A namorada do Poeta escrita por Julius Brenig


Capítulo 1
Um poema entre páginas


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capitulo dessa história. Espero que gostem dela tanto quanto eu. Enfim. Leiam.



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Sophia chegou muito cansada em sua casa. Ela imaginou que alternar seus dias entre a faculdade e trabalho, além das tarefas domésticas, iria ser cansativo, mas não tanto assim. Logo que conseguiu uma vaga na UMEGO (Universidade Metropolitana de Goiânia) não pensou duas vezes em sair do interior e vir morar na cidade. Os pais dela até apoiariam a ideia de sua filha morar com eles e ainda fazer faculdade, pois eles tinham condições e disposição de sustenta-la nesse período. Porém, junto com a decisão de fazer faculdade, veio uma decisão mais pessoal da jovem: a de tentar ser independente. Isso incluía pagar o aluguel da casa em que estava morando, ou seja, trabalhar tornou-se obrigatório. O menos mau é que ela tinha bolsa integral em sua faculdade. Apesar de tudo, ela estava feliz com essa sua nova vida.

Das 7 às 16, ela trabalha numa loja de sapatos como vendedora. A noite ia para faculdade. Sua sorte é que essa loja não ficava muito longe de sua casa, um percurso de vinte minutos a pé. Sempre que chegava em casa após o trabalho, tomava um banho e gostava ler as anotações feitas nas aulas anteriores, no caso, as da noite anterior. Sophia estava cursando o primeiro semestre na faculdade de Letras - Português. Seu sonho era tornar-se uma grande crítica literária um dia. Amava ler livros, por isso seria o trabalho dos sonhos.

Ela tomava seu banho, pois havia acabado de chegar do trabalho. E enquanto passava xampu em seus cabelos castanhos, lembrou-se de fazer a sua revisão diária nos conteúdos anotados. Aquele sistema estava funcionando muito bem para ela, pois sempre refrescava o conteúdo em sua mente. Depois do banho, ela secou-se e vestiu uma branca roupa fina, seu pijama. Era por volta das 17h quando ela definitivamente começou a folear as páginas de seu caderno. Como eram uma de suas primeiras semanas de aula, a estudante estava aprendendo sobre produção de texto, o que trazia à tona alguns dos seus conhecimentos adquiridos no Ensino Médio.

Durante a revisão em seu caderno, ela nota que uma das páginas estava sendo marcada por algo. E entre essas páginas, havia uma simples folha pautada com linhas azuis dobrada em quatro partes. Ela pegou a folha, sem se lembrar de ter colocado-a ali, desdobrou-a e deparou-se com várias coisas escritas com uma letra cursiva completamente legível, de modo que não conseguia definir o sexo do dono de tal caligrafia. E com essas letras, em tinta preta, estava escrito esses versos, seguido por uma assinatura:

Brisa

A mesma leve brisa que leva areia ao mar, parece empurrar-me a teu encontro, assim como uma folha seca que anseia tocar o chão numa bela tarde de Outono.

O Poeta

Por um momento ela ficou sem reação. Não entendia como aquele pedaço de papel poderia ter parado ali. Depois, abriu um largo sorriso, pois havia gostado muito daqueles versos. Era algo lindo. Pois, se tinha algo que Sophia gostava, era de poesia que fazia metáforas com a natureza. Para ela, a natureza era a melhor representação de perfeição, tudo na natureza funcionava como devia. E com seu senso de crítica, ela chegou conclusão que mesmo com as poucas palavras do eu lírico, notava-se o quão grande era o sentimento dele por tal pessoa, pois, igualmente a um folha seca no outono, ele está disposto até a cair para encontrar quem tanto anseia.

