Oito carneiros escrita por Rose


Capítulo 13
Cap. 13


Notas iniciais do capítulo

Acabei gente!
Obrigada por quem leu, comentou, me incentivou de alguma forma.
Espero que gostem do final.
Obrigada de coração!



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"Que eu fiz?"

Félix apenas se perguntava pela angústia que o remorso lhe provocava: ainda tinha o gosto do humano em seus lábios e, mesmo que se lavasse até o fim dos seus dias não haveria como deixar de sentir sua presença em sua pele, em sua boca.

"Nereida, ela deve estar a espera dele, precisaremos conversar."

Antes de sair do quarto ele se permitiu olhar mais uma vez para aquele jovem que o havia enfeitiçado de tal maneira que jamais poderia sequer pensar em admitir.Ao sair amaldiçoou-se por acreditar que tudo seria diferente. Enquanto caminhava pelos corredores inabitados da sua morada ainda podia jurar que ouvia ecoando pelos corredores os gritos abafados de Nicolas enquanto enlouquecia por sua boca e isso lhe deixava mais culpado pois não podia oferecer-lhe mais sem que colocasse em risco sua preciosa e tão frágil vida.

O sol surgia tímido entre o nevoeiro habitual daquela região.

– Nereida!

– Sim, criatura...Pelos meus antepassados Félix, vocês...

– Eu não vim aqui para que lesse meus pensamentos, cri-a-tu-ra...Queres provar de minha força novamente?

– Desculpe-me, não houve como não saber, seus olhos, veja seus olhos no reflexo da água se não acreditas em mim...Por favor...

O apelo de Nereida lhe tocou de uma forma desconcertante, afinal ela não tinha por hábito invadir sua mente sem ser convidada e da mesma forma que ela suplicou que ele se visse ele pediu para que o que ele visse não fosse verdade, seus olhos estavam tão negros como quando era um humano inocente dos males do mundo.

– Félix, você não pode pedir que ele te mates, ele te trouxe de volta, duas vezes por sinal...Ainda há alguém aí dentro...

– Que queres dizer criatura, que sou um vampiro humano ou menos monstro por causa daquele mortal? Não sejas imbecil...E não me olhes assim, devo ter salgado o mar morto para que me fales uma heresia dessas.

– Félix, eu nasci sereia, minha mãe, minha avó e todos meus antepassados até o último que eu saiba nomear eram sereias...Vampiros não nascem, vampiros se tornam! Você foi mordido! Se não há como desfazer esse mal, por que não se dá uma chance de viver de verdade na sua nova realidade...Estou falando isso porque me dói verte assim primavera após primavera dentro desse castelo. Se eu pudesse seria tudo que você precisa, mas não sou...Em apenas alguns dias esse rapaz mudou o que eu não consegui em alguns séculos.

Félix apenas balançou a cabeça em negação, que mal maior haveria em sua vida para que não fosse capaz de achar alguém que o matasse e acabasse com tudo de uma vez. Estava tão cansado...

– Nereida, isso tudo é um erro! Mais errado que eu não há...Eu vou para o sul...Encarregue-se de levá-lo ao norte com todo o ouro que puderem carregar...Quero que ele tenha uma vida tão nobre quanto seu coração...Agora me deixe...Nos veremos em um ano ou dois...Eu sempre voltarei a minha morada...

Cabisbaixo Félix lhe deu as costas, que ele poderia discutir? Se culpava por ter acreditado que algo poderia ser diferente, mas durante a madrugada teve certeza que não seria forte o suficiente para apenas transformá-lo , o que por si só já seria um grande erro, como ele poderia condenar alguém a sua própria sina.

– Félix, espere!

– Esperar o quê criatura? Não vês que tudo isso é um erro, onde eu estava com a cabeça quando o tirei daquela aldeia e o trouxe até aqui? Ele não é um carneiro! Eu devo achar alguém apenas que seja capaza de me matar, se arderei no inferno ou não, já não me importo mais. Eu não quero mais falar disso! Saia daqui! Quantas vezes vou ter que repetir que o Nicolas foi um E-rro, ouviste bem, erro!

