Colorful escrita por Isabelle


Capítulo 31
Epílogo.


Notas iniciais do capítulo

E me prometa isso
Você esperará somente por mim
Com medo dos braços solitários
Superfície, bem abaixo dessas palavras
Talvez, apenas talvez eu irei para casa
— Promise, Ben Howard
( Essa musica estava tocando quando eu escrevi os últimos parágrafos)



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4 anos depois.

Minhas mãos deslizavam pelos meus cabelos recém-cortados, tentando ajustar o que eu achara ter sido um terrível erro. Tentei passar um pouco de gel na parte perto da testa, mas não parecia melhorar, mas sim, só causando uma confusão maior do que a anterior. Foquei meus olhos no espelho, e tentei parecer sério, contudo, a única coisa que eu estava parecendo era desesperado, além de estar com um cabelo totalmente ridículo.

A caixinha rodava na minha mão de um lado para o outro, enquanto meu coração fazia aquelas batidas rítmicas, me lembrando o quanto eu estava nervoso com toda aquela ocasião. Soltei-a em cima dos móveis e passei a mão pela barba rala que crescia no meu rosto. Um ato que eu deixara de me habituar há alguns anos. Tinha preferido ficar com o rosto sem nada, mas agora, parecia um ótimo momento para deixa a barba crescer novamente.

Peguei as revistas que estavam em cima da cômoda e as encaminhei para o lixo, uma por uma, não me incomodando ao fazer aquele ato, mesmo que elas fossem a edição nova daquele mês, e que eu nem ao menos tivesse as aberto para ler.

Olhei novamente no espelho e dei um sorriso. Meu coração estava se acalmando, mas, mesmo assim, ainda havia um receio no fundo. Um receio com uma esperança falsa que eu deveria parar de nutrir, e era isso que eu faria. Peguei a caixinha e a abri, deixando meus olhos lerem novamente aquele anel.

Eu o tinha o visto há um mês e achado que era perfeito, e logo após só me foquei em achar a perfeita oportunidade para poder finalmente dar o outro passo. Um passo bem maior que definiria uma grande parte do meu futuro, mas agora que eu finalmente tinha conseguido me tornar um perito criminal, e chefe de polícia de Uberlândia, finalmente poderia abrir meu futuro para algo mais, e aquilo era o que eu queria e estava determinado.

O toque do meu celular explodiu pelo meu novo apartamento. Tive que o comprar para ficar mais perto da delegacia, além dele ser um ótimo lugar para novas memórias. Não tive nem que me preocupar com Will e Cely já que ambos tinham preferido comprar uma casa mais afastada do centro da cidade por conta do bebê número dois que Celeste estava esperando. Ainda mantínhamos o contato sempre, mas não tanto quanto quando a gente vivia um a frente do outro.

Observei o número do celular e dei um sorriso de leve.

― Animada sobre hoje a noite? ― Eu disse, olhando para o anel que estava em cima da cômoda.

― Você não vai mesmo me dizer onde diabos você vai me levar? ― Ela disse, e riu. A risada dela era calma e segura.

― Claro que não, você voltou de viagem ontem a noite, quero que seja surpresa. ― Eu disse, vendo a porta se abrir, e revelar Will.

― Está morrendo de saudades de mim, né? ― A voz soou toda convencida.

― Ficou tempo demais já trabalhando, agora é hora de ter algum tempo para mim. ― Eu sorri, e Will fez cara de vômito.

― Eu vou, hoje a noite sou toda sua. ― Ela disse, e eu me senti seguro.

― Espero mesmo, agora eu já vou, Will está aqui. ― Ele fez uma cara de nojo para mim, e se sentou no sofá, eu apenas suprimi uma risada.

― Mande um beijo para ele. ― Ela riu. ― E nós vemos hoje a noite, então..

― Mal posso esperar. ― Eu disse, e desliguei, sentindo momentaneamente um aperto no peito.

Peguei o anel, e mostrei-o para Will. Ele já sabia que eu iria a pedir em casamento, mas ainda não tinha visto o anel, estava duvidoso em mostrá-lo, mas agora já tinha certeza do que faria.

