O rio de flores brancas (A viagem de chihiro) escrita por Spring001


Capítulo 12
As curandeiras e a passagem




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Estava se tornando um pouco desesperador esperar Harumi acordar, Chihiro olhava de um lado para o outro esperando alguém. Fosse espírito ou não. Já haviam se passado algumas horas, a chuva já havia cessado e começou a escurecer, nada aparecera e mesmo o trem passando e parando, ninguém havia saído. A garota começara a pedir aos deuses por algo, mas nada vinha ou se mostrava para ela, Harumi não fazia nem menção de acordar, e não podia julgá-la a queda fora violenta para a feiticeira, mas Chihiro sentiu na hora que deram de encontro com a água que Harumi a protegeu de algum modo do impacto, sem contar o que havia ocorrido previamente, mas agora ela estava com medo, sabia que ela não estava morta, mas também não sabia se iria sobreviver. Esperou mais algum tempo e pediu com todas as forças por uma salvação.

Estava quase perdendo a esperança quando olhou para o próprio pulso e um brilho roxo piscou em seus olhos.

“Zeniba” ela pensou, e se lembrou das palavras da feiticeira quando lhe entregara aquele prendedor.

“...Vai protegê-la menina...Use-o para prender o cabelo”

Ela não usara mais para prender o cabelo, mas nunca o tirava do braço, nem mesmo para dormir, ou para tomar banho. Estava sempre junto com ela. Ela segurou firme em seu pulso e pensando na proteção que sentiu quando estava na casa de Zeniba pediu.

— Por favor, se tem algum guardião me ouvindo, salve Harumi, por favor.

Nessa hora ela colocou o rosto nos joelhos e posicionou as mãos para pedir ajuda aos céus. Nisso ela começou a ouvir barulhos estranhos vindos da escuridão que já havia se formado na linha do trem, no sentindo que ele vinha, mas não era o som do trem. Eram como uma mistura de instrumentos musicais, a garota se levantou para olhar além dos trilhos e pode ver lá no fim uma luzinha ela balançava, próxima ao chão, de um lado para o outro sem parar. Junto com ela o som de um Biwa, junto com um Yokobue e um som diferente como se vários grãos de arroz fossem colocados em uma lata e essa fosse sacudida lentamente de um lado para o outro. Era uma melodia bem interessante e bonita, mas a situação a deixava um pouco assustadora para Chihiro.

A luz foi se aproximando devagar e ela começou a ver as formas de quem a trazia. Eram três mulheres, todas com um coque alto na cabeça, cabelos negros como a noite e a maquiagem era como uma gueixa, mas não igual. Elas se aproximavam cada vez mais, então Chihiro se levantou e arqueou o corpo para ver de onde elas vinham e tentar imaginar para onde elas iriam. Todas vestiam Yukatas e a que segurava a lanterna segurava também um leque e o tal instrumento que parecia uma lata, então cada vez que mexia a lanterna a lata fazia o som. Isso o tornava extremamente harmonioso. E para Chihiro elas tinham aparecido ali, do nada, e isso a assustou ainda mais.

Elas começaram a se aproximar da estação então Chihiro se tornou um tipo de pedra, Harumi nem parecia notar os sons, sequer se mexia ou tinha reação.

As mulheres andavam em um ritmo lento e para a surpresa de Chihiro, estavam todas de olhos fechados, elas andavam na linha do trem com toda a paciência do mundo, enquanto a garota só ficava mais nervosa com a presença delas ali, elas estavam do lado da estação agora quase em frente as meninas e quando ficaram ao lado, exatamente de Chihiro. Viraram para ela.

Os olhos da menina se esbugalharam e ela quase fez menção de gritar, quando a mulher do meio, que estava com a luz e a lata, abriu os olhos. Eram roxos, a cor deles era roxa, simples assim. Ela não era normal, assim como nada naquele mundo era, e por incrível que parecesse Chihiro, ao ver a cor dos olhos dela, se acalmou, e muito.

— Você pediu ajuda? – perguntou a mulher, ela tinha uma voz doce e suave, mas era um pouco fria, não mostrava sentimento algum e isso fez com que Chihiro concluísse que eram espíritos.

Ela abriu a boca, mas seus lábios apenas tremeram e ela não conseguiu responder com palavras, então balançou a cabeça consentindo. A mulher fechou os olhos novamente e voltou a balançar a luz, saiu de perto de Chihiro e esta acompanhou todos os seus movimentos com o olhar, ela foi em direção a Harumi, as três mulheres flutuaram até o degrau da estação, se posicionaram em volta de Harumi, sendo que as duas das laterais ficaram cada uma em um ombro da feiticeira e a do meio ficou por cima da cabeça. Elas se agacharam e arrumaram o corpo de Harumi, deixaram ela reta e com as mãos postas em cima da barriga, segurando uma esfera azul. Então começaram a tocar seus instrumentos enquanto a bolinha de luz balançava na cabeça da garota, Chihiro se ajoelhou lentamente enquanto observava o processo.

