A Cor Púrpura De Teus Cabelos escrita por Letícia


Capítulo 92
Epílogo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/600759/chapter/92

NARRAÇÃO DE LOLA
    O ano conturbado havia passado. Após receber a carta escrita por Miranda, confesso que tentei ligar para ela mas não obtive retorno. Ela realmente havia me deixado.
  O final daquele ano foi horrível para mim. Ter que suportar aquela euforia de final do ano me deixava enojada. Como ficaria feliz e pensar no futuro quando me encontrava em pleno caos? No último dia do ano meu pai juntou o útil ao agradável, e cedeu aos gostos de Michele e resolveu fazer uma cerimônia matrimonial com poucas pessoas presentes. Michele ficou linda vestida de noiva com uma barriga de gravidez e satisfeita por realizar o seu grande sonho.

Meu pai estava feliz e realizado, mas ao me ver triste, sempre me tentava me consolar com um abraço. Antes de subir ao altar, eu disse que o amava e desejava o melhor para ele. Ele, por sua vez, me desejou que fosse feliz e me consolou dizendo que eu era muito nova para sofrer por amor. Mas havia idade para isso? Creio que não, mas não o questionei. Concordei com ele, pois não tinha mais forças para nada.
  A cerimônia foi simples mas muito bonita. Chorei quando na hora da troca de alianças me lembrar de que não poderia fazer o mesmo com a mulher que eu amava.
  Como nem tudo era flores, me deparei com Dona Marta e sua família de pessoas inconvenientes. Ao me ver de longe, a mulher cochichou com o marido. Sabia que estavam falando de mim, mas não me importei. Estava tão infeliz que não tinha energia suficiente para brigar com ninguém.
  Após a cerimônia, teve uma festa particular e na contagem regressiva eu me isolei e chorei enquanto os fogos de artifício faziam estrondo. Escutava umas músicas tristes quando, de repente, recebi uma mensagem de "feliz ano novo" de Erick. Ele estava comemorando com a família formidável que tinha. Se eu pudesse escolher, queria fazer parte da família dele mas, infelizmente, não era assim que a vida funcionava.
A festa acabou e com ela  ano novo chegou, deixando todos os acontecimentos para trás. Fiz uma promessa para mim mesma que tentaria reconstruir minha vida. Me levantaria em meio as cinzas como uma fênix. Por mais doloroso que fosse, eu seguiria em frente.
  No meio do mês de janeiro, me inscrevi no sisu e usei minha nota do ENEM para conseguir um curso de graduação. Como o previsto, meu pai me incentivou a colocar o curso de direito em minha inscrição, mas para o seu desagrado eu coloquei como segunda opção. A primeira opção foi letras. Meu pai não gostou nada daquilo e Michele, com seu discurso de "faça aquilo que gosta e não trabalhará com desgosto na vida" me ajudou a calar as intenções de meu pai. Afinal, era a minha vida e minhas escolhas. Apesar de ter pontos suficientes para cursar direito, eu escolhi letras por ter descoberto meu amor pela língua portuguesa e literatura. Assim como Miranda, eu queria mudar a vida de muitas pessoas, pois sem professores não há outras profissões. Quando contei para Erick a minha escolha, ele também se surpreendeu. Depois de semanas, Erick havia conseguido sua tão sonhada vaga em engenharia numa universidade federal de nossa cidade e eu consegui a vaga em meu curso desejado, mas para a surpresa de todos, era em outro estado.
   Para deixar tudo para trás era preciso recomeçar do zero e então eu resolvi que morar em outro estado seria o melhor para mim, além de deixar tudo para trás eu não conseguia me encaixar na nova família que se formava ao meu redor. Também não queria olhar para os lados e lembrar de Miranda. Meus ouvidos foram obrigados a ouvir o poder da falácia do "doutor" Lúcio. Parecia que eu era o réu em julgamento e ele era o advogado, mas desta vez quem daria o verdadeiro veredicto seria eu.
   Então, após ele ter dado o braço a torcer e aceitado a pagar uma república em Minas Gerais perto da faculdade federal que eu iria ingressar, estava eu arrumando minha mala. Levei todas as minhas roupas e alguns pertences pessoais e especiais. A última mala estava cheia quando mirei  a carta de Miranda em meio a bagunça. Eu a estava relendo e prestes a chorar quando Michele apareceu em meu quarto com sua barriga preeminente.
  - Você a amava mesmo, não é?
  Demorei alguns segundos a mais para desviar os olhos do papel e erguer a cabeça em direção à ela.
  - Eu ainda a amo.
  Percebi Michele deglutindo minhas palavras com dificuldade.
  - Sei que não deve ter sido fácil para você, Lola. Mas saiba que que sempre estarei pensando em você.
– Obrigada, Michele. Também gosto muito de você e jamais vou te esquecer e lembre-se que voltarei nas férias e em datas comemorativas. E quero conhecer logo meu irmãozinho.