― Vai mesmo fazer isso? ― Ele perguntou, analisando o anel com aqueles olhos azuis. Estava tentando ler suas feições, mas ele não parecia preocupado.

― Vou, eu estou pronto. ― Eu disse, e me sentei na poltrona.

― Você jogou as revistas fora? ― Ele perguntou, e agora sim, o olhar preocupado surgiu.

― Eu não preciso mais lê-las. ― Eu estava feliz por ter conseguido isso.

― Mas você leu essa edição? ― Novamente, uma pergunta preocupada.

― Não, não vou, e também não quero saber o que fala nela, Will. ― Meu olhar estava focado no lixo. ― Eu esperei tempo demais, já está na hora de eu finalmente seguir em frente.

― Mas Noah…

― Ela não voltou, Will. ― Eu disse, irritado. ― Eu esperei por ela até o tempo necessário, mas já está na hora de eu seguir na frente com a minha vida. Faz quatro anos, e ela nem mesmo ligou para mandar um oi, acho que isso é um recado bem plausível de que ela já superou tudo aquilo.

― Então, vai mesmo pedir Lola em casamento… ― Ele suspirou, mesmo com suas incertezas, eu sabia que ele iria me apoiar.

― Sim, hoje a noite, quero que seja perfeito, e espero que seja, faz tempo que não me sinto assim sobre ninguém…

― E tem certeza que a ama o bastante para isso? ― Ele me perguntou, e eu assenti. ― Então, está me dizendo que se por algum acaso, Sally aparecesse aqui e agora, você não ia mudar de ideia? De forma alguma?

Aquela pergunta me jogara um balde de água. Eu nunca tinha pensando na hipótese de Sally voltar. Já haviam passado quatro anos. Tinha passado três anos na sombra, até finalmente encontrar Lola que iluminara meus dias. Nós tínhamos conversado sobre Sally, e ela realmente havia me ajudado. Eu sabia que Sally não voltaria, era um dos fatos que teria que aceitar, e tinha feito um compromisso com Lola, nunca voltaria atrás.

Cely entrara no apartamento com sua barriga gigantesca, com Mandy segurando sua mão. Ela parecia exausta, mas após sete meses segurando aquele bebê, tenho certeza de que ela realmente estava. Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo, mas este, estava todo desalinhado.

― Amor, adivinhe as novidades. ― Will disse, e eu tomei o anel dele, o guardando na gaveta da cômoda.

― O que? ― Ela disse se sentando. ― O médico disse que se enganou, e que eu vou tirar esse… ― ela respirou, e eu ri, ― lindo bebê da minha barriga hoje…

― Não, melhor. ― Ele deu um sorriso sarcástico, e eu revirei os olhos. ― Noah, vai mesmo pedir a mão da Lola hoje a noite..

― Oh, ótimas notícias essas.. ― Ela disse, nem um pouco animada.

― Uou, como você parece animada, Cely..

― É por causa da…

― Ela não gosta da sua namorada. ― Will disse, e eu olhei para Cely, sem entender.

― O que? ― Eu disse, e Cely lançou um olhar mortífero para Will. ― O que tem de errado com a Lola? Gente, ela é a garota perfeita. Ela é uma advogada influente, fala três línguas, dança muito bem, é legal, divertida, sabe cozinhar uma lasanha ótima… ― Eu disse para mim mesmo, no fundo, eu estava tentando me convencer de que ela era mesmo a garota certa para aquilo.

― Mas? ― Cely me olhou com aqueles olhos aterrorizantes. Ela sabia ler as pessoas melhor do que eu.

Mas eu ainda sentia saudades da Sally, e no fundo do meu coração eu sabia disso.

― Eu tenho certeza de que eu quero me casar com ela.

― Se você diz. ― Will me disse, e eu me senti totalmente inseguro.

― Vocês não entenderam ainda, não é? ― Eu disse exaltado. ― Eu lutei por Sally naquele aeroporto, e ela não quis ficar.

― E mesmo assim, dentro de quatro anos você nunca teve coragem de subir em um avião para ir atrás dela. ― Celeste disse, se levantando, e me deixando intacto.

