Colorful escrita por Isabelle


Capítulo 33
Capitulo 10 - Thomas


Notas iniciais do capítulo

"Amor da minha vida, não me deixe
Você roubou meu amor
E agora me abandona"
Queen - Love of My Life



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4 ANOS ANTES

                Nora tinha prendido o seu cabelo em duas partes. Uma estava solta toda cacheada e deslizava pela extensão de suas costas, eram tão bonitos e bem definidos que eu queria tocar, deslizar a mão por seus cachos, mas não me atreveria. A outra parte estava presa em algo que parecia ser um coque, mas não bem elaborado, mais solto e frouxo, prendendo o cabelo que lhe tampava a visão. Os olhos cor de mel com um toque profundo de castanhas adentaram os meus olhos, mas logo desviaram com um toque e uma pitada de vergonha. Os lábios rosados cobertos apenas por um gloss brilhante mastigavam a salada a primavera que ela havia pedido, enquanto ela estava perdida em si mesmo e em mim.

Os meus olhos tateavam os dela a procura de algum sinal que ela pudesse me mandar, mas o máximo que ela fazia era cruzar com eles e fingir que nada estava acontecendo. Que não estávamos em um restaurante a beira do rio, jantando em um canto a luz de velas onde ninguém poderia nos incomodar.

Tinha trago ela ali exatamente para isso. Queria ouvi-la dizer o que tanto havia lhe incomodado todo esse tempo que estávamos juntos. Éramos ficantes, mas tanto eu quanto ela queríamos que aquilo ali virasse alguma coisa a mais. Contudo, não era fácil desse jeito. Tinha tanto que precisava compartilhar com ela, tinha tanto para lhe contar e tinha medo que assim que eu fizesse ela corresse pelo lado oposto ou pior de tudo: ela ficasse comigo.

A blusa vermelha que ela usava, uma regata, caia tão bem em seu corpo que eu poderia ficar lhe observando por horas e horas. Nora era tão misteriosa ao mesmo tempo que também era um livro aberto. Exalava confiança, serenidade e o melhor de tudo, me causava uma paz que poderia me fazer ficar deitado junto a ela o tempo inteiro na cama.

O silencio a nossa volta começava a se tornar não mais romântico ou passageiro, mas sim pesado e constrangedor. Nora encarava todas as direções tentando procurar palavras para dizer, mas elas estavam tão presas na garganta quanto as minhas. Eu me sentia suar. Minhas mãos tremiam um pouco.

— Aqui é bonito. — Disse finalmente, assentindo com a cabeça de uma forma um tanto bruta.  — Nunca tinha vindo aqui antes.

— É, vinha aqui um tempo atrás, mas me conte, como você vai indo? — Perguntei. Era algo íntimo, e até mesmo pessoal. Nunca havíamos falado sobre coisas pessoais, nunca também tínhamos saído para comer em um restaurante romântico.

— Vou bem, Erica comprou uma maquina de lavar roupa, então estou bem melhor que eu estava antes da máquina. — Ela riu, uma risada sem graça, mas a tentativa de puxar conversa era realmente algo fascinante.

— Eu não tenho uma dessa. — Tomei um gole do vinho. Não podia, mas tomei. — Lavo as minhas roupas nesses lavatórios, sabe?

— Não tem medo que um dia eles troquem suas roupas e sei lá, você pegue roupas que não tem nada a ver com você? — Nora colocou mais um pouco da salada na boca, e eu ri.

— Não, porque aí é só eu ir destrocar na loja, não em muita mecânica. — Disse como se fosse totalmente obvio.

— Se a pessoa gostar da sua roupa, você nunca mais vai ter elas de volta. — Tomou um gole do vinho dela. Meu Deus, ela estava tão bonita. Sua boca entrava em contato com o copo, mas meu coração batia forte. — Por um exemplo, se eu fosse homem e pegasse suas roupas, não devolveria.

— Gosta das minhas roupas?

— Gosto. — Mordeu o lábio e abaixou a cabeça.

— Mas gosta mais de mim com elas ou sem? — Inclinei a cabeça para perto dela quando disso isso.

Nora ruborizou.

— Sem. — Os olhos dela ficaram rentes aos meus. Poderíamos nos fundir se ficássemos nos olhando pelo tempo suficiente.

— Que conversa indecente, senhorita, para se ter em um lugar público. — Fiz cara de ofendido.

— Então vamos para seu quarto para termos ela lá.

Meu corpo inteiro ferveu. Queria ela naquela mesa e queria naquele exato momento.

— Posso trazer a sobremesa? — O garçom apareceu.

— Com toda certeza. — Nora olhou para mim. — Não aguento mais essa salada, não se deve pedir as coisas nunca só pra impressionar a pessoa que você gosta. — Ela entregou o prato para garçom e eu sorri com aquela ultima parte.

— Podia ter pedido o que quisesse.

