Félix que se recusava a responder qualquer provocação, ele sabia que qualquer distração poderia ser fatal, da última vez que se encontraram aquele demônio não havia lhe parecido tão forte e tão grande.

– Nereida!!!!

"Estás tão fraco que precisas da ajuda daquele peixe sem valor? Matarei a todos, como assim preferir..."

E o monstro batia as pernas traseiras no corpo do vampiro tentando desvencilhar-se para o golpe fatal.

Félix apenas queria ganhar algum tempo para que Nicolas fosse puxado para a margem do rio, se algo errado acontecesse pelo menos teria certeza que o humano seria guiado pela ninfa para fora da floresta.

"Mataste minha dona! Agora saberás como és morrer"

"Se não fosses um demônio eu poderia até agradecer pelo favor que me farias..."

"Antes saberás como és ver alguém querido morrer pela minha boca!"

A baforada quente de enxofre do demônio coma pesada certeira na barriga do vampiro foi o suficiente para que Félix involuntariamente o soltasse e para sua surpresa ele não o atacou e sim saiu em direção ao humano.

Ainda atordoado pelo enxofre fétido que o lobo agora exalava Félix o segurou pelo rabo desconhecendo que o reflexo mais natural de um cão seria morder a mão de quem o segura.

Se o lobo em demônio mordera o vampiro, num momento extremo Félix fez o que sabia de melhor - quebrou-lhe o pescoço para sugar seu sangue na esperança que o pior não acontecesse. Ambos caíram ao chão, o lobo livrando-se de sua maldição agora dormiria em paz para sempre e Félix agonizando já não poderia responder por si. Já era tarde demais.

Nereida assistia a tudo com lágrimas nos olhos, era a primeira vez que chorava sal em sua vida de água doce.

– Humano, humano, Nicolas!...Ele respira.

– Cuidado com o cão!... Mas que houve aqui? ...Félix?!...

Conforme se recuperava da pancada Nicolas tinha flashes de memória da luta que acabara há pouco; Nereida na sua forma mais gentil deu-lhe um tapa para que saísse daquele estado de choque.

Nicolas ficou estarrecido com tudo aquilo e queria socorrer seu algoz a todo custo, negando-se a partir como a ninfa insistia. Estava consternando em ver Félix a gritar e fechar-se numa posição quase fetal a fim de amenizar a dor que sentia.

– Humano...Quando um demônio...

– Meu nome é Nicolas...

– Que assim seja...Quando um demônio morde um vampiro, esse é envenenado e como vampiros são quase imortais eles podem agonizar por anos até que aceitem a própria morte. Eu cuidarei dele depois, agora preciso te tirar daqui o mais rápido possível. Ele não gostaria de ser visto assim por ninguém! – “Especialmente por você” - Ela pensava em segredo.

– Eu não vou embora! Deve haver um antídoto, algo que o cure. Diga-me que não descansarei até salvá-lo!

– Eu sinto muito, Nicolas. – Mais lágrimas caíam de seus olhos em sinal de negação

– Qual seu preço? Eu lhe pagarei.

– A questão não é o meu preço, é o quanto lhe custará.

– Apenas diga, eu lhe imploro...- E ele cai de joelhos à beira do rio num ato que nem Nereida imaginaria que alguém poderia ter por um vampiro, pena que jamais Félix veria aquela cena.

– Nicolas, de quê um vampiro se alimenta? – Ela olhou com a feição mais desconcertada, seria algo como explicar que bebês tomam leite.

– San-gue!?

– Sangue humano, e eu não conheço ninguém além de você em quilômetros adentro nessa floresta que possa ajudá-lo.

– Podes me matar e oferecer meu sangue?

– Vampiros precisam de sangue fresco, se você morrer seu sangue não servirá para mais nada.

– Vamos arrastá-lo até a próxima cabana?

– Eu não posso puxá-lo, você terá que fazer isso sozinho... Ele gritará muito, não se preocupe mais do que você já está agora. Se ele sair desse estado lhe será eternamente grato.

E assim foi feito, Nicolas o apoio em um dos carneiros e o puxou até a cabana, seus gritos e espasmos indicavam que ele sofria muito, mas como ele poderia salvá-lo? A sereia haveria de pensar em algo.

– Félix, Félix, me escutas? Seja forte, não morra.

– Pai, não me deixes sozinho! Pai, não me deixes sozinho!

“Como vampiros podem ter pais? Meu Deus, me ajude, se ele morrer eu acaberei morrendo também. Eu já estou morto de qualquer maneira.”


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Notas finais do capítulo

obrigada.



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