A porta de abriu bruscamente, e Lola apareceu pulando em cima de mim, me envolvendo em um abraço. Passei a mão por seus cabelos dourados, e deixei que ela me consumisse com todo aquele amor que eu sabia que ela sentia por mim. A apartei contra mim, e senti a saudade evaporar, criando um elo entro mim e ela.

― O que está fazendo aqui? Achei que a gente ia se encontrar hoje a noite.

― Eu estava morrendo de saudades, não aguentaria esperar até hoje a noite. ― Ela disse, e me trouxe para perto, deixando que nossos lábios de fundissem.

Will fez barulho de nojo com a garganta, e Mandy riu, nos tirando daquele momento de saudades.

― Bem, vocês tem muita coisa pra fazer com esse negocio de saudade e tals, então nós vamos embora..

― Vocês não precisam.. ― Lola disse, parecendo arrependida. ― Me desculpe por não ter cumprimentado vocês, estava com saudades dele. ― Ela sorriu. ― Olá, Celeste, Olá, Will.

― Olá, Lola. ― Ambos disseram.

― Eu estou morta de cansaço por causa desse bebê, não tem nada a ver com você. ― Cely disse, e Lola assentiu. ― Uma dica, não engravide.

― E essa é a minha esposa, senhoras e senhores, que fala coisas meigas perto da filha. ― Will disse, e pegou Mandy no colo, e os três saíram do apartamento.

― Então, me conte sobre a sua viagem. ― Eu disse, e ela abriu um sorriso.

― Eu adoraria, mas temos outras coisas para conversar. ― Ela disse, e passou os braços envolta do meu pescoço, me beijando calorosamente, seus braços me levaram até meu quarto, onde ficamos a maior parte da tarde, até ela ir embora.

O resto do dia passou como se fosse uma lesma, e todas as minhas inseguranças foram aumentando ao longo do passar das horas. Eu tentei assistir televisão, mas a única coisa que meus olhos conseguiam focar era no relógio que parecia estar travado, enquanto todas as coisas brincavam na minha mente.

Quando finalmente a noite chegara, eu tomei um banho rápido, e me arrumei para sair com Lola. Minhas mãos estavam suando de nervosismo, mas não deixaria nada disso me afetar. Olhei novamente para aquela pessoa no espelho, e me convenci de que era isso que eu queria para a minha vida, e era isso que eu iria ter. Tinha passado muito tempo sofrendo por uma pessoa, não iria mais.

A casa de Lola ficava localizada no centro, bem perto do restaurante que nós dois iriamos. Já tinha combinado com o garçom de abaixar as luzes no momento certo, e esperava que tudo saísse como o planejado. Uma chuva repentina tinha começado a deslizar do céu, que ainda estava bem fina, mas pelo jeito que o céu estava, parecia que logo logo a chuva engrossaria.

Ela saiu de casa rindo, e falando ao telefone, enquanto segurava um guarda-chuvas. Seu vestido era um azul com duas fitinhas enroladas no pescoço, e o resto caindo de leve ao redor do seu corpo. Ela saindo daquele jeito de casa me fizera recordar da primeira vez que tinha levado Sally para jantar. Aqueles pensamentos não deveriam ficar em minha mente, mas eles eram inevitáveis. Me lembrei o quanto nós tínhamos nos divertido aquela noite. As memórias foram tão límpidas, que quase achei que eu estava revivendo aquela noite novamente.

― Já perdeu alguém importante para você, Sally? ― Eu perguntei calmamente.

― Já fui deixada para trás, como muitos de nós fomos. ― Ela disse mostrando que não queria mais assunto.

Ela tinha deixado bem claro aquela noite que nunca seria capaz de permanecer na vida de alguém, e mesmo assim eu quis lutar, mas não fora o bastante. Ela me deixara, eu tinha realmente que me focar em para de pensar nela.

Lola entrou no carro lentamente, ou as vezes fora só aparência minha, pelo nervosismo daquela noite. Ela estava com o cabelo dourado solto, mas todo cacheado. Seus olhos castanhos tinham uma leve camada de maquiagem, e sua boca estava delineada por um batom vermelho bem chamativo.

