Sensorial escrita por StrawK


Capítulo 2
Audição


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora! T-T

Capítulo não betado. Me avisem ao encontrar qualquer erro para que eu possar corrigir!

Boa leitura! :)



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— Cara, o que você está fazendo? — Naruto fez uma careta espantada para Shikamaru.

— Nada.

— Não, cara... É sério. Tem alguma coisa errada com seu rosto.

— Não tem nada de errado com meu rosto.

— Mas você está com esse olhar vidrado de psicopata e dilatando as narinas assim, ó!

— Não estou dilatando as narinas, Naruto.

É claro que ele estava dilatando as narinas e provavelmente também estava com uma expressão psicopata, porém jamais diria que isso era mais uma de suas sessões diárias de fantosmia forçada, principalmente porque havia passado quase um mês e não estava adiantando; já encontrara Temari mais duas vezes e ainda ficava profundamente perturbado, como se sempre fosse a primeira vez que sentia aquele aroma, então era quase inevitável não repetir a lamentável cena da floricultura.

Por sorte, antes que pudesse fazer algo mais vergonhoso e ser confundido com um pervertido, conseguia suprimir o êxtase simplesmente prendendo a respiração. Essa, na verdade era a única estratégia que havia funcionado até agora.

Não conseguir ao menos lidar com algo tão banal — em sua concepção — quanto feromônios, por vezes aumentava o vazio que sentia ao se lembrar que nem seu pai nem Asuma estavam ali para lhe dar conselhos sobre as mulheres. A dolorosa ausência sempre estivera ali, é claro, mas nesses momentos específicos, se dava conta que apesar de ser um ninja e ter lutado em uma guerra, ainda faltavam muitas coisas que o fariam ser um homem de fato; e saber como lidar com seu primeiro real interesse no sexo oposto em uma idade que deixava as coisas muito mais complicadas, era uma delas.

Embora agora passasse bastante tempo na sala do Hokage com Kakashi, não sentia-se à vontade para discorrer sobre esse tipo de assunto com o atarefado líder da Vila; além disso, tinha certeza de que se o fizesse, acabaria com um daqueles livrinhos pornográficos embaixo do travesseiro.

Por isso que estava mesmo cogitando a ideia absurda de tentar um diálogo com Naruto, de quem estava muito próximo ultimamente, e que ainda o olhava desconfiado enquanto enchia a boca de lámem do Ichiraku.

Não pretendia ser muito literal; não daria nomes e trabalharia com probabilidades, apenas para ter uma ideia de como o amigo lidava com o assédio constante das muitas garotas que suspiravam pelo herói de Konoha. Em algum momento ele deve ter se sentido desnorteado com o perfume de alguém.

Deixando de lado a já sabida inútil fantosmia forçada, respirou fundo, dessa vez para tomar coragem e comentou com um tom desinteressado:

— Ahn, Naruto... Então... Como estão as coisas com suas fãs?

— Eh? — O loiro engoliu o macarrão e sorriu, esquecendo que não obteve resposta sobre a expressão psicopata de Shikamaru. — Ah, é engraçado! E eu ganho bastante coisa boa. Na minha geladeira não tem mais comida vencida!

— Imagino que não. São muitas garotas bonitas, não?

— Hum... Algumas, acho. Por que esse papo agora?

— E você acha que alguma delas tem um perfume melhor do que o de qualquer outra a ponto de te deixar meio tonto?

— E-eu não sei, cara. Não ando cheirando as pessoas por aí — Naruto riu e continuou, com ar distante. — Mas uma vez... Uma vez eu perdi minha bolsinha de moedas e a Hinata achou. Ela deixou guardado junto com as coisas dela, e quando me devolveu, eu achei que tinha um cheiro muito bom e eu fiquei segurando aquele treco debaixo do meu nariz por um bom tempo...

Por essa resposta, pensou em desistir da conversa, porque Naruto obviamente era muito mais atrasado com relação aos próprios sentimentos, mas continuou:

— É que eu tenho um amigo... Ele está um pouco obcecado com algumas particularidades de uma garota. Tipo, o cheiro que ela tem, que ele não consegue para de pensar e-

— Eu acho que você devia falar pra ela.

— Eu... O quê?

— Eu acho que você devia falar com a Temari! Cara, já deu para sacar que esse seu narigão arreganhado era por causa dela.

O estrategista suspirou, derrotado. Subestimou Naruto, que acabou sendo mais perceptivo do que imaginou, porque não dava mesmo para julgá-lo como um bom conselheiro amoroso, visto que o cara era um tanto tapado e inconsciente em reconhecer a queda livre que tinha por Hinata e vice-versa.

Mas o problema em falar com Temari era que ele sempre teve uma ideia fixa do que queria para sua vida: ser alguém mais ou menos, que se casaria com uma mulher nem bonita, nem feia, com quem viveria pacatamente até o fim de seus dias. Mas ela era bonita demais para sua própria sanidade, além de ter um temperamento que em nada remetia à tranquilidade; e aceitar tudo isso seria como negar seu próprio ideal de vida e pisar em um terreno desconhecido do qual não teria nenhum controle e muito menos sossego, mesmo que já tivesse mudado de ideia pelo menos sobre ser alguém mais ou menos.

— É mais problemático do que somente falar com ela — Shikamaru baixou os olhos para seu próprio prato de lámen, pela metade. — Eu queria só não parecer tão bizarro quando ela está por perto.

— Se o problema é pensar demais no perfume dela, se concentre em outra coisa, então! Naquele leque que ela carrega, na voz, no irmão dela, sei lá!

