La moitié...#Emison escrita por Zangada Bond


Capítulo 3
'Big A'


Notas iniciais do capítulo

Ola meu povo que acompanham essa fanfic, suponho que leiam os dois capitulos anteriores para entenderem melhor o novo rumo que eu dei a historia e espero que curtam.



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Conheci Ali no fim da nossa primeira semana na Manchester University . No começo, pensei que ela fosse do segundo ou terceiro ano, porque estava com o grupo mais velho que havia montado mesas nos corredores do prédio a fim de entregar nossos cartões de identificação para os quartos. Na verdade, ela era caloura, assim como eu. No que mais tarde reconheci como algo típico de Ali, ela me ofereceu ajuda e pulava as mesas quando o pessoal reclamava que precisava de gente auxiliando.

Eu não estaria acordada, mas minha ressaca me acordou e me disse que precisava desesperadamente de refrigerante. Os corredores continuavam tão desertos às nove horas como estariam se fosse madrugada. Virando a garrafa enquanto voltava das lojas de conveniência no sol do outono, vi uma pequena fila serpenteando para fora das portas duplas do condomínio. Por ser inglesa e por curiosidade, achei melhor entrar nela.

Quando cheguei à frente e o espaço onde Ali atendia foi liberado, eu me aproximei.

Sua expressão um tanto assustada, mas nem um pouco insatisfeita, parecia perguntar com bastante clareza: “Quem é você?”.

Isso me assustou, porque não foi uma reação cautelosa. Em um bom dia (que não era o caso), eu achava que disfarçava razoavelmente bem, mas não tinha recebido muito olhares como aquele antes. Foi como se alguém colocasse música para tocar, ajeitasse meu cabelo, iluminando-me por cima e gritasse: “Ação!”.

Ali não era só o meu tipo, era o de todos. Corpo bonito,olhos azuis celetes e os cabelos loiros ondulados nas pontas, meio modelo, como Paige diria. (Ela havia entrado em meu caminho pouco tempo antes, assim como sua visão de vida, que, aos poucos, ia se tornando a minha.) E, pelo que pude ver da parte de cima do corpo de Ali, ela vestia roupas descoladas, uma jaqueta branca por cima de uma blusa amarela, estava bem básica. Mulheres atraentes, na minha opinião de garota de 18 anos, tocavam guitarra e praticavam natação. Ainda assim, minha mente permanecia suficientemente aberta para aceitar que Ali seria o tipo de muitas outras garotas, e me senti lisonjeada pela atenção que ela me dedicava. As nuvens negras de minha ressaca começaram a se dispersar.

Ali disse:

— Olá.

— Olá.

Breve silêncio enquanto nos lembrávamos do que estávamos fazendo ali.

— Nome? — Ali perguntou.

— Emily Fields.

— Fi….Fields…. — Ela começou a procurar na caixa de cartões. — Achei.

Ela pegou um retângulo de papelão com o nome de nosso corredor e uma foto de passaporte colada nele. Eu me esquecera de que havia enviado algumas fotos não muito legais de uma sessão tirada em uma cabine de shopping center. Um dia bem ruim, Shopping Meadowhall, de TPM. Eu parecia ter acordado de minha própria autópsia. Talvez soubesse que elas voltariam para me assombrar.

— Não dê risada da foto — eu disse, rapidamente, e quase com certeza causei o efeito contrário.

Alison olhou o retrato.

— Já vi piores hoje.

Em seguida, colocou o cartão na máquina, pegou a versão plastificada e a inspecionou de novo.

— Sei que está feia — eu insisti, estendendo a mão. — Parece que estou tentando defecar um abacaxi.

— Um abacaxi?

— É, todo cheio de espinhos.

— Ah, certo. Acho que espetaria um pouco.

Bem, a conversa tinha sido boa. O básico da sedução: faça a mina atraente imaginar você fazendo força no banheiro.

