Mia chegou em casa ontem quase vomitando arco íris. Eu tive que deduzir que ela e Alex tinham se beijado ou sei lá. Talvez ela tivesse dado outro tapa na cara dele. De qualquer forma, minha irmã estava num humor bem melhor de que o meu.

Era terça-feira (de novo) e eu estava (de novo) atrasada pra aula de química do professor chato. Como eu tinha chegado tarde só tinha um lugar vago e era ao lado de quem? Se disseram do George Washington, erraram. Se disseram que era do lado do Cole, acertaram.

Sentei-me ao lado dele na bancada, mesmo que a minha vontade fosse dar um tapa na cara dele, arrancar e comer o fígado, matar e esquartejar até voar sangue pro Canadá. Tá certo, não tão exagerado quanto isso, mas, pelo menos, um bom tapa na cara.

– Bom dia, Emma. - ele falou, um sorriso inocente brincando em seus lábios.

– Bom dia. - respondi, seca, sem nem ao menos olhar pra ele.

Pude ouví-lo engolir em seco.

– O que foi, Emma? Eu fiz algo errado? - ele perguntou.

Não respondi.

– O que eu fiz?

Continuei sem responder e preferi "prestar atenção" no professor que explicava alguma coisa sobre reações entre ácidos. Minha cabeça estava em qualquer lugar muito longe, mas preferi fingir que estava prestando atenção. Desse jeito, eu não precisaria falar com Cole.

E eu sabia que ele não insistiria muito mais. O professor acabaria reclamando com ele e ambos sabíamos que uma reclamação para ele seria equivalente a uma saída de sala. Eu estava salva de mais perguntas por enquanto.

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Meu "estar salva de perguntas" durou muito pouco. A aula acabou 5 minutos mais cedo, já que o professor perdeu a paciência com a turma, e, para o meu azar, Cole veio atrás de mim.

– Emma. - ele puxou meu antebraço.

– O que você quer, Cole? - me virei, bufando.

Ele arregalou os olhos.

– O que eu fiz de errado?

– Ah, você? Nada. Eu por outro lado...

Ele franziu a testa, obviamente confuso.

– Você não está falando comigo porque está com raiva de si mesma?

– Sim. - respondi simplesmente e me virei pra sair, mas a mão dele continuava no meu pulso e me puxou. Ele é mais forte do que parece. Mais do que até eu pensava.

Pela primeira vez hoje, olhei em seus olhos castanhos profundos. Deus, como eu me perco nesses olhos.

– O que foi, Emma? - ele perguntou, os lábios próximos ao meu ouvido. Senti um arrepio passar pela minha coluna quando ele falou tão próximo do meu corpo.

Suspirei.

– Nada com que você tenha que se preocupar, Cole. - dei um meio sorriso, mas ele não parecia convencido.

– Porque você tá com raiva de mim, Emma?

– Quantas vezes eu vou ter que repetir que estou com raiva de mim mesma?

– Até eu me convencer que você não está com raiva de mim, o que eu acho que nunca vai acontecer. Eu sempre vou pensar que você está com raiva de mim.

– Certo, então. Eu estou com raiva de mim por sua causa, ou seja, eu estou com raiva de você.

Ele sorriu, vitorioso. Porque diabos alguém sorri quando outra pessoa diz que está com raiva dela?

– Então você admite. Agora, eu quero saber porque.

– Você não tem uma aula pra ir agora? - perguntei, já querendo me esquivar das perguntas dele.

– Eu teria educação física se o diretor não tivesse me liberado porque eu sou do time de damas e você teria treino das líderes hoje se a professora não estivesse doente, então acho que nós dois estamos livres agora. - ele soltou um sorriso que não deixava de ser perfeito mesmo com o aparelho.

Merda. Como é possível que eu me derreta tanto com um sorriso?

– Você quer mesmo saber? Eu tenho certeza de que você vai se ofender. - sorri, maliciosa.

Ele levantou uma sobrancelha.

– Tenho certeza que, independente do que seja, eu quero saber.

– Tudo bem, então. Perguntas e respostas. Eu sei que você pediu a Mia em namoro um bom tempo atrás. Você se aproximou de mim porque achou que eu poderia ficar no lugar dela?

Ele empalideceu.

– Eu sabia. - virei de costas e estava indo embora, decepcionada com ele e comigo mesma.

Mas eu senti sua mão forte agarrando meu pulso e me puxando de volta pra ele.

– Me deixa ir embora, Cole. - pedi, tentando me desvencilhar do aperto da mão dele.

– Eu ainda não respondi sua pergunta e você pediu por respostas. - ele respirou fundo. - Vamos para um lugar mais reservado, por favor? - ele pediu baixinho e eu pude perceber que o corredor se encheria de pessoas em menos de 30 segundos.

– Ok.

Ele me guiou até um jardim que eu logo reconheci de algumas fotos que eu vi na minha casa. Era o mesmo jardim em que meus pais e meus tios almoçavam quando tinham a minha idade. Eu nunca tinha visto ele pessoalmente, mas já ouvi tantas histórias que nem sei dizer quantas foram. Sentei num banquinho e ele sentou-se ao meu lado.

– Respondendo sua pergunta... - ele começou.

– Você não precisa responder se não quiser. - cortei-o.

– Mas eu quero. Não quero que você fique com raiva de mim por causa disso. Então, sim. No início eu quis me aproximar de você só porque queria substituir a Mia. Mas percebi que vocês só se parecem por fora e não por dentro. Ela é mais como eu, tímida, na dela, calada. Você é o oposto. Espontânea, extrovertida, falante. Pra mim, é um desafio estar com você. Sorte a minha adorar desafios. - ele sorriu. - Por isso é que eu gosto de ser seu amigo. É difícil pra mim, o que torna tudo bem mais interessante. Você me perdoa? - ele perguntou, seus olhos castanhos brilhando e me derretendo.

– Sim. Eu te perdôo. - eu disse. - Amigos? - estendi a mão.

– Amigos. - ele a apertou e sorriu.

Começamos a conversar besteiras até que ele parou, do nada, como se tivesse tido uma ideia. Parei também para que ele pudesse falar.

– Eu não sei se você curte, mas quer ir ver os Vingadores 2 comigo? Pode chamar outras pessoas pra ir também, se quiser.

Ir para o cinema com meu amigo e ver aqueles super heróis gostosos de uniforme e brigando? Claro.

– Eu adoraria. - sorri.