― Você está bem? ― Ela me perguntou, desligando o celular, assustada.

― Sim, eu to ótimo, por que não estaria? ― Eu disse, e analisei seu rosto, observando cada detalhe.

Ela era linda. Simplesmente isso. Suas feições eram tão delicadas, como se tivessem sido desenhadas aos mínimos detalhes. Sua boca era redondinha, e rosadinha. Eu me lembrava disso, mesmo que ela tivesse usando aquela camada de batom vermelho. Me lembrava por conta do nosso primeiro beijo, sentados na sorveteria. Fora tão espontâneo. Eu tinha beijado outras garotas depois de Sally, mas ela fora a primeira que eu realmente me senti a vontade fazendo aquilo. Ela era engraçada, inteligente, e eu tinha certeza naquele exato momento que sim, eu queria passar minha vida com ela.

― Está vendo, você está me encarando desse jeito esquisito. ― Ela abriu um sorriso, aquele sorriso lindo que ela tinha, e eu deslizei lentamente e a beijei. ― O que você tem? ― Ela disse depois que eu me afastei.

― Sei lá. ― Eu disse, e ela me olhou sem entender, mas eu só dirigi até o restaurante, escutando ela me contar como fora sua viagem.

O restaurante já abrigava algumas pessoas, mas não muitas. O garçom nos levou a uma mesa perto da janela que era coberta por algumas cortinas, dando um clima mais romântico, o que já me deixava mais confortável. Passei a mão pelo bolso e senti a caixinha com o anel, tirando aquele peso de cima de mim.

Os olhos de Lola estavam encantados com a decoração do lugar. Havia flores em cima da mesa, junto com as taças de vinho e duas velas, nada muito chique, mas bem-arrumado. O Garçom nos trouxe o menu, e aproveitei para pedir um vinho para nós, que chegou cerca de minutos depois, quando já havíamos decidido o que iriamos pedir. Lola parecia encantada e gostar bastante da noite, e eu também estaria bem mais, se no momento em que eu olhasse para uma mesa mais ao fundo da nossa, eu não tivesse visto Celeste e Will, conversando e rindo.

― O que você achou do lugar? ― Eu perguntei, tentando me distrair dos dois.

― É perfeito, Noah. ― Ela pegou a minha mão. ― Sinceramente, eu estava morrendo de saudades de você.

― Eu também estava, e queria que você não precisasse ficar fazendo essas viagens.

― Se você não tivesse a delegacia, podia ter ido comigo. ― Ela disse, e revirou os olhos. ― Foi tão chato, o promotor ficou falando um monte de coisas, e o meu cliente estava totalmente saturado de toda aquela bagunça, sabe? ― Ela soltou um suspiro.

― Sei, eu entendo perfeitamente. ― Eu disse, me lembrando dos anos que tive que fazer trabalhos semelhantes na faculdade.

― Teria sido bem menos chato se você tivesse ido comigo. ― Ela disse, e acariciou a minha mão.

― Bem, da próxima vez quem saiba eu vá. ― Eu olhei bem no fundo dos olhos dela, e senti confiança, mas um frio de espalhou na minha barriga.

Nós jantamos, e também dialogamos bastante. Ela estava me contando sobre como encontrou minha mãe em uma loja em Uberaba, e o quanto ela ficou feliz em vê-la. Minha mãe, diferentemente do que fora com Sally, amava Lola. A primeira vez que eu a havia levado para a casa da minha mãe, tinha sido no natal. Todos tinham amado ela, e até mesmo Carla fizera amizade, agora que ela estava de namorado. Todos tinham parecido se enturmar bastante com ela, menos Ali, que só tinha sido realmente aberta com Sally.

A luz do restaurante diminuiu e eu senti que era aquele momento. Peguei as mãos de Lola lentamente, e deixei que os olhos dela se focassem bem nos meus.

― Preciso te falar uma coisa. ― Eu disse, e suspirei. Os olhos dela pareciam brilhar.

― Também preciso te falar uma, faz um tempo..

― Você pode me acompanhar por um minutinhos? ― Celeste apareceu ao lado da mesa. ― Realize o desejo da grávida, senão você vai ficar com terçol.