Mas uma coisa ainda incomodava a garota, afinal seus olhos negros ainda estavam em alerta, e não era à toa: a assinatura. Seja lá quem foi o descuidado que copiou aquilo, ele não se deu nem ao trabalho de pesquisar o nome do autor daquelas palavras. Colocando algo superficial: “O Poeta”. Era revoltante para ela. Todo escritor tem de ter seu trabalho reconhecido! Pensou Sophia. Isso era algo que ela odiava. Sempre que ela via alguma citação e abaixo “Autor Desconhecido”, sentia-se angustiada. Queria saber ao menos o nome de quem havia pensado aquilo. Ela cogitou que alguém devia ter confundido o caderno e colocado o poema ali, pois cadernos como o dela, azul em capa dura com poucas folhas, eram bem comuns de se encontrar.

Por um segundo, ela pensou amassar aquele papel e jogar fora, seguindo seus estudos. Porém, ela lembrou de algumas pessoas que poderiam gostar daquilo. Seus melhores amigos. Christopher, a quem chamava de Chris, pois ele odiava o nome, mesmo não sendo um dos piores, segundo a própria Sophia. E Carolina, que recebeu o querido apelido Carol. Carolina era vizinha de Sophia, com a diferença de três casas entre ambas. Já Chris morava a uns três quarteirões dali.Também tinha o Lucas, o Geek da turma. Esse morava quase do outro lado da cidade, mas isso não impedia a amizade. Só que esse não se interessava tanto por poesia. Já aproximava das seis, e às sete e meia ela tinha que estar na faculdade, ou seja, era hora de preparar comida.

A casa onde Sophia morava não era muito grande, mas para apenas uma pessoa estava de bom tamanho. Tinha dois quartos, um banheiro, cozinha e sala de estar. Além dos quintais: um na frente e outro nos fundos, apesar de que o chão no quintal da frente era todo concretado. A sala era mobiliada com um sofá preto e uma poltrona de mesma cor. Uma mesa de vidro ficava no centro, onde ela deixava alguns de seus livros, geralmente a sua leitura atual, e uma Tv de LED acoplada a parede. O chão de toda a casa era em cerâmica branca, sendo que as paredes de toda a casa tinham o mesmo tom creme. No fundo da residência, uma pequena área onde ficava a lavanderia e uma rede, onde Sophia adorava ler. Lá era bem fresco por culpa da enorme mangueira plantada em seu quintal. Um bom lugar para a leitura.

A garota terminou de fazer seu jantar. Frango frito, arroz, feijão e um pouco da salada do dia anterior. Fez seu prato e foi sentar-se em frente à Tv, onde passava algum programa aleatório. Como o tal programa era chato, Sophia decidiu ver o que estava passando nas outras emissoras. Enquanto zapeava os canais, achou um que exibia aquelas típicas series adolescentes: Nesta, havia uma garota e dois garotos. Um triangulo amoroso. E como Sophia só tinha vinte dois anos e ainda tinha a cabeça de adolescente, foi assistir empolgada. Ela não conseguiu assistir o episódio que passava por completo, pois percebeu que era um pouco mais de 18:20.

Deixou o prato na pia, o único, pois ela não era do tipo de pessoa que sujava muita louça. Foi até o banheiro, e olhando para o espelho preso ao armário, escovou seus dentes. Depois, caminhou até seu quarto para trocar de roupa. Optou por uma calça jeans, tênis e uma blusa vinho, que tinha uma gola alta e fofa no pescoço, além de ser manga longa. Não que estivesse fazendo frio, a garota apenas gostava da blusa. Pegou sua mochila azul claro, seu celular e o caderno de anotações que ainda estava em sua mesinha de centro. Depois de tudo pronto, sentou-se no sofá e esperou a ligação.

A ligação mencionada era de seus amigos. Mais precisamente, de Carol e Chris, que sempre passavam em sua casa antes de irem à faculdade. Dizem que a maioria das amizades de ensino médio costuma acabar quando ele também se encerra. Porém, Chris, Carol e Sophia eram inseparáveis. Tanto que eles faziam o mesmo curso, na mesma faculdade e na mesma sala! E todos realmente gostavam daquilo que estudavam. Uma química imbatível. A única exceção do grupo era o Lucas, pois ele cursava cinema e não estudou o ensino médio na mesma turma que seus outros amigos. Mas, ele também era membro vital do grupo. Apesar de ‘’sofrer’’ brincadeiras dos demais. O celular de Sophia tocou, e quem ligava era Christopher. Ela atendeu e só saíram três palavras de sua boca com batom vermelho:

– Já tô indo.

