Passionate and slow escrita por Alek


Capítulo 1
Can I make it better with the lights turned off?


Notas iniciais do capítulo

Se alguém quiser ouvir The XX enquanto lê, as músicas dão um ritmo muito bom à leitura. A primeira referência é a da música Intro, e a segunda, Shelter, caso alguém tenha pulado as notas da história.Desejo a vocês uma boa leitura o//



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Os dois não tinham pressa. Nenhuma pressa. Iam lentamente se olhando, um olhar preguiçoso e o outro calmo e gentil.

Os dedos se tocaram, docemente um sorriso pintou os lábios do mais velho. Ele sacudiu a cabeça, retirando os fios claros dos olhos e fitou os cabelos acobreados do outro. Seus dedos finos se moveram para lá acariciando levemente, fazendo as pálpebras translúcidas fecharem-se escondendo as orbes negras do que as detinha.

A cabeça foi inclinada mais perto de seu ombro, deitando-se ali e ronronando suavemente contra seu pescoço alvo, ocasionando o rosa tão discreto aparecer e tomar o lugar daquela cor clara. O maior estremeceu, mas ainda assim seu sorriso não diminuiu.

Até que viu a mão do mais novo, embora a diferença de idade nem fosse tanta, percorrer lentamente o caminho do colo dele para seu próprio, afagando sua coxa debaixo da calça de moletom escura, apertando mas ao mesmo tempo tão leve que pouco se poderia afirmar que estava ali. Ela subia o caminho cada vez mais até parar na barra da camiseta simples e plana, todavia não se demorando ali e voltando para o lado do corpo enquanto o rosto se movia para depositar um beijo no pescoço quente.

Pescoço, ombro, braço, cotovelo, mãos e dedos. Um encostar de lábios suaves e meigos em cada pedaço de pele que encontrava, tão lento quanto a trilha sonora da abertura daquele documentário tão entediante na televisão. Árvores de um verde intenso tomavam conta da tela brilhante, mas sendo completamente ignoradas pelos dois que buscavam agora o rosto um do outro. O mais velho esticou as pernas antes cruzadas e o outro estendeu as que estavam apoiadas no peito.

Os dedos dos pés se encontraram, enroscando-se como podiam enquanto o dos fios ruivos movia a mão que não estava segurando a do outro até seu ombro esquerdo, inclinando-se para frente e encostando os lábios vagarosamente na bochecha dele. O rosto do mais velho procurou um pouco rápido demais aqueles lábios aveludados, mas encontrou apenas um vazio e um sorriso preguiçoso, ao mesmo tempo divertido. Ora, tinham todo o tempo do mundo.

Após segundos de olhares trocados, as mãos entrelaçadas subiram e o de cabelos claros as levou até próximo de seu rosto, acariciando com seu nariz fino cada um dos dedos tão brancos do outro. Não que quisesse admitir, mas o que estava recebendo o carinho sentia um pouco de cócegas. O sorriso era escondido pela expressão indiferente, contudo esse mesmo sorriso foi se juntar na face surpresa do outro que arregalou os olhos ao sentir os beiços se juntando.

Tão frios eram os lábios do ruivo, e tão acolhedores o dos olhos amendoados. Juntaram e ali ficaram, imóveis, por um minuto inteiro. O minuto quebrado apenas pelas mãos que se soltaram e estabeleceram um círculo possessivo ao redor da cintura fina do mais velho. Puro e somente meu, o rapaz pensava, falando consigo mesmo somente em sua mente enquanto de um jeito torturante para o outro abria a boca e deixava a língua ávida passar.

Ele também queria acelerar, mas naquele momento, com tantas tragédias acontecendo e o tempo já curto de vida dos humanos se tornando menor ainda, pensou em aproveitar naquela noite tudo o que deveria ter aproveitado em tantos anos que estavam juntos.

Dançando devagar, os corpos se moviam acompanhando os movimentos graduais e, se quiserem considerar desse jeito, sensuais no pequeno espaço do sofá macio e escuro. A luz que entrava da janela fazia as cortinas brancas rendadas parecerem diáfanas, tremulando lentamente assim como a chama da vela que tremulava em cima da mesa.

O corpo do mais velho inclinava para o braço do sofá, a ponta arredondada incomodando bastante sua coluna, mas ele nada fez a não ser passar os braços ao redor dos ombros do outro e puxá-lo para aprofundar mais ainda o ósculo. A falta de ar era visível, mas nenhum dos dois queria parar naquele momento tão raro.

Era raro ficarem sozinhos naquele apartamento, era raro estarem com disposição devido às rotinas tão duras e horários tão apertados. Era raro quando a lua estava alta no céu e as cortinas se moviam com a brisa suave, geralmente ficavam paradas enfeitando uma paisagem sem graça e cinzenta de cidade urbana. Era raro eles apreciarem um jantar simples à luz das velas aromáticas coloridas que o mais velho adorava, ainda mais quando estava tocando uma música tão bela no aparelho que normalmente só mostrava tragédias.

