The Swan Sisters Saga escrita por miaNKZW


Capítulo 63
Capítulo 11 - Almas Boas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/60100/chapter/63

No Alone

 

Sessenta dólares. Eu constatei derrotada que tudo que me restava eram sessenta dólares. Meu estômago protestou alto quando entrei na lanchonete de beira de estrada; havíamos feito mais uma parada, a décima segunda desde Washington; e o motorista do ônibus tinha saído para almoçar, informando que partiríamos somente em duas horas. Eu nunca me arrependi tanto em minha vida. Por que eu não peguei aquele maldito ônibus direto? Já estaria em Seattle agora! Eu estava faminta e exausta; a fome e o murmurinho dos outros passageiros não me deixaram descansar durante toda a viagem.

 

Eu me sentei no balcão; achei que seria meio estranho se eu me sentasse em uma das mesas para pedir somente um copo de água. Depois do terceiro copo, eu percebi que estava sendo observada. Me assustei logo de cara, mas me acalmei quando me percebi que era só uma velhinha. Ela estava sentada do outro lado da lanchonete, havia um senhor de cabelos bem brancos sentado a sua frente, mas eu não pude ver seu rosto. Ela timidamente sorriu para mim e eu retribuí. Ela continuou me olhando e já começava a me incomodar, mas toda vez que eu me virava decidida a acabar com esse incômodo, ela lançava um sorriso tímido extinguindo minha coragem.

 

Depois de um tempo, ela se levantou, passou por mim ainda me encarando e rumou para o banheiro. Quando voltou, ela finalmente parou ao meu lado.

 

_ Olá?

 

_ Ahn... oi.

 

_ Me desculpe, mas... mas... qual o seu nome, minha jovem? – ela perguntou sorrindo; seu rosto mostrava os sinais do tempo, mas era gracioso e delicado.

 

_ Iv... Ahn... Evangelina.

 

_ Oh... - ela suspirou - Evangelina? Humm... – confusão e decepção cruzavam seus olhos por alguns instantes – Ahn... tem certeza? – essa era uma pergunta que eu não estava esperando e, eu senti arrepios correndo por todo corpo – Oh, desculpe-me! Acho que me enganei. Mas, você... – ela ainda continuou – Mas é que... mas a semelhança é incrível! Você se parece tanto, tanto! Se não fosse pelo cabelo...

 

_ Eu? Mas de quem...

 

_ Oh! Perdoe meus modos... eu me chamo Angela. – ela disse, estendendo a mão - Angela Weber Cheney. E aquele ali é meu marido Ben. – Angela então, apontou para o homem que agora olhava em nossa direção. E pelo jeito, Ben não aprovava em nada a atitude de Angela. Ele balançou a cabeça e, mesmo que eu não pudesse ouvir, Ben soltou um suspiro, se virando em seguida – Não ligue para ele não! É só um velho bobo e desconfiado, mas ele não morde. – ela continuou sorrindo, torcendo o nariz de um jeito engraçado e, foi se acomodando no banquinho ao lado – Então, de onde você é Evangelina?

 

_ Err... eu... ahn... – eu ainda não tinha pensado nisso. De onde eu era, de onde eu era... o que eu devo falar?? 

 

_ Bem, eu sou da Flórida! Fort Lauderdale... – Angela disse, percebendo minha hesitação – Quer dizer, acabamos de nos mudar, mas sinceramente? – perguntou retoricamente - Eu não gosto muito daquele calor todo não. O Sol é muito forte e minha pele não está acostumada com isso. Sem falar na areia. Ah! Tem areia em todo lugar! Aliás, só tem areia naquele lugar! E você varre e limpa e sacode e lava, mas a areia continua lá! – Angela falava rápido e sem parar, torcendo o nariz o tempo todo e, às vezes parecia que nem precisava respirar - Não que eu esteja reclamando nem nada, Ben e eu sempre sonhamos em viver na Flórida depois da aposentadoria. Afinal, crescemos em Forks, onde chovia 350 dias por ano e, nos outros 15 garoava! Depois, Ben foi transferido para Washington. E você sabe, em Washington, se não chove, neva! Mas é como eu sempre digo: Praia é o paraíso! Para passar as férias...

