Agridoce escrita por Andhromeda


Capítulo 2
Ele sabe!


Notas iniciais do capítulo

Adorei os comentários e estou muito feliz por ter leitores – umas parte obscura da minha mente pensou que isso não fosse acontecer =^.^=
Coisas que você precisa saber sobre a fic: Ela é mal estruturada, sem muitos detalhes e se você não assistiu a serie, ira ficar totalmente perdido.
Antes de começar a ler, quero que tenha em mente que a Beth esta grávida e que variação de humor é uma coisa super normal – ah, o milagre da vida!
Espero que goste!



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“I’m so sleepy yeah

I'm so sleepy yeah

I could lay my head on a piece of lead

and imagine it was a springy bed

'cause I'm sleepy, sleepy ”

Cat Stevens

Beth suspirou de alivio e colocou o pequeno corpo de Judith lentamente no berço improvisado. A bebê se remexeu um pouco – o que fez com que a adolescente prendesse a respiração – mas logo aconchegou-se.

Era de madrugada. Judy tinha acordado exigente, porém, depois de meia mamadeira e muitas canções de ninar, a loira enfim pode observar os resultados de seus esforços.

A pequena era tão frágil e angelical – Beth pensou – segurava entre os dedinhos um ursinho de pelúcia que Daryl tinha trago para ela de uma das suas buscas por suprimentos.

A lembrança daquele dia veio a sua cabeça e a fez sorrir. Ele parecia tão sem jeito e fofo, parado a porta da cela dela, com o ursinho e a roupa ainda suja de sangue de errante. O caçador demorou quase 2 minutos para falar alguma coisa e quando disse tinha corado como uma colegial.

– Tenho uma coisa pra ela – e estendeu o brinquedo.

A loira sentira uma enorme vontade de abraçá-lo e agradecê-lo por sua gentileza, mas alguma coisa lhe dizia que o caipira não reagiria bem a nenhuma das duas ações – não tinha uma explicação pra essa repentina certeza, só sabia.

Seu estomago roncou ruidosamente e a trouxe de volta a realidade.

Fazia 3 dias que as coisas tinham melhorado – apesar das perdas. E por mais que tivessem conseguido o soro e os remédios, a tensão ainda reinava no ar. A mesma tensão que pesava sobre o ombro de cada um na prisão quando a ameaça de ataque do Governador pairava sobre eles – como se todos só esperassem que o pior acontecesse.

No entanto, uma parte da garota agradecia por isso – ficava mais fácil esconder os sintomas da gravidez.

Nos primeiros dias ela estava confinada na área administrativa e as únicas testemunhas do seu mal estar eram as crianças, depois que voltou para a sua cela, tinha usado a desculpa de que Judy estava muito irritadiça e havia conseguido se manter longe dos cafés da manhã – e com os recentes acontecimentos, seu pai tinha mais que apoiado a sua decisão, alegando que não faria mal que a bebê reduzisse a exposição aos recém-recuperados da gripe.

As tonturas eram raras e a barriga inexistente, seu único problema eram os malditos enjôos matinas, mas tinha ficado muito boa em se esquivar da preocupação da irmã e pai, os outros estavam muito envolvidos com seus próprios dramas para perceber a sua recente mudança de rotina.

Só que o resultado de vomitar tudo que comia durante a manhã era uma fome monstruosa durante a noite – precisamente de madrugada.

Pé ante pé, Beth saiu da cela e desceu pelas escadas da prisão. Todos estavam dormindo e o silencio dominava o lugar, a única luz que tinha vinha das janelas gradeadas que tomavam a parede que ficava de frente para as celas.

O caminho era quase sombrio e talvez em outros tempos – antes dos mortos se levantarem – a garota teria medo de percorrer por ele sozinha, mas não hoje.

Ao chegar ao grande refeitório – que também só era iluminado pelas janelas – a adolescente foi logo ate os fundos, onde ficavam os suprimentos. Remexeu entrem as sacolas e caixas cuidadosamente organizadas, soltou um suspiro de satisfação quando encontrou o que procurava e voltou para as mesas compridas da área comum.

Curiosamente nos últimos dias a Greene havia desenvolvido uma verdadeira obsessão por Pêssegos – aparentemente era a única coisa que comia sem que tivesse que correr para o banheiro instantaneamente.

– Como senti a sua falta – disse para a lata amarela, enquanto usava o abridor de latas com ansiedade.

O cheiro doce a atingiu e ela sentiu a sua boca salivar.

Dispensando talheres – ou qualquer educação que seus pais tinham lhe dado – sentou o mais confortavelmente possível no grande banco e enfiou a mão avidamente no pote – tomando cuidado com as bordas irregulares.

– Tão bom... – gemeu com os olhos fechados.