Havia muito tempo que Nereida não o via esvairindo-se no ar daquela maneira. Para Nicolas a surpresa maior não era conhecer mais um dos poderes de Félix, mas escutar que ele era um erro...No calor da conversa, ninguém havia percebido que Nicolas a tudo escutava por trás de um arbusto...Tão logo Félix saiu do quarto ele despertou pela ausência que sentiu na cama e foi em busca daquele que havia lhe dado tudo sem tomar nada em troca.

“Eu sou um tolo...” – Como uma criança que descobre a dor da perda por algo que se vai, ele saiu silenciosamente atordoado pelos caminhos do que um dia deveria ter sido um belo jardim. Em sua cabeça não lhe doía o fato de ter sido chamado de erro, mas lhe maltrava o coração saber que tudo aquilo que acabara de descobrir ainda assim seria um erro. Como dizer que não seria certo o que sentiu o que pediu que ele lhe fizesse? Pela primeira vez Nicolas se viu cansando de sua própria existência.

De volta ao quarto onde se fizeram homens Nicolas olhou ao redor a cama, as tochas com a pouca braza que ainda lhe sobravam da noite anterior e o reluzente punhal na pequena mesa de carvalho, seria de prata como ele realmente o disse?

Independendo do metal que havia forjado o punhal, ele era extremamente afiado, com um reles descuido já havia cortado o próprio dedo e viu quando a pequena gota de sangue vermelho foi de encontro ao chão, seu único destino naquele momento. Com o reflexo de limpar-se lembrou do cordão qua havia recebido do vampiro, ainda estava sob seu pescoço e decidiu-se que se era para partir, que se fosse sem nenhuma lembrança de Félix. Com apenas um gesto foi capaz de cortar o cordão e jurou que o barulho da queda do amuleto poderia ser ouvida por todos os corredores daquele castelo. Estava livre.

“Nicolas!”

Entre escutar o primeiro pensamento de Nicolas novamente e conseguir voltar ao quarto foram apenas alguns segundos, esses decisivos para que ele não tivesse o tempo necessário para impedir que o coração fosse mais insensato que a cabeça daquele jovem tão entregue a suas angústias.

“Félix, seja rápido!”

“Venha me ajudar, Ninfa, por favor!”

– Nicolas, mas o que fizeste? – Félix sabia que seus olhos continuavam negros e agora cheios de água salgada, como se fosse possível que um vampiro pudesse chorar...

– Eu quero partir desse mundo, eu lhe entendo. Mas não sou forte o suficiente para viver com um morte que não seja a minha. Desculpe-me não poder cumprir a parte que me cabia em nosso acordo.

Ele caiu de joelhos soltando o punhal já sem forças, o sangue escorria pelo seu pulso e ele estava prestes a desmaiar.

Félix sentiu-se zonzo, o sangue, a perda, não, não havia acordo, ele só deveria partir...Pelo rosário sagrado, o que estava acontecendo? Ele também se entregou a seus instintos mais primários e foi de encontro ao jovem de joelhos e o apoiou em seu braço e antes de ser vencido pela sua própria monstruosidade, ainda teve tempo de dizer:

– Desculpe-me carneirinho.

Ao cravar seus dentes no pescoço de Nicolas seus olhos tornaram-se amarelados como no início daquela jornada, a cada segundo que o sangue humano fluia por seus dentes ele se lembrava dos gemidos de Nicolas enquanto eles se amavam, não queria que ele agonizasse por dias com aquele ferimento, não haveria como salvá-lo, então pelo menos que sua morte fosse breve.

– Félix!

– Ele se foi Nereida, foi minha culpa, eu deixei o punhal a seu alcance, eu nunca imaginei que ele atentaria a sua própria vida...Eu não suportaria vê-lo sofrer, pelo menos foi rápido.

Com Nicolas nos braços ele passou por ela e o deitou na cama, ainda afagou seus cabelos e com uma voz embargada pediu aquele que seria seu último favor a sereia:

– Por favor dê a ele um enterro digno no meu jardim, marque o lugar com uma roseira, haverão de nascer muitas flores onde ele estiver. Eu voltarei em alguns anos.