 

Angela continuou falando sem parar por uns trinta minutos; e apesar de minhas suspeitas, ela de fato fazia algumas pausas para respirar, soltar alguns suspiros e às vezes soltava uma risadinha abafada. E o tempo todo, eu só respondia com um “Arran”, “Humm”, “Sei” e ia acenando com a cabeça. Normalmente isso me deixaria nervosa, eu não estava acostumada com pessoas tão “falantes” assim; tia Maggie era muito carinhosa, mas muito sucinta no que dizia respeito a conversas e, Jonas era praticamente monossilábico. Mas Angela era engraçada e havia alguma coisa nela que me fazia sentir bem, sua conversa era tranqüila e fácil. Então, sem perceber, eu estava relaxada e já tinha até esquecido do imenso buraco vazio em meu estômago. Depois de um tempo, Angela finalmente fez outra pausa, mas só porque foi interrompida pela garçonete que me lançava olhares impacientes desde minha chegada.

 

_ Já se decidiu? – perguntou mal humorada, enquanto enxugava as mãos no avental sujo e amarelado pelo tempo e pelo uso.

 

_ Ahn... eu acho que... – “Sessenta dólares, Ivy! Só sessenta dólares!” eu pensei, passando os olhos pelo cardápio pela vigésima vez, procurando por alguma coisa que não custasse mais que 10 – Eu vou...

 

_ Você já provou a torta de carne? – Angela interrompeu – Ben e eu pedimos e é mesmo deliciosa!

 

Eu corri os olhos pelo cardápio rapidamente e constatei que a torta de carne era o parto mais caro do lugar.

 

 _ Oh! – suspirei e tentei disfarçar o som rouco que saiu do meu estômago, protestando só com a imagem do prato em questão.

 

_ Mas é muito grande, sabe? – Angela, então continuou e se virou para a garçonete – Eu diria que é um prato mais apropriado para três ou quatro pessoas e, não para dois como diz aqui. – ela retribuiu o olhar rude e mal humorado da mulher, batendo os dedos na descrição dos acompanhamentos e sugestões do cardápio – Acho que sobrou mais da metade... tanto desperdício!

 

_ E então? O que vai ser? – a mulher voltou a interromper, ignorando o comentário de Angela.

 

_ Já sei! Tive uma idéia ótima! – Angela interveio novamente, arrancando suspiros impacientes da garçonete - Evangelina, você me faria um favor? – ela perguntou; seu olhar pedinte era irresistível e, eu acenei em afirmação – Será que você poderia aliviar minha consciência nos ajudando a terminar o prato? Eu realmente não gosto de desperdiçar comida enquanto existem tantas pessoas passando fome...  

 

_ Oh, Angela... – eu respondi, movendo a cabeça de um lado para o outro, tentando conter as lágrimas que ameaçavam irromper por causa da gratidão, vergonha ou talvez pela surpresa que senti diante de tanta bondade e gentileza – Eu... eu...

 

_ Você faria a gentileza de aquecer o prato para a moça, por favor? – Angela perguntou para a garçonete e, antes que eu pudesse me dar conta, eu estava sendo arrastada até a mesa.

 

A garçonete nos seguiu sem hesitação, mas sua má vontade estava clara pelos ufadas que ela soltava pelo caminho.

 

_ Ben? – Angela chamou – Esta é minha amiga Evangelina e será nossa companhia para o almoço de hoje – Angela não perguntou, anunciou.

 

_ Oh! Ahn... – Ben se levantou rapidamente e meio sem jeito meio surpreso, ofereceu sua mão para mim – Olá!? Ahn... – um riso nervoso escapou de sua boca - Eu sou Ben Cheney e é um prazer tê-la conosco, jovem. 

 

_ Err... ob... ob... eu... obrigada, Sr. Cheney. – eu finalmente engasguei.

