Rachel encarou a rua pela janela enrolada no edredom. Funny girl passava esquecido na televisão. A xicara de chá em cima do criado mudo se encontrava na mesma situação.

A judia suspirou, usando a blusa para desembaçar um pouco o vidro.

A chuva caia incansavelmente há mais de três dias, e ela gostava daquilo. Combinava bem com o seu humor.

Alguém bateu na porta e ela mandou entrar, sem se dar o trabalho de olhar.

– Rachel, marquei com a família amanhã. Você também vai, certo?

– Desculpa pai, mas dessa vez não.

– Mas nós vamos jogar.

– Desculpe. – Rachel disse balançando a cabeça negativamente.

Leroy entrou no quarto e sentou na cama, chamando a atenção de Rachel.

– Vai me contar o que aconteceu?

– Eu e Quinn terminamos.

– Disso eu sei. O que eu quero saber é por que.

– Papai...

– Estrelinha, você mal saiu desse quarto na última semana. Eu estou preocupado. Eu e seu pai estamos.

– Eu fiz besteira. É o que importa.

– O que você fez? Estrelinha, eu posso ajudar você a se desculpar, mas preciso saber o que fez.

– O que eu fiz não tem desculpa, papai. – Rachel suspirou – Por favor, não insista.

– Você sabe que eu e seu pai estamos aqui, não importa o que você tenha feito, certo?

– Eu sei.

Leroy deu um beijo na cabeça da filha antes de sair do quarto, voltando a fechar a porta e Rachel voltou a encarar a chuva.

***

– Pelo amor de Deus, se larguem. – Quinn disse entrando em casa e Frannie revirou os olhos, se afastando de Cooper.

– Olá, Quinn. – o rapaz cumprimentou.

– Eu chego em casa, te encontro quase engolindo a minha irmã, e você me diz “Olá, Quinn?”.

– Lucy! – Frannie brigou e Cooper riu.

– Tá certo, cunhadinha. Prometo engolir ela em lugar que você não veja da próxima vez. – piscou.

– Eu desisto de vocês dois. – Frannie riu – Conseguiu o que queria?

– Consegui. O livro tá na bolsa.

– Ótimo. Espero que esse trabalho fique bom. Ele me custou trinta dólares.

– Cinquenta. Tive que por gasolina.

– Só fica melhor. – riu – Vai tomar um banho, Quinn. Você tá encharcada. Vai acabar ficando gripada.

– Eu vou pro banho, e vocês dois vê se se comportam. Estou de olho em você, corrida.

– Pode deixar, rainha. – Cooper riu.

– Sou mesmo. Mando nesse mundo e ah se quem me desafiar. – a loira saiu da sala rindo e Frannie balançou a cabeça negativamente.

– É. Ela tá bem. – Cooper disse.

– Não, ela não está. Quinn é acostumada a fingir que está bem por causa de Russel e Judy, mas eu conheço minha irmã.

– O que quer dizer?

– Que eu acho um milagre ela não ter brigado com Rachel ou Finn essa semana.

– Sabe, eu não consigo entender como isso foi acontecer. Eu conheço Rachel há algum tempo. Ela não é esse tipo de pessoa.

– Eu também achei muito estranho, mas o que mais pode ter sido?

– Eu não sei. Mas... Elas... Eu...

– Só diga, Cooper.

– Rachel talvez mereça uma segunda chance.

– Você está dizendo pra Quinn ir atrás dela?

– Não. Só pra que ela abra espaço pra que Rachel venha até ela.

– Eu não sei...

– Foi você quem me disse que ela tá mal, Frannie.

– E ela está. Droga, Cooper! Ela acha que eu não sei, mas não teve um dia nessa semana que ela não chorou antes de ir dormir. Ela realmente gosta de Rachel.

– Pelo que Blaine tem me dito, Rachel está tão mal quanto.

– E o que você sugere?

– Converse com a Quinn. Eu... Posso te ajudar, se quiser. E, se achar preciso, fale com Rachel.

– Se eu for falar com ela, a garota vai acabar em um hospital. Ela tem sorte de não estar lá ainda.

– Frannie!

– Ah! Qual é, Cooper? A garota traiu minha irmã!

– Tudo bem. Então... Você é amiga de um dos pais dela, não é?

