A Cor Púrpura De Teus Cabelos escrita por Letícia


Capítulo 69
Alianças




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Logo pela manhã, Miranda acordou primeiro que Dolores e colocou a mesa de café da manhã enquanto a menina dormia. Como ela não acordava, Miranda resolveu chamá-la.
— Bom dia! Acorde! Pois já está na hora de ir pro colégio.
— Me deixe dormir só mais um minuto, pai...
 Miranda riu pelo fato do desentendimento de Lola com relação a lugar pois ela pensava que estava dormindo em seu quarto e que era seu pai que estava acordando-a.
— Pai? Não sou Lúcio mas preparei uma mesa com café da manhã com direito a um bolo recém saído do forno.
 Lola esfregou com o dorso da mão os olhos e depois os abriu e percebendo onde estava sorriu e bocejou enquanto levava a mão à boca.
— Alguém disse... bolo? – disse entusiasmada.
 As duas riram e Miranda se retirou do quarto, dando tempo e espaço para que a menina se arrumasse.

******

— Olha quem finalmente apareceu...
— Demorei muito? – sorriu Lola, vestindo uma calça jeans desbotada e rasgada e uma blusa branca justa ao corpo e por cima vestia um casaco xadrez nas cores azul escuro e verde água e estava aberto deixando com que a blusa em gola ‘’V’’ aparecesse.
—  Dá tempo de se deliciar com meu bolo e tomar café.
 As duas sentaram à mesa. Um vestido azul marinho com detalhes em branco na parte lateral da peça, perto da barriga, com um corte ‘’quadrado’’ acima dos seios, cobria o corpo de Miranda. Na boca, ela havia passado um batom rosa e na mão usava uma pulseira.
— Você está linda!
 - Obrigada! – o rosto de Miranda queimou-se e corou-se devido o elogio.
— É sério. Nunca havia te visto usando um vestido assim e amei  batom. Deveria usar mais.
— Muito obrigada, Lola. – sorriu a professora.
 Miranda não era tão vaidosa quanto Lola. O casamento havia desgastado o cuidado que ela tinha consigo mesma quando era moça. Mas naquele dia, ela havia se arrumado um pouco mais pois estava feliz como nunca antes, apesar da noite não ter sido feliz por completo.
— De nada. Apenas digo a verdade. – Lola piscou.
 As duas comeram pãezinhos com requeijão, café para Miranda e suco de laranja para Lola e ambas comeram uma fatia do delicioso bolo de fubá de Miranda. E antes que se dessem conta, já era hora de partirem para o colégio para mais um dia de aula.
  Depois de escovarem os dentes e arrumarem suas bolsas e mochilas, as duas seguiram para a porta e entraram no elevador. Chegando ao térreo, seguiram caminho ao estacionamento e entraram no carro de Miranda e em direção ao colégio. Miranda ligou o rádio e pelo caminho elas foram ouvindo música. Miranda estava escolhendo a música, passando de estação para estação enquanto o sinal estava fechado, então foi surpreendida por Lola gritando:
— Pára nessa música!
— Que susto! – riu a professora.
— Desculpa! É porque eu AMO essa cantora! Se chama Tove Lo. – disse ela animada.
— Ah sim...
 Miranda não conhecia a cantora mas deixou na música para o agrado da menina.
 Lola cantou baixinho junto com a letra e isto fez com que Miranda risse.
— Está rindo porque canto mal? – perguntou ela.
— Não! Mas acho engraçado apenas.
— Olha a letra dessa música. Se chama ‘’Like ‘em Young’’.
Miranda falava fluente  inglês pois havia se formado em Letras com especialização em inglês. Então sabia do que se tratava mas perguntou para Lola do que a música falava.
— Fala sobre como ela gosta de pessoas mais novas e que a idade não interessa  e ela não se importa com que os outros digam sobre isso.
 Miranda ouviu a letra e engoliu em seco pois era exatamente do que se tratava a relação entre ela e Lola. Afinal, a diferença de idade era, relativamente grande,Lola ainda nem havia completado seus 18 anos e Miranda já estava na casa dos 30 anos de idade. Apesar da diferença de idade o que havia entre elas era maior do que aquilo.
— Gostou da música? – disse Lola depois que acabou.
— Gostei. Bom, a voz da cantora é muito bonita.
— Sim,eu adoro ela.
 E seguiram o caminho ouvindo mais músicas escolhidas pela jovem.