  Michele sorriu e alisou a própria barriga com a mão.
  -   Você sabe que seu pai te ama muito, não é?
  - Sim.
– E que acima de tudo ele sempre vai apoiar suas escolhas, apesar de não concordar com todas elas.
    Eu sorri e ela se aproximou de mim e levou as duas mãos ao meu rosto.
– Te amamos muito e queremos te ver feliz. Você se transformou em uma bela mulher. Tão linda por dentro quanto por fora. Agora que cresceu, apenas siga o caminho do bem e vá em busca de sua felicidade, Lola. Sempre saiba que estaremos aqui de braços abertos à sua espera dispostos a lhe receber e amar.
   Chorei com suas palavras e a beijei na bochecha. Não consegui a abraçar direito por causa do volume da barriga.
– Obrigada por tudo, Michele. E mais uma vez lhe digo que será uma excelente mãe.
  Me abaixei e beijei meu irmão dentro da barriga dela. Senti o beijo quente e com gloss labial na minha testa. Ri ao perceber que apesar da mudança , a Michele vaidosa ainda habitava aquele corpo.
  - Está pronta, minha filha?
   Meu pai adentrou o quarto e levou a última mala com ele enquanto Michele seguia seus passos.
  Olhei meu quarto pela última vez antes de partir para uma nova jornada.

***

5 ANOS DEPOIS

   O vento soprava forte nas árvores do lado de fora do colégio. Seus galhos batiam no vidro de uma janela que estava aberta. Um aluno se propôs a fechá-la, pois a ventania atrapalhava a aula da professora.

  - A proposta do poema é vocês se expressarem perante às coisas que vivenciam diariamente. Seus medos, alegrias, dúvidas... quero que coloquem o que pensam na folha do papel, mas não assinem seus nomes. Após recolher todos os poemas, irei entregar um para cada aluno. A tarefa será descobrir quem é o suposto autor de cada obra. Estão prontos?
  O burburinho e alvoroço positivo dos alunos sobre o trabalho, foram interrompidos pela chegada da diretora. Ela vestia um conjunto verde musgo e nos olhos usava um óculos com armação de tartaruga. Seu cabelo estava preso em um coque bem feito.
  - Professora Dolores, pode comparecer à direção, por favor?

A senhora de meia idade perguntou com um sorriso no rosto.
  - É claro, senhora diretora. Apenas aguarde um segundo.

Dolores, antes de partir, virou-se para seus alunos e pediu para que começassem a atividade.
– E lembrem-se: usem suas almas para a construção dos poemas!
  Então, ela os deixou na sala de aula e seguiu a diretora Lúcia até a sala da direção. A mulher abriu a porta, mas antes de entrar, a professora resolveu questioná-la.
– Há algo de errado?
  Lúcia ajeitou o óculos e exibiu seu sorriso mais sincero.
– Não. É claro que não. Você sabe que és uma de minhas professoras preferidas - Dolores respirou aliviada- Quero lhe apresentar a nova professora desta instituição.
Assim que assentiu, as duas entraram na sala. Uma mulher estava sentada na cadeira, mas virada de costas. A diretora pigarreou e anunciou a chegada da professora.
– Esta é a professora Dolores Fernández, que como você também leciona língua portuguesa.
   Não precisava dizer o nome, pois quando a nova professora do colégio se virou e levantou da cadeira para cumprimentá-la, seu coração disparou rápido ao vê-lá
Seus olhos verdes ficaram marejados ao reencontrar Dolores, que apesar de não ter mais cabelos cor de púrpura, ainda assim tinha o mesmo ar de menina de quando se conheceram. No lugar dos longos e chamativos cabelos, uma Lola de fios pretos e um corte de cabelo na altura dos ombros tomava o lugar da antiga menina adolescente. Suas vestes eram simples; uma calça preta e blusa social branca e usava sapatos fechados, porém o sorriso e olhar eram os mesmos e faziam o coração da professora nova bater mais rápido.
***

  3 ANOS DEPOIS

O cheiro de café e bolo de fubá recém saído do forno, exalava pelo ar enquanto o crepúsculo daquele dia anunciava a chegada de mais uma noite.
Sentada na varanda de casa, Miranda jogava uma pequena bola laranja feita de borracha para o cão cor de caramelo pegar. Ao fundo, podia-se ouvir um gritinho agudo de felicidade oriundo de uma criança que ainda estava aprendendo a andar. Suas perninhas roliças e curtas corriam em direção a mãe que observava a paisagem enquanto admirava a natureza à sua volta.
– Você não me pega, mamãe! - gritou o pequeno Bernardo de apenas dois anos de idade.
– Te peguei e vou lhe encher de beijinhos! - Miranda pegou seu filho no colo e o acalentou com seus beijos na barriga e na bochecha do menino e o abraçou em seguida.
– Alguém aí está com fome?
Lola perguntou enquanto trazia em mãos uma bandeja com bolo de fubá, suco natural e café para elas. Colocou sob a mesa e em seguida se sentou ao lado de sua esposa e a entregou uma caneca de café bem quente.
– Obrigada, amor - ela agradeceu- Estava aqui pensativa enquanto observava a natureza e nosso filho brincar.
– Estava pensando sobre oque?  - Lola perguntou enquanto bebericava seu café.
– Em como a vida é engraçada e nos prega peças. Fazemos planos a todo o momento mas nunca temos certeza de nada.
  - Isto é ruim?
– Não quando o que se obtém no final é bem melhor do que se esperava.
Com isto, elas ficaram de braços dados observando o sol se ir embora atrás das montanhas. Lola com a cabeça apoiada no ombro da amada observava seu filho correr atrás do cachorro.
  A vida, como haviam dito, às vezes nos surpreende da melhor forma, apesar de acharmos que tudo está perdido no momento, no final enxergamos a luz no fim do túnel.
  Apesar de nada conspirar à favor e empecilhos aparecerem  seus caminhos, o destino havia traçado o desfecho daquela história pois não nada mais poderoso no mundo que a força do amor. Mas aquilo não era o fim e sim apenas o início de uma nova história.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Cor Púrpura De Teus Cabelos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.