― Cely, você não pode esperar só alguns minutinhos? ― Eu perguntei, ela puxou meu braço. ― Eu já volto.

― Sem pressa. ― Lola disse mostrando que sim, havia pressa, contudo, ela apenas sorriu e tomou um pouco do vinho.

Celeste me arrastou pelo salão me levando até o balcão, onde Will estava sentado. Ele estava tomando um pouco de uísque com gelo, e seus olhos estavam sorridentes para mim. Sua postura revelava que eles estava prestes a soltar uma bomba em mim.

― O que vocês querem? ― Eu disse, irritado? ― Eu estou num encontro com a minha namorada, vocês podem me deixar ter esse encontro?

― Você está aqui em um encontro? ― Sally surgiu do meio de algumas pessoas que estavam conversando. Seus olhos verdes focaram no meu, e eu vi todo o meu mundo desabar, em uma simples fração de segundo.

Meu coração começou a bater mais rápido, e eu vi todas as nossas cenas. Ela no restaurante rindo, eu e ela na piscina na casa da minha mãe, quando eu tinha roubado suas roupas quando ela tinha ido tomar banho, quando ela dissera para eu passar a noite com ela, na cafeteria dizendo que me amava, e a última vez que eu a tinha visto, quando ela entrou naquele avião, e me deixou lá.

Meu Deus, como eu ainda estava apaixonado por aquela garota e eu nem sabia como eu conseguira manter todos aqueles sentimentos reprimidos dentro de mim todos esses anos. Aqueles sentimentos tinham acabado de se rebelar de uma vez. A única coisa que eu queria fazer naquele exato momento, era puxá-la para mim, e beijá-la como se o mundo fosse acabar.

― Ele vai pedir a namorada dele em casamento hoje. ― Cely disse animada, e meu mundo desabou mais ainda. Lancei um olhar para Celeste, e ela abaixou a cabeça.

― Oh, ele vai? ― Sally perguntou, a voz dela era tão familiar, tão aconchegante, parecia tão magoada ao escutar aquilo.

― Sabe de uma coisa? ― Cely disse, vendo que tinha feito merda. ― Eu vou pegar esses amendoins, e voltar para a minha mesa com o meu marido, que me ama e nunca iria me ferir. ― Ela pegou a mão de Will e saiu andando.

― Bem… ― Eu disse, ainda sem acreditar que ela estava parada ali na minha frente.

Ela parecia cada vez mais bonita. Seu cabelo estava curto, mas não tão curto, o tamanho perfeito que se encaixava com seu rosto perfeitamente. Os olhos, o sorriso, a roupa, o jeito, a pele, ela. Ela. Simplesmente maravilhosa. Simplesmente com um olhar arrependido no rosto.

Ela não podia ficar me fitando daquela forma. Fora ela que decidira entrar naquele avião, e me deixar ali. Fora ela que dera as costas para o nosso futuro juntos, agora ela precisaria superar aquilo, como eu tinha superado. Ou achava que tinha.

― Quando você voltou? ― Eu perguntei curioso.

― Ontem, cheguei ontem, comprei um apartamento, estou me organizando. ― Ela disse, e sorriu.

― Você parece ótima. ― Eu disse, tentando quebrar o gelo.

― Você também. ― Ela riu. Aquele sorriso. Ela abriu o sorriso, e todo o meu corpo de arrepiou. O sorriso de Lola podia ser um sorriso que eu amava, mas o de Sally, era simplesmente sem palavras.

― E, meu Deus, parabéns, Noah. ― Ela disse, tentando sorrir, mas eu sabia. Eu entendia exatamente. Mas ela tinha decidido ir embora.

― O que?

― Pelo casamento… ― Ela sorriu sutilmente. ― Espero que você seja muito feliz…

Eu olhei para ela, fiquei a encarando enquanto ela me encarava de volta. Não havia muito o que dizer, era tudo muito mais complicado do que a gente achava. Ela parecia mesmo feliz, mas eu sabia que aquela felicidade, era apenas por eu estar feliz, ela não queria me ver com outra, como eu não queria vê-la com outro.