 

_ Vão querer mais alguma coisa ou é só pra esquentar as sobras? – e lá estava ela novamente, a garçonete carrancuda.

 

Eu senti a mão de Angela se apertando contra a minha e quando me virei para encará-la percebi tanto seus olhos como sua boca se estreitando em uma fina linha de irritação. Angela tomou um longo gole de ar e, se preparou para verbalizar sua indignação, mas Ben interveio.

 

_ Não. É só isso mesmo por enquanto, - ele respondeu calmo e indiferente. Então, Ben apertou os olhos forçando-os a ler o nome no crachá que pendia torto sobre o uniforme da garçonete - mas a chamaremos quando seus serviços forem necessários. Obrigado, Ivone. – depois, ele se sentou e gesticulou para a cadeira – Sente-se. Sente-se Evangelina!

 

Ivone bufou uma vez, mas alcançou o prato e, antes de partir em direção à cozinha me lançou um olhar furioso, bufando novamente.

 

_ Sem gorjetas para Ivone essa noite... – Angela sussurrou para mim, me acompanhando na risadinha quase infantil que se seguiu.

 

_ Bem, Evangelina... espero que minha esposa não tenha a assustado muito...

 

_ Oh, Ben! – Angela protestou revirando os olhos.

 

_ Ora, Angela! O que a menina deve estar pensando de nós? Provavelmente que somos dois velhos loucos! – Ben concluiu, gargalhando alto em seguida.

 

_ Com você agindo dessa forma... – Angela retrucou, balançando a cabeça – Quem poderia culpá-la?

 

_ Oh, eu não... não...

 

_ Nem se dê ao trabalho, jovem! Essa véia é muito teimosa.

 

_ Ben!!! – Angela ameaçou.

 

_ Ela não é sempre assim, juro. – Ben cochichou – Mas vem piorando com o tempo! 

 

_ Arrrr!!! Seu... seu ingrato! – disse Angela indignada, cruzando os braços sobre o peito – Parece até que não me ama mais... – ela virou o rosto encarando a estrada com seus olhos magoados.

 

_ Oh, querida... – Ben se desculpou, dando palmadinhas na mão de Angela – Me desculpe, eu só estava brincando... você sabe, não sabe?

 

Angela se virou devagar e um sorriso tímido e quase involuntário brotou em seus olhos.

 

_ Velho bobo...

 

Então meus olhos registram uma cena tocante e inesperada, tão estranha para mim: Ben e Angela estavam sorrindo, trocando olhares carinhosos; seus olhos brilhavam com carícias silenciosas e juras de amor que não precisam mais ser ditas. Era uma imagem linda e foi impossível não sorrir. Naquele momento, eu desejei encontrar Theodore mais do que tudo. Se Theodore Leaf era minha única salvação, se Theodore Leaf era minha única chance de continuar viva, então eu o procuraria até o fim do mundo, até o fim dos meus dias. Porque, mais do que nunca, eu queria ter o que Angela e Ben tinham.

 

Acho que foi isso que me cativou; aquela faísca. Aquele olhar de cumplicidade, respeito e admiração entre eles. Eu começava a gostar deles, e bastante.

 

Uma súbita pressão no coração me pegou desprevenida. Respirei fundo, mas quando o ar deixou meus pulmões, senti um aperto no peito que subiu até a garganta, meus olhos arderam por um segundo e eu pude sentir a umidade das lágrimas emergindo. Mas me contive e empurrei aquele soluço para baixo. Foi difícil e doloroso, mas eu não podia começar a chorar ali, na frente daqueles dois velhinhos lindos e bondosos, sem nenhum motivo aparente. E eu também não podia explicar minha situação. Ben e Angela me comoveram, me emocionaram, mas eu tinha acabado de conhecê-los e não podia confiar neles. Não ainda. Mas será que um dia poderia? Será que algum dia eu poderia confiar em alguém? O bastante para contar minha história? Mesmo que fosse Theodore Leaf? Será que eu seria capaz de arrastar mais uma pessoa para esse inferno que era minha vida? Qual direito eu tinha de condenar alguém assim? Nenhum. Eu não posso. Eu não consigo, não tenho esse direito. Não Ben. Não Angela. E nem mesmo Theodore. Mas então, o que eu faria? Sozinha, eu não tenho chances. Eu não vou conseguir sozinha.

