Oito carneiros escrita por Rose


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

eu sempre gostei de histórias de vampiros.
com uma sugestão do grupo do feliko surgiu essa fic.



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Idade Média. Alguma região ao norte do que se conhece hoje como Itália.

- Já está mais do que na hora.

- Eu não acho que haveria uma hora certa para isso, não sei porquê a pressa.

- Sua irmã acha que assim você ficará mais tranquilo para desposar alguém, não se preocupe, elas sabem o que fazem.

- Como você tem tanta certeza?

- Por que eu já sou homem.

E assim o jovem Nicolas foi levado pelo seu cunhado a uma taberna velha a beira do vilarejo, talvez assim ele se interessasse por alguma mulher e resolvesse logo se casar com uma de suas poucas pretendentes.

Já no quarto apertado uma bela moça já o aguardava, tudo arranjado por seu cunhado para que fosse conforme o esperado. Porém esse novo cliente nitidamente demonstrava um desconforto com aquela situação, afinal ele não se sentia velho como muitos o julgavam – passando da idade de casar ou ao menos divertir-se com encontros fortuitos com as viúvas da vila que arriscariam qualquer coisa para relembrar uma noite de sua juventude que uma cama vazia era impossível de trazer.

- Eu não lembro de você...Veio de outra região? – A moça ruiva, por nome de Branca, aproximava-se intencionalmente afinal tempo era dinheiro e ela ainda precisava ganhar muitas moedas naquela noite.

- Não, sou dessa vila mesmo, é que nunca estive aqui. Veja eu tenho algumas moedas. – E mais nervoso do ele mesmo pensava que estaria rapidamente sacou três moedas do bolso e extendeu a mão em direção àquela mulher numa aflição quase que incontrolável.

- Não se preocupe rapaz, seu cunhado deixou essa e a próxima pagas, guarde suas moedas. Mas saiba que se quiser voltar meu preço será uma moeda para cada vez.

- E para que você não faça nada, pelo seu silêncio, quanto devo lhe pagar?

Branca não poderia acreditar no que escutava, como alguém queria pagar pelo seu não serviço? Talvez o jovem rapaz fosse um padre em busca de almas para salvar ou quisesse lhe pregar uma peça somente para ganhar mais tempo e mais favores.

A cabeça de Nicolas rodopiava, lembrava de sua irmã Amarilys lhe arrumando para aquela noite, mesmo que ela fingisse ele sabia que tudo estava planejado para que ele se tornasse homem naquela noite e assim entendesse que a carne era o destino de todo homem.

- Eu lhe dou essas três moedas para que fiquemos aqui até que o tempo necessário passe. Só lhe peço que diga ao meu cunhado que tudo correu conforme esperado, que me fiz homem em você , somente isso. Mas se não aceitar meu pedido lhe corto inteira. – Não era preciso contar que o rapaz se tremia todo segurando uma pequena faca.

Branca apenas sorriu, não era sua função questionar seus clientes mesmo que o desejo a realizar era que ambos ficassem ali quietos, o segredo do rapaz estaria em boas mãos pelas três moedas que ela acabara de guardar entre seus seios.

Na penumbra do quarto ela ainda tentou oferecer-se nua pois nunca havia encontrado alguém que a recusasse; como recompensa o jovem rapaz apenas pediu que ela se vestisse e guardasse seu segredo.

Algum tempo depois Nicolas saiu sorridente do quarto e foi de encontro a seu cunhado para irem embora, por mais curioso que ele estivesse em saber como havia sido respeitou o silêncio de Nicolas, afinal a partir daquele momento ele seria considerado um homem de verdade por todos em Quiena.

- Eron, como foi?

- Amarylis, você acha que eu fiquei assistindo? Mulher, ele ficou todo o tempo que eu paguei com uma ruiva da taberna e saiu muito sorridente por sinal. Você não viu como ele chegou cansado? Deixe-o descansar. Em breve poderemos arrumar um bom casamento para ele e fim, ele seguirá sua vida assim como nós seguiremos a nossa.

Nicolas chorava solitário em seu quarto, ele sabia que em pouco tempo deveria desposar alguém e nesse momento não haveria como esconder que ele desejava um amor, não um casamento a fim de procriar e ter alguém que lhe cozinhasse e o servisse. Ele desejava um amor cantado nessas trovas que jamais cansou-se de ouvir quando era criança, da época que seus pais eram vivos.

Um ano depois.