― Você foi embora… ― Eu disse, tirando aquelas palavras da minha garganta.

Ela tirou os olhos de mim por alguns segundos, depois os moveu para cima novamente.

― É, eu fui, quatro anos atrás.

― Não era pra dar certo. ― Eu disse, novamente, e ela apenas assentiu.

O moço da recepção a chamara, entregando-lhe seu pedido, e ela pegara a carteira de dentro da bolsa azul, e entregara o dinheiro para o cara. Aquilo realmente parecia como o fim. Ela agora iria embora, de novo, e eu voltaria para a mesa, pediria minha namorada em casamento, e finalmente teríamos um fim em tudo aquilo.

Ela tinha ido embora, fora doloroso. Senti-me perdido. Os primeiros dias foram os piores. Faltava-me o ar nos pulmões pesados, e eu acordava a noite sentindo sua falta. Eu não entendia como em tão pouco tempo ela podia ter feito tanto estrago em mim, mas ela fizera. Ela fora meu amor verdadeiro. E decidira partir sem mim.

― Bem, acho que é isso. ― Ela disse, riu, e eu ri também.

― É isso. ― Ela disse vindo em minha direção, mas enquanto eu pensei que ela me daria um abraço, ela estendeu a mão.

Nós dois ficamos nos olhando sem graça, e no final nos cedemos a um abraço. Passei meu braços por debaixo dos seus braços, e me inclinei um pouco já que ela era menor. Seu cabelo ficou bem no meu rosto, e o cheiro agridoce tomou conta de mim aos poucos. Eu não queria a soltar, da última vez que tinha, ela fora embora por quatro anos. Queria ficar com ela ali para sempre. A segurando perto de mim. Vendo o restaurante fechar, o mundo para, e mesmo assim, nós dois ali.

Eu a soltei depois de algum tempo, e nós demos um sorriso um para o outro com pura formalidade.

― Tchau, então. ― Ela disse e segurou a sacola de comida mais forte.

― Tchau. ― Eu disse.

Eu a vi novamente, andar, mas desta vez ela virou lentamente para trás e olhou nos meus olhos.

― Sabe… ― Ela começou dizendo, meus olhos ainda não conseguiam desfocar daqueles olhos verdes. ― Tinha uma grande parte de mim que achava que você subiria em um avião e ir atrás de mim, mas acho que isso se deve ao gato que eu leio muitos romances… ― Ela se virou, e foi embora, me deixando intacto, como da última vez.

Eu me virei, e fui até Lola, de cabeça baixa, sentindo meu coração perdido, confuso, sem ter noção do que fazer. Eu peguei um papel do meu bolso. Eu não tinha muita noção do porque tinha trago aquilo, acho que era pra me convencer que mesmo com aquilo, eu poderia muito bem pedir Lola em casamento, e depois queimar aquele papel como se não fosse nada. Eu tinha escrito ali, os mais sinceros pensamentos que flutuaram de mim na noite em que Sally fora embora, e me deixara perdido, sem saber o que fazer ao certo.

― O que está fazendo? ― Celeste, me parou.

― Indo para minha mesa, com a minha namorada de verdade.. ― Eu disse, e continuei andando, mas Cely segurou o meu braço.

― Vou te dizer uma coisa bem sincera, Noah, você já a perdeu uma vez quando ela entrou naquela avião, vai perder de novo? ― Ela disse, e eu passei a mão pelos meus cabelos, tirando aquelas mechas organizadas, para uma bagunça novamente.

― Obrigada. ― Eu disse, e eu disse indo até a mesa onde Lola estava sentada.

― Onde você vai? ― Ela disse, mas eu apenas continuei indo.

Me sentei na mesa rapidamente, e Lola levantou o olhar para mim surpreso.

― Se eu te pedisse em casamento essa noite, o que você diria? ― Eu olhei bem nos seus olhos, eu gostava muito dela, para magoá-la daquela forma. Não podia a tratar como um estepe.

― O que? ― Ela disse assustada.

― Preciso saber, Lola. ― Eu disse sutilmente. ― Se te pedisse em casamento, aqui e agora, o que você diria para mim?