Não conseguia imaginar nada melhor que aquilo, o gosto agridoce da fruta e o suco meio oleoso que só fazia aumentar a sua vontade.

– Deve ser mesmo – concordou uma voz rouca.

E mesmo não o vendo, a loira poderia sentir o seu sorriso.

Daryl suspirou, abriu os olhos e o encarou como uma criança que tinha sido pega com a mão no pote de biscoita.

Ele estava parado na frente da mesa, seu cabelo à mesma bagunça de sempre, não era um cara realmente grande – ponderou – mas com certeza tinha presença.

O caipira colocou sua inseparável besta em cima da mesa e a analisou.

– Achei que todos estivessem dormindo – Beth podia sentir seu rosto esquentando com a vergonha.

– Quase isso – deu de ombros – estou de guarda.

Droga. Na noite anterior as coisas tinham sido tão tranqüilas, que havia relaxado e esquecido completamente dos turnos de guarda noturna.

– Esqueci – rezou para ele não ter percebido o desanimo e fatalismo em seu tom, mas percebeu que não teve tanta sorte.

– Não quero atrapalhar.

– Ah... não atrapalha – disse rapidamente, tentando sumir com aquele ar carrancudo que tomou as feições do caçador – gostaria de compartilhar – apontou para a lata com um gesto de cabeça.

Por mais que estivessem juntos – por assim dizer – há quase 2 anos, eles nunca foram próximos. Quando o conheceu, Beth tinha mantido o máximo de distancia – de inicio por pedido do pai, depois por receio do seu jeito extremamente introvertido e às vezes ate rude. No entanto, nos meses que se seguiram a perda da fazenda, as coisas tinham mudado para a garota. Toda cautela e receio para com o caçador haviam lentamente se transformado em admiração – enquanto observava seus esforços para manter o grupo – e respeito, quando percebeu que ele era bem mais do que aparentava.

Mesmo assim, nunca tinham mantido uma conversa com mais de 10 palavras – não sem a participação de outra pessoa – ou poderiam ser considerados amigos. Porém, Daryl tinha se tornado uma presença tão constante que não conseguia imaginar como seria a sua vida sem ele.

Não tinha ilusões românticas – não mais – mas gostava dele da mesma forma que Rick, ou Glenn. O caipira fazia parte da sua família e sabia que com ele estaria sempre segura.

Ele hesitou por um instante, logo deu de ombros – em um gesto tipicamente Daryl – e contornou a mesa para sentar-se ao seu lado.

– Vou ficar devendo os talheres – disse Beth de forma suave e brincalhona.

– Como nos velhos tempos – disse o caçador, referindo-se à época antes da prisão, onde talheres, camas e água corrente, eram artigos de luxo.

– É – a garota sorriu da mesma forma aliviada e nostálgica, que um veterano de Guerra que relembrava seus tempos de serviço.

Ambos ficaram em um silencio confortável enquanto compartilhavam a lata de pêssegos.

Talvez pudesse dar certo – ponderou enquanto enfiava mais um pedaço da fruta da boca, com deleite – tinha pessoas capazes ali, era verdade que já haviam passado por muitas aprovações, mas sobreviveram a todas elas. Seu pai a apoiaria incondicionalmente – e depois de alguns gritos, Maggie também – os outros fariam o que estavam fazendo com Judy e no fim, o seu bebê teria um lar seguro.

Meu bebê. Algo quente e reconfortante tomou seu coração e espantou um pouco daquele medo frio que a estava assombrando por dias.

Daryl meteu um pêssego na boca e um filete de suco desceu por seu queixo. Sem perceber sua ação, a Greene segurou seu rosto e o limpo com a manga esgarçada do seu casaco.

O caçador a encarou com um brilho estranho em seus olhos azuis – mas foi muito rápido – logo depois enrubesceu e desviou o olhar.

Beth apenas sorriu – encantada – adorava quando o via corar, ou quando ficava com aquele olhar de menino perdido e inquieto. Sempre a fazia se perguntar que tipo de criança Daryl Dixon devia ter sido.

Céus, nem fiz 3 semanas e já estou cheia de pensamentos maternais. Gemeu com tristeza.

O som chamou a atenção do caipira que se voltou para ela com preocupação e curiosidade.

– Você esta bem?

– Sim... só estou preocupada com Judy, acho que ela esta colocando dente – era uma péssima mentirosa, mas estava feliz de se tratar de Daryl ao seu lado e não Maggie, pois sua irmã tinha métodos de interrogatório tão infalível quanto a Inquisição.

– Por isso não tenho te visto por aqui?

– É.

Quanto menos disser, menor é a chance de ser pega e se tudo ficar ruim, desvie a atenção da sua mentira. Seu irmão Shawn tinha lhe dito uma vez.

Nunca foi tão grata a sua infinita sabedoria de irmão mais velho como naquele momento.