— Eu sei, adoro salada. — Piscou para mim e sorriu. — Espero que ele trague um pudim ou sorvete.

— Acho que vai ser petit gateu. — Limpei a boca com o guardanapo.

— Uau, que requintado. — Ironia.

— Nora... — As palavras voaram da minha boca.

— Eu... — As bochechas ficaram vermelhas.

— Eu... é... — E o telefone dela começou a tocar. Desesperadamente e muito alto. Engoli cada palavra que iria sair da minha boca.

— Um segundo. — Saiu da mesa e foi para um canto.

Olhar para ela era como olhar para uma obra de arte. Rente as grades de segurança ela se inclinou e respondia ao telefone. A blusa esvoaçava junto a barra da calça que dançavam a música que o vento tocava. Seu sorriso desapareceu e ela não parecia estar muito feliz com o que havia acontecido.

— Nora? — Disse quando ela voltou.

— Me desculpe, mas eu tenho que ir embora. — Ela juntou o casaco que estava pendurado na cadeira, e a bolsa. — É, meus pais e é complicado.

— Não, tudo bem... — Peguei minhas coisas. — Eu te levo.

— Eu realmente queria ficar, Thomas. Não está nada bem. — Um sorriso triste.

— Não tem problema, a gente pode remarcar.

— Claro...

Os passos dela foram acompanhando os meus, nunca havíamos entrelaçado as mãos, por isso, ela apenas andou ao meu lado, com os braços separados por centímetros do meu. Meu estomago se revirou com a ideia das palavras que poderiam ter deixado a minha boca se não fossem o telefone dela. Eu tinha que ter cuidado com o que eu dizia, muito cuidado.

Entramos no carro e logo em seguida seguimos em direção ao nosso prédio, não estávamos muito longe mas mesmo assim Nora parecia inquieta ao meu lado, queria pegar em sua mão e lhe dizer que tudo estava bem. Que tudo ficaria bem e que eu estaria ali para ela. Mas não era verdade. Não podia me atrever a dizer aquelas coisas. Aquelas palavras tinham um peso emocional muito grande, uma carga muito grande e dize-las seria como libertar uma parte de mim que estava oculta a muito tempo.

— O que nós somos? — Nora disse e o silencio a nossa volta foi quebrado, assim como a linha tangente que nos separava. Meu corpo se incendiou e eu não sabia exatamente como responder aquela pergunta.

— Am... nós, nós somos isso. — “Nós somos isso? Você é um idiota”, minha consciência ecoou.

— E o que exatamente é isso? — Piscou para mim.

— Eu não sei dizer, Nora. — Limpei a garganta. — Quer dizer, eu gosto de ficar com você e sei lá, não quero que as coisas mudem.

— Entendi. — Acenou com a cabeça.

— Você queria...

— Não, assim está bom, do jeito que está esta bom. — Disse, mas não me convenceu nem um pouco em nenhuma das palavras.

 — Sabe, se você....

— Nora, nora... — Uma voz gritava em frente ao carro. — Vamos não podemos demorar.

Erica estava de shorts curto, uma camisete antiga e tênis. Seu corpo parecia prestes a entrar em combustão enquanto ela seguia o carro com seus passos inquietos até o estacionamento.

— Preciso pelo menos tirar esses sapatos.

 Os olhos dela me fitaram por inteiro.

— Então vai. — Sua voz soava mais autoritária do que brava.

— Vamos repetir? — Olhou para mim com os olhos brilhantes.

— Quando você quiser disse.

Os lábios dela encontraram minha bochecha e ela saiu correndo até o prédio onde desapareceu da minha vista. Soltei o ar preso em meu peito e prendi a embreagem terminando de estacionar o carro.

— Não pode fazer isso com ela. — Erica estava encostada em uma parede, sua voz era como um mosquito irritante em minha mente.

— Fazer o que?

— Isso. — Apontou para mim. — Com ela. — Apontou para o prédio. — Ela não quer uma fodinha rápida no escuro do corredor, Thomas. Nora não é assim. Ela quer um romance, alguém pra ficar com ela, beijos e comédia romântica, sabe? — Erica me encarava por inteiro, as pernas, os braços, e por fim os olhos. Eu sabia do que ela estava falando. — Não pode brincar com ela. Então, se for ser um idiota e achar que depois pode se mandar, espero que saiba que não vai ser assim. Aquela menina já passou por todo o inferno possível na vida dela. Trabalha noite e dia pra se manter e não precisa de alguém que não vai estar lá por ela. Ela precisa de alguém pra cuidar dela, você vai cuidar dela?

Engoli seco, meu peso desmoronou.

— Não. — Sim, era o que eu queria ter dito.

— Então sugiro que não volte mais. — Erica se virou e saiu andando.

Senti meu peito pesar e as lágrimas queimarem no fundo dos olhos, queria que ela estivesse errada no que havia acabado de me falar, mas infelizmente, ela estava certa em cada palavra.


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