Oito carneiros escrita por Rose


Capítulo 11
Cap. 11


Notas iniciais do capítulo

Eu tenho um problema, não consigo passar de 1000 palavras que fico morrendo de vontade de publicar aqui... então aí vai mais um capítulo dessa história que não passará do amanhecer.
Espero que gostem e desculpem pela demora...



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– Não tens medo de nada, criatura?

– Se já sei o meu destino, por que ter medo?

– E qual é seu destino?

– Estou olhando para ele... – Era possível ouvir sua respiração ofegante, a penumbra era tanta que Nicolas mal enxergava que seu algoz estava mais perto do que ele jamais poderia imaginar.

– Eu posso matar você...

– Todos morrem um dia Félix...Eu não tenho medo...

– Todos morrem Nicolas, eu lhe invejo tanto por isso...

Ele hesitou, o que deveria fazer agora? Como explicar o que lhe arrebatava a alma depois de tantos anos sozinho naquelas paredes, naquele castelo há muito perdido na memória dos poucos vilarejos que ainda permaneciam à margem da floresta dos desenganados. Há muito ele sabia que a única lenda que sobrevia era a de um vampiro errante que de tempos em tempos buscava crianças recém-nascidas por seu sangue, só que a lenda distorcida pelo medo nunca agraciava os ouvintes com a verdade, o vampiro sempre trocava a criança escolhida por sete carneiros. Nessa última investida além dos sete animais havia o oitava que agora o mirava cheio de perguntas as quais ele já não sabia se deveria responder.

– Se vais me matar, por que invejas minha morte?

– Com o que já vivi desde que me tornei esse monstro que vos fala, melhor seria abandonar essa vida.

– Nãooo...Tens a eternidade a tua frente, que mortal não desejaria estar em teu lugar? Posso ver-te?

Uma tocha se acendeu, Félix não imaginava que o humano pudesse lhe causar nenhum mal que não fosse de sua vontade.

– Que mortal em meu lugar poderia suportar a dor de ser eternamente só?

– Não há outros como tu?

Nesse instante Nicolas pôde perceber os olhos levemente amarelados de Félix se fechando, mas ele sabia que, se não fosse daquela maneira jamais poderia ter a compaixão daquele jovem humano em sua vida:

– Sim, sim, criança, espalhados por todo o mundo que conheces e também por terras que jamais pensou que existissem. Alguns de nós vivem misturados a humanos como errantes, de cidade em cidade fazendo vítimas para sobreviver, outros optaram por criar a fama que possuímos de seres noturnos e sem medo da morte se tornaram tão ricos que a tudo podem comprar. Eu, quando conheci toda a verdade por minha criadora, decidi ficar aqui no castelo de minha família...Alguns vezes saí em direção ao norte da Galícia para depois retornar...Esse lugar não sai de mim mesmo que eu já não viva. Consegues imaginar uma vida onde todos aqueles que um dia gostaste se vão e mesmo que se afeiçõe a alguém a certeza da morte lhe traz o medo de um novo sofrimente. Eu nunca terei ninguém para chorar por mim, sou eternamente condenado a chorar por aqueles que se vão sem jamais encontrar-me com eles. Com meu pai.

– A sereia me contou...

– Humanos, ninfas, que criaturas tão curiosas, tão...

– Fofoqueiras?

Risos.

– Ela não sabe como me sinto...

– Ela me pareceu gostar muito de você...

– Ela gosta do meu sexo, simplesmente isso Nicolas.

– E você?

– Engraçado, realmente te preocupas com isso. Não vês que o tempo está a acabar-se.

– Desculpe, é que eu...

Ainda de olhos fechados Félix deixou-se abrir um largo sorriso, não havia com que se desculpar ao final de tudo.

– És tão inocente como os carneiros que trouxe, nenhum deles imaginou que seu sangue seria meu alimento e assim eles não me temiam. Tu és como eles, um carneirinho inocente...

Com um certo desapontamente em sua respiração, Nicolas sabendo que tudo já estava perdido uma vez que não haveriam mais conversas como aquela, decidiu que melhor seria morrer tentando do que arrepender-se no inferno por não sequer dar-se a chance de perguntar:

– És isso que sou? Apenas um carneiro a espera do abate! Seja breve então senhor.

– Não sejas tolo, tu eres meu carneirinho a quem depositarei todas minhas esperanças.

– Que queres de mim?

– Que me mates!

Nicolas se mexeu, atrapalhado pela surpresa do pedido, que sorte de truque seria aquele?

– Há um punhal naquela mesa...Um punhal de prata...Diz a lenda que alguém de coração puro capaz de compreender minha dor, somente esse alguém seria capaz de me matar e devolver o humano que um dia pulsou em meu coração.

– Eu não posso...