 

A comida finalmente chegou, interrompendo o debate interno que ameaçava levar embora o restinho de coragem que ainda me mantinha sã e, imediatamente foi substituída pela fome. Suculentos pedaços de carne brilharam no molho grosso e borbulhante que transbordava da torta, apimentados e aromatizados com tomilho. Eu estava faminta. Ataquei o prato, devorando a carne com avidez e pressa. Ivone logo voltou com um copo de refrigerante e mais alguns bolinhos que eu não pude identificar, mas que eram igualmente deliciosos. Fiquei tão entretida com a comida que levei um tempo até perceber que estava novamente sendo observada. Angela sorria olhando fixamente para mim. Seus olhos eram verdes, de um tom profundo, da cor do musgo, salpicados com leves tons de cobre e bronze.

 

_ Oh, me desculpe. Eu... eu... você deve estar pensando que fui criada por lobos ou algo assim, não é?

 

_ Evangelina... – Angela meneou a cabeça ainda com um largo sorriso em seu rosto e encheu meu copo com mais refrigerante – Não se preocupe com isso. Coma o quanto quiser. Quer que eu peça mais alguma coisa?

 

_ Não. Estou satisfeita. Mais do que satisfeita. Obr...

 

Um ônibus estacionou bem em frente à janela que estávamos sentados, soltando estalos e rugidos quando o motor desligou.

 

_ Ah, Meu Deus!!! – eu gritei – Meu ônibus! - e levantei arrastando a mesa para trás e saí correndo.

 

Já havia percorrido metade do caminho quando vi meu ônibus passar na minha frente. Forcei minhas pernas e corri o mais rápido que pude e consegui alcançar a traseira, mas o motorista sequer olhou para mim. Ainda com esperanças, eu corri até metade do ônibus e bati na lataria, o motorista me lançou um olhar indiferente e depois balançou a cabeça, então eu percebi que ele não ia parar.

 

Quem parou fui eu; surpresa, desolada e ofegante, enquanto meu ônibus sumia no horizonte da rodovia.

 

_ Não! Não! Não! – eu gritava e chorava – Por que é que eu tenho que ser tão desligada? Burra! Burra! – eu dizia batendo as mãos contra a cabeça com toda minha força.

 

Os soluços já estavam quase me afogando quando Angela e Ben me alcançaram.

 

_ Evangelina! – Angela tentava me acalmar, mas eu me desvencilhava com facilidade empurrando e evitando seus braços – Por favor? Evangelina?

 

Eu desisti e deixei o desespero me arrastar até o chão. O medo, a solidão silenciosa e a derrota me quebraram e eu desabei em lágrimas enquanto gritava “E agora? Como vou chegar até Seattle? E agora o que eu vou fazer?”.

 

Uma mão gentil acariciava meu ombro direito com leves tapinhas de consolo.

 

_ Shh... shh, filha. Está tudo bem.

 

Eu sabia que não era tia Maggie, não era a voz de tia Maggie, mas eram as palavras de tia Maggie. Era assim que ela me consolava quando tudo mais parecia perdido e escuro.

 

_ Tia Maggie? – eu gaguejei entre soluços e espiei ainda abraçando meus joelhos.

 

Mas foi o rosto gentil de Angela que eu vi e, então percebi o colapso que eu acabara ter, era incrível que eles ainda estavam ali parados ao meu lado depois do show histérico que eu acabara de dar. Eu me senti envergonhada e tudo que eu queria era sumir dali, mas Angela e Ben tinham sido tão bondosos e gentis comigo e eu não podia fazer isso com eles. Eu não podia fugir, sem ao menos, me desculpar.