— Seria... seria bom tentar me concentrar na voz. Acho que não seria uma distração perigosa.

Não acreditava mesmo que estava acatando uma ideia de Naruto, mas era um bom plano desviar o foco para algo potencialmente menos perturbador.

Percebeu que o amigo lhe sorria, travesso:

— Ei, preguiçoso! É melhor você não ficar com essa cabeça confusa, senão não será digno de ser meu conselheiro quando eu for o Hokage!

— Cala a boca.

_.:oOo:._

E foi pela conversa comprometedora que teve com Naruto que três dias depois, Shikamaru se encontrava perambulando pela feira de Konoha com Temari ao lado, lendo a lista de compras enquanto ele carregava a cesta.

“Já que vai se concentrar na voz, faça-a falar bastante. Vá comprar comida e a chame para te acompanhar e ler a lista, ou manda ela repetir um mantra, nome de jutsu, essas coisas!” — foi o que o amigo lhe aconselhou e insanamente ele acatara.

Estava até se saindo bem ao desviar o foco para a voz dela; quase — bem quase, mesmo — conseguia ignorar o aroma feminino que lhe desconcertava, mas agora outro problema surgia.

Ele estava realmente prestando a atenção.

Enquanto ela falava nomes de vegetais, legumes e frutas, começou a decifrar as nuances e particularidades do tom de voz de Temari e começou a pirar, porque nunca havia reparado nisso e agora concluía que ela falava de um modo que reverberava em todas as freqüências por todo seu corpo, quadrifonicamente.

— Cebola — ela disse, quando passaram em frente a uma tenda e ele evitou suspirar de desgosto.

Obviamente, sabia que ela costumava quase rosnar ao falar quando contrariada e que gritava de modo assombroso quando com raiva; sabia que em seu estado mais calmo, prevalecia o tom maduro e firme (pouquíssimas vezes a ouvira gaguejar) e que tinha uma suavidade escondida que deixava transparecer timidamente, e somente para ele, em alguns momentos a sós.

Mas agora... Agora ele estava aborrecido, a um passo do mau-humor, porque seus ouvidos — seu corpo inteiro — estavam desesperados para ouvir de Temari qualquer coisa, em qualquer tom.

— Eu sei que você odeia qualquer tipo de atividade que exija algum esforço, mas já que sua mãe pediu para você fazer compras e eu aceitei vir ajudar, poderia pelo menos se mostrar um pouco agradecido e não me contaminar com esse seu humor — ela resmungou. — Agora pegue as malditas cebolas.

Firme, decidida, um pouco arrogante.

— Não fale do meu humor quando você passa a maior parte do tempo praguejando por aí. E essas cebolas estão feias.

— Eu não vivo praguejando por aí. As pessoas que são lerdas demais. Vamos para outro lugar que venda cebolas, então.

Levemente ofendida, então suave... Como que para provar que sabe não-praguejar.

— Sinto que isso foi uma indireta — ele parou a encarando, sendo encarado de volta.

— Você é lerdo. Não preciso de indiretas para dizer isso. Mas não se preocupe, há pessoas mais lerdas que você.

Séria, um pouco rouca, ansiosa, conformada.

Encararam-se durante mais alguns instantes, certos de que haviam entendido as entrelinhas.

— Esqueça as cebolas — Shikamaru disse, recomeçando a andar. — Qual o próximo item?

Beijo.

— O- oquê?

— Q-U-E-I-J-O. Não ouviu?

— Não, eu... Só imaginei ter escutado outra coisa — era óbvio que dado seu histórico com a fantosmia, isso aconteceria. Agora seu subconsciente resolvia lhe pregar peças auditivas. — Que tipo de... queijo?

— Aqui não diz. Você deve saber que tipo de queijo sua mãe costuma usar.

— Não, eu não sei o tipo de queijo que minha mãe costuma usar.

— Mas você deveria saber que tipo de queijo sua mãe costuma usar!

— Eu saber o tipo de queijo que minha mãe costuma usar deveria ser importante?

— O queijo não é importante.

— Pelo tom da sua voz, parece mesmo que o beijo é importante!

Ela o encarou novamente, quase ruborizando. Ele consertou:

— Q- queijo... Parece que o queijo é importante. Que... problemático.

Depois de alguns segundos de um silencio que zombava dos dois, Shikamaru observou enquanto ela deixava a lista em suas mãos; o perfume o inebriando, a voz suave penetrando seus ouvidos, quando ela se aproximou e sussurrou antes de ir embora:

— Acho melhor você continuar suas compras sem mim, mas não se preocupe em estar ouvindo coisas. Eu realmente disse “beijo”.

_.:oOo:._

Naquela noite, Shikamaru teve dificuldade em pegar no sono.

Sempre que fechava os olhos, imaginava ouvir Temari sussurrando em seu ouvido o quanto ele era lerdo e que se não se apressasse logo, deixaria outra pessoa beijá-la.

Acordou de manhã, muito mais cedo que o costume, porque novamente imaginou ouvir Temari lhe despertando, só que dessa vez de um modo muito mais provocador.

Esperneou em pensamento:

"O QUÊ ELA ESTÁ FAZENDO COMIGO?"

.

.

.

CONTINUA


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Notas finais do capítulo

Deixe seu amor em um review!

Ps: não curti muito esse capítulo porque acho que não consegui passar tudo o que eu queria com o lance da audição. Mas como eu já havia escrito muito, decidi ficar nesse rumo e explorar isso um pouco mais nos próximos capítulos.

Digam o que acharam! ;)