– Que te impedes? Nereida lhe esperará pela manhã, já lhe entreguei ouro suficiente para que vivas como um príncipe e encontre alguém para realizar seus desejos...Carneirinho, não sou digno de mais nada além da morte...Traí meu pai na arrogância de ser aceito como sou...Jamais poderei lhe pedir perdão e vivo condenado a meu maior medo – viver sozinho.

– Eu não posso... – sua voz tremulava, que ele poderia dizer? Como escapar desse martírio.

– Pense que sou como um dos carneiros que há matado, apenas crave o punhal bem aqui?

Com a mão direita ele aponta para o peito num misto de dor e súplica indicando onde o punhal deveria ser fincado...

– Por favor Nicolas, lhe imploro, tenho certeza que por suas mãos poderei descansar em paz.

– Eu não quero seu ouro, não quero ser um assassino como...

– Como eu?

– Sim, como você....

– Eu nunca matei ninguém Nicolas, eu aprendi a viver do sangue de animais menores; cavalos, ursos, bisões e principalmente carneiros...Eu nunca bebi sangue humano. Eu não conseguiria me alimentar sem matar uma presa humana. A cada aldeia que visito sempre peço pelo récem-nascido para que os anciãos ofereçam algo em troca...Sempre carneiros...De alguma maneira o que sobreviveu ao longo dos séculos é que busco sangue jovem e puro...Se não fossem lendas seriam apenas fofocas...

– É mentira!...Por favor não me peças isso, não sabes o que dizes... – Nicolas criava coragem para levantar-se, só conseguiu abraçar-se cruzando os braços em sinal de negação, jamais seria capaz de aceitar tal proposta...

– Nicolas, quem és tu para julgar se o que digo é verdade ou mentira? Não é porque me salvaste que ganhou o direito de decidir quem sou...

– Não entendes, não é? Não sei como se há poucos dias podia ler minha mente agora se porta assim? Não sentes em suas veias que dei meu sangue para que voltasse a vida? A ninfa me disse que só o sangue humano poderia lhe trazer de volta....Para cada carneiro que sangrei misturei o meu para que vivesse...Não suportaria perder você...

Num instante tão longo quanto a própria vida, Nicolas buscou a mão do vampiro que ainda seguia nervosa junto a seu peito indicando o local da punhalada fatal, o calor do seu toque era contrastante ao frio da alma do vampiro que por um instante hesitou, mas não recuou ao contato.

– Nicolas...Por quê fizeste isso?

– Foste a única pessoa que sabia quem eu realmente era e ainda assim nunca me questionou. Serei-lhe eternamente grato por isso.

– Não tens a eternidade a seu lado para fazer essa promessa. Não sabes o peso que és seguir ao longo dos séculos eternamente só. A maldita que me amaldiçoou com essa sina buscava alguém para compartilhar os dias de solidão...Infelizmente ela escolheu a pessoa errada, a mágoa que carrego por trair minha família em nome de alguém que nunca me amou e me mataria na primeira oportunidade me consome...Agora sou um condenado, vago pelo sempre entre a culpa e a solidão. Não há ninguém na terra capaz de gostar de um monstro como eu e mesmo que um dia isso seja possível a brevidade humana porá fim a isso e eu serei mais uma vez condenado a viver nesse vazio de agora...Não me salvaste de nada, criatura...Apenas me condenaste a mais dias em meu inferno pessoal... Por que fizestes isso? Somente por gratidão? Nunca tiveste medo de todo o mal que posso lhe causar?

Nicolas, ainda surpreso pela revelação que ele jamais havia desejado matar alguém se encheu de coragem, mais uma vez lhe vinha a cabeça que seria melhor morrer tentando do que no minuto final arrepender-se por não vencer seus próprios medos. Enfim, segurou o vampiro pelas mãos agora mais firme do que nunca. Em resposta, jurou que podia ver a face dele consternada pela surpresa do gesto.

– Eu não entendo como não sabes por que fiz isso...

Os olhos reluzentes do vampiro arregalaram-se, ambos estavam tão próximos que era possível sentir o calor do humano adentrando ao corpo frio daquele ser tão inóspito, tão arredio...Félix não precisava ler os pensamentos de Nicolas para saber o que aconteceria e essa foi a primeira vez naquela noite que teve medo da voz cada vez menos trêmula do jovem humano.

– Félix, diga-me, por que eu fiz isso? Por que é tão difícil acreditar nisso? Eu que mil anos pudesse viver não me arrependeria de uma noite que pudesse ser eu mesmo, de verdade... – Seu corpo pulsava incontrolavelmente a cada palavra dita.


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Notas finais do capítulo

(vai acabar...em breve...vai depender agora do número de palavras mesmo...mas não passará do amanhecer...)



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