― A gente tá junto só faz um ano, Noah, acho que é muito rápido… ― Ela disse, parecendo triste por mim. ― Não que você não seja o cara certo, é que, não podemos apressar as coisas, casamento é uma coisa muito séria, sabemos muito bem disso.

― Lola, olha, eu gosto muito de você, mas acho melhor a gente dar um tempo. ― Ela me olhou preocupada, mas não magoada. ― Não, porque eu não goste de você, eu gosto, e muito, mas Sally voltou, acabei de ver ela, e eu preciso pensar sobre algumas coisas. Eu não sei muito bem quais são os meus sentimentos agora, eu preciso me entender. Não estou terminando as coisas entre a gente, só pedindo para você me dar um tempo para pensar.

― Eu entendo, Noah… ― Ela disse, e peguei sua mão.

― Preciso resolver as coisas, o.k? ― Eu disse, e lhe dei um beijo na testa.

Soltei um suspiro, e corri até fora do restaurante onde uma chuva caia. Sally estava na esquina esperando o que eu achava ser por um táxi. Uma das duas mãos estava segurando a sacola com a comida e ao mesmo tempo estava dentro do sobretudo que ela usava com um par de botas, e a outra estava segurando um guarda-chuvas. Corri até ela, e parei um pouco longe deixando que ela entendesse minha presença. Ela soltou um sorriso, e caminhou até mim, colocando o guarda-chuva sobre nós dois.

― O que está fazendo aqui? ― Ela perguntou, olhando dentro dos meus olhos. ― Você não ia pedir a menina em casamento?

― Você ainda me ama? ― Eu perguntei.

Ela me olhou nos olhos, lentamente, e profundamente. Me lendo, me desejando, me entendendo.

― Sempre vou te amar. ― Ela disse, e passou a mão pelos meus cabelos na nuca.

― Eu não terminei com a Lola, mas pedi um tempo, porque preciso nos entender, Sally. ― Eu disse, e ela assentiu levemente. ― Mas eu nunca, nenhuma vez, nenhum dia, ou noite, deixei de amar você. Só que quando você foi embora, eu…

― Eu sei... ― Ela disse, e colocou a mão no meu rosto, como se estivesse verificando se aquilo era mesmo real. ― Nosso amor era tão incerto, e eu já tinha perdido todo mundo que eu amava de uma forma brusca, achei que te deixando ia ser mais fácil...

― Bem, isso ficou para trás, mas não estamos ficando, juntos, entendeu? ― Eu repeti, e ela assentiu. ― Eu estou me entendendo. Nos entendendo.

Ela sorriu para mim.

― Que tal a gente tomar aquele café que eu tinha te falado quatro anos atrás, podemos nos entender, e finalmente você vai meio que poder me levar para um encontro de verdade.

― Foi embora antes que eu pudesse te levar para um. ― Eu disse, e passei a mão no seu cabelo.― Mas, seria maravilhoso. ― Eu sorri de volta.

Cheguei bem perto dela, sua respiração batia no meu pescoço, e todo meu corpo parecia se arrepiar na sua presença. Encostei meus lábios lentamente nos dela e deixei toda aquela bagunça de lado. A chuva caia ao nosso redor, mas não estávamos preocupados, tínhamos um ao outro.

O problema é, você pode sempre se apaixonar por outra pessoa, mas sempre vai ter uma pessoa, uma única pessoa pela qual você desistiria de tudo e de todos, que faz seu coração bater mais rápido, pela qual você é incondicionalmente apaixonado, e sempre vai ser. Sally e eu eramos assim. E eu posso dizer que tudo aquilo pelo qual nós dois passamos, valeu a pena, cada minuto. Toda a dor, todas as risadas, todo o amor. As coisas precisariam ser organizadas, mas quando você ama, as coisas nunca vão ficar organizadas. Por mais que você tente. Não sabíamos se ficaríamos juntos para sempre, precisávamos entender muita coisa, mas sabia que nos amávamos, e por enquanto, aquilo bastava.




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Notas finais do capítulo

Vou morrer de saudades de vocês :'(



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