Momentos tão bonitos só aconteciam raramente, portanto eles o aproveitaram.

Se separaram quando não podiam mais aguentar, ofegantes, de olhos fechados. O menor deitou a cabeça na clavícula do outro, ouvindo as batidas rápidas de seu coração e sorrindo consigo mesmo ao abraçar a cintura com mais força arrancando um gemido mais longo, incomodado com a posição que era forçado a ficar.

Por fim ele levantou o corpo, segurando nas coxas do mais velho e saindo do sofá segurando-o no colo. Os braços que ainda envolviam o pescoço do menor acariciaram sua nuca de modo afetuoso, um olhar delicado pousado nos olhos penetrantes daquele que o carregava até o quarto que dividiam. As respirações já haviam se normalizado.

O som já não era mais ouvido, no entanto apenas a figura dos dois era suficiente para embalar a noite silenciosa. O mais novo não gostava de muito barulho, enquanto o mais velho gostava de ouvir qualquer coisa que deixasse de lado a melancolia de dias vazios e mudos. E o outro fazia o que estava a seu alcance para deixá-lo sorrindo, afinal, embora a idade, ele continuava frágil como um pequeno botão de rosa.

A luz do celular iluminou seu rosto após depositar o que anteriormente estava carregando na cama, e em pouco tempo a batida característica de certa música enchia o quarto com sua simplicidade e mistério, fazendo-a ser tão viciante quando o gosto dos lábios um do outro ou o calor que eles dividiam.

Tão quente, tão frio, tão delicado, tão calmo, tal misto de expressões se era encontrado no momento em que procuravam uma posição confortável em meio aos lençóis bagunçados do móvel no canto do quarto. O cheiro da fragrância doce que perfumava o quarto era percebido, a escuridão causada pelas janelas fechadas era vista – se é que faz sentido essa frase, sendo que não se enxerga nada na escuridão, logo não se sabe se podemos ver a escuridão.

A camiseta dos dois foi retirada, o frio foi sentido, arrepiando ambas as peles que se chocaram com urgência para receber mais calor. Um arquejo saiu dos beiços grossos do mais velho ao sentir a pele fria tocando a sua, uma vez que a sua fora sempre fora naturalmente mais quente do que a do outro. Os lábios novamente se encontraram, mais uma vez calmos e sem pressa, os dedos se entrelaçaram e ao mesmo tempo as pernas trançavam e se enroscavam. Queriam tanto se juntar, mas precisavam ser pacientes. Tudo tem seu devido tempo, todos têm o próprio tempo, e tempo esse não pode ser apressado ou atrasado. Estava tão confortável apenas eles dois abraçados e teoricamente fundindo-se.

Contudo o tecido grosso do moletom atrapalhava a sensação completa do corpo do outro, e logo elas se foram, caídas em algum ponto do chão do quarto junto com as outras peças. Eles fitaram-se, não pela primeira nem pela última vez, mas certamente uma das trocas de olhares mais intensas que tiveram. Sorriram, tanto para si mesmos quanto um para o outro, e logo as mãos do mais novo percorreram o tronco do maior, traçando cada uma das curvas e cantos que podia encontrar, suas unhas curtas caminhando e arranhando delicadamente aquela pele ligeiramente mais escura que a sua. O mais velho enlaçava sua cintura e com as mãos finas acariciava seu rosto, deixando beijos em cada parte que podia ver, desde o maxilar até a testa, as orelhas para a clavícula, os ossos dos ombros, as veias do pescoço, os cílios escuros, os olhos, o nariz, a boca.

Ele não deixava nenhum pedaço para trás, expressava seu amor por meio de atos vagarosos e bondosos. Amor. É uma palavra forte. Mas ao mesmo tempo tão quebradiça. Dedos, palmas, pernas, quadris, línguas apressadas, olhares vagarosos, mãos delicadas, oh, a grande paciência que os cobria naquela noite.

A Lua não deixaria de brilhar, nem mesmo as estrelas deixariam de existir. Talvez em um universo paralelo aquele dia se repetiria novamente. Essa não foi a primeira nem a última vez, e por mais que se diga isso, essa seria a noite mais memorável. Sussurraram juras de amor e promessas de futuro, planos a longo prazo e o almoço do outro dia, dormiram como se amanhã não precisassem sair para trabalhar e a exaustiva rotina não se repetiria, deixando-os cansados e sem forças para subir o olhar sonolento dos próprios sapatos e fitar os olhos um do outro.

Calmaria. Lentidão. Afeto. Amor.

E a música que os acompanhou até serem acalentados pela proximidade deu seu último acorde antes de acabar, ocasionando o silencio mais vivo que se podia ouvir naquela cidade cheia de sorrisos nostálgicos.


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Notas finais do capítulo

Se alguém aguentou até aqui que tal me dizer o que achou nos comentários? Eu vou entender se ficaram com preguiça de ler, é mesmo uma história muito lenta e cheia de descrição. Mas eu gostei do resultado :3 espero que tenham gostado também >,



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