Toda a região a qual pertencia Quiena estava apreensiva, se a lenda fosse verdadeira como os anciâos insistiam em afirmar, ao solstício de inverno eles receberiam a visita de um monstro em busca de sangue puro para que todos os povoados em volta permanecessem livres de toda a sorte de males que escondiam-se na floresta dos desenganados.

Não se sabia a origem daquele ser, há muito tempo as histórias povoavam o imaginário de todos e mais uma vez se duvidava que aquilo era verdade, um ser tão forte e tão antigo em busca de sangue para manter o mal, a doença e a morte afastado dos vilarejos ao redor da floresta. Nenhuma bruxa ou demônio era capaz de enfrentá-lo e por isso ele sempre tinha o que queria: sangue fresco de uma criança recém-nascida.

Eron e Amarylis seguiam apreensivos, ela com a gravidez avançada torcendo para que seu filho não fosse apressado e aguardasse o inverno para nascer e seu marido impaciente pois não conseguia dar um fim a presença de seu cunhado que a cada dia que passava lhe parecia menos preocupado em casar-se e deixá-los em paz.

O tempo chuvoso anunciava o fim do outono e com isso a chegada do senhor de todos os medos, ninguém sabia ao certo seu nome ou como ele havia adquirido tanto poder ao ponto de assustar todos os animais da vila somente com a sensação de sua aproximação.

Ele chegou sozinho, suas vestes eram negras como seus cabelos contrastando com a pele mais pálida que alguém poderia ter, diferente de outras lendas nada lhe parecia fazer mal – cruzes, alho ou a luz do sol – nada impedia aquele ser e assim ele chegou ao centro da vila para gritar:

- Tragam-me a criança recém-nascida!

Um dos anciãos veio a seu encontro para lhe dizer que não havia nenhuma mulher grávida, que ele estava enganado, que fosse ao próximo vilarejo, que tivesse piedade.

- Tragam me a criança. Sua mãe já chora por sua perda, não há como me enganar.

Amarylis chorava ao lado do seu marido, não haveria escolha, ninguém arriscaria a vida de uma criança se toda a aldeia poderia desaparecer, por mais que todos fossem amigos e ela soubesse que ninguém lhe desejava o mal, seu filho era o escolhido pelo monstro para morrer.

- É a última vez que falo, tragam-me a criança!

Dentre todos aqueles escondidos esperando pela mãe que entregaria a criança ao monstro em troca de mais uma era de proteção, um jovem loiro num momento de loucura resolveu sair de seu esconderijo para tentar algo nunca antes oferecido:

- E se eu me oferecer no lugar da criança, temos um acordo? Eu serei seu desde que a vila e a criança permaneçam seguros.

- Félix não faz acordos criatura insolente, venha até mim para que eu mostre a todos o que acontece com quem me desafia. Serás que és tão novo que não conhece minha história? Não sabes que mais poderoso que eu nessa terra não há?

Quando Nicolas surgiu a sua frente com os cabelos sujos do trabalho no campo e o rosto avermelhado pelo nervosismo da proposta. O monstro recuou, aqueles olhos claros lhe petrificaram por um milionésimo de segundo – que feitiço poderia ser aquele que o convençeria a aceitar um humano adulto em troca de mais cinquenta anos de liberdade.

- A criança não saberá do que sentir falta se for comigo, ela não conhece o mundo. Traga-me a criança e o deixo viver.

Cabisbaixo Nicolas resolveu insistir afinal não tinha sido morto ainda, quem sabe seu sacríficio seria recompensado já que ao longe escutava os berros da irmã em desepero pelo seu sacrifício.

- A criança tem toda vida pela frente, eu já conheço alguma coisa para ir-me em paz.

- Olhe para mim rapaz!

Quando Nicolas o olhou novamente ele pode ver que sim, ele era puro, seu sangue seria capaz de alimentá-lo por alguns anos e não haveria problema em efetuar aquela troca.

- Aceito. Traga sete carneiros com você. Estarei na entrada da vila. Seja breve. Eu não voltarei aqui para buscá-lo.

- Tens minha palavra que em uma hora estarei lá.

Nicolas respirou aliviado, seria melhor morrer do que viver uma vida de mentiras. Virou-se em direção a casa de sua irmã, despedir-se e arrumar uma trouxa para a viagem que não haveria de ter volta.

Impacientemente sentado a entrada do vilarejo um ser sem vida se amaldiçoava pela troca que acabava de ter feito, seria ele capaz de resistir ao humano tempo suficiente para tentar livrar-se da maldição que carregava?


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Notas finais do capítulo

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