********

  Quando chegaram no estacionamento do colégio, Miranda iria descer junto com Lola mas a menina se precaveu e propôs para que ela descesse primeiro do carro. Miranda consentiu mas antes de tirar o cinto de segurança e abrir a porta para ir embora, Lola foi surpreendida com a mão de Miranda a puxando-a para perto. A menina piscou os olhos sem saber o que iria vir por diante. Miranda a beijou e Lola recebeu seu beijo doce em seus lábios contente. Então, após o breve beijo, as duas se despediram e Lola desceu do carro. Acenou para Miranda e entrou na escola. Miranda fez hora dentro do carro para então, finalmente, entrar no colégio.

*********

 Do lado de fora, olhando-a com cuidado, Erick estava espionando a amiga como sempre fazia. Ele havia visto que Lola saíra do carro de Miranda, como da última vez, mas não viu o beijo que elas deram dentro do carro. Mantendo distância, ela seguiu a amiga até a entrada do colégio. Os dois entraram e Erick a observou cumprimentando a moça da limpeza, o inspetor e alguns alunos de rostos conhecidos pelo caminho. Cruzou o primeiro corredor, subiu das escadas e seguiu caminho para o segundo andar e ele permaneceu a segui-la. Quando a menina pegou a chave dentro de seu mochila para abrir seu armário cinza que haviam dentro seus pertences e livros escolares, ele se aproximou dela e a cumprimentou.
— Olá!
— Oi, Erick.
— Como vai a ‘’Senhorita-Desmarca-Encontro’’ ou melhor dizendo, a que nem mesmo liga para desmarcar.
 Lola suspirou profundamente e tirou os olhos do livro de História que estava segurando em mãos para enfim olhar nos olhos do amigo.
— Foi mal, ok? Foi vacilo meu... eu sei. – levantou um braço.
— Bom, pelo menos sabe que errou, mas posso saber o que fez para não ir na minha casa?
 Lola pensou antes de responder.
—Estava em casa, fazendo aquela lição de Álgebra. Aquela... sabe?
— Aquela lista do professor Armando?
— Exatamente!
— Mas essa lista é só daqui há uma semana. Temos tempo de sobra para fazê-la. Até poderia ter feito comigo, em minha casa. Não tinha problema nenhum.
— Eu sei ,mas é que eu prefiro adiantar logo. Não posso dar mole, né... Você sabe. Se não meu pai me mata.
— Entendo, mas me surpreendo ao te ver desmarcar algo para estudar. Isso não faz muito o seu perfil.
 Lola riu em desespero pois sabia que aquela desculpa não cairia no entendimento do garoto.
— Eu sei, eu mudei. ‘’É errando que a gente aprende’’, não isso que dizem?
— Aprendeu rápido, então... Ou será que alguém está te ajudando?
— Como assim? Que sarcasmo é esse?
— Sarcasmo? Bom, você tem algo para me dizer?
— Como assim, Erick? Vá logo no ponto do assunto. Não tenho tempo para ladainhas.
— Então, tudo bem... Como posso dizer? – Erick colocou a mão no queixo fingindo que estava pensando.
— Diga logo! – Lola colocou uma das mãos na cintura e bateu o pé no chão impaciente.
— Eu sei o porquê de você não ter ido à minha casa.
— Ah, sabe é? Então me diz... – provocou a menina.
— Você estava na casa de Miranda.
 Lola arregalou os olhos incrédula.
— Como você sa-sabe disso? – gaguejou a menina.
— Oras, eu liguei para o seu pai antes do horário do nosso encontro e ele disse que naquele dia você tinha ido ter aulas com Miranda como de costume. A questão é: onde você dormiu?
— Você por acaso ligou para a minha casa dizendo que não dormi na sua casa como havíamos marcado? – ela abriu a boca.
— Touché! Te peguei na mentira! Então você dormiu mesmo na casa dela... – disse mais para si mesmo do que para a amiga.
 - O quê? Está louco? Claro que não!
— Não adianta mais mentir, Lola. Vi quando você saiu do carro dela...