Ela levantou-se do seu confortável sofá e saiu de casa passando pela porta metalizada com algumas partes em vidro e a trancou. Ao passar pelo portão e sair na rua, olhou para a esquerda e viu seus amigos já aproximando-se. Christopher não era muito alto. Tinha cabelos negros escorridos, como uma cascata de petróleo. Seu corpo, que por sinal não era muito atlético, tinha 1,70 de altura. Os olhos verdes em sua face chamavam a atenção. Eram muito bonitos, podia-se dizer que esse era seu charme.

Já Caroline, não tinha como negar, era linda. Mais bonita que uma modelo, Sophia pensava. Loira natural, olhos azuis bem claros. Não dava para dizer como seu corpo era, afinal Carol não era gorda e nem magra. Tinha um corpo bom, apenas. Seu sorriso era encantador. Ela seria muito mais alta que Sophia, se não fosse o fato de estar sentada numa cadeira de rodas, que era empurrada por Chris.

O terrível acidente que fez isso com a garota, tinha ocorrido há uns seis meses atrás. Uma batida de carro. Ela estava aprendendo a dirigir, quando um motorista, que pelo visto devia aprender a dirigir também, ultrapassou o sinal vermelho realizando a batida. Ela ficou paraplégica, e como se já não bastasse, seu mentor morreu e o motorista do outro carro, ileso, fugiu sem prestar socorro. Desde então, a garota nunca mais entrou num carro. Tentaram convencê-la a fazer terapia, mas ela sempre recusou. Por isso, os três sempre iam de ônibus, mesmo Chris tendo um carro. O estranho, é que seu medo não tinha efeito com ônibus. Somente e especificamente em carros.

Os dois amigos de Sophia abraçaram-na depois de cumprimentarem ela. Após isso, continuaram a subir a rua em direção ao ponto de ônibus. Sophia morava na rua três no centro de Goiânia. Ela e os amigos estavam indo para a Avenida Anhanguera, passando pela rua vinte também no centro. Eles estavam indo para a estação de ônibus que ficava próximo à rua vinte, para pegar o Eixo Anhanguera.

O Eixo Anhanguera é a linha 001 do sistema de transporte de Goiânia e região metropolitana. Composta por ônibus articulados e biarticulados: os Metrobus. Estes são chamados carinhosamente pela população de “eixão”. Essa linha corta praticamente toda a região metropolitana da capital, passando pelos principais Terminais de ônibus da cidade. Ao longo do eixo existem plataformas onde pode-se embarcar em qualquer trajeto de ida de volta do eixão, já que ele só transita por seus corredores exclusivos. Chegando nessa plataforma, eles passaram pela catraca usando o sitpass, que é o sistema de pagamento das passagens no transporte coletivo, e já dentro da estação, esperavam pelo eixo. Enquanto esperavam o ônibus, Sophia se lembra do tal poema que estava em seu caderno. Pegando-o em sua mochila, ela entrega para Chris e diz:

– Olha o que achei no meu caderno.

Chris leu e depois entregou para Carol.

– Uau! Gostei do poema. Quem é o autor? – Ele perguntou.

– Não sei – respondeu Sophia levemente irritada — O imbecil que copiou esqueceu de colocar o nome do autor.

– Ou talvez – falou Caroline, que havia acabado de ler o poema — Esse poema seja de quem escreveu ele. E acho que ele escreveu para você.


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Notas finais do capítulo

Hello pessoas! o que acharam? Gostaram desse primeiro capitulo? Espero que sim. Não deixe de opinar, aqui nos comentários.



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