Oito carneiros escrita por Rose


Capítulo 10
Cap 10


Notas iniciais do capítulo

Enfim, o castelo...



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Quando ela o viu se aproximando, um sorriso lhe iluminou a face como se pudesse haver um fim para seus anseios:

– Nem eu teria tanta coragem Nicolas...Só agora que estás mais perto posso ver...E vocês se...

– Nereida, se já sabes o que aconteceu...Por favor... Deixe-me descansar. Desculpe-me se lhe causei algum inconveniente... – Seu maior receio não era o quão incomadada a sereia estaria; e sim, ouvir qualquer palavra que confirmasse que ele não causava nenhum desejo ao vampiro...Que atrativo teria além de seu sangue?

– Criança, vejo que necessitas alimentar-se, estás fraco e além disso esse braço está infeccionado. Eu sei...Não se preocupe... Deixe-me ajudá-lo. Eu já posso sair da água.

Vagarosamente a ninfa saiu da água agora livre de sua calda e trazendo em suas mãos peixe para que ele se alimentasse e ervas para aplicar em seu braço ferido. Haveria tempo suficiente para tudo enquanto Félix se alimentava.

– Eu preciso lhe dizer uma coisa Nicolas...Félix precisa de ajuda...

– Ai meu braço, que fazes? Devo fazer outro peixe assado?

– Não reclame. Isso irá tratar essa ferida e o peixe será seu alimento, daqui para frente vocês seguirão nessa pequena canoa e poderás descansar...Agora escute e não se esqueça disso, não se preocupe comigo...Quem precisa de ajuda é o Félix, eu sei o que sentes, mas ele não sabe.

– Ele não lê minha mente? Como não saberias?

– Nesse momento não, ele não lê e é isso é o que posso lhe dizer. Nicolas, eu só quero o bem dele.

– Eu não entendo. Mas o que eu posso entender, até outro dia criaturas como você eram histórias, lendas...

– Criaturas? – Ela sorri em tom de surpresa, afinal se achava apenas uma sereia...

– Errr...Desculpe...É que bem ou mal um vampiro e uma sereia não passavam de lendas que eu ouvia quando era criança...

– Eu entendo... Félix estava certo quando lhe escolheu, sua alma é pura. Talvez seja por isso que ele...

Uma voz corta a floresta para impedir que a sereia continua sua frase:

– Nereida! Que falas com ele? Cala-te criatura. – Ele passou rente aos dois, sem olhá-los, seguia em direção ao rio para lavar suas mãos e rosto, sim havia sangue.

– Nicolas, ele nunca me...Ai Félix, isso dói!

“Mais uma palavra fofoqueira e lhe mato como fiz com aquele demônio!”

“Fé-lix, eu estou cuidando do braço dele.”

“Não, não está! Se queres cuidar do braço dele não faças mais nenhuma intriga. Parece até que se alimenta pelo prazer em contar-lhe sobre a minha vida! Cala-te ou morrerás!”

Nicolas se viu perdido, afinal o que acontecia? Ele tinha certeza que eles conversavam...A sereia estava extremamente incomodada enquanto cuidava do braço dele. O que haveria de tão secreto que ele não poderia saber? Infelizmente aquela conversa não lhe pertencia e se resignou a comer, estava faminto.

Logo depois, sem coragem de perguntar o que havia ou melhor como havia acontecido com o último carneiro, Nicolas adentrou na canoa de madeira que seria levada suavemente pela correnteza, e já que não era necessário para remar aconchegou-se da melhor maneira que pode e adormeceu. Aproveitaria melhor o tempo assim do que tentando decifrar os olhares que entre aqueles dois. Jamais imaginaria que Félix relutava em entregar-se ao prazer de vê-lo adormecido e apenas isso, estar ali para admirá-lo.

“Félix, queres me ouvir ao menos uma vez?”

“Não”.

“E se ele gostar de você? E se de alguma maneira ele enchergou a pessoa que um dia você poderia ter sido?”

“Nereida, eu gostaria muito de terminar essa viagem sabendo que você cuidará dele depois que eu partir...Ele é uma criança...Tem tanto pela frente...Eu estou cansado.”

“Agora que tens uma chance, vais jogá-la pelo rio para que eu a leve embora?”

“Chega Nereida! Até parece que você quer que eu o mate! E depois, como eu viveria com isso? Você não se incomoda,não é? Afinal, eu sou o único que você não consegue matar...Isso não estava nos meus planos, jamais esteve. Quando ele se ofereceu em troca pela vida do sobrinho filho de uma irmã que nunca o amou eu vi que ele seria puro o suficiente para não me temer e entender minha sina. Eu não suportaria qualquer erro com ele...Principalmente porque isso lhe custaria a própria vida”

“Félix, nunca mataste ninguém! Porque ele haveria de ser o primeiro?”

“Eu nunca mordi ninguém, criatura! Sabes muito bem disso. Por essa razão nunca matei um humano. Agora deixe-me em paz, preciso respirar.”

E naquele jogo de palavras eles seguiram ao longo do rio, se não havia como detê-lo, ao menos Nereida queria ter certeza que havia tentado:

"Félix, você por acaso se perguntou como ele machucou o braço?...Às vezes eu me pergunto o porquê eu ainda tento te ajudar..."
"Eu não tenho culpa se todos me querem".

“Não sejas mais tolo do que já sabemos...” - Ambos riram a sua maneira.
Nicolas seguia imóvel, o único sinal que de sua vida era sua respiração alternada, talvez tivesse febre, talvez sonhasse, Félix não se atrevia a tocá-lo e seguia em sua curiosidade...O bálsamo que a ninfa havia preparado e aplicado em sua ferida estaria agindo e assim que ele acordasse deveria se sentir melhor.