 

_ Angela... Ben... – eu comecei ainda sem saber o que falar – Eu... eu... me desculpem! – lágrimas voltaram a se acumular nos meus olhos, mas eu não tinha mais forças para lutar. Então, eu desabei – Oh! Me desculpem. Eu não louca, eu juro! É só que... é só que... – foi tudo que consegui dizer em um sussurro como se as palavras fossem quebrar se dissesse mais alto.

 

E ainda sentada na beira da rodovia, abraçada nos joelhos, eu consegui ver Ben através das lágrimas.

 

_ Oh, Ben! – eu levantei depressa quando notei a mancha imensa em sua camisa – Me desculpe.

 

_ Ahn, isso? - ele sorriu. De novo, aquele sorriso bondoso, assimétrico – Não é nada!

 

_ Não! Eu estraguei sua roupa. Mas vou compensar. – eu disse tirando a mochila das costas e comecei a abrir o zíper.

 

Eu só tinha sessenta dólares, mas não me importava mais. Eu daria todo o dinheiro que ainda me restava para eles, era o mínimo que eu poderia fazer depois de tudo que eles fizeram para mim. O zíper travou; eu persisti e forcei, e então eu vi meus poucos pertences caindo no chão. As cartas de tia Maggie voaram pela estrada e eu tentei correr para alcançá-las, mas como sempre, tropecei em minhas próprias pernas e levei o maior tombo arrancando suspiros de Ben e exclamações de Angela.

 

Angela correu até mim, me ajudando a levantar e apanhando as folhas que sobraram. Mas para minha surpresa, Ben estava rindo. O riso foi se transformando em uma gargalhada tão alta que já começava a me irritar.

 

_ Você está certa, Angela! Ela é igualzinha a elas!

 

A expressão em seu rosto era tão divertida que eu não pude resistir. E como numa euforia insana, ficamos os três ali, na beira da rodovia, rindo como loucos. 

 

_ Evangelina? - Angela chamou ainda se recuperando da crise de riso coletiva, e depois de trocar um rápido olhar com Ben, ela continuou – Nós gostaríamos muito que você nos deixasse ajudá-la.

 

_ Oh, Angela... – eu estava surpresa e tão grata que não sabia por onde começar – Vocês já me ajudaram demais. E eu não mereço tanto.

 

_ Estamos indo visitar nosso neto, Thomas, em Seattle... – disse Ben – E você mencionou que esse também é seu destino... então, pensamos que... Bem, Angela e eu gostaríamos que...

 

_ Venha conosco, filha! – Angela não pôde se conter – Por favor? Seria tão bom...

 

_ Oh, eu não sei... não sei se seria seguro pra vocês. Eu sou um imã para problemas, vocês não viram?

 

Angela e Ben trocaram mais um olhar confidente e então me abraçaram, um de cada lado.

 

_ Você nos trás tantas lembranças agradáveis! – Angela suspirou depois de um tempo.

 

_ Eu... eu não entendo.

 

_ Oh, Evangelina! É que você nos lembra duas pessoas muito queridas que se foram há muitos anos...

 

_ Angela... – Ben alertou – Não comece!

 

_ Mas você mesmo disse... ela é igualzinha!

 

_ É... lembra um pouco. Mas lembra daquela vez no Egito, em nossa segunda lua de mel? Você jurou ter visto Alice e aquele namorado esquisito dela, o tal de... como era mesmo o nome dele?

 

_ Jasper... e eram eles! Eu tenho certeza!

 

_ Sim, sim, querida! – Ben ironizava enquanto caminhava até o carro.

 

_ Eram sim! Já disse que tenho certeza! – Angela o seguiu, gesticulando e gritando.

 

_ Ora, Angela! – Ben suspirou quando já estávamos dentro do carro - Aqueles dois tinham o que? Dezoito? Vinte anos? Os Cullen partiram há quase sessenta anos! E não se esqueça que você estava sem seus óculos naquele dia...

 

_ Humm... é... tudo bem. Eu posso ter me enganado naquele dia. – Angela murmurou baixinho, não querendo admitir sua derrota – Mas Evangelina é muito parecida com elas. Isso você não pode negar!

