Como odiar o amor II escrita por TheGhostKing


Capítulo 17
Dreaming about


Notas iniciais do capítulo

Dream - Imagine Dragons



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POV Ricky

Ricky perdera a noção do tempo. Estaria ali há quanto tempo? Não conseguia nem pensar em opções sensatas. Estava cansado demais para conseguir qualquer pensamento racional. Tudo o que sabia era que, de repente, os choques pararam pelo que ele considerava tempo demais. Em um certo momento, as luzes se apagaram. Depois de alguns minutos pensando, ele entendeu que a intenção era que ele dormisse.

Ricky acomodou-se na cama velha do seu falso quarto e parou um pouco para pensar no que estava acontecendo. As luzes ficariam apagadas por umas oito horas, talvez, para que ele pudesse estar descansado no dia seguinte e pronto para recomeçar tudo.

Ele não queria recomeçar tudo.

Tentou pensar num modo de aproveitar alguns minutos para achar uma solução antes que desmaiasse de cansaço e sono. Pensou por muito tempo considerando como se sentia, e quando seus olhos estavam quase se fechando de vez, o seguinte pensamento lhe alcançou a mente:

Talvez Nico soubesse o que fazer...

Como ele deixara isso passar? Era tão óbvio! Após refletir sobre o pensamento anterior, Ricky quase riu com a simplicidade da solução.

Bastava dormir.

.

POV Nico

Nico não sabia por quanto tempo havia dormido. Também não sabia medir com recursos humanos o quão bom o sono fora. E nem há quanto tempo não dormira assim.

Nada disso seria útil caso ele quisesse viajar como havia feito na noite anterior, mas o plano não era esse dessa vez. Com o plano que tinha, com o sonho que tivera, as coisas haviam facilitado.

Lembrava-se do seu primeiro dia no orfanato. Fora tão estúpido em não ter lembrado deles antes! Seu sono naquele dia fora invadido diversas vezes por Ricky. O menino podia entrar ou até controlar os sonhos dos outros, como havia feito tantas vezes para atormentar ou acordar Nico. Bastava que os dois estivessem dormindo. E foi exatamente o que aconteceu.

Nico não sabia de onde, mas Ricky havia chegado em seu sonho. Parecia se assemelhar à uma viagem nas sombras, mas menos cansativa e efetiva, pois ele não chegava a lugar algum realmente. De qualquer maneira, ele simplesmente apareceu em um fundo branco e cuspiu palavras desesperadas.

– Nico! – ele gritou de algum canto – não sei se tenho muito tempo. Sei que está aflito. Estou no quarto. Pense no quarto 304, mas com mais rachaduras e manchas. Imagine couro das fitas mais novo e o colchão menos rasgado. Mas pense em lençóis mais exageradamente manchados. E elimine todas as goteiras. Isso é o básico. Vai me encontrar. Mas eu recomendo que não venha.

– Como assim? Não quer que eu vá?

– Shh, deixa eu explicar! – a imagem dele piscou conforme ele virava os olhos – não estou com forças para mandar qualquer outra mensagem, escute com atenção. Não venha. Mas como você é teimoso que nem uma mula, eu sei que você vem. Se vier, venha preparado para lutar. Venha armado e treinado, preparado na mente e corpo. Não dá para explicar, mas talvez você tenha que fazer algo, e jure que você fará se precisar.

– Juro.

– Rio Estige – Ricky exigiu.

– Mas o que é?

– Preciso que você jure. É sério!

– Eu juro sobre o Rio Estige – Nico balbuciou. Não queria ter dito aquelas palavras sem saber sobre o que estava jurando. Talvez aquele nem fosse Ricky falando, podia ser um golpe. Agora não tinha mais volta.

– Bom, se precisar, você vai acabar com...

A imagem de Ricky piscou e ele sumiu. Nico teve vontade de gritar, mas se tranquilizou. Tinha uma pista, pelo menos. Sabia por onde começar.

Esse havia sido o grande sonho que o levou a um início.

Conforme Nico saía da casa do adorável senhor Günter, ele tentou imaginar o quarto conforme Ricky havia descrito. Foi desenhando o rascunho em sua mente, preparando-se para o desenho final no qual pensaria durante a decisiva viagem.

.

POV Ricky

Inacreditável como as coisas podiam dar errado.

A mensagem havia sido cortada no meio de sua fala mais importante. Nico não saberia o que fazer.