  Os ombros de Lola relaxaram e ela soltou uma respiração que estava presa em seu pulmão. Não havia mais nada que pudesse fazer pois seu amigo já sabia de tudo. Bom, quase tudo.
— Ok. Eu dormi na casa dela, mas o que isso tem demais?
— Eu que te pergunto. Porquê escondeu isso de mim, Lola?
— Ora, porquê não lhe devo satisfações. Nem a  você e nem a ninguém! – disse com raiva.
 A menina havia virado as costas e estava seguindo caminho para a sala de aula quando foi surpreendida com seu amigo dizendo:
— Tem uma pessoa que você deve satisfação sim.
 Lola virou a cabeça e levantando uma das sobrancelhas perguntou:
— Ah, é mesmo? E quem seria esta pessoa, posso saber?
— Henrique é claro...
— E o que ele tem a ver com isso? Não o interessa a nada.
— É mesmo? Tem certeza de que o beijo que vocês deram no estacionamento, nos primeiros dias de aula, não o interessa? Tem certeza disso?
  O coração de Lola bateu forte e quase soltou pela boca se possível fosse. As mãos suaram e seus olhos saltaram das órbitas por tamanho desespero. ‘’Como ele sabia disso?’’ Ela pensou. ‘’Ele tinha visto?’’ ‘’E se tivesse,  será que mais alguém também havia visto?’’ Estas perguntas e muitas outras passando pela pobre cabeça de Lola. Então ela juntou forças e perguntou:
— Como você descobriu isso?
— O importante não é como descobri e sim porquê você escondeu isso de mim por todo esse tempo?
 Dolores não sabia o que responder então ficou calada e seus lábios ficaram secos e brancos.
 - Lola, pensei que eu fosse seu amigo... Jamais pensei que iria esconder algo assim de mim. Lembra da promessa que fizemos no início do ano letivo? Que juntos iríamos aproveitar o último ano do ensino médio? – Erick se aproximou dela e com as mãos alisou seu rosto e colocou uma mecha de cabelo cor de púrpura para atrás de sua pequena e delicada orelha.
— Eu sei que fizemos tal promessa mas isto é diferente...
— Diferente porquê? Pensei que me amasse , que gostasse de mim de verdade.
 Erick levou a mão ao queixo de Lola e fechou os olhos e a menina percebeu que o que ele queria fazer era beijá-la na boca. Então, ela de supetão se afastou dele e disse aborrecida:
— Não encoste em mim! Já lhe disse que não gosto de você da mesma maneira que você gosta. Somos amigos, apenas.
 Erick a olhou com fúria nos olhos.
— Amigos? E os beijos e amassos que tivemos? Não valeu de nada?
 Lola soltou uma risada abafada e histérica.
— Aquilo foi um erro. Um grande erro. Ou melhor, foi até bom aquilo ter acontecido pois depois vi que realmente só poderia te amar como amigo, apesar de você me enxergar com outros olhos e assim tentei retomar nossa amizade mas parece que você não se contenta, não é mesmo? Insiste mesmo sabendo que não o quero como amante.
— Pensava que você realmente gostava de mim e só se esquivava por medo, mas agora vejo que não era isso. Estava completamente enganado. Você não me queria porquê na realidade está apaixonada por uma mulher.
— Se estou amando ou não isso não lhe diz respeito.
— E se alguém mais descobrir? Não estou te julgando por gostar de mulheres, apenas acho que...
— Cale-se! O que sinto por Miranda não tem nada a ver com isso. Eu não apenas a ama fisicamente mas interiormente. Ela é uma pessoa incrível e eu gosto de pessoas. É  isso, eu amo pessoas indiferente de sexo, religião ou aparências.
— E até mesmo diferença de idade?
—Até mesmo isso! Pois não existe idade para o amor.
— Você mudou muito...
— Mudei e foi para melhor...
— Depende do ponto de vista.
— Bom, do meu ponto de vista a mudança foi para melhor se você não acha ou qualquer outro pessoa, que se dane!