– Leroy. – concordou.

– Fale pra ele conversar com ela.

– Não sei, Cooper. E se ela trair a Q de novo?

– Então eu te ajudo a mandar ela pro hospital. – brincou e Frannie riu.

Enquanto os dois conversavam, Quinn tomava banho, se ensaboando enquanto as lagrimas se misturavam a agua que caia em seu rosto. Ela sabia que não deveria ainda chorar pelo que havia acontecido, mas aquilo doía. Cada vez que ela pensava que Rachel havia ido para a cama com Finn era como se um novo pedaço do seu coração fosse massacrado.

Frannie não sabia, mas ela havia matado pelo menos cinco aulas durante aquela semana para evitar os dois. Além de não ter ido ao coral nenhuma vez.

Se ela estava sendo idiota? Ela sabia que sim. Se ela ligava? Ela só ligava para o peso no seu peito, por enquanto.

***

– Vocês estão falando sério? – Quinn perguntou olhando de Cooper para Frannie repetidas vezes.

– Por incrível que pareça, sim. – a Fabray mais velha respondeu.

– Tudo bem, me deixe atualizar vocês sobre nosso relacionamento: a Rachel me traiu! – Quinn gritou a última parte.

– E é por isso que você chora toda noite.

– Eu não...

– Não tente mentir pra mim, Quinn.

– Não é por que eu sinto falta dela que eu vou perdoar, Frannie. E se Cooper te traísse? O que você faria?

– Você quer saber antes ou depois de castrar ele?

– Viu!

– Olha só, primeiro, eu não vou te trair, Frannie. Não precisa pensar em... Nossa, isso deve doer. Enfim, Quinn, não estamos falando para você ir atrás dela, só pra conversar se ela vir atrás de você.

– Cooper... – Quinn suspirou – Eu amo aquela garota. Eu fiz de tudo pro nosso relacionamento ser o melhor possível, e ela foi pra cama com outro!

Frannie e Cooper olharam um para o outro e Cooper se inclinou para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos e cruzando as mãos.

– Quinn, o quanto você conheceu Rachel nesses meses?

– O máximo que eu podia conhecer.

– E você em algum momento achou que ela seria capaz de trair? Ou de magoar você de alguma maneira?

– Se eu pensasse isso, acha que teria ficado com ela?

– O que eu quero dizer é... Você não está achando toda essa situação um pouco estranha?

– O que quer dizer?

– Que eu conheço Rachel, e a garota não mata uma formiga por que acha que os filhos dela vão sentir falta. – Quinn sorriu, lembrando do dia que Rachel tinha lhe feito aquele discurso. A formiga acabou morta do mesmo jeito, e Rachel quase havia lhe batido por causa daquilo – Você acha que ela seria capaz de te machucar assim?

– Ela mesma me disse que dormiu com ele Cooper.

– Ela te disse por que acabou na cama com ele?

– E me disse exatamente o que fizeram também. – a garota ironizou.

– Quinn, você entende onde Cooper quer chegar? – Frannie a encarou.

– Sinceramente? Não.

– Sabe o que eu faria se fosse traído? Tiraria meu tempo para pensar. Quando me acalmasse, eu daria espaço pra pessoa se aproximar, se ela quisesse, e conversaria. Chegaria a uma conclusão do por que ela ter me traído.

– Do por que? – Quinn riu.

– Toda traição tem um por que, Quinn. E se não tem um por que ou memoria, tá na hora de rever a história. Por que alguém sempre vai lembrar.

Cooper levantou e bagunçou o cabelo da garota antes de sair do quarto da Fabray mais nova, a deixando sozinha com Frannie.

– O que ele quis dizer? – perguntou encarando o chão.

– Às vezes nem eu entendo Cooper. – Frannie suspirou – Mas eu acho que ficou bem claro, Quinn.

– Você acha que...

– A única coisa que eu sei é que você já passou por coisa de mais Q. Mas a escolha é sua.

Frannie saiu do quarto e Quinn foi até sua escrivaninha, pegou o celular e procurou o nome rapidamente, parando por alguns segundos no nome de Rachel antes de continuar.

Três toques depois, a loira ouviu a voz do outro lado da linha.

– Hey, é a Quinn, amiga do Puck, lembra?