– Félix, desculpe-me, eu imaginei que seria diferente....

– Não te culpes por aquilo que é de minha responsabilidade.

E assim Félix partiu, caminhando, enquanto a Ninfa permanecia incrédula a mirar o jovem mais destemido que havia conhecido.

Inverno.

Primavera. Verão. Outono. Inverno.

Primavera.

“Parece que foi ontem que estive aqui. Sim, algumas plantas se foram, outras nasceram. Há uma linda roseira no jardim...Deixe-me encontrá-la.”

Ele se ajoelhou frente a mais nova roseira de seu jardim.

– Nicolas? Ela cuidou que tivestes um enterro digno? Por que ela não me responde? Grande amiga essa. Que me importa? Eu não pude me juntar a ti, perdoa-me, não encontrei ninguém com coragem suficiente para me matar. Continuo com o punhal que utilizaste em minhas roupas, ainda tens teu sangue fresco...Faz tanto tempo e para mim foi ontem...Ainda tenho seu cheiro em meu corpo, seu gosto em minha boca. Agora entendo que além de perder toda minha família pela minha ingenuidade eu perdi a única pessoa que foi capaz de gostar de mim, como realmente sou. A única pessoa que eu amei e continuarei amando por toda minha eternidade.

“Félix?”

“Nereida, eu não gosto dessas brincadeiras, criatura apareça aqui para que eu a mate de uma vez por todas, quem sabe assim seu pai vem vingar-te e finalmente poderei descansar em paz.”

“Você não a mataria.”

– Quem ousa invadir meu castelo? Que fizeste com a ninfa do rio? Quem és tu?

“Tenho fome!”

Félix sacudiu a cabeça em desespero, além de assasino agora ouvia vozes, talvez fosse o remorso de sua consciência a enlouquecê-lo, podia jurar que havia ouvido um nome.

– Sou eu, Félix, Nicolas.

Por de trás de uma árvore saiu um jovem de cabelos agora loiros acizentados e com os mesmos olhos claros que havia muito tempo o haviam hipnotizado.

– Mas...eu te matei? Vieste do paraíso me assombrar?

– Eu acordei no final do penúltimo inverno. Você me transformou. – E com um sorriso ingênuo que lhe era bem característico ele mostrou dois caninos que apontavam em sua boca mais salientes do que um humano poderia ter.

– Não vais falar nada? Nereida me disse que voltaria nessa primavera. Ela me disse para procurar uma roseira nesse jardim e plantá-la aqui para trazer-te de volta. Assim o fiz. Ela me disse que você nunca pensou que eu era um erro...

Ele extende o braço para que sua mão alcançasse as mãos de Félix que já jaziam junto a seu peito.

– Ela disse que você voltaria e ficaria feliz em me ver...Que eu havia acordado muito rápido...Eu lhe esperei com essa esperança no coração...

Félix permanecia calado, uma sensação estranha o consumia, como ele não havia percebido que em sua casa havia um novo morador, talvez ele não quisesse acreditar que seria capaz de tamanho feito. Ele o havia condenado.

– Desculpe-me Nicolas, eu imaginei que se não te matasse você sofreria por dias...Eu juro que se soubesse que havia alguma esperança eu haveria de ter cuidado de você. Eu sinto muito.

Lágrimas começavam a se formar em seus olhos...Talvez sua íris estivesse negra novamente como um dia já fôra; ele só se enxergou como a vampira que o havia condenado, afinal ele havia aprisionado mais alguém àquela sina.

– Posso lhe dizer uma coisa, Félix?

– Sim, tudo que queiras.

– Tenho isso a dizer...

Seus lábios se encontraram, Nicolas ensaiou um sorriso tímido para beijá-lo com mais desejo, suas mãos finalmente se soltaram para um abraço longo, merecido. Não houve um dia desde que ele acordara que não havia pensando naquele reencontro.

– Eu irei com você para onde você for Félix, hoje e por todo meu sempre.

x-Fim-x


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Notas finais do capítulo

gente eu consegui acabar uma fic (ufa)
vlw gente e principalmente as meninas lá do Feliko



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