A propósito, as palavras saíram diretamente de meu catálogo de melhores respostas. Emily básica. O melhor da Emily. Simplesmente Emily. Quando colocada emevidência, a função linguística de meu cérebro não consegue se expressar. Sai qualquer combinação de palavras.

Ali sorriu para mim, e o sorriso virou risada. Retribuí.

Ela manteve o cartão longe de minha mão.

— Você é do curso de Inglês?

— Sim.

— Eu também. Não faço a menor ideia de onde será a inscrição amanhã. Você sabe?

Fizemos um acordo de que ela passaria no meu quarto no dia seguinte para podermos ir ao bloco de artes juntos. Alison procurou uma caneta. Eu anotei o número de meu quarto para ela na primeira coisa que encontrei, um porta-copo macio. E me arrependi de ter passado a noite anterior inteira pintando as unhas de minhas mãos uma de cada cor, o que parecia bem idiota naquele momento. Grafei “Emily” com letras separadas, como se estivesse escrevendo meu nome no caderno do ensino fundamental.

— Quanto à foto — ela disse ao pegá-la —, você está bonita, mas pode tentar levantar o traseiro um pouco da próxima vez. Ficou meio baixinha.

Peguei a foto de novo para conferir. Havia uns dois metros de espaço em branco acima da minha cabeça.

Corei e comecei a rir.

— É só girar — Ali disse baixinho, rodando um banquinho imaginário na cabine de fotos.

Fiquei mais corada e ri mais ainda. — Sou a Alison. Até amanhã.

Como um policial no trânsito, Ali me afastou com uma das mãos e chamou o seguinte com a outra.

Enquanto eu dava a volta até o fim da fila, fiquei tentando imaginar se a menina bem apresentável do quarto ao lado do meu era fresquinha demais para me acompanhar num café da manhã meio ruim. Num impulso, enquanto me afastava, olhei na direção de Ali, e ela estava me observando partir.

****

Em alguns ambientes de trabalho, todos exibem fotos emolduradas da família sobre a mesa, mantêm um pote cheio de canetas com penduricalhos na ponta e uma xícara com o nome gravado. De vez em quando, as pessoas choram no banheiro e trocam confidências, e qualquer informação pessoal roda o escritório todo de manhã antes do segundo café. Palavras como “broxa” e “Viagra” ou “eu o flagrei experimentando meus vestidos” são passadas em clima de revelação total.

No meu ambiente de trabalho não funciona assim. O Tribunal de Manchester Crown vive repleto de pessoas que caminham depressa e de modo eficiente, vestindo toga e trocando informações essenciais aos sussurros. O clima é definitivamente masculino e, portanto, não incentiva confidências que nada têm a ver com os assuntos aqui tratados. Assim, eu disfarcei as evidências físicas de meu estresse emocional com uma camada extra de maquiagem, endireitei os ombros e estou seguindo para a batalha, parabenizando a mim mesma pela pose bem fingida de competência.

Estou pegando um dos famosos cafés instantâneos com sabor artificial vendidos nas máquinas, servidos em copos de plástico tão finos que queimam as pontas dos dedos, quando escuto:

— Belo fim de semana, não é, Fields? Você está acabada!

Ahhhh, Peter. Eu devia saber que ele explodiria minha bolha.

Peter Pan é um freelancer, um “ponta firme” nas agências, como são chamadas pessoas como ele, sem escrúpulos. Ele analisa as listas procurando os casos mais desagradáveis e ridículos e vende o menor denominador comum ao mais alto investidor, e normalmente me segue e acaba com qualquer chance de um caso exclusivo. Maldades e tristezas representam seu pão de cada dia. Para ser sincera, é o caso de todos os assalariados no prédio, mas a maioria de nós tem o bom senso de não espalhar isso. Peter, entretanto, nunca se viu diante de um homicídio qualificado de que não tenha gostado.

Eu me viro e lanço-lhe um olhar bem cansado.

— Bom dia para você também, Peter — digo, tensa.