– Hey, loira! É claro que lembro.

– Eu sei que não nós conhecemos muito bem, mas... Eu preciso de um favor.

***

Rachel estacionou o carro e respirou fundo, apertando o volante.

Tinha conversado com os pais – que praticamente invadiram seu quarto – e, mesmo sem saber o que ela tinha feito, os dois a convenceram de que o melhor era ir falar com Quinn.

Desceu do carro e andou lentamente até a porta. Respirou três vezes antes de trocar campainha.

Frannie abriu a porta e a olhou de cima a baixo.

– Rachel.

– Frannie. Eu... Eu sei que...

– Entra. Eu vou chamar Quinn.

Alguns minutos depois, Rachel entrava no quarto da loira com tanto medo quanto possível.

– Quinn? – chamou vendo a loira mexer em alguma coisa na gaveta ao lado da cama.

– Eu te deixei entrar, Berry. Mas seja rápida e saia o mais rápido possível.

Rachel respirou fundo e encostou a porta, se aproximando da ex.

– Eu vim... Eu, na verdade, não sei o que vim fazer.

– Então por que veio?

– Por que eu amo você. Sei que me desculpar não vai resolver. Sei também que não tem outra coisa que eu possa fazer. Eu só...

– Se sabe, por que veio?

– Por que eu preciso tentar de alguma forma, Quinn.

– Você mentiu pra mim, Berry.

– Por favor, pare de me chamar de Berry. Eu... Quinn, eu te amo. Eu não sei como fui parar naquele quarto e, mesmo se eu soubesse.... Eu amo você, Quinn. Eu nunca faria isso sóbria. Eu...

– Mas se beber, pode fazer de novo. – Quinn disse finalmente virando para a ex – Já ouviu falar que é quando a bebida entra que a verdade sai, Berry?

– Se for preciso eu não bebo nunca mais. Eu nem gosto de beber mesmo! Só me importa que você me perdoe e...

– Se fosse ao contrário, você me perdoaria?

– Eu... Eu não sei.

– Então por que eu deveria te perdoar?

Rachel ficou em silencio por alguns segundos e Quinn balançou a cabeça positivamente.

– Foi o que eu pensei.

– Q, eu não estou dizendo que não perdoaria, só que é complicado.

– E pra mim não é?

– Eu não disse isso.

– Então o que você está querendo dizer?

– Que eu te amo, e sei que nunca faria isso se soubesse o que estava fazendo.

– E você não sabia o que estava fazendo?

– Eu nem me lembro de como fui parar naquele quarto!

Quinn cruzou os braços e encarou a ex.

– E você não perguntou ao Hudson?

– Eu não quero nem chegar perto dele. Por favor, Q, confia em mim. Eu amo você. Nunca quis fazer algo do tipo.

– Por favor, para de falar que me ama!

– Mas eu amo!

– Quem ama não trai, Rachel! – gritou.

– Eu já disse, Quinn, eu...

– Rachel, só... Por favor, me fala a verdade. Por que você dormiu com o Finn?

– Eu não sei! Eu...

– Se você quer que tenha alguma chance de eu te perdoar, só me diz a verdade.

– Eu juro, Quinn. Eu não sei o que aconteceu.

– Tudo bem. Acredito em você. – Quinn disse e Rachel sorriu – Você já pode ir embora.

– O que?

– Eu acredito em você. Mas é o máximo que eu posso dizer por enquanto.

– Quinn...

– Por favor, Rachel. – Quinn apontou a porta e a judia suspirou.

– Antes de ir, eu... Sei que é muita audácia, mas quero te pedir um favor.

– Se estiver ao meu alcance.

– Terça é minha audição para NYADA. Eu sei que não estamos mais juntas, mas... Eu preciso que você esteja lá, Q.

Quinn apenas balançou a cabeça positivamente.

Rachel se aproximou da loira rapidamente e a abraçou. Quinn respirou fundo antes de devolver o abraço.

Quando Rachel se afastou, Quinn mandou seu auto controle a merda e beijou a menor, a afastando pouco depois.

– Por favor, vai embora.

– Vamos resolver isso, Q.

– Não. Não agora. Eu preciso pensar um pouco.

Rachel balançou a cabeça positivamente e deu um selinho na loira antes de sair do quarto.