– Por que veio aqui – perguntou nervosa – quero dizer, achei que a ronda era feito da Torre de Vigia.

– Eu estava dando uma volta, quando te vi.

– Ah... – deu um aceno em concordância quando Daryl não disse mais nada.

Uma coisa que tinha aprendido sobre o homem nesse tempo todo de convivência é que ele realmente não era um sujeito de grandes diálogos e que tinha o seu próprio tempo para tudo.

– Também te vi zanzando pelo refeitório ontem.

– Insônia – disse a garota, rápido demais.

Ele a encarou com aqueles olhos penetrantes que pareciam poder ver a sua alma, Beth estremeceu e sentiu o pânico acelerar seus batimentos cardíacos.

Ele sabe. O medo sussurrou em seu ouvido.

– Pensei que você não gostasse de pêssego.

Beth arregalou os olhos, o fato dele saber algo tão trivial a seu respeito não a assustou – afinal, sempre soube que ele era do tipo observador – mas o tom de suspeita em que as palavras foram ditas, sim.

Não seja paranóica. Repreendeu-se.

Não existia a menor possibilidade de Daryl Dixon descobrir – ou ate mesmo desconfiar – da sua gravidez não planejada.

– Não gosto – murmurou, ele apenas arqueou uma sobrancelha interrogativamente – mas aparentemente, é a única coisa que não me dá enjoou.

Assim que as palavras deixaram seus lábios a Greene quis se chutar.

Burra, porque não cola a droga de um cartaz na testa escrito “estou grávida”?

– Esta doente? – parou de comer e endireitou a postura.

E lá estava o olhar de caçador – a adolescente pensou – atento como o de um falcão, observando cada detalhe, cada mudança...

Cada mentira.

– Não, só comi algo que não me fez bem e estou meio sensível, nada demais – disse as palavras em uma torrente desesperada, mesmo não o encarando, poderia imaginar a descrença naquele rosto tão familiar.

– Não esta me contando tudo, menina.

– Estou bem, já disse – e levantou-se indignada, ou pelo menos tentou.

Céus. Suas mãos estavam tremendo.

– Ei, calma – ele levantou a mão em sinal de paz, como se tentasse tranqüilizar um animal arisco – não precisa dar chilique.

– E você não precisa ser um idiota – devolveu com raiva.

– Cuidado como fala, menina.

– Eu tenho – vociferou, na defensiva.

Nem sempre. Cantarolou uma voz zombeteira na sua cabeça.

E Beth sentou novamente – derrotada – como uma bola de festa que perdia o ar. Abaixou a cabeça ate que sua testa descansasse na mesa fria e fechou os olhos com força para impedir-se de cair em lagrimas.

Ela só queria se esconder em um quarto escuro e chorar. Estava tão malditamente cansada de fingir para todos que estava bem, quando na verdade estava sucumbindo ao desespero a cada minuto do dia. A recém segurança, rapidamente esquecida diante da possibilidade de alguém descobrir o seu segredo.

Não importa com que perspectiva olhasse, no fim estaria ferrada.

– Você esta bem? – a voz de Daryl a trouxe de volta.

Não a tocou, no entanto, o tom preocupado – e quem diria – gentil, a fez amaldiçoar por sua grosseira.

Nos últimos dias parecia que todas as suas emoções estavam muito a flor da pele, poderia ficar furiosa por qualquer motivo bobo e no minuto seguinte, cair em lagrimas – com direito a soluços incoerentes e exaustão.

Fez uma força monumental para controla-se e levantou a cabeça.

– Desculpa, acho que só to cansada – deu a sombra de um sorriso – vou dormir.

– Beth... – ele tentou continuar, mas nenhuma só palavra saiu.

Obrigado pela companhia, Daryl – ela fez menção de pegar a lata de pêssego, porém, o caçador a parou com um gesto de cabeça.

– Deixa que eu arrumo isso – suspirou – vai tirar o seu tempo.

Tantas coisas passavam por seus olhos quando encarou os dela. Mas Beth não queria ver, não queria sentir-se obrigada a dar explicações, ou ate mesmo diminuir as suas preocupações. Tinha feito isso durante a sua vida toda e naquele momento só estava... exausta.

– Boa noite, Sr. Dixon.

– Só se cuide, menina – as palavras foram ditas como uma ordem, não um pedido.

É o que estou tentando fazer. Pensou quando estava voltando para a sua cela.


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Notas finais do capítulo

"Eu estou tão sonolento, sim
Eu estou tão sonolento, sim
Eu poderia colocar minha cabeça em um pedaço de chumbo
e imaginar que era uma cama elástica
Porque eu estou com sono, sonolento..."

Link: http://www.vagalume.com.br/cat-stevens/im-so-sleepy-traducao.html

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Ate!



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