 

_ É... bem... - Ben observou me analisando pensativo pelo retrovisor – o mesmo jeito engraçado. Os mesmos “dois pés esquerdos”! – e foi tomado por outra gargalhada.

 

E assim, na companhia de Angela e Ben, ouvindo suas adoráveis “discussões” pelo caminho, eu finalmente cheguei a Seattle.

 

 

 

 

 

Haviam se passado cinco dias desde minha fuga e, Jean já teria descoberto tudo e certamente estaria a minha procura neste exato momento. Eu não tinha tempo para perder e precisa encontrar Theodore o mais rápido possível. Então, quando Angela revelou que seu neto era gerente da principal agência dos correios de Seattle, vi em Thomas, minha única chance.

 

Para minha surpresa, Thomas era ainda mais adorável que seus avós. Ele aparentava ter uns vinte e cinco anos. Não era muito alto, mas era bonito e gentil. Ele e sua jovem esposa Helen, que estava grávida, me recepcionaram como se eu fosse parte da família. Eu me senti mal por ter de pedir ainda mais um favor a eles, mas eu também sabia que quanto mais tempo eu passasse com Angela, Ben, Thomas e Helen, mais riscos eles correriam. Então, incentivada por esse pensamento eu pedi que Thomas procurasse alguma pista do paradeiro dos Leaf. E ainda que, agindo contra seus princípios, ele concordou e no mesmo dia conseguiu a valiosa informação que eu tanto precisava.

 

Nos arquivos dos correios, Thomas descobriu que há sessenta e dois anos atrás, o proprietário da caixa postal T.L. 15122 havia solicitado o envio de suas correspondências para uma pequena cidade chamada Forks. E desde então, nunca mais retornou para procurar as outras cartas que chegaram. A conta T.L. 15122 foi desativada há quarenta e cinco anos por inatividade, mas continua a receber cartas até hoje e ninguém nunca reclamou sua posse. As cartas de tia Maggie, eu me lembrei.

 

_ Mas o que você vai fazer em Forks, afinal? – Helen que até então permanecia calada, finalmente se pronunciou - Esse seu amigo não deve mais viver por lá, Evangelina! Se é que ele ainda está vivo...

 

_ Eu sei Helen... eu sei. Mas eu preciso tentar. Thomas? Você pode me dizer como faço para chegar até Forks?

 

_ Bem, eu andei pesquisando... Forks é uma cidadezinha bem pequena com pouco mais de três mil habitantes. Fica a oeste daqui, uns 300 km de distância no máximo.

 

_ Humm...

 

_ Oh, isso é loucura! – Helen protestou – Você não vai conseguir chegar lá sozinha. Espere ao menos até o amanhecer. Ouça, - ela me abraçou – amanhã ainda é domingo, espere até amanhã e nós te levaremos até Forks.

 

_ E vovó e vovô não suportariam acordar e descobrir que você partiu sem ao menos se despedir... – Thomas chantageou. 

 

_ Isso não é justo e você sabe, Thomas! Mas acho que vocês estão certos. Eu vou ficar. – eu disse deixando um beijo no rosto de Helen e sorrindo para Thomas – Obrigada... - E assim, finalizei aquela conversa.

 

 

 

 

 

Eu sabia que não era certo e nem justo, mas eu não podia mais abusar da hospitalidade daquela família. Então, durante a noite, quando tive certeza que todos já dormiam, eu parti em busca de meu destino. Sozinha e quase sem dinheiro, eu deixei a casa dos Cheney e rumei para a rodovia. Nem mesmo o medo e a solidão me impedirão de chegar até Forks. A esperança me guiava firme agora, pois eu sabia que ainda existem pessoas boas e generosas nesse mundo. Pessoas como Angela, Ben, Thomas e Helen que me ajudaram com tanta boa vontade e sem pedir nada em troca. Eu prometi a mim mesma que guardaria seus rostos para sempre em minha memória e suas gentis almas estariam eternamente em meu coração. 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Swan Sisters Saga" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.