— Eu.. Eu gosto de você. — Não, não é mentira, nem sonho, nem nada parecido. Eu finalmente tomei coragem e disse. Simplesmente disse. Corrigindo, eu finalmente disse! Francamente? Ele é um idiota babacão. Mas é por esse idiota babacão que eu me apaixonei.

A reação dele foi a melhor coisa. Primeiro, ele soprou uns fios do próprio cabelo relativamente longo que estavam no meio do rosto. Logo depois a expressão de surpresa com um leve arregalar dos olhos, e por último a reação idiota que foi coçar a cabeça e perguntar:

— Eh? Desculpa, eu não ouvi direito. — Ele falou com um sorriso bobo no rosto.

— Nani?! Vai mesmo fingir que não ouviu? — Murmurei me esticando na cadeira, batendo de leve no peito dele, fazendo um pequeno bico.

— Baka... — Ele falou baixinho, e eu acabei rindo, os próximos instantes foram bem rápidos. Kensuke se endireitou na cama, sentando de um modo desajeitado. Sua destra foi até o meu rosto e eu o olhava curiosa enquanto ele acariciava ali. Ele se inclinou minimamente, soltando um um gemido baixinho de dor antes de selar seus lábios nos meus.

Certo, acho que eu sou tão lerda, que eu realmente não esperava aquilo, me pegou de surpresa. Típico do Kensuke. Acabei por me entregar para aquele pequeno momento íntimo entre nós dois. Não nos mexemos, não houve línguas, nem nada. Como se fosse o primeiro beijo de ambos.

Eu estava um pouco confusa quando cheguei em casa. Não comi nada naquela noite. Não estava confusa por causa dos meus sentimentos pelo Kensuke, mas sim pelo que aconteceria depois. Nós namorariamos? Meus pais gostariam dele? O que aconteceria depois?

Acabei rindo baixinho enquanto rolava nas cobertas quentinhas, olhando as plantas de arquitetura desenhadas em grande folhas brancar presas no teto e nas paredes.
Aquele garoto.. Ele realmente conseguia mexer com a minha cabeça.

*******

No dia seguinte, acordei com o toque do despertador do meu celular. Que irritante. As novas notificações eram bem monotonas, como: atualizar alguns jogos, novos emails, e uma nova mensagem.. Uma nova mensagem! Era do Kensuke, o texto era curto, mas típico dele:

"Fui transferido para um hospital nessa madrugada. Não me deixaram dormir direito e eu tive que comer umas comidas estranhas que não tinham gosto de nada. Me deram alta agora, vejo você na escola, pirralha.

Seu pra sempre,
Kensuke."

Admito logo que fiquei mais ou menos uns cinco minutos rindo do final bobo daquela mensagem. Me arrumei rápido e pensei em prender o cabelo de algum modo diferente, mas a preguiça falou mais alto e eu acabei desistindo.

Senti um pequeno deja-vu quando vi as pessoas do colégio reunidas em pequenos grupos, fofocando algo que parecia ser importante, que nem no dia em que o Kensuke chegou, e as pessoas ficaram tentando decidir se ele era legal ou esquisito. Eles falavam algo sobre alguma garota e eu ouvi coisas como:

"Já faz um tempo que terminaram." "É, e ele está andando agora com aquela garota baixinha e os amigos dela." "Mas ele não é popular?" "É complicado, vai entender." "Eu soube que ela veio para tentar reatar com ele. Soube também que ela é de Tóquio. Ela é tão bonita! Não sei como ele dispensou uma garota daquelas.."
Bufei. Já sabia bem do que se tratava. Mas sinceramente, vir de Tóquio para Okinawa pra tentar reatar depois de trair ele?! (Soube desse fatos por antigas fofocas.) Não. Isso é ridículo. Eu não iria deixar ela se aproximar dele.

— Akemi-chan, ohayo.. — O Kensuke vinha por trás de mim e acabou por deixar a mochila cair no chão, olhando surpreso para a ex namorada que estava cercada de pessoas querendo saber sobre a vida maravilhosa que ela tinha na cidade.

Ele não se mexia, parecia que estava em estado de choque e a sua ex acabou observando ele ali parado na porta, lhe lançando um largo sorriso, exibindo seus dentes brancos e perfeitamente alinhados.