Ele tentou dormir outra vez só para mandar outra mensagem e completar a frase até o maldito ponto final, mas estava cansado demais até para isso. Resolveu descansar de verdade e esperar pelo melhor.

Se descansasse mais, se dormisse bem, poderia ter um pensamento mais alinhado e não piraria tão facilmente. Talvez.

Haviam tantas maneiras de aproveitar o tempo limitado de tranquilidade.

Se sacrificasse o sono por tempo para arrancar a coleira elétrica, teria como fugir. Talvez.

Se ficasse acordado analisando o quarto, acharia uma saída. Talvez.

Se gritasse o suficiente, Joseph apareceria. Talvez.

Se batesse a cabeça na parede vezes o suficiente, tudo acabaria para ele. Talvez.

Se Nico realmente aparecesse, as coisas terminariam bem. Talvez.

Se Nico realmente aparecesse, as coisas terminariam mal. Provavelmente.

Entre tantos “talvez”, o mais próximo que ele tinha de uma certeza era um “provavelmente”, palavra que arrancaria um projeto de sorriso de seus lábios se fosse acompanhada por outro contexto. Entretanto, a frase que a completava só deixava-o mais enjoado, com mais vontade de que aquilo não estivesse acontecendo de verdade.

Não decidiu nada, por fim. Não teve tempo. Adormeceu logo, sem conseguir reunir forças para deixar os olhos abertos por mais um minuto sequer.

Sentia-se patético. Passou o dia sob o controle de alguém e a noite sem forças nem para manter os malditos olhos abertos, quanto mais para uma luta. Nunca havia se sentido tão rebaixado e ridículo.

Dia um de sabe-se lá quantos.

Vítimas: sabe-se lá quantos.

Nível de desprezo: sabe-se lá quanto.

Desprezo por Joseph. Desprezo por não conseguir fazer nada direito. Não conseguiu deixar uma pessoa viva sequer. Não conseguia controlar seus próprio sentimentos. Não conseguia sair de uma situação sozinho. Não conseguia deixar de pensar em desistir logo. Não conseguia tirar o sorrisinho idiota do rosto, não conseguia parar com o sarcasmo, não conseguia não ter a vontade real de matar as pessoas que via, não conseguia conter a culpa, a raiva, os pensamentos, estava confuso, não conseguia lidar com as coisas normais como uma maldita pessoa normal, porque não era uma pessoa normal, era uma aberração que gostava de matar pessoas e refletir sobre isso enquanto esperava ser salvo.

Não conseguia nem terminar uma frase, droga.

A frase mais importante que já havia começado.

Queria tanto ter completado a frase.

Nico devia pensar no mais provável: “você vai acabar com Joseph”.

Como poderia avisá-lo que queria ter dito, simplesmente, “comigo”?

.

Ricky teve uma péssima noite de sono, como de costume. Apreciava sua capacidade de ser um babaca durante o dia, com as piadinhas irônicas e a cara de acho-que-você-é-idiota, e ainda assim, de noite, refletir tão profundamente e se considerar tão... não havia como explicar. A palavra estava presa na noite, e já havia amanhecido.

As luzes acenderam. Em uns vinte minutos, contados mentalmente por Ricky, entediado, a primeira voz se manifestou. Era uma garota.

– Olá? – ela devia ter alguns anos a mais que ele, apenas – sabe onde estamos?

– Mais ou menos – ele respondeu – mas não sei como sair, então qualquer informação será um tanto quanto inútil. Eu só preciso te pedir desculpas.

– Pelo que?

O primeiro choque o atingiu.

A partir dali, não havia volta.

Ricky contou pacientemente as pessoas que passavam pelo quarto até que acontecesse o que ele esperava.

Aconteceria. E ele não sabia qual dos dois sairia vivo.

Doía-lhe o peito em pensar que seria ele.

.

POV Nico

Acabar com Joseph, será?

Esse pensamento passou por sua cabeça enquanto respirava fundo, pensando no quarto 304 com mais rachaduras e manchas, menos goteiras, lençóis velhos e couros e colchões novos. E Ricky, claro, parado bem à sua frente, em um encontro do qual Nico não tinha expectativas.

Pelo o que ele havia entendido, Ricky tinha expectativas.

Torcendo para o melhor, ele focou seu pensamento mais ainda no alterado quarto do amigo e sumiu pelas sombras.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo!
Comentem o que gostaram, o que poderia melhorar ou o que esperam!
Vejo vocês no próximo capítulo. Um beijo, um queijo e até lá. Tchau!