Ele está piscando, como se a luz do dia o irritasse, gesto que sempre me faz lembrar um peixe branco e de guelras cor-de-rosa que meu pai encontrou nadando nas águas turvas no fundo do tanque do jardim. Peter se desenvolveu a ponto de se ajustar no ambiente dos tribunais, subsistindo apenas de café, cigarro e massa folhada envolta em celofane, sem necessidade da vitamina D do sol.

— Só estou brincando, querida. Você continua sendo a moça mais bonita do prédio. — Depois de conversar com Peter, você, invariavelmente, sente vontade de se esfregar com uma escova de cerdas duras embaixo da água escaldante. E ele continua: — O que foi? Bebeu muito vinho? Aquele seu carinha está deixando você cansada? — E acrescenta uma piscadela de virar o estômago.

Eu tomo um gole do café com aroma fresco de terra e agricultura.

— Terminei com meu noivo no mês passado.

Os olhos pequenos e caídos dele se fixam em mim, esperando uma gracinha. Nada é dito, e Peter afirma:

— Ah, querida... Sinto muito.

— Obrigada.

Não sei se Peter tem vida privada no sentido convencional, ou se nascem um rabo e chifres nele às 5h30. Esse tipo de assunto certamente é um território não desbravado entre nós. Sobre a vida pessoal um do outro apenas sabemos que:

a) tenho um noivo, que agora é passado, e;

b) ele é de Carlisle.

E é assim que ambos gostamos de manter o clima entre nós.

Ele remexe os pés.

— Ficou sabendo da operação que descobriu nove homens portando heroína no aeroporto hoje? Dizem que eles esconderam as drogas em sacos de colostomia. — Eu balanço a cabeça.

Ele acrescenta: — Pela primeira vez puderam dizer que a merda era da boa!

Ele ri muito, e o assunto do noivado rompido já foi esquecido.

— Eu ia cuidar do assassinato de honra — digo, sem sorrir. — Veja só: você cuida das drogas, eu cuido do assassinato e comparamos as anotações.

Pete me olha com desconfiança, tentando descobrir qual é a tática malvada atrás dessa “diplomacia mutuamente benéfica”.

— Sei, certo.

Apesar de não conseguir escapar dos assuntos desagradáveis, eu gosto do meu trabalho. Gosto de estar em um lugar com regras e papéis claros. Apesar das áreas obscuras, o processo é preto no branco. Já aprendi a entender a linguagem dos tribunais, prever as flutuações, interpretar os sussurros maçônicos entre os membros do júri. Estabeleci uma boa relação com certos advogados, fiquei especialista em interpretar a cara dos jurados e a sair depressa antes que pessoas irritadas me sigam e me digam que não querem que a história delas pare no maldito jornal.

Enquanto bebo o resto do café frio, jogo o copo no lixo e sigo na direção do Tribunal 1, escuto a voz tímida de uma moça atrás de mim:

— Com licença, você é a Emily Fields? — Viro-me e vejo uma moça baixa com cabelos loiros e armados, o nariz levemente aquilino e uma expressão ansiosa. Usando uniforme escolar, ela aparentaria 12 anos. — Sou a nova jornalista que vai segui-la hoje — ela explica.

— Ah, certo. — Procuro me lembrar do nome dela, e me recordo de uma conversa que tive sobre ela com o pessoal da imprensa, a qual agora parece ter ocorrido há uma era.

— Hanna Marin — ela diz.

— Hanna, claro, me desculpe. Ando meio confusa hoje. Estou cuidando do caso do assassinato, quer ajudar?

— Sim, obrigada! — Ela sorri alegremente, como se eu tivesse acabado de lhe oferecer uma viagem de fim de semana.

— Vamos ver as pessoas de peruca discutirem umas com as outras, então — digo. Aponto para Peter, que está se afastando. — E cuidado com o cara ensebado que vem com papinho de amizade e vai embora com a sua história.

Hanna ri. Ela vai aprender.


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Notas finais do capítulo

E ai,gostaram da mudança? Espero que sim, agora me encontrei na historia e estou gostando muito de escreve-la. Obrigada pela compreensão de todos.