Já fazia tanto tempo que algum mortal adentrava naquela fortaleza, a única lembrança de seu dono eram as pessoas indo para de alguma maneira nunca mais voltar. Como ele invejou aqueles que fugiram e tiveram uma vida para lembrar... Para ele, sua única ocupação ao longo de décadas era zelar pela parte interna em que sua família um dia habitou, garantindo que tudo permanecesse exatamente como deixado, só que jamais alguém voltaria para ver o resultado de seu esforço.

Todo aquele cuidado era nítido aos olhos de Nicolas mesmo que ele não se atrevesse a dizer uma única palavra de admiração para os tapetes finamente bordados que traziam a história daquele reino a muito tempo esquecido; Félix podia ser visto montado em um cavalo negro a frente do que mais parecia um exército. Seria algum daqueles rostos o responsável pelo sofrimento de seu algoz? Nessas horas sentia-se aliviado por não ter passado por nada do que parecia tanto afligir o vampiro. Faltava-lhe coragem para perguntar mais, entender o porquê de tanta amargura e zêlo com aquele lugar...Nesse misto do dúvidas ainda ria-se por dentro com uma certa satisfação pelo beijo roubado em troca de sua confiança.
Caminhando por um mundo infinito de corredores Félix lhe encaminhou a um dos aposentos que inacreditavelmente parecia intacto mesmo depois de tanto tempo sem uso.
– Eu lhe trarei água quente para que se lave nessa tina, quando estiveres pronto podemos conversar antes que adormeça. É bom que descanses bem depois dessa longa jornada.
– Podes ficar aqui enquanto me lavo?
Aquela pergunta golpeou Félix com o poder da surpresa, preferiu sair sem dizer nada, o que o humano ainda planejava? Por sorte a sereia não estava por perto para lhe perturbar, seriam apenas os dois quando ele voltasse com água quente.
– Nicolas, eu não acho conveniente ficar aqui. Tenha sua privacidade, criatura. Veja? A água deve estar suficientemente quente para que você se lave agora.
A resposta fria não desanimou Nicolas, por alguns segundos infinitos sempre se via próximo dele, do seu corpo, de sua sina. Uma vez mais se arriscaria por aquele fogo que o consumia ao ponto de ignorar a própria vida. Assim antes que Félix pudesse segurar a maçaneta ele sentiu a mão que segurava sua alma para que ficasse ali, não seria preciso descrever como se arrepiou com aquele toque:
– Félix?
– Eu, acho melhor... Por sua segurança, que me soltes.
– Vamos conversar?
Nessa instante Félix se virou com força, poderia dizer até com raiva de si por insistir em fugir desse desejo.
– Criatura, componha-se! Como eu posso conversar com você nesse estado?
Nicolas sabia muito bem a que Félix se referia mesmo que ele não pudesse ler sua mente e encheu-se de pudor para enfim soltá-lo.

A cama era tão macia como jamais Nicolas pensou que pudesse existir mas nada disso o animava a descansar, já que por sua vontade sairia a explorar aquele castelo sem rei, qual seria o propósito de sua presença naquele lugar? Remoendo essa pergunta a única resposta que podia imaginar é que não, ele não era importante para o vampiro como homem e sim como qualquer um dos sete carneiros que sairam com ele da aldeia. Ele era o oitavo carneiro a espera de seu destino. Convenceu-se disso para permanecer sentado a beira da cama. Não haveria como fugir dali, melhor seria entregar-se a seu futuro de uma vez por todas.

Olhos cerrados o observavam a partir do teto daquele quarto,não havia canto ou fresta que Félix não conhecesse em sua morada.

– Félix?

– Félix? Quanto tempo demoraras para vir aqui? Você vem me matar essa noite? Eu fui um tolo, achei que por um momento terias piedade de meus desejos mundanos e me concederia a graça de sua presença. Eu já entendi, sou seu próximo carneiro, não te preocupes que não tenho medo de minha hora.

Ansioso por sua triste sorte Nicolas deitou-se nu entre o fino lençol e continuou a falar em voz alta como que chamando Félix para que encerra-se de vez aquele tormento.

– Félix? Eu iria morrer em breve de qualquer jeito, você sempre soube disso, não é? Minha aldeia não me aceitaria se não me casasse, se não procriasse...Eu...Eu desejo outros homens...Eu desejei você também, para que mesmo que me matasse pudesse me fazer ao menos uma vez, ao menos uma vez...

Cansado daquela súplica Nicolas virou-se entre si buscando o sono que não vinha, lutando contra sua solidão, talvez estivesse louco apenas pela brevidade de desejar um desconhecido que ansiava por sua morte, ainda se entristecia por pensar que mesmo que fosse o último humano vivo ao final apenas seria um carneiro a espera do abate.

– Félix, por que não vens e acabas com minha solidão?

– Eu estou aqui Nicolas! – Os olhos reluzentes iluminavam a face de Nicolas na penumbra daquele quarto, ele podia sentir o hálito frio daquela criatura prestes a lhe acalmar a alma que agora respirava ofegante ouvindo seu coração acelerado. – Eu estou aqui Nicolas, precisamos conversar. Eu preciso da sua ajuda!


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Notas finais do capítulo

Pessoal, mil desculpas pela demora, para quem está lá no facebook, sabe que eu fiquei doente esses dias...daí tudo atrasa...em breve termino.
bjs e obrigada por todos os comentários super fofos que venho recebendo



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