— Lola, você realmente acha que esse relacionamento vai dar certo? – debochou o menino.
 Lola se aproximou dele e com um sorriso debochado no rosto disse.
—  Dando certo ou não isto só convém à mim e a mais ninguém. E quero que você suma do meu caminho se você não estiver gostando. Pouco me importo com sua presença em minha vida.
— Você me diz isto depois de tantos anos juntos? Éramos mais que amigos... pensei que fóssemos irmãos.
— Irmãos não julgam os atos do outro, pelo contrário, os apoiam.
— Nem sempre, quando se está errado os irmão não apoio o outro.
— Mas quando estamos falando de amor, não há nada de errado. E o verdadeiro irmão, aquele que ama mesmo, vai entender o outro e dar apoio. Isto você não fez e jamais vai fazer. No fim das contas, percebi agora que você nunca foi esse irmão que pensava que era.
 E com essas palavras Lola o deixou perto do armário e foi embora entrando na sala de aula. Deixou- o triste e perplexo com o que havia acabado de ouvir.
 Quando ele retomou os sentidos e resolveu caminhar para a sala de aula, foi surpreendido por alguém que estava atrás do armário.
— Vai aonde, Erick?
 Erick arregalou os olhos, surpreso com a presença ilustre de Anna, a filha do diretor.
 Usando uma saia cor-de-rosa trapeada, botas brancas na altura do joelho, uma blusa branca com um lenço rosa estampado amarrado ao pescoço e seu cabelo loiro estava preso em um rabo de cavalo alto e bem preso.Na boca, mastigava um chiclete. Em uma das mãos segurava uma caneta com pompom rosa pendurado na ponto. Com um sorriso malicioso nos lábios ela perguntou para o menino para onde ele iria e ele respondeu:
— Para a sala.
— Mas já? Que cara é essa? Parece que viu assombração...
— O que você quer, Anna?
— Nada... Só iria te perguntar se estava tudo bem.
— Desde quando você se importa com o bem estar?
— Desde que vi uma veia saltar em seu pescoço agora mesmo enquanto discutia com a ....
— Então você viu a minha discussão com a Lola?
—  Na verdade eu iria dizer que ‘’vi que discutia com a insuportável,nojenta e mal educada da Dolores’’.Eu vi de longe que discutiam. O que houve?
— Não é da sua conta!  - disse grosseiramente.
— Credo! Não precisava tanto! Mas tudo bem... eu iria propor algo à você.
— Me propor o que? – os olhos do menino se encheram de curiosidade.
— Bom, eu vi como ela te tratou como um capacho. Só faltou te bater.
— E o que tem isso?
— Ué, você vai deixá-la lhe tratar desse jeito?
— O que posso fazer? Ela não quer ser mais minha amiga.
— Pois eu tenho uma ideia para fazer com que se aproximem...
— Qual ideia? E porquê você se importa com a minha amizade com ela sendo que você não a suporta?
— Por isso mesmo. Se eu não gostava dela antes, hoje em dia gosto muito menos e tenho um plano em mente.
 Antes de responder o que tramava, Anna sorriu maliciosamente e enrolou com um dedo uma mecha loira de seu rabo de cavalo enquanto se aproximava de Erick e contava o que lhe passava na cabeça no ouvido do garoto.
— Você tem certeza que isso vai funcionar?
— Mas é claro! Certeza absoluta!
— Ok. Então, quando podemos colocar nosso plano em prática?
— No próximo sábado, o que acha?
— Poder ser...
— Mas antes, você deve voltar a falar com ela.
— Sim.
 - Combinado então? – Anna estendeu a mão magricela e branca para ele apertar.
— Combinadíssimo. – Erick estendeu sua mão forte e com veias para selar o acordo com a colega do colégio.
   Mas o que eles não sabiam era que o que queriam iriam tramar, iria custar muito caro depois.


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