As mulheres, as três, começaram a entoar cânticos, eram estranhos, mas incrivelmente calmantes, e quando elas estavam cantando a algum tempo, a luz começou a liberar outras bolinhas brilhantes, menores que foram circundando o corpo de Harumi, até que saiu o suficiente para contornar o corpo todo dela, formando como um desenho dela. As luzes levantaram a feiticeira há poucos centímetros do chão, e nisso os espíritos que estavam nos ombros dela continuaram a cantar, mas a da cabeça abriu os olhos novamente e começou a recitar um tipo de poema, que pedia por saúde e vida, e na última palavra, Harumi caiu de encontro ao chão puxou todo o ar possível para seus pulmões e acordou exaspera e arfante.

Ela ficou um pouco tonta então Chihiro se aproximou e colocou uma mão em suas costas como apoio e a outra entregou a feiticeira, que segurou firme até conseguir sentir firmeza novamente.

— Chihiro – Ela disse com a voz baixa e tremula – o que houve?

Ela observou Chihiro algum tempo, esperando a resposta, até que viu que a menina estava olhando fixamente para de trás dela. Então, Harumi se virou e viu os três espíritos.

— Mas o que?...- Ela começou, e parou na hora que os espíritos se juntaram novamente na posição inicial.

— Guardiã Harumi – Disse o único espírito que falava – O cônsul a espera no palácio principal de Hanabatake, para melhor saber de sua ausência e busca.

— Vocês são as guardiãs de Lastipso? – Ela perguntou e as três mulheres abaixaram a cabeça confirmando.

— Viemos a chamado de sua amiga – Ela falou apontando para Chihiro, ela havia fechado os olhos alguns momentos antes – E já devemos partir.

As três então seguiram para a linha de trem e com seus instrumentos tocando a todo o momento e a luz sempre se movendo de um lado pro outro, elas desapareceram na escuridão da noite assim como vieram dela, as duas garotas ficaram olhando um bom tempo enquanto as mulheres partiam e quando viram que elas desapareceram olharam uma para a outra.

***

— O que elas eram? – perguntou Chihiro.

— Espíritos curadores – Ela respondeu com uma vez suave e lenta, incomum dela – Eles vêm quando alguém chama por ajuda e é de bom coração, e curam todas as feridas daquele que necessita, então...muito obrigada.

Sorriram uma para a outra e se levantaram devagar, a espera do trem.

— Para onde agora? – Chihiro perguntou, Harumi ficou um pouco receosa sobre ela fazer perguntas sobre o acontecimento, mas aparentemente, as deixaria para mais tarde.

Demorou quase duas horas para o trem chegar, nesse tempo elas puderam observar melhor a estação. Era em um lugar completamente deserto e o mar que havia se formado o deixava ainda mais vazio, mesmo com alguns espíritos flutuando por cima da água era notável que estava um pouco mais fundo do que geralmente ficava com a chuva e por isso elas não puderam sair da estação.

Havia apenas um banco e curiosamente uma escada que dava para o nada, literalmente, a escada era para cima e se subisse-a você chegaria um pouco mais acima e fim. Talvez para os espíritos fosse diferente, mas ninguém além deles poderia dizer.

Quando o trem chegou, Harumi entregou a passagem ao cobrador, era um espírito idêntico ao que Chihiro tinha entregado a passagem na outra vez, apenas o nome no crachá era diferente, mas ela não conseguia ler. Chihiro percebeu que a passagem era diferente da que ela usou anteriormente.

Foi quase uma hora de viagem no trem até chegarem na quinta parada, onde elas saíram. A casa de Zeniba era mais longe do que esperado, ainda bem que ela não tinha tentado procurá-la, mesmo depois de algumas paradas, nada se assemelhava ao lugar onde Zeniba vivia. Chihiro ficou pensativa se o trem tinha pego a mesma direção ou se era um caminho diferente, mas não teve tempo para descobrir.

Ela ficou um pouco perturbada com o lugar que estavam. Era uma ilha deserta com uma casa minúscula, antiga e vazia no meio. Chihiro teve que esperar Harumi andar confiante naquela direção. As duas foram para dentro da minúscula casa e para Harumi o cheiro de mofo desagradável já estava grudado na mente, já que passava constantemente por ali.

— Aonde vamos? – perguntou Chihiro que prendia a respiração.

— Calma – Respondi – Vamos chegar rápido.

Ela não questionou mais, quando andaram um pouco mais a frente havia uma porta no fundo da casa, que parecia dar em um quintal ou algo assim.

— É o portal – Chihiro disse.

— Sim, igual os da cidade – Harumi falou – Vamos.

Ela abriu a porta e saiu da frente para Chihiro entrar. A garota olhou para ela um pouco hesitante, a entrada era um abismo, tinha que pular para chegar lá e isso podia espantar um pouco, ou muito.

— Quer que pulemos juntas? – Perguntou Harumi.

Chihiro assentiu, então Harumi se posicionou ao lado dela e antes de pular Chihiro perguntou.

— Este é o mundo que você guarda?

— Sim...Pronta?

Ela assentiu novamente e juntas deram um passo à frente, indo na direção da cidade de Harumi.


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